Virtual Realidade Parte 141
Depois de desligar, Eduardo, começou a reunir em volta daquela peça, acabada de chegar às suas mãos, por um mero acaso, ─ o conhecimento de que Sara e Mariana eram irmãs ─ todas as outras que já possuía, numa tentativa de completar o puzzle que era afinal o enredo da sua vida.
Quando Luísa lhe mostrara o cordão, dias antes, logo se apercebeu que era o que Sara havia esquecido. Pegou nele e abriu-o, ficando sem saber o que pensar, ao ver uma fotografia com dois rostos de Mariana em posições ligeiramente diferentes, inclinados um para o outro, numa montagem bem conseguida. Mas a outra devia ser a Sara, conforme Luísa lhe havia sugerido.
Sara, acabara de lhe dar a chave do medalhão.
“Sara e Mariana, irmãs. Miguel sobrinho de Sara, mas filho de um irmão. Sara desconhecendo o paradeiro da sua gémea. Há uma Mariana no horizonte que é a mãe do Francisco, mas não pode ser ela. Não pode?
E se for? Se for, Francisco é primo do Miguel e sobrinho da Sara também. Mas como é que pode… e eu, o meu papel no meio disto tudo?”
Eduardo dava voltas ao pensamento tentando encontrar o elo que tornaria razoável aquele imbróglio que se formara na sua cabeça. Levantou-se, foi à cozinha pôr dois cubos de gelo num copo para se servir de um uísque e sentou-se de novo no sofá da sala, em frente da aparelhagem, onde colocara um CD de música clássica a tocar baixinho.
“Então Mariana casou logo após ter desaparecido, porque o filho tem idade para ter nascido pouco depois. Mas se Mariana casou logo por essa altura é porque me esqueceu rapidamente ou não gostava de mim; mas isso não é verdade, ela amava-me, tenho a certeza!”
─ Ah, ah, ah! Não pode ser a mesma Mariana. A mãe de Francisco é outra, tem de ser outra! ─ exclamou em voz alta.
E o monólogo continuou em voz alta depois de um gole de uísque:
─ Porque se não for outra e não tendo casado, ou foi violada ou… o Francisco é meu filho. Que hipótese mais ridícula! Ela nunca me disse que estava grávida. E se também não soubesse?! E se… demasiados ses! A verdade é que eu e ela éramos muito jovens, sabíamos pouco da vida e fomos algo descuidados. Tenho de admitir que é possível, mas isso não prova que seja verdade.
Eduardo passou as costas da mão pela testa, como que para apagar os últimos pensamentos, que teimosamente se evidenciavam na sua consciência, e avançavam naquele sentido inesperado, estranho, ainda difícil de digerir.
─ Francisco, meu filho? Vá, ando a ler demasiados romances e tenho imaginação a mais!
Por outro lado, não deixaria de ser engraçado se se verificasse. Pensando bem é uma teoria perfeitamente verosímil: tudo parece encaixar, mas falta-me a confirmação.
Já a Rita, há dias na praia, me levou a seguir esse raciocínio quando lhe contei da Mariana. Ela conhece a mãe do Francisco e se eu, na altura, tivesse comigo aquela foto talvez que… Será a mão do destino a… Ah, eu não acredito nisso, mas até a Luísa acha possível!
Mentalmente, Eduardo recapitulou o último período da sua vida depois de ter conhecido Luísa, acrescentando-lhe a hipotética descoberta de que era ele o pai de Francisco.
“Vejamos, conheci a Luísa que tem uma filha que se apaixona por um rapaz que é filho de uma tal Mariana e que, por coincidência, não conhece o pai, conforme já me confessou. Conheci a Sara que tem uma irmã gémea que se chama Mariana e cujo paradeiro desconhece há muitos anos.
Será estúpido acreditar que as duas Marianas são apenas uma e a mesma pessoa?
Não de todo! Se o Francisco cá estivesse ainda, eu poderia saber mais da história dele.
Preciso de descobrir o que há de verdade em tudo isto e só há um meio de o fazer:
Um dia destes pego na Luísa e vamos a Pamplona visitar a Rita, sempre quero conhecer a mãe do Francisco. Até lá não viverei tranquilo.”
Estes pensamentos punham-lhe no coração agitações incontroláveis ante a hipótese de voltar a encontrar, ao fim de tantos anos, aquela que havia sido o grande amor de uma boa parte da sua vida. E só pensar nisso era já como que a confirmação antecipada de que iria encontrá-la, o que o deixava, ao mesmo tempo, empolgadíssimo e apreensivo. No entanto, não podia deixar de sorrir intimamente ao pensar que, por detrás daquela possibilidade que se apresentava ao seu alcance, estava toda a tecnologia da Internet, essa fantástica invenção do homem que podia, finalmente, uni-lo a todos os seus semelhantes.
“O homem que mal fala para o seu vizinho que muitas vezes não conhece, consegue conhecer bem e falar assiduamente com outros homens e mulheres a muitos quilómetros de distância. E fazer amizades, criar intimidades que não tem com aqueles que lhe estão próximos.”
─ Chega de pensar por hoje. Vou distrair-me um pouco no IRC, ver se encontro alguém conhecido. ─ proferiu em voz alta, bebendo o último gole de uísque.
No canal Portugal alguém fazia a apologia de Salazar, mas não interveio porque sabia que o fascismo não é fácil de erradicar enquanto o tipo de educação das crianças nas famílias se mantiver. Também não lhe apetecia entrar em discussões que a ninguém aproveitariam pelas razões que sobejamente conhecia.
Limitou-se a olhar o canal até que um nick, miss_x, lhe atraiu a atenção, porque havia outros nicks que se metiam atrevidamente com ela:
mds ─ :)
mds ─ Meteste-te com quem não devias, a não ser que façam o teu género
miss_x ─ Se me carregares o tlm faço-te um strip pela web cam... Queres?
mds ─ Prostitui-te à vontade mas não comigo, ciao!
E outro veio teclar com ele em pvt:
Isabel_15 ─ Olá!
mds ─ Olá!
Isabel_15 ─ Nome, idade?
mds ─ Eduardo, 45
Isabel_15 ─ Adoro homens mais velhos
mds ─ Chamas-te Isabel e tens 15 anos?
Isabel ─ Sim
mds ─ E gostas de homens mais velhos. É para isso que andas aqui?
Isabel_15 ─ Claro, porque havia de ser?
mds ─ Estou a ver! E já arranjaste algum namorado mais velho?
Isabel_15 ─ Não, estava a pensar em ti; se fores simpático... Tens foto?
mds ─ Não tenho.
Isabel_15 ─ Mando-te a minha.
mds ─ Ok.
Ao ver a fotografia, ficou sem saber se devia acreditar que uma miúda de 15 anos lhe tivesse mandado uma foto de si mesma, completamente nua em pose provocante, mas não lho manifestou.
mds ─ És muito bonita!
Isabel_15 ─ Ainda bem que gostas. E então?
mds ─ Então o quê, se quero ser teu namorado? Não achas que é arriscado andares assim a meteres-te com homens mais velhos?
Isabel_15 ─ Oh pá, não me venhas com sermões! Se tu não curtes, diz logo, que não ando aqui a perder tempo! Olha este!
mds ─ E eu a pensar que já tinha visto de tudo, ora esta!
Isabel_15 ─ Vai dar uma volta, pá! É só paneleiros, que chatice!
Eduardo não disse mais nada e desligou o mIRC, razoavelmente chocado com o que acabara de ouvir. Tudo o que havia pensado antes era bem pouco para enquadrar toda a realidade sobre o mundo.
Continua...
9 Comments:
:)*
A história está a caminhar a passos largos para episódios empolgantes, gostei da abordagem ao irc, mas acho muito mais gritante nesse sentido o hi5!
Mais uma vez me ausentei por motivos imprevistos, desta vez por por perda do meu instrumento de comunicação...mas está quase resolvido! Estou um pouco fora da "virtual realidade", mas em breve retomarei o fio da meada.
Mil beijinhos.
Meus Queridos:
Mais um capítulo onde para além de vivermos as apreensões de Eduardo, personagem por quem já nutro amizade. Gostei da forma como abordaram os jovens e a net e os problemas que se colocam hoje em dia
Beijo
Coitado do Edu, anda cheio de conjecturas e fantasmas na cabeça e não é para menos, as peças do puzzle sobre Mariana, e Sara, e Francisco e Miguel começam a encaixarem-se, e assim muitos segredos serão revelados em breve... e os impactos destas revelações vão fazer mossa por aqui!
E também é pura verdade que esta coisa maravilhosa da Net nos mostra tudo, ou quase tudo, quando distraidamente por lá andamos... as meninas que se despem a troco de alguns carregamentos do tele é um facto... Edu ainda ficou mais baralhado do que estava com aquela foto da menina!
É uma evidência a complexidade de abordagens e interacção que as pessoas se deparam, e vivem, neste meio magnífico que é a Net... tudo pode mesmo acontecer!
E como não é tema tabu gostei como o focaram sem receios!
Mais um bom capítulo autores... beijinho e abraço.
(E gosto da imagem)
e assim se vai construindo uma história..
deixo-vos um beijo ainda com cheirinho a S. João
a imagem é bela, é por ela que começo
depois o capítulo, de novo surpreendente.
cada vez crescem mais na maneira como vão descrevendo os temas e as acções que vão surgindo.
uma narração perfeita do que muito pode acontecer
“Sara e Mariana, irmãs" o filho que é ou não é...
a confusão na cabeça do Eduardo..
claro Eduardo, eu digo que sim, não te confundas mais ...
depois a net a dura realidade que acontece tantas vezes
estiveram bem como sempre
abraço-vos com ternura, com amizade e o mesmo carinho de sempre
beijinhos aos dois que adoro
kena
Parte 141 - O puzzle e a chave do medalhão
Appreciate you blogging thiss
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