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Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 07

Luísa, já em casa, foi directamente, para o computador. Tinha ficado a ver o pôr-do-sol e eram mais de 21:30 horas. Precisava de falar com o Eduardo. Ele devia de estar quase a aparecer, se não estivesse já lá. Queria-lhe contar mais um episódio da sua vida, que ainda não tinha tido coragem de fazer. Ela sabia que ele era um bom ouvinte e ia compreender as suas carências, apaziguar os seus sobressaltos. Em tão pouco tempo de convívio através do IRC ela sentia que lhe podia confiar a sua alma. Coisa estranha! Não o conhecia pessoalmente mas já confiava nele como se o tivesse conhecido desde sempre.
Quantas vezes tinha sonhado com um amigo assim, a quem pudesse contar tudo, com quem pudesse partilhar as alegrias e tristezas, sempre pronto a ajudar sem nada pedir em troca.
Eduardo parecia ser esse amigo impossível de encontrar mesmo nos sonhos mais optimistas.
Olhou para o monitor com os olhos brilhantes, o coração a bater forte, as mãos suadas. Mas não, o Eduardo ainda não se encontrava naquele momento on-line.
Deixou-se ficar por ali um bocado; ele apareceria com certeza.
Entrou no canal Poesia deu as boas noites a quem estava, alguns responderam-lhe outros não, e foi lendo os poemas que passavam. Alguns eram belos poemas de poetas consagrados, outros menos bons e outros ainda, que nem poesia se poderiam chamar, eram supostamente feitos por aqueles que os passavam. Alguns destes eram queixumes, revoltas, desabafos, de uma juventude um pouco à deriva, não por culpa própria mas vitimas inocentes de um sistema que os abafa.
Esperou cerca de uma hora mas do Eduardo nem sombra.
Desanimada foi trabalhar, para desanuviar a cabeça e ajudar a passar o tempo.
Cansada e deprimida, deitou-se mais cedo do que o habitual. Tomou um comprimido para relaxar, e caiu num sono profundo. Sentiu alguém entrar no quarto.
“ Era, o Eduardo”. Ele agarrou-lhe na mão. Levou-a para um sofá e sentaram-se. Ela sorriu, envolveu a cabeça dele com as suas duas mãos e beijaram-se. E depois …, depois foi o amor num sítio escuro e exótico. Eduardo despiu-a, calmamente, beijou todas as suas partes do seu corpo, penetrou-a suavemente como as ondas que beijam areia prateada. Luísa gemeu de prazer. Perto do orgasmo abriu os olhos. Olhou em seu redor, estava completamente sozinha, nua e transpirada. Levantou-se, abriu a janela e mirou a lua. Talvez ela soubesse em que parte do país o Eduardo se encontraria.
Deitou-se de novo mas não adormeceu mais. Esperou na cama a chegada dos primeiros raios de sol daquela manhã de domingo, embalada pela lembrança doce do sonho que acabava de ter.
E pôs-se a pensar: “ e se eu estiver enganada; afinal não o conheço pessoalmente, nunca o vi. Devo estar doida! Mas ele parece tão boa pessoa; nunca é grosseiro nem estúpido; também não parece andar no engate; mostra-se sempre atencioso mas distante, como quem gosta de ajudar mas não quer nada para si. Jamais disse ou sequer sugeriu que estava interessado num relacionamento amoroso. Estranho isso, quando a grande maioria anda no IRC à procura de sexo e dizem palavrões e são grosseiros. O Eduardo é culto, inteligente e não tem conversas banais.
E SE EU ESTIVER ENGANADA?!
Será que por detrás desse aparente desinteresse esconde algo de inconfessável? Quem é o Eduardo afinal?! Como é que eu me posso entregar, mesmo em sonhos, a um homem que nunca vi, de quem apenas sei o que me diz e nem sei se isso será verdade?! Devo estar a ficar doida! Já não sou nenhuma adolescente!”
A filha tinha-a alertado para não se agarrar a essas amizades e, sobretudo para não as deixar evoluir para algum sentimento mais profundo. Se até na vida real, conhecendo-se as pessoas pessoalmente, somos enganados a cada passo, aqui mais facilmente o poderemos ser. O risco de que isso aconteça é enorme.

Continua...

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