Name:
Location: Portugal

Friday, December 21, 2007

Virtual Realidade Parte 116


O dia amanhecia sem nuvens, mas com frio e uma ligeira névoa matinal. Luísa levantou-se e, subindo o estore, olhou o mar revolto e a praia, até onde a vista alcançava, completamente deserta.
Eduardo tinha já saído para um treino à beira mar, mas ela não o avistou do lugar onde se encontrava. Pensou em ir procurá-lo, mas lembrou-se da mãe e do pai dele, os dois ali em casa, que podiam precisar de alguma coisa quando acordassem,
Eduardo tomara um duche frio, equipara-se e descera à praia para uns exercícios de ginástica e um pouco de corrida, vicio, dizia ele, de que não podia prescindir.
Um vulto ao longe, correndo também à beira da água, mostrou-lhe que não era o único viciado naquele tipo de actividade matinal. Havia mais gente a preocupar-se com a sua própria saúde e Eduardo sorriu intimamente ao pensar que ainda havia de meter o vício no corpo de Luísa. Quem quer que fosse ia-se tornando, a pouco e pouco, mais nítido, pela aproximação óbvia e regular, e daí a pouco cruzar-se-iam num bom dia de estranhos ou, quem sabe, conhecidos.
Só mesmo a um metro de distância é que Rita, pois era ela o outro atleta, reconheceu o namorado da mãe.
─ Olá, bom dia Eduardo! Já por aqui?
─ Ora, Pelos vistos tivemos a mesma ideia! Se não falavas não te teria reconhecido. Bom dia! ─ respondeu ele a sorrir.
─ Sou assim tão difícil de recordar?
─ Com esse capuz a cobrir-te os cabelos… e depois não te esperava aqui. Ainda estou surpreendido.
─ Isso é porque não me conheces.
─ Pois, só pode! Continuamos a correr enquanto falamos?
─ Vamos a isso.
─ Já corres há muito?
─ Gostava de correr no liceu e sentia-me muito bem no fim. No último ano desmazelei um pouco porque o estudo não me permitia. Agora em Pamplona, tenho procurado arranjar uns tempos livres para o fazer. Há lá um óptimo parque onde toda a gente corre. Costumo ir com a Emília.
─ Ah, muito bem! E já participaste em alguma corrida?
─ Não. Faço apenas os treinos por manutenção. Mas vou-te contar o mais importante.
─ Sim, o que é?
─ Foi num treino no tal jardim de Pamplona que reencontrei o meu namorado.
─ Ele também corre?
─ Sim, também gosta de correr sempre que tem tempo.
─ Já sei que é português e…
─ É. ─ interrompeu Rita.
─ O que faz ele lá?
─ Uma vez que fazes parte da família, vou contar-te. ─ disse ela, sorrindo.
─ Obrigado pela confiança! Sou todo ouvidos.
Enquanto corriam a ritmo lento para permitir a conversação sem atropelos respiratórios,
Rita foi falando de como havia conhecido Francisco no comboio, o havia perdido e depois reencontrado, com a esperança já quase desvanecida.
─ Foi muito interessante o início desse romance. Disseste que a mãe dele se chama Mariana?
─ Sim, é esse o nome dela. Porquê?
─ Vamos regressar que já nos afastámos muito. A passo, que por mim já foi bastante e na areia custa mais.
─ Também prefiro ir a passo agora. Mas não me respondeste…
─ Desculpa, qual foi a pergunta?
─ Porque perguntaste pelo nome da mãe do meu namorado? Já o fizeste duas vezes.
─ Ah isso! ─ Um ar triste de recordação amarga perpassou pelo rosto de Eduardo e Rita não deixou de o notar. ─ Curiosidade. Tinha-me esquecido.
─ Não, não foi só isso!
─ Não foi.
─ Não me queres dizer?
─ São recordações dolorosas as que esse nome me traz, mas vou contar-te tudo para entenderes.
Quando acabou Rita perguntou:
─ Amas de verdade a minha mãe?
─ Muito, sim.
─ E se por um acaso voltasses a encontrar a tal Mariana?
─ Ela fez parte de um passado que me foi caro. Mas é passado. Agora se me perguntares se gostaria de a encontrar, não posso negar que sim, mas estou seguro de que o meu amor pela tua mãe, não sofreria nada com isso.
─ E achas que pode ser a mesma?
─ Não creio. O ano em que o teu namorado nasceu, atira-me para a época em que eu namorava a minha Mariana, mas como ela não estava grávida quando me deixou, não pode ser a mesma; se fosse o Francisco seria meu filho.
─ Tens a certeza de que não estava grávida?
Eduardo ficou um pouco pensativo. Depois respondeu:
─ Tenho, claro que tenho. Ela ter-me-ia dito.
─ Portanto, não me escondes que levaram o vosso amor até às últimas consequências. E se ela não soubesse ainda que estava grávida?
─ Realmente, pensando bem…
─ Pensando bem, não podes ter a certeza.
─ Muito honestamente, não.
─ Queres ver que ainda vou ser tua nora?! ─ concluiu Rita em ar de brincadeira, já que Eduardo ficou muito sério, porque aquele assunto, em que pensava pela primeira vez com toda a objectividade, tornara-se-lhe demasiado verosímil.
─ Sempre sonhei ter um filho cujo crescimento pudesse acompanhar, mas aparecer-me um assim… Não posso crer. Conheces a história da vida da mãe do Francisco?
─ Não, não conheço. Também ainda namoro com ele há pouco tempo.
─ Deixa lá!
Eduardo permaneceu pensativo até chegarem a casa. Depois resolveu esquecer o assunto temporariamente.

Rita seguiu para casa de Cristina onde havia pernoitado e deixado a roupa. O que Eduardo lhe contara sobre Mariana deixara-a intrigada e tomou a decisão de descobrir a história dela assim que chegasse a Pamplona.
Eduardo encontrou o pai e a mãe de Luísa a tomarem o pequeno-almoço na espaçosa cozinha.
─ Bom dia, gente boa! Dormiste bem, pai?
─ Muito bem. ─ respondeu o pai. ─ Já vens da rua?
─ A Luísa ainda dormia quando me levantei. Fui fazer a minha corrida matinal e encontrei a Rita.
─ Fazes-nos companhia ou esperas pela minha filha?
─ Espero por ela! Vou tomar banho primeiro. Tomem o vosso pequeno-almoço descansados. Com licença!
Eduardo dirigiu-se ao quarto da namorada com a intenção de lhe falar acerca de Sara ter estado em sua casa. Encontrou-a já pronta e ao telefone. A voz dela soava a preocupação.
─ A Rita encontra-se mal disposta. Pelos sintomas é uma gripe que vem a caminho.
─ Ainda agora a deixei de perfeita saúde!
─ Como?
─ Encontrei-a na praia a correr e regressei com ela. Parecia-me perfeitamente bem.
─ Mas, pelos vistos não está. O ar frio e húmido do mar fez-lhe mal. Queixa-se de dores de garganta.
─ Que aborrecimento! Eu gostaria de falar contigo sobre o fim-de-semana passado. Lembras-te que a Sara veio a Aveiro?
─ Desculpa amor! Falamos mais tarde, com tempo. Agora tenho que ir à procura de uns comprimidos. Depois temos que preparar o almoço e ainda tenho que ir buscar as crianças ao orfanato. Vais comigo?
─ Sim, mas primeiro vou tomar um duche e o pequeno-almoço. Não demoro.
Luísa beijou o namorado e saiu do quarto apreensiva.

Continua...

23 Comments:

Blogger tb said...

E lá vamos alegremente percorrendo e levantando mais um pouco do véu desta história bem imaginada e melhor contada. Ou será o contrário? :)))
beijinhos e boas festas

6:29 pm  
Anonymous Anonymous said...

Olá mais um capítulo e muito bom, a corrida a beira mar que é óptima... sempre quero ver como vai reagir a Luisa ao saber que a Sara passou o fim de semana em casa do Eduardo... assim como estou curiosa pela reacção do Eduardo ao saber da existência da Mariana, será que o amor pela Luisa vai balançar? ele diz que a ama de verdade, esperemos que o amor deles nao seja afectado... Feliz Natal, beijinhos

7:42 pm  
Anonymous Anonymous said...

Feliz Natal e próspero ano 2008.
Beijinhos cintilantes aos meus queridos net padrinhos.

11:20 pm  
Anonymous Anonymous said...

Esta gripe repentina da Rita é estranha e pelos vistos...o Eduardo tem um filhão sem saber:). Desejo-vos um bom Natal e um ano novo cheio de sucessos. Abraçso

11:31 pm  
Anonymous Anonymous said...

Hoje meu desejo deixo...

Que a Harmonia neste Natal desça sobre vós
Em forma de chuva de pétalas.

Doce beijo

4:14 pm  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Bem, por aquilo que me parece esta história ainda se vai enrolar muito mais. Isto promete...
Beijos e abraços.

5:32 pm  
Blogger Maré Viva said...

Vou voltar para ler, prometo, hoje e correndo, venho desejar-vos um Natal alegre, pleno de amor e desejo de partilhá-lo com o próximo.
Beijinhos.

6:49 pm  
Anonymous Anonymous said...

Muito obrigada aos dois pela visita e pelos votos deixados. Desejo-vos também um Natal muito feliz.

8:01 pm  
Blogger Papoila said...

É sempre um prazer vir ler esta história de personagens que já aprendi a considerar quase familia.
Para vocês, um FELIZ NATAL!
Um XI Apertado.
Beijos

12:40 pm  
Blogger O Profeta said...

Para ti que me visitaste
Ao longo destes poucos meses
Ofereço-te uma prenda singela
Uma estrela de mil cores

Roubei-a ao firmamento
Deposito-a na tua mão
Para que neste Natal
Te ilumine o coração

Um Santo e Mágico Natal


Doce beijo

2:59 pm  
Anonymous Anonymous said...

Os meus votos sinceros de BOAS FESTAS:
Um Feliz Natal e um Bom Ano 2008, especialmente com muita saúde.
Beijos / Abraços

10:03 pm  
Anonymous Anonymous said...

Amigos que este Natal seja de Paz e de felicidade para vós, familia e amigos

Um grd beijinho*

12:16 am  
Blogger margusta said...

Isa & Luis,
...Para Vós um Santo e Feliz Natal!

Muita Paz!
Muita Saude!
Muito Amor!

Obrigada por existirem, e por partilharem sempre comigo a Vossa Amizade, embora eu não seja muito assidua no Vosso espaço!

Obrigada por serem meus amigos!

Feliz 2008!

Beijinhos muitos!

1:01 am  
Anonymous Anonymous said...

hummmmmmmmmmmm gostei mesmo.. a escrita encanta-me, simples e corrida no desenrolar das emoções... e mistério á mistura, embora se vá desvendando algo para o leitor atento... o namorado, o filho... gosto deste «mistério» que as personagens «percorrem» e nós leitores assistimos, muito bem construído mesmo...~
e continuo a gostar de ler esta história que tem de tudo e muito bem escrita...
não deixarei mesmo de passar por aqui na continuação... quero saber se realmente as minhas suspeitas têm fundamento...
um sorriso grande de parabéns @@@

4:25 pm  
Anonymous Anonymous said...

São óptimas estas correrias à beira-mar, eu que tanto ando perto dele diariamente que o diga.

E, Francisco filho de Edu??? Ora, por esta não esperava eu! Bom, pode ser ou não o melhor é não me adiantar ao mistério... mas que há coincidências lá isso há!!!

E vai ser bonito vai quando Eduardo disser, por alto, a Luisa o que se passou no tal fim de semana com Sara... cheira-me a "esturro" por aqui!!! :)

Tadinha da Rita, que se terá passado em tão pouco tempo? Será só gripe? Ou... ou... ou... não sei vou esperar!!!

Excelente capítulo Srs escritores que gosto muito!!!

Beijinho e abraço!!!

7:26 am  
Anonymous Anonymous said...

O Natal já passou. Nós, moderadores e membros do grupo Livraria Virtual, esperamos que tenha passado da melhor maneira possível perto de quem mais gosta.
O ano novo está a chegar e acreditamos que seja melhor que o ano que está a terminar.
Boas entradas para o Novo Ano 2008 com muita leitura e aprendizagem.

http://livraria-virtual.blogspot.com/

1:53 pm  
Blogger Teresa lucas said...

voltei a visitar-vos um pouco tarde, mas....não faltei
O vosso conto está a desenrolar o novelo, por sinal muito bem dobado.
Continuem.
beijos e um bom e feliz 2008
Soli

8:55 pm  
Blogger Unknown said...

Que esta "Quadra" personifique o sentimento e que perdure pelo ano inteiro...

Que o novo ano de 2008 vos dê a FELICIDADE que merecem.

Bjnhs e abraços.

ZezinhoMota

10:50 am  
Blogger lena said...

Isa e Luís, meus amigos queridos
estive presente na quadra dos sentimentos

já se corre a passos largos para mais um fim de ano, de novo as corridas superfulas que me atormentam

corri pela praia, uma corrida lenta. à minha frente iam o Eduardo e a Rita. adorei o diálogo, troca de ideias que me deixaram encantada.
duas gerações diferentes mas com muitas coisas em comum.

a teia começou a ganhar forma, certamente que o nome de Mariana vai surgir mais vezes na mente do Eduardo

o resfriado da Rita e a atenção da Luísa à preparação do almoço, são um bom motivo para esta fugir à conversa que o Eduardo queria ter com ela, sobre a Sara. receio de saber o que se passou?

bem o importante é que pouco a pouco as peças se vão juntando.

eu como sempre adorei, estive presente e atenta

estendo os braços para vos abraçar com amizade, nas minhas mãos carrego a ternura e o carinho que tenho pelos dois e é o que vos ofereço

beijinhos meus, recheados de alegrias

lena

12:56 pm  
Anonymous Anonymous said...

Olá amigos, estive ausente por algum tempo devido a impossibilidade de comentar devido a erro que com muita paciência consegui detectar...Aqui estou revendo, atualizando-me nesta Virtual Realidade que desde o inicio chama-me a atenção...
Desejo a vocês muita paz, amor, prosperidade em 2008...
abraços/beijos

8:19 pm  
Anonymous Anonymous said...

Oi!Me desculpem a ausência.Coloquei a leitura mais ou menos em dia,estava perdendo muita coisa.Um 2008 repleto de muitas realizações pra vcs!Bjocas!
Ane
http://sulamemacedo.blog.uol.com.br

12:40 am  
Blogger Nilson Barcelli said...

O enredo promete...
E o mundo parece pequeno, a confirmar-se a eventual ligação ao passado do Eduardo.
Um óptimo 2008 para vocês.
Beijinhos e abraços.

10:24 am  
Anonymous Anonymous said...

Parte 116 - Levantar o véu de uma história antiga

Bom Ano!

Levanta-se a leve pluma
Num regresso ao passado
A vida será só uma
E cada qual tem seu fado.

Cumprimentos

10:10 pm  

Post a Comment

<< Home