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Friday, August 29, 2008

Virtual Realidade Parte 149


Como hipnotizada, Cristina ouviu a narrativa de Eduardo e Sara sobre a fatídica manhã em que Victor, o marido, perecera na perseguição policial.

O namorado, preocupado com a sua reacção, esteve o tempo todo abraçado a ela.

─ Lamento muito Cristina, ninguém aqui desejaria a morte a um ser humano, apesar dos crimes que cometeu! ─ disse Eduardo no fim. ─ Também não fiquei feliz com o que lhe aconteceu, mas quem comete actos ilícitos corre grandes riscos e a polícia fez o que costuma em casos semelhantes.

Fez-se um silêncio até que ela respondeu amargurada:

─ Eu também não culpo ninguém a não ser a ele mesmo. Obrigada a todos e desculpem-me, preciso de ficar um pouco sozinha!

─ Nem eu, amor? ─ perguntou Rui carinhosamente.

─ Sim, vem comigo, por favor!

Saiu da sala, como um ciclone num dia de grande tempestade em que o mundo parece desabar, o coração destroçado pela dor e revoltada pela submissão de tantos anos, tentando, em vão, evitar as lágrimas que lhe caíam pelo rosto.

Faltava ainda o Daniel tomar conhecimento do que se havia passado e não fazia ideia de como reagiria. Aquele canalha, mesmo depois de morto, ainda os fazia sofrer.

Entrou no quarto de rompante e deixou-se cair sobre a cama num choro convulsivo.

O namorado puxou-a a si e acariciou-lhe os cabelos suavemente dizendo-lhe palavras de ternura ao ouvido.

Lentamente, Cristina foi-se acalmando.

─ Dorme um pouco, deixa a tua mente descansar, que eu velarei pelo teu sono.

Enroscada ao namorado fechou os olhos e acabou por adormecer.

Num sono agitado, flutuava numa tempestade de flores.

─ Pobre Cristina! ─ desabafou Luísa condoída pelo sofrimento da amiga.

─ Em breve recuperará. O Rui é muito carinhoso com ela, viste como não a largou um momento?

─ Sim, ele ama-a de verdade!

─ E o filho, já sabe? ─ perguntou Sara.

─ Pois, o pior ainda está para vir. Não sei como vai ser a reacção do Daniel, quando souber. Ele já vem a caminho, estava em viagem com o namorado. Quem lhe vai dizer?

─ Ele sabia alguma coisa sobre aquilo em que o pai estava envolvido? ─ perguntou Eduardo.

─ Não, não sabia! ─ respondeu Luísa.

─ Então vamos ter de começar por aí a contar-lhe tudo. ─ sugeriu Eduardo.

─ Sim, tem de ser. ─ anuiu Luísa.

─ Estaremos aqui todos para lhe dar apoio e força. ─ disse Sara

─ Claro que sim. Obrigada, amiga, pela preciosa ajuda.

─ Enquanto a Cristina recupera, nos braços do namorado, e o Daniel não chega, tenho outra coisa para te contar. ─ disse Eduardo dirigindo-se a Luísa com ar misteriosamente apreensivo.

─ É bom ou mau? Pela tua cara… deixas-me preocupada, amor!

─ É uma coisa maravilhosa!

─ Então! ...

─ Descobri que tenho um filho!

─ Deixa-me adivinhar, o Francisco!

─ Ele mesmo.

─ Tens a certeza?

─ Temos ─ respondeu indicando Sara com o olhar.

─ Fiquem os dois que eu vou espreitar o mar. ─ disse a escritora, imaginando que eles gostariam de ficar sós naquele momento de revelações tão importantes, até para o futuro de ambos.

─ Podes perfeitamente ficar ─ exclamou Eduardo. ─ Tu és uma amiga, já sabes de tudo e ajudaste-me a descobrir!

─ Por isso mesmo, já não preciso de ouvir. ─ respondeu Sara a sorrir ─ Eu já volto.

─ Como queiras então!

Sara, sorrateiramente, saiu da sala e foi até ao jardim. Os momentos a seguir seriam unicamente dos dois.

─ O Francisco, mas isso é uma felicidade muito grande para mim também! Conta-me então como soubeste! ─ pediu Luísa.

─ Eu sabia que ias ficar feliz por mim e por ti. Afinal também já gostavas dele como de um filho.

─ É verdade.

Eduardo expôs com todos os pormenores, o caminho que os tinha levado a descobrir o paradeiro de Mariana e a paternidade de Francisco.

─ A Sara foi fundamental na descoberta e hoje, para mim, foi um dia duplamente marcante: estou feliz por termos resolvido o problema da Inês e por ter descoberto que Francisco é meu filho.

─ Ela e as fotografias que o Francisco tirou por cá. Viste como eu já tinha avançado hipóteses nesse sentido?

─ Nunca quis acreditar, eu com um filho! Agora tenho um filho, sou pai! ─ gritou de júbilo, erguendo-se do sofá.

Depois sentou-se de novo, comovido, os olhos rasos de água.

─ Também estou feliz amor, é maravilhoso! Nós realmente achávamos vocês os dois com muita coisa em comum, quem diria!

─ Mas tu que tens acompanhado a minha vida há uns tempos para cá e que sabes tudo de mim, já viste bem o que me aconteceu?

─ Pois. Eles lá ainda não sabem de nada, pois não?

─ Onde, quem?

─ Em Pamplona.

─ A Mariana só sabe da irmã.

─ Mas, naturalmente, terão de saber! O que pensas fazer?

─ Claro, amor! A Mariana vem cá ver a irmã brevemente e depois veremos como lhe vou aparecer. A Sara encaminhará as coisas preparando-a antecipadamente para se encontrar comigo. Depois, a parte mais fácil será contar à Rita e ao Francisco e, para isso, talvez tenhamos de ir a Espanha porque quero estar presente no momento em que ele souber.

─ O meu coração apreensivo, tem uma pergunta para te fazer, mas não quero que me leves a mal!

─ Qual amor?

─ Como vai ser quando te vires na presença do grande amor da tua vida? ─ perguntou receosa.

─ Ora, era isso, tontinha?

─ Era!

─ O grande amor da minha vida, agora és tu! O outro já passou há muito, deixando-me apenas uma terna e dolorosa recordação.

─ E um filho…

─ O filho é a única coisa que não se apagará jamais. Estou seguro do meu amor por ti, fica tranquila! ─ acrescentou, beijando-a.

─ Desculpa, amor, eu confio em ti! ─ disse, abraçando-o contra o peito.

Sara entrou na sala e, ao ver aquele enternecedor quadro, sorriu intimamente feliz pelos dois. Sabia que tinha chegado tarde na vida amorosa de Eduardo mas tinha a certeza absoluta de que a amizade estaria sempre presente entre eles.

Sorridente aproximou-se, depois de ter sido notada, e foi convidada a entrar naquele amplexo pelos braços que se abriram à sua chegada.

─ Estou feliz também por ter reencontrado a sua irmã.

─ Tenho que agradecer à Luísa por isso, já que precipitou os acontecimentos dando o meu número à Rita.

─ Foram mais as fotografias que o Francisco tirou, depois ela pediu-me o número…

─ De qualquer modo… A vida é um romance em que cada um escreve o papel da sua personagem.

─ O mais estranho é que os papeis se encaixam, por vezes, tão perfeitamente, que parecem ter sido escritos por uma única cabeça. ─ notou Eduardo. ─ Como pode isso acontecer?

─ Agora vamos deixar que as coisas se componham para o lado da Cristina. Depois havemos de nos reunir todos para comemorar o desfecho da nossa … obra literária. ─ sugeriu Luísa.

─ Sim, temos de pensar nisso! Para a semana vem a minha irmã e já poderemos combinar alguma coisa.

Naquele momento Rui e Cristina reaparecem na sala e ficaram a saber a novidade.

Os amigos abraçaram-se fortemente comovidos pelo sonho que acabava de ser realizado.

─ Parabéns Eduardo, estou muito contente por ti! ─ disse Cristina .

─ Obrigado! Já estás mais conformada?

─ Preciso de mais tempo, mas já me aguento. ─ respondeu com um sorriso ainda débil.

─ Estamos cá para te ajudar no que for necessário.

─ Eu sei, meu amigo, eu sei!

Naquele momento, Daniel entrou na sala de jantar, acompanhado do namorado.

A mãe abraçou-se a ele a chorar.

─ O que se passa aqui, mamã? Porque estás a chorar?

─ O teu pai… ─ começou a dizer entre soluços.

Eduardo, vendo que ela não conseguia continuar, pôs amigavelmente a mão no ombro do rapaz e, com a ajuda de Sara, pô-lo ao corrente das investigações que tinham levado à tentativa de captura do pai e de como esta havia terminado.

À medida que ia ouvindo a narração, o rosto dele ia tomando sucessivas expressões de surpresa, de repugnância, de ódio, mas, quando soube que o pai havia morrido, sentiu um vazio dentro de si e abraçou de novo a mãe a chorar.


Continua...


7 Comments:

Blogger Marisa said...

Olá...
As férias já terminaram para toda a gente, ou quase toda a gente, pois algumas pessoas vão agora para férias.
Eu começo o meu trabalhinho segunda feira, como muita gente. Mas não deixo de passar por aqui nem que seja para vos dar um enorme beijinho com uma grande amizade e carinho.

11:50 am  
Anonymous Anonymous said...

Parte 149 - Grandes revelações

11:59 pm  
Anonymous Anonymous said...

E depois de tantas peripécias marcantes eis que neste capítulo, embora ainda um pouco pesaroso, se respira bem... as revelações são mais boas que más, o alívio dos casos de Inês e Victor terem tido resolução a contento, o amor e paixões estarem estáveis e... pois, a alegria esfusiante de Edu em saber-se papai (até se vê daqui a babinha na boca loll) o homem está "mortinho" por abraçar o filhote!!!
Mais um capítulo muitíssimo bem escrito autores!
Ahhh, antes que me esqueça, também quero estar presente na celebração desta obra literária... ponham já o champanhe no frigorífico se faz favor :)

Beijinho e abraço

6:25 am  
Blogger tb said...

Uma narrativa escorreita por onde entramos convivendo com os personagens sentindo as suas tristezas e alegrias. Cada dia melhor. :)
beijinhos

8:45 pm  
Blogger Parapeito said...

e que venha o próximo capitulo...sem querer parecer optimista ia jurar que conheço aquele bonita aldeia da foto:))

7:31 pm  
Blogger lena said...

num salto, aqui estou de novo
este capítulo tem bons e maus momentos

a morte de Victor, enquanto fugia à policia, numa cuidada participação do acontecimento à Cristina. um fim que se previa.

a doçura da Sara, do Eduardo e do Rui no apoio sempre presente e carinhoso num oficial momento

o contentamento do Eduardo na partilha com a Luísa do conhecimento do seu filho

emoções doces, mesmo misturadas na tristeza da perda de uma vida


mais um passo para o reencontro que será breve

continuo embalada no vosso romance, sempre na expectativa do desenrolar dos acontecimentos

o que escrevem prende-me e gosto

carinhosamente deixo o meu abraço amigo

beijinhos Isa e Luís

lena

12:31 pm  
Blogger Å®t Øf £övë said...

Vim ver se já havia novidades sobre a edição do livro.
Beijos e abraços.

12:23 am  

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