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Friday, July 20, 2007

Virtual Realidade Parte 95


Francisco introduziu, na máquina, o dinheiro necessário para o estacionamento da noite até às oito e meia da manhã seguinte, retirou o título, colocou-o visível no carro e subiu ao apartamento de Maria.
─ Tomas alguma coisa? ─ perguntou ela quando entraram.
─ Nada, obrigado!
─ Põe-te à vontade.
O apartamento, igual ao que ele próprio habitava por baixo, era aquecido e Francisco despiu a casaca e pousou-a numa cadeira enquanto olhava em volta, na sala, e não via sinais do computador.
─ O teu computador onde está?
─ Ali no quarto. Anda! ─ pediu ela, tomando-lhe familiarmente a mão e lançando-lhe um olhar sorridente, vagamente desafiador.
─ Não me estás a enganar? ─ perguntou ele, interpretando-lhe o gesto e sorrindo também.
Maria adivinhou-lhe o pensamento e, com um belo sorriso pleno de edénicas promessas, disse:
─ Claro que não. Achas que tenho outra intenção ao trazer-te para o meu quarto? ─
─ Nunca se sabe! ─ sorriu, simulando que brincava.
─ Vem, não tenhas medo!
─ Eu não tenho medo! Acontece, é que tenho muito que fazer ainda hoje e peço-te para irmos direitos ao assunto. ─ desculpou-se ele com ar sério.
Francisco deixou-se arrastar até ao quarto de Maria.
─ Vês, está ali!
De facto o portátil estava em cima de uma mesa pequena ao lado da cama.
─ Ok, desculpa! Vamos ver o que tem.
Francisco sentou-se em frente do computador que estava aberto, ligou-o e esperou que carregasse o sistema operativo.
Maria tirou o gorro da cabeça e o casaco comprido que lhe encobria o corpo escultural. Sacudiu a farta cabeleira avermelhada e sentou-se ao lado dele, ligeiramente atrás.
─ Ensinas-me?
─ Sim, claro, se souber.
─ Então vai-me explicando o que fazes, por favor! ─ pediu com voz muito doce junto ao ouvido dele.
Francisco voltou a cabeça na direcção de Maria, que espreitava por cima do seu ombro esquerdo, e as bocas de ambos quase se tocaram.
Ela notou um pouco de atrapalhação no olhar dele, quando Francisco sentiu aquela proximidade inesperada, e sorriu para si mesma do bom caminho que a situação tomava.
Muito experiente no conhecimento dos homens, decidiu aproveitar o momento e, antes que ele tivesse tempo de recuperar, avançou:
─ A minha proximidade incomoda-te?
Maria pousou-lhe a mão no ombro, inclinando-se mais, os seus cabelos roçando os dele, como que para ver melhor o que fazia.
─ Nem um pouco! ─ respondeu voltado para o computador, tentando concentrar-se de novo no aparelho.
─ Desculpa, pareceu-me. Eu não quis…só quero aprender ─ explicou, fingindo uma inocente perplexidade e parecendo extremamente sincera.
Francisco voltou-se para ela e disse com firmeza:
─ Vamos ficar calmos e tratar do teu computador, que foi isso que aqui me trouxe.
─ Nem eu te chamei para outra coisa. ─ mentiu ela.
─ Só não quero mal-entendidos. Vamos ao trabalho?
Francisco recuperara completamente a presença de espírito e não tinha dúvidas sobre o que queria, como habitualmente não costumava ter.
─ O computador não me parece muito mal. Apenas limpei todos os ficheiros temporários ─ informou, ao fim de algum tempo ─ Queixas-te de quê, afinal?
─ Acho-o lento.
─ Se desfragmentares o disco fica bom. Vou só encerrar uns serviços desnecessários para que a memória não fique tão ocupada. Tens 42 serviços a correr; se eu conseguir desligar 10 vais notar que o sistema fica melhor.
─ E desfragmentas o disco, por favor?
─ Não é difícil. Eu mostro-te como é e deixo-o a fazer. Depois só tens de esperar.
Maria via o seu plano ir irremediavelmente por água abaixo. Sentia a voz dele, calma e suave, mas firme e decidida. Aquele não era como os outros que se lhe dobravam com facilidade. Tinha-o avaliado mal. Aliás, nem entendia muito bem porque razão Francisco não se comovia com os seus avanços e deixava o computador, já que tinha percebido muito bem o que ela queria e não parecia ser tímido. Restava-lhe a sinceridade, calculada, para tentar não perder de todo o controle da situação, mas esperou que ele acabasse.
─ Sabes, há muito que te queria conhecer; não me leves a mal. Cruzámo-nos algumas vezes, mas parecia que nem me vias e eu ficava muito triste. ─ ao dizer isto, Maria apresentava um semblante desolado. ─ Soube, por acaso, que entendias de computadores e gostavas de ajudar, e elaborei esta ideia para poder falar contigo. Peço-te que me perdoes ter-te enganado! Acho que compreenderás que foi por uma boa causa: gosto de conhecer os vizinhos. O computador não tem nada e o que tu fizeste também eu sei fazer. Espero que quando tiver algum problema maior, acredites em mim e não me negues a tua ajuda.
─ Claro que não!
─ Obrigada! ─ agradeceu, aproximando-se dele já de pé para sair.
Francisco afastou-a com suavidade e foi caminhando para a saída.
─ Como não precisas mais de mim vou embora. Tenho um trabalho em casa para acabar.
─ Oh! Já vais. Perdoa-me o tempo que te roubei.
─ Não tem mal! Gostei de te conhecer. ─ respondeu por amabilidade.
─ Afinal nem nos apresentámos…
─ Pois não! O meu nome é Francisco Alberto.
─ És português?
─ Sou!
─ Eu também! Mas que fantástica coincidência! ─ exclamou, começando a falar na língua materna.
Francisco já sabia que ela era portuguesa desde aquela festa em que teve de intervir, mas não o deu a perceber e começou a falar também em português.
─ Ah sim?!
─ É verdade! Sou Maria Antunes, tenho 26 anos e estudo medicina cá na cidade.
─ Somos da mesma idade. Eu estou cá a estagiar em arquitectura.
─ Já estás licenciado então!
─ É verdade. Bom, desculpa, mas agora tenho de ir. A gente vê-se por aí. Hasta la vista!
─ Ao menos ficamos amigos?
─ Não vejo porque não. ─ respondeu Francisco evasivo e saindo escada abaixo.
Quando ficou só e já não podia ser ouvida por ele, Maria desabafou a sua raiva pelo mal sucedido encontro, gritando:
─ Hás-de ser meu! ─ e, reflectindo melhor, disse baixo: ─ A não ser que haja algo de errado contigo, mas eu hei-de descobrir.

A ira de Maria não lhe permitia ficar em casa. Retocou a maquilhagem, vestiu novamente o casaco, escondeu a linda cabeleira dentro do gorro, pegou nas chaves do carro e saiu.
O bar estava lotado, com pessoas a acomodarem-se de qualquer maneira nas mesas ou espremidas ao longo do balcão, segurando copos cheios e copos vazios. Ela atravessou-o para ver se estava alguém conhecido. Só frequentava aquele bar em momentos especiais. Um homem magro saiu de um banco oferecendo-lhe um sorriso radiante.
─ Há muito que não apareces por aqui minha guapa! Tinha saudades tuas! Senta-te aqui! Ou preferes ir para o nosso sítio do costume?
Ela olhou o relógio e respondeu friamente.
─ Vamos!
O homem pôs o braço pelas costas dela, os olhos repletos de desejo. Saíram para a rua. A noite estava fria, mas a cobiça e o dinheiro andavam de mãos dadas.─ Agora, querida ─ disse ardentemente ─ vou-te demonstrar o quanto senti a tua falta!

Continua...

14 Comments:

Blogger tb said...

Muito bem caracterizada aqui a mente e a deturpação das relações em certas pessoas, infelizmente bem reais.
Beijinhos

10:54 pm  
Blogger Rainbow said...

Fantástico! A Maria tem muito que se lhe diga... Quantas vezes, os nossos pensamentos não atrapalham mais, que a sinceridade do nosso coração!
Bom fim de semana.
Bjs coloridos

10:07 am  
Anonymous Anonymous said...

Olá queridos amigos.
Deixo-vos aqui um beijo com carinho e desejo-vos um excelente fim de semana.

3:23 pm  
Blogger Papoila said...

Muito bom. Não poderia acreditar que Francisco se deixasse influenciar. Muito bem caracterizada a personagem da Maria.
Beijos

8:57 pm  
Blogger Miguel Augusto said...

Mais uma vez uma realidade virtual muito semelhante à realidade real. Conituem no bom caminho

11:50 am  
Blogger PoesiaMGD said...

Má política essa da substituição!
Continuam a escrever muito bem!
Um abraço

7:04 pm  
Anonymous Anonymous said...

Mais uma vez bem engendrado o enredo deste capítulo. E agora desculpem lá a minha franqueza mas não sei se teria esta indiferença auto-imposta de Francisco a tão aliciante 'convite' de Maria! Esta mulher muito sabida vai desassossegar o espírito de Francisco sempre que tiver oportunidade, resta saber até que ponto o homem vai resistir a tão constantes benesses! A Rita tem de saber disto de qualquer maneira, só ela, ou Emília talvez, podem ser o 'muro'! Beijinho e abraço...

5:35 am  
Blogger Å®t Øf £övë said...

As mulheres normalmente conseguem quase sempre aquilo que querem. Vamos lá ver como se irá safar o Francisco quando o cerco apertar ainda mais.
Beijos e abraços.

10:40 pm  
Blogger Jorge Bicho said...

olá amigos, há muito tempo que não vinha aqui - enfim afazeres. sinto a vossa história com um corpo diferente, mas extremamente bonita. nem sabem o quanto é verdade a vossa ficção, ou sabem. quero dizer-vos que continuo sempre a passar por aqui. mas gostava de vos ver também com uns poemas, principalmente a Isa, que tanto gosto de ler.
beijos e abraços
JB

12:43 pm  
Anonymous Anonymous said...

Isa e Luis que interessante! Muito bem vamos ver no que dá...!Um beijo.

6:51 pm  
Anonymous Anonymous said...

Olá amigos!!!
Vou precisar de tempo para colocar esta leitura em dia ;) :P

Vim dizer que estou de volta!!

Beijokasss*

10:01 pm  
Anonymous Anonymous said...

Cada vez gosto menos dessa Maria e cada vez gosto mais do Francisco;)
Beijokas 1000

11:38 pm  
Blogger amigona avó e a neta princesa said...

Voltarei para continuar a ler...deixo um abraço de saudades...há já algum tempo que não passava por aqui...

12:50 pm  
Blogger maresia_mar said...

Olá meus kidos amigos,
já pus a leitura em dia ufa.. Bjhs e bom fds, parece que é desta que finalmente vou para a praia

5:19 pm  

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