Name:
Location: Portugal

Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 10

Apesar de tudo Eduardo teve uma noite de sono plena e tranquila e acordou bem disposto já pelas 10 horas da manhã! Tomou o habitual duche matinal de água fria e ingeriu um iogurte e uma peça de fruta. Daí a duas horas iria fazer um treino de corrida em estrada.
Gostava de praticar desporto, futebol e corrida, e já tinha participado em várias meias maratonas: Lisboa, Nazaré, Ovar e outras. Aquele esforço físico fazia-o sentir-se bem.
Foi ao IRC enquanto ñ chegava a hora do treino; para sua surpresa Luísa estava lá.
─ Olá, bom dia Princesa! Por aqui a esta hora?
─ Olá, bom dia! Que surpresa boa! Ontem saíste tão apressadamente que nem apanhaste o meu beijo de despedida.
─ Pois foi; desculpa, portei-me mal contigo.
─ Não foi isso que eu quis dizer; não peças desculpa.
─ Mas é verdade, fui incorrecto. Foi reflexo de defesa: fugi para não te contar as dores da minha existência.
─ E vieste agora para me contares essas dores que te afligem?
─ Ainda não vai ser desta. Vim só até serem horas de ir ao meu treino; daqui a pouco sairei e só voltarei mais tarde. Antes que esqueça desejo-te um bom fim-de-semana.
─ Para ti também. Mas estou admirada: tu és um mistério! Quanto mais vou sabendo de ti, mais verifico o quanto não te conheço.
─ Como assim?!
─ Por exemplo, essas «dores da tua existência» que ainda não me contaste.
─ Um dia destes, quando estiver disposto, contar-te-ei tudo.
─ Ah, acho bem! E não pode ser hoje?
─ Para te falar naquelas coisas tenho de ter uma disposição especial porque elas mexem muito comigo, apesar de estarem longe no tempo.
─ Queres dizer que ainda não confias em mim?
─ Não é nada disso, só que ainda não houve tempo nem a tal disposição para te contar tudo.
─ Ok (risos), estava só a entrar contigo para ver o que dizias.
─ A testar-me, estou a ver! Isso é muito feio (risos) da tua parte. Além disso não tenho nenhuma obrigação para contigo que me leve a contar-te tudo da minha vida. Por acaso eu faço-te perguntas sobre a tua?
─ Desculpa; mas tem calma, não te zangues comigo; estava a brincar, está bem?
─ Querida, eu aqui jamais me zangarei com alguém. Apenas quis dizer que não gosto que forcem a entrada na minha intimidade. Só entrará nela quem eu deixar e quando eu deixar. Está bem?
─ Sinto que estamos a resvalar por um precipício e eu não queria ir por aí. Desculpa se te ofendi. O que acontece é que quando me interesso por alguém gosto de saber tudo dessa pessoa, mas já vi que fiz borrada desta vez.
─ Não é nada disso! Vamos continuar como bons amigos respeitando cada um o espaço e o tempo do outro. Isto se tu quiseres, claro. Jamais pensaria em ferir-te de algum modo ou suscitar em ti sentimentos para além da amizade pura e simples.
─ Claro que quero continuar tua amiga; não perderia isso por nada, mas percebi bem o recado e agradeço.
─ Não percebo muito bem o que queres dizer com essa de recado, mas tu bem sabes que eu nunca te prometi nada.
─ Pois sei, tens razão; eu é que …
─ Tu é que o quê?
─ Nada, esquece.
─ Eu nem quero imaginar o que tu andarás a pensar, mas está bem, não insisto. Amigos como antes?
─ Por mim absolutamente. Jamais me perdoaria se perdesse a tua amizade por causa de uma estupidez.
─ No que depender de mim não a perderás.
─ Obrigada pela confiança, fofinho! Posso continuar a chamar-te assim?
─ Tudo bem fofinha! Mas agora está na horinha do meu treino; já digeri o pequeno-almoço. Mais uma vez um bom fim-de-semana para ti.
─ Igualmente, meu bom amigo!
─ Não ficas triste?
─ Vai-te lá embora. Farei por não ficar.
─ Não fiques. Logo mais estarei aqui; se quiseres aparecer…
─ Está bem; depois verei isso. Bom treino!
─ Obrigado! Beijos doces!
─ Muitos para ti também!
Eduardo partiu descontraído e aliviado para o seu treino semanal.
Luisa com as lágrimas a escorrerem pelo rosto, e as mãos a tremerem, tinha acabado por responder sensatamente ao Eduardo. Levantou-se da cadeira em soluços e dirigiu-se ao seu quarto deitando-se na cama. Cerrou olhos numa tentativa vã de afastar a dor e a solidão do seu coração, que lhe pesava como uma montanha e sangrava como um passáro ferido. Nesse sábado ainda voltou ao computador, depois do almoço, para colocar num poema a dor que lhe ia na alma:

Porquê Coração
.
Numa manhã outonal
onde as folhas amarelecidas
serpenteando ao som do vento
entravam pela janela
confundindo a luz farta
.
Muros de solidão
gritos abafados
a macular o silêncio.
.
Porquê coração
acalentar dentro de ti
este florir
o sentir
a fantasia
de um amor impossível
colher no pranto, um hino à vida
e à alegria.

A seguir Luísa foi ao IRC.

Continua...

0 Comments:

Post a Comment

<< Home