Virtual Realidade Parte 116

O dia amanhecia sem nuvens, mas com frio e uma ligeira névoa matinal. Luísa levantou-se e, subindo o estore, olhou o mar revolto e a praia, até onde a vista alcançava, completamente deserta.
Eduardo tinha já saído para um treino à beira mar, mas ela não o avistou do lugar onde se encontrava. Pensou em ir procurá-lo, mas lembrou-se da mãe e do pai dele, os dois ali em casa, que podiam precisar de alguma coisa quando acordassem,
Eduardo tomara um duche frio, equipara-se e descera à praia para uns exercícios de ginástica e um pouco de corrida, vicio, dizia ele, de que não podia prescindir.
Um vulto ao longe, correndo também à beira da água, mostrou-lhe que não era o único viciado naquele tipo de actividade matinal. Havia mais gente a preocupar-se com a sua própria saúde e Eduardo sorriu intimamente ao pensar que ainda havia de meter o vício no corpo de Luísa. Quem quer que fosse ia-se tornando, a pouco e pouco, mais nítido, pela aproximação óbvia e regular, e daí a pouco cruzar-se-iam num bom dia de estranhos ou, quem sabe, conhecidos.
Só mesmo a um metro de distância é que Rita, pois era ela o outro atleta, reconheceu o namorado da mãe.
─ Olá, bom dia Eduardo! Já por aqui?
─ Ora, Pelos vistos tivemos a mesma ideia! Se não falavas não te teria reconhecido. Bom dia! ─ respondeu ele a sorrir.
─ Sou assim tão difícil de recordar?
─ Com esse capuz a cobrir-te os cabelos… e depois não te esperava aqui. Ainda estou surpreendido.
─ Isso é porque não me conheces.
─ Pois, só pode! Continuamos a correr enquanto falamos?
─ Vamos a isso.
─ Já corres há muito?
─ Gostava de correr no liceu e sentia-me muito bem no fim. No último ano desmazelei um pouco porque o estudo não me permitia. Agora em Pamplona, tenho procurado arranjar uns tempos livres para o fazer. Há lá um óptimo parque onde toda a gente corre. Costumo ir com a Emília.
─ Ah, muito bem! E já participaste em alguma corrida?
─ Não. Faço apenas os treinos por manutenção. Mas vou-te contar o mais importante.
─ Sim, o que é?
─ Foi num treino no tal jardim de Pamplona que reencontrei o meu namorado.
─ Ele também corre?
─ Sim, também gosta de correr sempre que tem tempo.
─ Já sei que é português e…
─ É. ─ interrompeu Rita.
─ O que faz ele lá?
─ Uma vez que fazes parte da família, vou contar-te. ─ disse ela, sorrindo.
─ Obrigado pela confiança! Sou todo ouvidos.
Enquanto corriam a ritmo lento para permitir a conversação sem atropelos respiratórios,
Rita foi falando de como havia conhecido Francisco no comboio, o havia perdido e depois reencontrado, com a esperança já quase desvanecida.
─ Foi muito interessante o início desse romance. Disseste que a mãe dele se chama Mariana?
─ Sim, é esse o nome dela. Porquê?
─ Vamos regressar que já nos afastámos muito. A passo, que por mim já foi bastante e na areia custa mais.
─ Também prefiro ir a passo agora. Mas não me respondeste…
─ Desculpa, qual foi a pergunta?
─ Porque perguntaste pelo nome da mãe do meu namorado? Já o fizeste duas vezes.
─ Ah isso! ─ Um ar triste de recordação amarga perpassou pelo rosto de Eduardo e Rita não deixou de o notar. ─ Curiosidade. Tinha-me esquecido.
─ Não, não foi só isso!
─ Não foi.
─ Não me queres dizer?
─ São recordações dolorosas as que esse nome me traz, mas vou contar-te tudo para entenderes.
Quando acabou Rita perguntou:
─ Amas de verdade a minha mãe?
─ Muito, sim.
─ E se por um acaso voltasses a encontrar a tal Mariana?
─ Ela fez parte de um passado que me foi caro. Mas é passado. Agora se me perguntares se gostaria de a encontrar, não posso negar que sim, mas estou seguro de que o meu amor pela tua mãe, não sofreria nada com isso.
─ E achas que pode ser a mesma?
─ Não creio. O ano em que o teu namorado nasceu, atira-me para a época em que eu namorava a minha Mariana, mas como ela não estava grávida quando me deixou, não pode ser a mesma; se fosse o Francisco seria meu filho.
─ Tens a certeza de que não estava grávida?
Eduardo ficou um pouco pensativo. Depois respondeu:
─ Tenho, claro que tenho. Ela ter-me-ia dito.
─ Portanto, não me escondes que levaram o vosso amor até às últimas consequências. E se ela não soubesse ainda que estava grávida?
─ Realmente, pensando bem…
─ Pensando bem, não podes ter a certeza.
─ Muito honestamente, não.
─ Queres ver que ainda vou ser tua nora?! ─ concluiu Rita em ar de brincadeira, já que Eduardo ficou muito sério, porque aquele assunto, em que pensava pela primeira vez com toda a objectividade, tornara-se-lhe demasiado verosímil.
─ Sempre sonhei ter um filho cujo crescimento pudesse acompanhar, mas aparecer-me um assim… Não posso crer. Conheces a história da vida da mãe do Francisco?
─ Não, não conheço. Também ainda namoro com ele há pouco tempo.
─ Deixa lá!
Eduardo permaneceu pensativo até chegarem a casa. Depois resolveu esquecer o assunto temporariamente.
Rita seguiu para casa de Cristina onde havia pernoitado e deixado a roupa. O que Eduardo lhe contara sobre Mariana deixara-a intrigada e tomou a decisão de descobrir a história dela assim que chegasse a Pamplona.
Eduardo encontrou o pai e a mãe de Luísa a tomarem o pequeno-almoço na espaçosa cozinha.
─ Bom dia, gente boa! Dormiste bem, pai?
─ Muito bem. ─ respondeu o pai. ─ Já vens da rua?
─ A Luísa ainda dormia quando me levantei. Fui fazer a minha corrida matinal e encontrei a Rita.
─ Fazes-nos companhia ou esperas pela minha filha?
─ Espero por ela! Vou tomar banho primeiro. Tomem o vosso pequeno-almoço descansados. Com licença!
Eduardo dirigiu-se ao quarto da namorada com a intenção de lhe falar acerca de Sara ter estado em sua casa. Encontrou-a já pronta e ao telefone. A voz dela soava a preocupação.
─ A Rita encontra-se mal disposta. Pelos sintomas é uma gripe que vem a caminho.
─ Ainda agora a deixei de perfeita saúde!
─ Como?
─ Encontrei-a na praia a correr e regressei com ela. Parecia-me perfeitamente bem.
─ Mas, pelos vistos não está. O ar frio e húmido do mar fez-lhe mal. Queixa-se de dores de garganta.
─ Que aborrecimento! Eu gostaria de falar contigo sobre o fim-de-semana passado. Lembras-te que a Sara veio a Aveiro?
─ Desculpa amor! Falamos mais tarde, com tempo. Agora tenho que ir à procura de uns comprimidos. Depois temos que preparar o almoço e ainda tenho que ir buscar as crianças ao orfanato. Vais comigo?
─ Sim, mas primeiro vou tomar um duche e o pequeno-almoço. Não demoro.
Luísa beijou o namorado e saiu do quarto apreensiva.
Continua...
23 Comments:
E lá vamos alegremente percorrendo e levantando mais um pouco do véu desta história bem imaginada e melhor contada. Ou será o contrário? :)))
beijinhos e boas festas
Olá mais um capítulo e muito bom, a corrida a beira mar que é óptima... sempre quero ver como vai reagir a Luisa ao saber que a Sara passou o fim de semana em casa do Eduardo... assim como estou curiosa pela reacção do Eduardo ao saber da existência da Mariana, será que o amor pela Luisa vai balançar? ele diz que a ama de verdade, esperemos que o amor deles nao seja afectado... Feliz Natal, beijinhos
Feliz Natal e próspero ano 2008.
Beijinhos cintilantes aos meus queridos net padrinhos.
Esta gripe repentina da Rita é estranha e pelos vistos...o Eduardo tem um filhão sem saber:). Desejo-vos um bom Natal e um ano novo cheio de sucessos. Abraçso
Hoje meu desejo deixo...
Que a Harmonia neste Natal desça sobre vós
Em forma de chuva de pétalas.
Doce beijo
Bem, por aquilo que me parece esta história ainda se vai enrolar muito mais. Isto promete...
Beijos e abraços.
Vou voltar para ler, prometo, hoje e correndo, venho desejar-vos um Natal alegre, pleno de amor e desejo de partilhá-lo com o próximo.
Beijinhos.
Muito obrigada aos dois pela visita e pelos votos deixados. Desejo-vos também um Natal muito feliz.
É sempre um prazer vir ler esta história de personagens que já aprendi a considerar quase familia.
Para vocês, um FELIZ NATAL!
Um XI Apertado.
Beijos
Para ti que me visitaste
Ao longo destes poucos meses
Ofereço-te uma prenda singela
Uma estrela de mil cores
Roubei-a ao firmamento
Deposito-a na tua mão
Para que neste Natal
Te ilumine o coração
Um Santo e Mágico Natal
Doce beijo
Os meus votos sinceros de BOAS FESTAS:
Um Feliz Natal e um Bom Ano 2008, especialmente com muita saúde.
Beijos / Abraços
Amigos que este Natal seja de Paz e de felicidade para vós, familia e amigos
Um grd beijinho*
Isa & Luis,
...Para Vós um Santo e Feliz Natal!
Muita Paz!
Muita Saude!
Muito Amor!
Obrigada por existirem, e por partilharem sempre comigo a Vossa Amizade, embora eu não seja muito assidua no Vosso espaço!
Obrigada por serem meus amigos!
Feliz 2008!
Beijinhos muitos!
hummmmmmmmmmmm gostei mesmo.. a escrita encanta-me, simples e corrida no desenrolar das emoções... e mistério á mistura, embora se vá desvendando algo para o leitor atento... o namorado, o filho... gosto deste «mistério» que as personagens «percorrem» e nós leitores assistimos, muito bem construído mesmo...~
e continuo a gostar de ler esta história que tem de tudo e muito bem escrita...
não deixarei mesmo de passar por aqui na continuação... quero saber se realmente as minhas suspeitas têm fundamento...
um sorriso grande de parabéns @@@
São óptimas estas correrias à beira-mar, eu que tanto ando perto dele diariamente que o diga.
E, Francisco filho de Edu??? Ora, por esta não esperava eu! Bom, pode ser ou não o melhor é não me adiantar ao mistério... mas que há coincidências lá isso há!!!
E vai ser bonito vai quando Eduardo disser, por alto, a Luisa o que se passou no tal fim de semana com Sara... cheira-me a "esturro" por aqui!!! :)
Tadinha da Rita, que se terá passado em tão pouco tempo? Será só gripe? Ou... ou... ou... não sei vou esperar!!!
Excelente capítulo Srs escritores que gosto muito!!!
Beijinho e abraço!!!
O Natal já passou. Nós, moderadores e membros do grupo Livraria Virtual, esperamos que tenha passado da melhor maneira possível perto de quem mais gosta.
O ano novo está a chegar e acreditamos que seja melhor que o ano que está a terminar.
Boas entradas para o Novo Ano 2008 com muita leitura e aprendizagem.
http://livraria-virtual.blogspot.com/
voltei a visitar-vos um pouco tarde, mas....não faltei
O vosso conto está a desenrolar o novelo, por sinal muito bem dobado.
Continuem.
beijos e um bom e feliz 2008
Soli
Que esta "Quadra" personifique o sentimento e que perdure pelo ano inteiro...
Que o novo ano de 2008 vos dê a FELICIDADE que merecem.
Bjnhs e abraços.
ZezinhoMota
Isa e Luís, meus amigos queridos
estive presente na quadra dos sentimentos
já se corre a passos largos para mais um fim de ano, de novo as corridas superfulas que me atormentam
corri pela praia, uma corrida lenta. à minha frente iam o Eduardo e a Rita. adorei o diálogo, troca de ideias que me deixaram encantada.
duas gerações diferentes mas com muitas coisas em comum.
a teia começou a ganhar forma, certamente que o nome de Mariana vai surgir mais vezes na mente do Eduardo
o resfriado da Rita e a atenção da Luísa à preparação do almoço, são um bom motivo para esta fugir à conversa que o Eduardo queria ter com ela, sobre a Sara. receio de saber o que se passou?
bem o importante é que pouco a pouco as peças se vão juntando.
eu como sempre adorei, estive presente e atenta
estendo os braços para vos abraçar com amizade, nas minhas mãos carrego a ternura e o carinho que tenho pelos dois e é o que vos ofereço
beijinhos meus, recheados de alegrias
lena
Olá amigos, estive ausente por algum tempo devido a impossibilidade de comentar devido a erro que com muita paciência consegui detectar...Aqui estou revendo, atualizando-me nesta Virtual Realidade que desde o inicio chama-me a atenção...
Desejo a vocês muita paz, amor, prosperidade em 2008...
abraços/beijos
Oi!Me desculpem a ausência.Coloquei a leitura mais ou menos em dia,estava perdendo muita coisa.Um 2008 repleto de muitas realizações pra vcs!Bjocas!
Ane
http://sulamemacedo.blog.uol.com.br
O enredo promete...
E o mundo parece pequeno, a confirmar-se a eventual ligação ao passado do Eduardo.
Um óptimo 2008 para vocês.
Beijinhos e abraços.
Parte 116 - Levantar o véu de uma história antiga
Bom Ano!
Levanta-se a leve pluma
Num regresso ao passado
A vida será só uma
E cada qual tem seu fado.
Cumprimentos
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