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Friday, February 22, 2008

Virtual Realidade Parte 125


Embora algumas nuvens escuras se aproximassem no horizonte, a manhã apresentava-se alegre e luminosa convidando a um passeio fora de casa.
Mesmo ainda doente, Rita tinha vontade de gritar de alegria e êxtase: era o seu dia de aniversário.
Através da vidraça da janela seguia com os olhos o movimento lento das formas e figuras daqueles castelos em tons de cinzento que se assemelhavam às personagens dos contos de fadas da sua infância.
Momentos antes Francisco havia ligado a dar-lhe os parabéns e ainda lhe pairavam nos ouvidos as palavras de amor murmuradas, suscitando o desejo de se amarem.
A qualquer momento entraria pela porta do quarto, também ele ansioso por estar com ela, acrescentando ao dia o derradeiro toque de perfeição que lhe faltava.
Em casa de Cristina ainda, onde tinha pernoitado, Francisco esperava pacientemente pela boleia de Daniel, que se encontrava no computador a conversar com o namorado.
Rita aproximou-se do espelho e mirou-se: o seu rosto continuava pálido; ainda não recuperara do abalo que sofrera com a gripe, mas isso pouco lhe importava. Queria estar deslumbrante para a festa e queria pedir ajuda a Sandrine que fazia milagres com a sua caixinha de cosméticos. Impaciente, esperava que ela voltasse do passeio à beira mar, pois tinha-lhe dito que iria dar uma voltinha, já que os dias de férias estavam a chegar ao fim.

Sandrine vagueava por S. Pedro de Moel matando saudades do tempo em que desfrutava plenamente daquele lugar, fazendo das ruas a sua pista de patinagem, acenando às pessoas que já a conheciam. Desceu à praia e recordou os momentos em que ali brincara com a Rita e a Luísa. No areal, um bando de gaivotas era a única mancha viva que os seus olhos divisavam em todo aquele espaço mergulhado numa aura invernal. Avançando em direcção ao mar começou a aparecer-lhe uma silhueta humana, anteriormente escondida por uma elevação da areia. Ao aproximar-se viu que era um homem sentado, de olhar fixo na extensão de água à sua frente, absorto nos seus pensamentos e, pensando que seria algum sentimental remoendo uma desilusão amorosa, sorriu para si mesma.
Sentindo alguém perto, ele virou-se, e os seus olhares cruzaram-se, permanecendo suspensos, na distância que os separava, durante o breve lapso de tempo que a memória normalmente leva para acudir aos sentidos e que parece sempre muito maior aos intervenientes do que a qualquer espectador estranho.
Ele foi o primeiro a reagir, erguendo-se e dirigindo-lhe uma pergunta que era quase uma certeza:
─ Nós conhecemo-nos?!
Ela sentiu o seu olhar meio incrédulo ainda, mas, reconhecendo-o, confirmou:
─ Encontrámo-nos há dias na urgência do hospital de Leiria. É o médico que viu a minha irmã, o doutor Miguel Pereira.
─ Sim, sou eu. É sua irmã? Mas não tinha sotaque francês! ­─ respondeu ele, recordando-se do episódio.
─ Não somos bem irmãs.
─ Ah! E como vai ela? Espero que esteja a melhorar! ─ disse o jovem médico bem humorado, mas denotando curiosidade preocupada pelo estado da doente.
─ Ainda não recuperou totalmente mas está muito melhor, obrigada! Os medicamentos que receitou estão a fazer-lhe bem.
─ É bom saber que fomos bem sucedidos. Não foi o caso, mas, quase sempre, o mais difícil é fazer o diagnóstico correcto porque receitar é fácil.
Durante um momento ficaram ambos calados a olhar o mar revolto à procura de ideias para continuar a conversa.
─ Eu vi na ficha médica que moravam aqui em S Pedro e já me havia ocorrido a hipótese de a encontrar. A terra é pequena.
─ Para mim, é uma surpresa completa. ─ mentiu ela, pois havia sonhado aquele encontro de diversos modos, mas não exactamente daquele. ─ Mora cá há muito tempo? ─ perguntou Sandrine, que sabia pelo cartão a morada dele.
─ Há cerca de dois anos, desde que comecei a trabalhar em Leiria.
─ Preferiu vir para S Pedro do que ficar em Leiria.
─ Sim, porque não estou longe do trabalho e gosto muito de conversar com o mar. Vai pensar que sou maluco, mas adoro fazê-lo, acalma-me! sou capaz de passar horas perdidas a contemplá-lo.
─ Eu também. E de percorrer a pé a praia deserta, mas ultimamente tem sido impossível usufruir do prazer de ouvir, cheirar, ver o mar… derivado ao meu trabalho.
─ Peço então desculpa de ter interrompido o seu passeio. Era isso que estava a fazer, não era?
─ De facto! Mas não tem que pedir desculpa, eu podia ter-me desviado. ─ sorriu Sandrine.
─ Ainda bem que não o fez! ─ disse o médico com um sorriso significativo, mas logo disfarçou acrescentando: ─ Sabe, nas urgências a nossa actuação é, de certo modo, impessoal: o doente aparece, analisamo-lo, sai medicado e perdemos-lhe o rasto. Não sabíamos nada dele antes, nem sabemos depois. Só é nosso doente durante o breve tempo da consulta. O acaso deste nosso encontro permitiu-me saber das melhoras da sua irmã.
─ Ah, entendo, ─ respondeu Sandrine, um pouco decepcionada ─ mas se não lhe telefonámos foi porque ela começou logo a melhorar.
─ Pois naturalmente, mas assim foi melhor! Espero que não esteja arrependida de não se ter desviado.
─ Claro que não, pelo contrário!
─ E quer continuar a caminhada? Eu posso acompanhá-la enquanto falamos, se me permitir. ─ Sugeriu Miguel, sentindo-se encorajado pelas últimas palavras da francesa. ─
─ Com todo o prazer, mas não é forçoso que continue! ─ respondeu, com um sorriso discreto.
─ Sem querer impor a minha condição de médico, devo dizer-lhe que caminhar faz muito bem à saúde! Vamos ou ficamos?
─ Vamos.
Caminharam lado a lado, descalços pela beira da água, na direcção das piscinas, uns segundos em silêncio, ela à espera que ele falasse e ele a brincar com a espuma branca que o refluxo das ondas deixava na areia molhada.
─ Sabe, estou em grande desvantagem em relação a si! ─ exclamou Miguel olhando para ela.
─ Então porquê, doutor?
─ Não sei o seu nome, nem o que faz, nem onde mora; mas antes de tudo, trate-me por Miguel!
─ Não sei se conseguirei habituar-me, assim de repente! ─ sorriu a francesa. ─ O meu nome é Sandrine e, habitualmente moro em Lisboa. O que faço é algo estranho para um mundo onde o machismo ainda dita as regras: sou piloto da aviação civil.
─ A sério?! ─ perguntou ele, olhando-a incrédulo.
─ É verdade, mas não me admira que lhe custe a acreditar.
─ Pois, mas tem de concordar comigo que é uma profissão invulgar para uma mulher! Desculpe, eu não a quero ofender.
─ Já estou habituada! ─ respondeu ela a sorrir e afastando com a mão os belos cabelos loiros soprados pela brisa marítima que lhe tapavam os olhos.
─ Conte-me tudo.
─ Tudo?! Mas que lhe pode interessar saber mais pormenores da minha vida?
─ Quem sabe?! ─ respondeu ele com um sorriso enigmático, mas cujo significado era evidente.
─ Eu não sei! O douto… O Miguel sabe? ─ retrucou Sandrine em desafio.
─ Sei que simpatizo consigo!
─ E acha que isso é o bastante para lhe contar…
Sem deixar que Sandrine terminasse a frase, Miguel fê-la deter-se colocando-se na sua frente. Em volta apenas se ouvia o ruído do mar e os pios das gaivotas que sobrevoavam as ondas. O médico tomou nas suas as mãos da bela mulher e, olhando-a bem no fundo dos olhos, disse:
─ Sinto-me atraído por ti desde que te vi no hospital e ouso pensar que também não te sou indiferente de todo.
E, depois de uma pausa, em que a foi puxando suavemente para si, acrescentou:
─ Será isto motivo bastante?
Sandrine não respondeu, uma vez que as duas bocas se uniram no beijo que lhes dava todas as respostas que o coração pedia.
Miguel despertou do amplexo pelo toque violento do telemóvel no seu bolso e, pedindo licença, atendeu:
─ Estou! Já acordaste, preguiçosa?
─ Acordei e não sabia de ti! Onde andas, amor?
─ Vim andar na praia.
─ E não esperaste por mim?
─ Vim muito cedo e dormias tão bem que achei crime acordar-te.
Miguel ria-se muito e a francesa, apercebendo-se de que ele falava com uma mulher, com grande familiaridade, e que ela estava em casa dele, sentiu um aperto no coração. Como é que ele podia estar a fazer aquilo com ela que, verdadeiramente pela primeira vez na vida, sentia que estava disposta a sacrificar a sua liberdade por causa de um homem? Ainda bem que tinha descoberto a tempo, a não ser que ele tivesse uma boa explicação para lhe dar. Aparentando calma nas suas ruminações, Sandrine aguardou.
─ Daqui a pouco são horas de almoço. ─ lembrou Sara.
─ Tem calma que já vou ter contigo! Um beijo.
Miguel desligou e, ainda sorridente, olhou para Sandrine que aguardava uma explicação para aquele telefonema que lhe parecia assaz revelador. Mas, em vez de explicar, ele disse:
─ Tive uma ideia: vens almoçar connosco e falamos o resto.
─ Connosco?!
─ Sim, comigo e com a minha tia que está lá em casa e acabou de me telefonar porque acordou cheia de fome.
─ Era então tua tia?!
─ Sim, uma tia fantástica que eu tenho, a escritora Sara Ribeiro. Já ouviste falar?
─ Já, já! Tenho dois livros dela que li e gostei muito. Ela é tua tia?
─ É! Se a quiseres conhecer pessoalmente…
─ Adoraria, mas não posso. Precisamente hoje, são os anos da Rita e vou passar o resto do dia em casa. ─ lamentou Sandrine, visivelmente agastada por não poder estar mais tempo com ele, mas aliviada por saber que a tal mulher era tia de Miguel. ─ É minha irmã do coração e não poderia faltar no aniversário dela.
Em traços largos, contou a história do seu acolhimento pela mãe da Rita quando veio estudar para Portugal.
─ Não há então nada que possamos fazer… se nos tivéssemos conhecido há mais tempo…
─ Só se… ─ os olhos de Sandrine brilharam.
─ Só se?... ─ inquiriu ansioso.
─ Acho que tive uma ideia genial! ─ Conta, conta!

Continua...

14 Comments:

Blogger Miguel Augusto said...

Surpreendente! Desta não estava mesmo à espera que o desenrolar da história nos levasse aqui! Muito bem, cada vez a história está mais interessante! :)

10:30 pm  
Anonymous Anonymous said...

Parte 125 - Aniversário da Rita; Sandrine e Miguel (o médico) numa coincidência feliz

1:50 am  
Blogger Teresa lucas said...

continuo a gostar, mais histórias dentro da história.
Beijospara os autores.pois conseguem sempre prender-me para a semana seguinte.

2:03 am  
Blogger Maré Viva said...

Bela fotografia abrilhanta a vossa historia sempre cativante, que nos agarra, semana apos semana...
A proposito de semana, um bom Domingo, para um bom inicio da proxima.
Beijinhos.

10:16 pm  
Anonymous Anonymous said...

Ola, realmente este conto é supreendente, maravilhoso...sempre a suprender-me, mais uma história, Sandrine e Miguel, não há dúvida que temos mesmo que passar por aqui todas as semanas...vale sempre a pena, beijinhos

4:00 pm  
Blogger lena said...

um belo momento aqui descrito neste capítulo

o amor sempre no ar...

será que Sara se encontra com o Eduardo??

tudo ali ao lado, quase que se sentem...

a teia toma forma, não há mistérios há um puzzle a construir, as peças começaram devagarinho a tomar o lugar ideal

eu aqui continuo a dar-vos força para continuarem.

já lá vão 125 comentários e o entusiasmo continua

é bom estar, é bom sentir e sobretudo é muito bom ler-vos

beijinhos e o meu abraço onde a amizade é presença

lena

5:41 pm  
Blogger Papoila said...

Meus Queridos!
Mais um capitulo que me prendeu e surprendeu... A forma como descrevem os encontros e o novo romance que nasce dentro do romence cativa qualquer leitor.
O amor e o mar como fundo! Gostei muito!
Beijos

11:28 pm  
Anonymous Anonymous said...

Sempre senti uma afeição especial por Sandrine e não sei por quê. E é claro que a ideia genial é convidar o doutor, que já a conquistou, ao aniversário de Rita, e Sara também irá? Hummm bonito, Sara com Eduardo e Luisa presente... sairá daqui algumas faíscas ciumentas???

O enredo está bem montado à volta destes personagens... temos aqui ainda tanto pano para mangas :).

E adoro este fundo do cenário da história... o mar sempre muito presente... talvez por tê-lo todos os dias aos meus olhos... andar descalço na areia em abraços com a água, os pés nus adoram isto... acho que é por isto!

E, pois, o amor... abundante e liberto... que alimenta esta gente (personagens) linda... desta história linda!

Mais um capítulo excelente... e sempre bem escrito!!!

Beijinho e abraço...

5:58 am  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

_______queridos Isa e Luis


S.Pedro de Moel________é fantástico para



namorar




_______continua uma história_____tão autêntica e bem escrita


________que pode acontecer__a qualquer um de nós:))



parabéns! estão lindamente






(não tenho vindo aqui ao vosso "cantinho" porque não tenho tido net.)




beijO c/ carinhO

7:52 pm  
Blogger tb said...

Finalmente posso deixar aqui a marca da minha passagem. Li e gostei muito. Fico à espera da continuação. :)
beijinhos

7:24 pm  
Blogger Unknown said...

Sabes querida amiga? O que mais adoro em ti? És uma amiga sincera e profunda. Nunca pedes nada em troca, a amizade é mesmo assim.

Posso por vezes eu estar ausente de ti, ou tu estares ausente de mim...

Mas quando nós sentimos necessidade de dizermos algo um ao outro aí estamos nós a deixar o nosso "OLÁ"

Infelizmente os blogueiros querem sempre a troca das opiniões...

Mas quando se é amigo, mesmo amigo isso não é necessário...

ISA! Acredita que tenho por ti uma amizade e um carinho que ultrapassa em muito "O virtual"...

E poderás contar sempre com a minha amizade.

fICA BEM.

Bjnhs

ZezinhoMota

4:19 pm  
Blogger poetaeusou . . . said...

*
sorvo a foto,
,
e mergulho,
em s.pedro,
e na tua história
em paredes,
e na tua história
na victória
e na tua história
e na igreja da,
Sra. da Victória das Areias,
e na semana nazarena
de 25 de abril a 1 de maio
,
e há muitos, muitos anos,
eu um devorador de maçãs,
quando vinha da escola,
a minha mãe recitava,
,
a senhora da victória,
tem uma maçã na mão,
para dar ao meu menino,
quando vier da lição
,
há . . . e na tua história
,
conchinhas
,
*

6:22 pm  
Anonymous Anonymous said...

hummmmmmmmmmmm adorei este episódio... tem coisas belas que são verosímeis e por isso são belas... às vezes a vida é asim mesmo, dá-nos a ternura de aconteceres...e como de costume as personagens interagem num ambiente todo feito à nossa medida, ou seja, de quem vos lê e conviver com elas assim é bom...
os meus sorrisos @@@

3:15 pm  
Blogger Parapeito said...

ol� Isa&Luis :) ja estava mais do que na altura de deixar aqui um recado.
Gosteiii.
Vou continuar a vir c�.
Para ti ternura um beijooo
Para ti Luis :P

4:50 pm  

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