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Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 03

Passaram quinze dias desde a última vez que Luísa falou com mds. Nos seus sonhos agitados voava, flutuando em céus infinitos. E nesses sonhos via uma estrela cintilando em direcção a ela.
Olhou para o monitor e de repente algo apareceu: uma pequena janela onde dizia aceita:
Reconheceu o nick e aceitou: era uma flor!
─ Uma flor para outra flor, dizia mds.
─ Obrigada!
─ Gostei muito, vou pô-la em água para não murchar, disse Luísa fazendo um sorriso. O sorriso dela voltou, assim como a expressão serena de sempre. O gesto tinha sido simples e puro.
─ Nunca mais te vi pelo IRC disse Luísa.
─ Estive ausente! Cheguei ontem.
─ Se tivesse o teu endereço de e-mail ter-te-ia escrito disse Luísa. Mas também não estavas para o ler. Como te chamas?
─ Eduardo e sou de Aveiro.
─ Eu sou Luísa, S Pedro de Muel.
─ Prazer.
─ Igualmente.
─ O que gostas de fazer? ─ Pergunta Eduardo.
─ Ouvir música, passear na beira do mar, estar com as amigas, comer num restaurante. E tu?
─ Ler, música, bom cinema, praia, desportos.
─ Sim, já tinhas dito qualquer coisa sobre isso. Lês muito?
─ Bastante, sim. Adoro ler. Ler faz bem e aprende-se muitas coisas.
─ Eu também gosto de bons filmes. E quanto a correr, corres muito, é?
─ Costumo correr por aí em meias maratonas; tenho participado em algumas:
Ovar, Nazaré, Lisboa, etc. Também gosto de andar de bicicleta; mais no verão quando o calor é muito para correr.
─ Como és? - Perguntou Luísa.
─ Física, química, ou psicologicamente? ─ Perguntou sorrindo mds
─ Tudo… J
─ Fisicamente tenho 1,75 metros e peso 70 kg. Cabelo castanho-escuro curto, olhos castanhos, uso barba.
Quimicamente, nunca fiz análises (lololol) mas acho que está tudo dentro do normal.
Psicologicamente sou calmo, paciente, tolerante até certos limites; o resto vais descobrindo com o tempo, caso continuemos a encontrarmo-nos por aqui.
Agora descreve-te tu….agora não; tenho de ir fazer o jantar ─ diz mds ─ vai ter de ficar para outra altura, mas fica prometido, ok?
─ Sim, eu prometo. Sabes cozinhar?
─ Tenho de saber, é a minha sobrevivência que está em causa: vivo sozinho.
Até mais logo e obrigado pela companhia. ***
─ Não agradeças, o prazer foi todo meu. Fica bem, até logo******
Luísa ficou a pensar como é que uma pessoa assim, como o Eduardo lhe parecia ser, podia viver sozinho. E ficou curiosa de saber mais coisas da vida dele. Prometeu a si mesma perguntar-lhe tudo quanto antes. Queria saber mais acerca dele, saber tudo.
Não teria sossego enquanto não o fizesse.
Pensou também que gostaria de encontrar uma amiga na Internet, clicou em vários nicks que lhe pareciam ser de mulher.
Umas diziam que estavam a sair do IRC outras pediam desculpa mas preferiam falar com homens.
Na hora do jantar Rita questionou a mãe sobre o IRC.
─ Mãezinha tens encontrado o teu misterioso homem?
─ Sim e até já sei o nome dele: chama-se Eduardo. E sei também algumas outras coisas interessantes que me aguçaram a curiosidade.
─ Coisas interessantes?! Hum! O que para aí vai! Estou a ver, estou! Lololol
Tu tem muito cuidado! Vê lá se é preciso eu tomar conta de ti?! Lololol. Não te agarres muito a essas amizades, pois acontece muitas vezes as pessoas falarem durante meses e depois uma delas desaparecer. Por exemplo, a mim já me aconteceu isso algumas vezes. O melhor é deixar rolar, e não nos apegarmos demasiado. È bom que aprendas a distinguir o virtual do real; sem se dar por isso está-se viciada na Internet.
Eu gostaria que saísses mais vezes com as tuas amigas; passeia, diverte-te e não estejas tão sozinha tendo apenas por companhia um monitor. Amanhã volto às aulas e não sei quando virei passar o fim-de-semana.
Adoro a nossa casa, o lugar. Tudo é maravilhoso desde que esteja ao pé do mar.

A casa situava-se no pinhal à beira da orla marítima, a dois passos do oceano. Bastava sair o portão do jardim e já se estava com um pé na praia, a paisagem era deslumbrante: um mar aberto, brilhante e puríssimo.

Continua...