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Friday, September 26, 2008

Virtual Realidade Parte 153


─ Eu sei muitas coisas a teu respeito, Mariana! ─ respondeu, começando a tratá-la familiarmente por tu.

─ Como assim se nunca nos vimos pessoalmente? Eu conheço-o porque o vi em fotografias que o meu filho levou para Pamplona que é onde eu moro. O senhor conheceu o Francisco em casa de Luísa, porque ele veio aos anos da namorada que é filha da Luísa.

─ Pois foi. É natural que não me reconheças porque estou mais velho e, naquele tempo, não usava barba, mas conhecemo-nos há muitos anos.

Mariana começou a tremer porque o timbre daquela voz começava a impor-se-lhe com a evidência das recordações do passado.

─ Há muitos anos… Não pode ser, não posso acreditar, ─ balbuciou perplexa. ─ tu és o Eduardo…?!

─ Olha bem os meus olhos! ─ pediu pegando-lhe docemente na mão ─ sim, eu sou o Eduardo que tu amaste, o Eduardo que te amou e quase morreu de desgosto quando tu desapareceste.

Congelada na sua frente, com o olhar perplexo como se tivesse acabado de ver um fantasma, Mariana reviu na sua mente todo o horror por que havia passado.

Eduardo teve o impulso de a segurar porque lhe pareceu que ela ia desmaiar e cair no chão desamparada, mas, ao estender os braços para ela, Mariana, com os olhos voltados para o chão, conseguiu dizer:

─ Eu também ia morrendo!

Eduardo abraçou-a e as lágrimas caíam pelos rostos de ambos, indiferentes às crianças que jogavam a bola e eram, no momento, os outros utilizadores daquele espaço. Um dos pequenos jogadores foi beber água e ficou parado a olhá-los como um pardalito admirado que nunca tivesse visto gente grande a chorar.

─ Anda daí jogar! ─ chamou o colega de equipa, vendo que ele se demorava.

─ Desculpa, estou todo transpirado de correr e tu tens o perfume do meu amor de há muitos anos atrás! ─ exclamou Eduardo, apartando-se dela.

─ Num momento como este, quem se importaria com isso? Tu és mesmo o Eduardo!

─ Pois sou! ─ respondeu a sorrir, ao mesmo tempo que tentava descobrir em si o que ainda sentiria por ela.

─ E agora?

─ Agora temos muitas coisas a esclarecer, mas eu tenho de ir tomar um banho quente e mudar de roupa antes que arrefeça. Vem comigo que depois levo-te a casa.

─ Vim sozinha porque a Sara estava a dormir. Tenho de a avisar!

─ Eu ligo-lhe!

Eduardo marcou o número e a irmã atendeu:

─ Eduardo, que se passa?

─ É só para te dizer que esqueças o plano para eu me encontrar com a tua irmã.

─ Ah sim, porquê, mudaste de ideias?

─ Não, mas já não é preciso!

─ Como assim?

─ Ela encontrou-me e está aqui comigo.

─ E eu não assisti ao vosso encontro. Espero que tenha corrido bem!

─ Sim, correu, está a correr muito bem. Foi uma feliz coincidência, depois contamos-te. Andei a fazer um treino na praia e agora tenho de ir a casa tomar banho. A tua irmã vai comigo e depois vamos buscar-te para irmos jantar fora os quatro, está bem?

─ Está óptimo, mas é os cinco, se não te importas, que o Miguel já chegou.

─ Perfeito! Esperem por nós então. Até já.

─ Pronto, vamos? ─ perguntou Eduardo a Mariana quando terminou a chamada.

─ Vamos.

Sabes, há uma coisa que preciso de saber com verdade e gostaria que mo dissesses. Há uns tempos surgiram-me umas suspeitas e não tenho conseguido parar de pensar no assunto desde então ─ disse Eduardo a caminho da casa de Luísa.

─ E que é…

─ O Francisco é meu filho?

─ Sim, é! ─ respondeu ela sem hesitação.

Eu tinha quase a certeza, mas precisava da tua confirmação. Gostei muito dele e senti que havia alguma afinidade entre nós.

─ Sim, é um bom menino, o teu filho, o nosso filho! Sabes, ao mostrar-me as fotografias ele falava de ti com muita admiração! Vocês devem ter conversado muito.

─ Sim, falámos bastante. Obrigado, Mariana, não podes imaginar como me sinto feliz!

─ Também eu de te ter encontrado, e então o Francisco quando souber... Eu sempre lhe falei de ti como uma pessoa muito querida e um dia ele disse-me assim: «Quando terminar o meu curso, a primeira coisa que farei é procurar o meu pai.» Se pudesse adivinhar que já o encontrou e que esteve tão perto dele…

─ É verdade! Tenho de ir a Pamplona dizer-lho pessoalmente.

─ Claro que virás!

Mariana calou-se, por momentos, muito emocionada e depois disse, um pouco timidamente:

─ Já sei que não estás sozinho…

─ Esperei tantos anos por ti, procurei-te por todo o lado… ─ explicou como que a desculpar-se de não ter esperado mais, por ter perdido a esperança de a voltar encontrar e não saber se ela ainda o amava.

─ O mundo separou-nos e não quis que nos voltássemos a unir. Sabes, também tenho alguém que amo e com quem vivo há algum tempo.

─ É bom saber isso e que és feliz. Eu também sou feliz com a Luísa.

─ Ainda bem, mas o Francisco será sempre o nosso filho, o filho do amor que um dia tivemos um pelo outro.

─ Certamente! Chegámos, é aqui a casa da Luísa.

Eduardo tocou a campainha e a namorada veio abrir.

─ Ah, vens acompanhado! ─ notou Luísa, sorridente.

─ Sim, adivinhas quem é?

─ Sim, sei quem é! É demasiado parecida com a Sara para eu não adivinhar!

As duas mulheres beijaram-se e Mariana disse a sorrir:

─ É muito bonita, o Eduardo tem muito bom gosto!

─ Pelos vistos sempre o teve! ─ respondeu Luísa, devolvendo o elogio. ─ Vamos entrando!

─ Olha, amor, guarda as batatinhas que vamos comer fora. Conversem um pouco enquanto vou ao meu banho; a seguir vamos buscar a Sara e O sobrinho. ─ disse Eduardo radiante.

─ Vem comigo que vou mudar-me. ─ pediu Luísa tomando, familiarmente, a mão de Mariana e arrastando-a até ao quarto. ─ Gosto do Francisco como se fosse meu filho e estou muito feliz de te conhecer.

─ A Rita também é como se fosse minha filha, gosto muito dela! ─ respondeu Mariana.

Depois de um breve silêncio, enquanto enfiava um vestido pela cabeça, Luísa disse:

─ Desculpa mas tenho de te falar uma coisa!

─ Imagino que estejas preocupada pela minha presença aqui. Vamos estar unidas por laços de família e ser amigas com certeza, por isso não receies falar. ─ convidou Mariana com um sorriso franco, deixando a outra muito à vontade.

─ Eu sei tudo sobre o Eduardo e o relacionamento que teve contigo. Ele é o pai do Francisco, não é?

─ Sim, é! Disse-lho há pouco.

─ Ah!

─ Amámo-nos muito sim, mas as circunstâncias da vida não nos permitiram mais do que os breves momentos em que originámos o nosso filho. Fica tranquila que neste momento apenas nos resta uma grande amizade e eu também já tenho outra pessoa na minha vida.

─ Compreendeste-me bem, obrigada! ─ agradeceu Luísa a sorrir. ─ Como achas que me fica este vestido?

─ Belissimamente, pareces uma rainha!

─ Vamos então?

─ Vamos!



Epílogo



Eduardo, que já as esperava, viu as duas mulheres saírem de braço dado do quarto de Luísa e, erguendo-se do sofá, envolveu-as no mesmo abraço dizendo:

─ Minhas lindas senhoras, vamos comemorar a Vida!


F I M


14 Comments:

Blogger Teresa lucas said...

Gostei.obrigada queridos amigos,pela partilha. Foi bom ler-vos ao longo deste tempo.Cada semana,que vos lia, ficava sempre o gostinho para o capitulo seguinte.
Agora que a história finalizou, que os desencontros, encontros e reencontros, nos aguçarem o apetite para o capitulo seguinte, espero que nao fiquem por aqui, pois se o fizerem vou sentir a falta de vos visitar.E caso editem, não esqueçam de avisar.
Beijos e até sempre queridos AMIGOS.
Soli

10:05 pm  
Blogger tb said...

Quando algo chega ao fim é o prazer do dever cumprido. Mas, no caso presente, fica um vazio ao pensamento de que não haverá a semana que vem.:)
Foi um prazer poder usufruir semana a semana da vossa história tão interessante. Espero que este seja, não o final, mas o ponto de partida para grandes voos. :)
Beijinhos de muita amizade

5:19 pm  
Blogger lena said...

chego à palavra "fim" sem saber o que dizer

o fim deixa-me um sabor amargo, um sentir a partida, um despegar...

sei que voos mais altos se levantam, com mais responsabilidade. direi um novo nascer diferente.

fico contente e extremamente feliz quando o vir em livro

é já um anseio meu, poder tocar-lhe, senti-lo, tê-lo na mão, sei lá, abri-lo sempre que me apetecer, sem ter de me ligar à máquina

um livro. é um livro e é sem sombra de dúvidas um amigo. este que espero será um amigo especial

foram 3 anos de convívio. mesmo sabendo que saia às sextas. mas para mim era importante saber que ele estava lá, não tinha dia de semana obrigatório. quando se gosta gosta-se de verdade e ler uma duas ou três vezes até me servia de companhia. foi assim que aconteceu.


“A mesa da sala de jantar estava repleta de minúsculos salgadinhos, bolos e outras iguarias para celebrar o aniversário da Rita.”

Foi assim que tudo começou

fui ao inicio, onde comecei a comentar. não assinava lena

penso que ainda te lembras

desculpem a nostalgia bateu à porta e sem querer deixei que entrasse, ficou ao meu lado e fez a lágrima cair


a minha ternura é presença, embrulhada num grande carinho e envolvida pela amizade que nos liga

êxito é a palavra que deixo. pois é o que mais vos desejo

até ao lançamento!

beijinhos aos meus dois grandes amigos, Isa e Luís

lena

8:06 pm  
Anonymous Anonymous said...

Caramba, eu que sou visto muitas vezes como um grande fala-barato agora fogem-me as palavras.
Foram anos de grande prazer e gosto entrar nesta partilha com vós, e agora que chega o fim, não me apetece falar (para dizer a verdade nem sei bem o que dizer)... não quero referenciar nenhuma parte ou altura do conto, ele vale pelo todo, houve sim capítulos excepcionais que me deliciaram em particular, mas é pelo todo que me maravilhou!
Olhem meus amigos obrigado pela partilha, pelos momentos de horas e horas que me agarraram à vossa escrita e leitura deste conto tão extraordinário!
Renovo os meus desejos de boa sorte na publicação.
E a seguir a este naturalmente outro conto/novela irá surgir.

Beijos e abraços cheiinhos de amizade para vós!!!

8:21 am  
Blogger Miguel Augusto said...

Acho que comemorar a vida é sem dúvida o melhor que podemos fazer! Abusar do prazer da companhia dos que amamos parece-me bem! ;)

1:33 pm  
Blogger Marisa said...

Não posso deixar de passar por aqui e não dizer nada que não me vá na alma e no coração.
Confesso que comecei a ler este "livro", não deixou de ser um livro que aqui foi escrito, e não o acabei de ler mas por vezes lia alguns capítulos e gostava e pensava em muito o que aqui está escrito. Muitas das coisas sei que foram imaginadas, mas na realidade acaba por acontecer um pouco com as pessoas, pode até nem ser todas que leram esta linda história, mas sei que acontece.
Meus queridos amigos, vocês apareceram na minha vida do nada mas espero que não desapareçam do nada, vocês são pessoas "virtuais" importantes para mim, nunca o deixarão de o ser e vocês sabem bem porquê. Adoro-vos.
Deixo aqui um grande beijinho com carinho e ternura eterna, desta vossa amiga que nunca vos esquece.

9:14 pm  
Blogger Papoila said...

Queridos Amigos:
Fico assim sem palavras com a palavra FIM depois destes 3 anos de leitura deste magnífico romance. Espero vê-lo editado e será um êxito.
Celebremos a vida! Vamos comemorá-la então,
Beijos

9:46 pm  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

.queridos Isa e Luis




vou ler alguns textos para trás para melhor compreender o final:)





e






________então comentarei:)









beijO_______
bSemana

7:15 pm  
Anonymous Anonymous said...

Queridos amigos
Muitos parabens, muito obrigado pela vossa escrita. Tao bem compreendida :) eu que fui uma frequentadora fervorosa do mIRC :))

Espero que seja editado :)

Bem hajam e um grande abraco de beijocas

Lina/Acordomar

1:35 am  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Um final bastante real. É que quase sempre a vida vence o amor.
Beijos e abraços.

11:47 pm  
Blogger João António Melo said...

Um romance muito bonito, agor há que publicar a obra. Muitos parabéns. Feliz 2009

11:12 pm  
Blogger PoesiaMGD said...

Gostava de ler agora o romance todo em contínuo. Belíssimo!
Abraço

6:04 pm  
Blogger Devaneios Poéticos said...

O Devaneios é um blog que foi criado para aqueles que gostam de partilhar seus poemas e suas prosas.
A ideia de se criar o blog, partiu da existência do canal #Devaneios, existente no chat do mIRC. É um canal onde se partilha igualmente os poemas e os seus sonhos mais encantados.
Inicialmente, o blog tinha sido criado para mostrarem apenas poemas, mas como ainda há poucas pessoas que conhecem o blog, aceita-se que também enviem suas prosas para o email devaneios.poesia@gmail.com.
O blog está em http://devaneiospoesia.blogspot.com/. Espero que gostei. Ele foi feito para os que gostam de escrever e para aqueles que gostam de poesia.

Cumprimentos atenciosos.

Marisa Correia

2:20 pm  
Blogger maresia_mar said...

Neste Natal arruma bem o teu coração para que Jesus lá possa acampar!

Boas festas
Beijos com sabor a canela

10:39 am  

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