Virtual Realidade Parte 30
Francisco pediu uns dias de dispensa no estúdio explicando a situação e partiu com a mãe para Madrid onde obtiveram a confirmação dos factos tendo mesmo identificado os corpos de Romero e Consuelo.
Mariana regressou a Portugal e Francisco seguiu para Pamplona.
Chegada a casa, Mariana nessa noite mal dormiu. Como iria ser a sua vida? E o filho, com o curso para acabar? Se não fosse aquele filho já teria abandonado a vida há muito tempo. Agora apenas pedia para o ver orientado e feliz. Francisco era a melhor coisa que algum dia teve e a quem nem tinha contado que havia um tempo a essa parte que não se sentia bem de saúde, para não o preocupar nesta fase da carreira dele.
Em breve iriam aparecer os herdeiros, via-se de novo na rua sem casa, o filho sem alojamento para continuar em Pamplona e sem ganhar o bastante para pagar uma renda, e com falta de forças para o poder ajudar.
Iria morar naquela vivenda dos arredores de Faro enquanto não aparecesse ninguém a reclamar a sua posse, e depois?
Mal amanheceu, Mariana levantou-se para enfrentar o dia.
Os seus protectores sempre lhe tinham dito que, se um dia algo de grave lhes acontecesse, se dirigisse ao escritório do advogado deles em Faro onde receberia todas as informações necessárias.
A Primavera estava próxima com o tempo já ameno e cheio de sol. Um sol que contrastava com as nuvens tenebrosas no horizonte de Mariana.
Pelas nove horas telefonou a marcar entrevista com o advogado. Só poderia ser recebida no dia seguinte pelas dez.
Saiu de casa e foi caminhando sem destino pelas ruas que em tempos tinha percorrido à procura da sobrevivência. Pareceu-lhe tão longínquo e tão perto esse tempo…
E Mariana pensava em como teria sido diferente a sua vida se não fosse a incompreensão dos homens. Lembrou-se de Jesus e daquele conto, o Suave Milagre que as freiras lhe liam muitas vezes, em pequena, no tempo em que viveu no Porto. Uma lágrima desceu-lhe pela face, salgada e quente como uma dor que corrói. Apesar de educada em ambiente profundamente religioso, não acreditava em deus porque as pregações dos ministros religiosos lhe pareceram sempre eivadas de contradições e faziam mais mal do que bem; mas sentia por Cristo um carinho especial.
Na educação do filho ela tinha procedido como imaginava que Jesus faria se tivesse sido ele a criá-lo. Ele não era um deus, mas um homem excepcional que tinha tido a sorte de não ter sido impedido de sentir a vida, a vida viva, a vida autêntica dentro de si, e por isso jamais seria capaz de fazer isso a uma criança.
Na sua ingénua simplicidade ela sentia que as pessoas eram seres mortos, autómatos sem vida, sempre prontos a proibir todas as manifestações genuínas da natureza nas crianças.
Ela sabia que eram essas proibições que estragavam a inocência e a bondade natural nas pessoas transformando-as depois em todo o género de aberrações da espécie humana.
Mariana pensava em si, na sua situação e na do filho face às dificuldades materiais, mas também em toda uma humanidade profundamente doente e com difíceis esperanças de cura. Não lhe apetecia comer nem ir para casa. Não tinha casa. Sentou-se numa esplanada e pediu um chá. Olhando a ria pôs-se a imaginar quantas tempestades se esconderiam por debaixo daquelas águas mansas, como se escondiam no coração dos homens por detrás do aparente calmo quotidiano. As pessoas andavam, os carros circulavam no ritmo habitual como se tudo estivesse pelo melhor no melhor dos mundos. Ninguém se importava, ninguém fazia nada para mudar as coisas, apesar de notarem que havia demasiados problemas no mundo: a droga, a pedofilia, a prostituição, o terrorismo…Mas não lhes conheciam as causas: a culpa era dos pretos, dos ciganos, dos muçulmanos…era preciso mais policia, leis mais duras, mais repressão, e os políticos esfregando as mãos de contentes porque assim poderiam impor as suas regras a uma humanidade desorientada e insegura, em vez de lhes fazerem ver que a responsabilidade era delas mesmas por pensarem daquele modo.
E o Eduardo por onde andaria? Como seria a sua vida, teria mulher, filhos? Nunca mais soube nada acerca dele. Tão gentil, tão carinhoso! Ainda seria assim ou estaria mudado?
Muitas vezes pensou procurá-lo mas imaginou que ele pudesse ter casado, tivesse a sua vida organizada, e o aparecimento dela só iria perturbar a vida dele. Por outro lado, tinha o filho e não queria ficar sem ele. Não queria correr esse risco. E depois era já demasiado tarde e a vida não se repete.
Era quase noite quando regressou a casa. A sua grande preocupação era o futuro do filho. O que faria agora? Chorar, não resolveria nada. Precisava muito de dormir. No dia seguinte teria de tomar o destino nas suas mãos, na medida em que isso lhe fosse possível. Tomou dois soníferos com uma chávena de chá e foi-se deitar.
A noite passou rápida e, graças aos comprimidos, bem dormida. Eram dez horas e cinco minutos quando Mariana foi convidada a entrar no gabinete do advogado.
Em meia hora contou-lhe tudo o que tinha acontecido e também a sua situação e receios quanto ao futuro. O advogado era amigo pessoal do casal e ficou muito consternado.
─ Mariana, sossegue que não fica na rua. Os meus clientes tomaram as medidas necessárias para a proteger. Para já só lhe posso dizer que vai ficar bem. Os seus protectores fizeram um testamento que será oficialmente apresentado e lido na presença de todos os herdeiros. Só nessa altura saberá tudo em pormenor. A partir de agora vou tomar todas as medidas necessárias no sentido de convocar os beneficiários para uma data a estabelecer. Até lá aguarde as minhas notícias. Prometo que tomarei isto ao meu cuidado para não demorar muito. Há também a questão do funeral…
─ Obrigada doutor! Eles sempre disseram que gostariam de ficar sepultados aqui mesmo em Faro quando morressem, e eu gostaria de tratar disso.
─ Sim, faça isso então. Fale com uma agência funerária que eles tratam de tudo. Alguma coisa de que necessite telefone-me ou procure-me. Preciso da certidão de óbito para depois legalizar as partilhas. A propósito, procure lá em casa nos papéis do senhor Romero algum documento que ache importante como cópias de escritura, seguros, etc. e traga-mos logo.
─ Farei isso doutor. Obrigada por tudo.
Despediram-se e Mariana saiu. Quando chegou a casa foi procurar os documentos. Encontrou várias cópias de escritura, uma relação de bens e uma apólice de seguro de vida. Sem ler nada guardou tudo numa pasta e telefonou ao advogado. Pouco depois encontravam-se para a entrega dos papéis.
Depois de dois meses de diligências e angústias, Mariana soube que tinha herdado a vivenda do Algarve, situada num bairro residencial dos arredores de Faro, de rés-do-chão, tipo T3 e com um pequeno jardim. Beneficiou ainda de um seguro de vida no valor de cem mil euros. O apartamento da Serafin Olave havia calhado em herança a um sobrinho do casal Romero, e Francisco, a quem a mãe agora já podia pagar uma renda, mudou-se para um T2 da avenida Sancho el Fuerte, ainda mais perto do estúdio de arquitectura onde estagiava.
Duas semanas depois Mariana foi para Pamplona morar com o filho.
O Verão aproximava-se e com ele as temperaturas elevadas da época, de uma cidade de clima continental.
Os dias decorriam normalmente. Francisco estava integrado no trabalho de estúdio e começava a orientar projectos e a assistir ao acompanhamento de algumas obras, o que o levava a viajar, muitas vezes para longe da cidade.
Mariana não pôde mais esconder do filho que se sentia doente e cansada.
─ Mãezinha, tens de consultar um médico. Vamos à Clínica de Navarra; é uma das melhores clínicas da Europa. Vem aí gente de todo o lado.
Mariana só se convenceu a ir a uma consulta quando começou a sentir dores na zona abdominal, e um dia respondeu:
─ Pois sim, meu filho, iremos.
Continua...
38 Comments:
E aqui continua esta linda história mas, como gosto muito de fotografia, quero aqui referir esta extraordinária imagem !...
Beijinho.
e cá estou eu de novo.Parece que me pregaste uma partida:) eu à espera das confidencias e leva a historia para outro caminho. Mas tambem foi bom retomar o contacto com a historia de Mariana e do Filho.
Continua amiga que cá te espero para a semana ( já não és tu que me esperas, mas sim eu que te espero lolol) beijos
Vou seguindo a tua história. Parece-me que foi interrompida num ponto crucial... vou esperar pela continuação!
Um beijinho.
Olá,
É sempre um prazer encontrar-te nas linhas. Cá estou para uma leitura agradável desta interessante história. Gostei particularmente do "episódio" de hoje. Vida e pensamentos de quem vive de olhos e mente abertas.
Bom fim de semana prolongada na semana.
Beijinhos
Fiquei surpreendida com o novo rumo da história, estava também à espera de confidências... mas isto só torna a coisa mais saborosa e inquietante...
obrigado pela poesia deixada no meu blog.
beijinhos da planicie
Mar
Fantástica a ideia de criar um romance on-line. Fiquei agarrada às diferentes histórias que vão desenvolvendo e esperando, ansiosa, o desenrolar e as ligações... continuem.
abraços
XannaX
Ola Isa,
Vim agradecer-te o carinho deixado no meu cantinho...K belo poema tao adequado a minha vivencia recente...
Passei a tarde toda a ler este romance...fikei presa e ansiosa por ler o proximo capitulo...
Voces escrevem mt bem, desenrolam a historia de uma forma cativante, k prende a atençao do leitor...
A proposito, voces ja lançaram algum livro?Cm fizeram?
Beijihos e bom fds
Ola Isa,
Vim agradecer-te o carinho deixado no meu cantinho...Lindo poema tao adequado a minha vivencia recente...
Passei a tarde toda a ler este romance...estou ansiosa pelo capitulo seguinte... escrevem muito bem, desenrolam muito bem a historia...esta um maximo...!!!
A proposito, voces ja lançaram algum livro?Cm fizeram?
Beijihos e bom fds
Bom, confesso que me prendi a este blog. O tempo para ler escasseia e há bastante tempo que abandonei o hábito da leitura, mas por um acaso, aqui vim ter um dia e visito a página diariamente na esperança da continuação deste romance on-line. E estou a gostar imenso. Fico a aguardar o próximo capítulo. Um beijo.
Obrigada pela visita! Bom final de semana!
Olá Luís, em resposta ao seu comentário, de minha parte não pretendo provar nada! Tal como disse, foi um email que recebi e de algum modo mexeu comigo, por isso resolvi compartilhá-lo com toda a gente. Talvez o Luis me possa dizer se percebeu ou se tirou alguma conclusão! Ou então é como disse, é apenas mais um post de caracter apenas informativo! De qq maneira, penso que a pessoa que o escreveu deve pretender passar a msg de que devemos ter, não medo mas respeito por Deus! Agora o que me fez arrepiar foram os factos e associação de factos feitos por esa pessoa, que não sei mesmo quem é!
Beijinhos e volte sempre!
E já agora, eh eh eh , ao contrário do que algumas pesoas pensam, eu não sou a da foto!!! ih ih ih ih
Um abraço,
Daniela
Não me vou pronunciar já, porque não li o inicio do romance, mas vou faze-lo aos poucos conforme a disponibilidade que tiver... Mas desde já, é sempre de valorizar a iniciativa e como forma te incentivo só tenho a acrescentar, continuem que vão bem!
Bjs e abr!
Hei :)
Gostei da v/historia, a minha vai-se fazendo ;) ao sabor do vento e...como sabes...sem coordenadas definidas :)
hoje estou feliz, o sol encheu a minha casa e a minha alma :)
beijos reconhecidos!
Realmente interessante.
Uma novela "on line" original.
E porque não?
A "estória" está bem concebida e bem alinhavada.
Excelente
Mouro do Barlavento
Queridos Isa e Luís.
Adorei vcs participarem da festinha de 2 anos do meu blog. Muito obrigada pelo doce comentário. Tenho q visitar outros blogs e volto com tempo para apreciar seu post.
Bom domingo e uma semana cheia de alegrias.
Um abraço carinhoso.
Regina
...venho agradecer e retribuir as amáveis visitas
olá, vim aqui pela 1ª vez, agradecer a vossa visita ao Barlavento e gostei muito de ler o último capítulo do vosso romance on line.
Vou voltar, de certeza!
Baby
Gostou daquela do padre de trancoso! eh eh eh
Se calhar, se andarmos para trás na árvore genealógica, em Trancoso ainda são todos primos!!!
ah ah ah ah ah
Beijinhos
Olá. Confesso que só agora conheci este blog. Pelo que pude ler, está muito interessante; a aguardar pela continuação...
E continua a ansiedade, a curiosidade a cada capítulo...
Fiquem bem e lhes desejo otimos dias
beijos
mais um episódio do vosso romance, este muito virado para a realidade, gostei de viajar no que descrevem,
relembrar o que aconteceu em Madrid fez-me arrepiar, é muito real infelizmente.
ainda bem que tudo se resolveu e bem com a Mariana e o filho pode continuar os estudos
a saúde de Mariana certamente que corre riscos e é natural ela agora contar ao filho quem é o seu pai e o que se passou,
é dramático conseguir guardar por tantos anos um segredo e privar o filho de um pai, mas tudo acontece nesta vida...
vou continuar à espera de mais acontecimentos, pois conseguiram prender-me a este vosso romance, onde o virtual se mistura com o real e está a fazer dele uma bela narrativa
beijinhos aos dois e até sexta
lena
obrigada pela visita, fiquei feliz por vir aki tbm...
o comentario do post acima n funcionava entao entrei aki....
bjoks e apareça sempre
Obrigada pela visita!Pena eu n ter descoberto este blog antes,assim já cheguei ao meio da história.Boa semana.Beijokas 1000
Passando rapidamente para desejar uma boa semana e uma Páscoa repleta de amor e paz. Estou saindo de férias mas voltar rapido. bjks ternas para ambos...xau madrinha. Vou até Porto Covo, queres vir?
Olá. Embora não tenha lido tudo o que escreveram já apanhei grande parte das histórias de vida que se vão desenrolando e felicito-vos não só pela óptima escrita como pela sua ordenação, minúcia e a diversidade de temos focados. Como outros leitores que vos vêm acompanhando, fiquei surpresa pela mudança de "cenário" tendo de retroceder para apanhar o fio à meada. Contudo foi uma excelente ideia a introdução deste episódio deixando pendente a curiosidade aguçada pelo anterior. Um bjo, uma flor e uma excelente semana para vocês
Corrijo: diversidade de temas.
Bjos
Que bom é ler as vossas descrições e os vossos diálogos!
Faro... Pamplona... Mariana e filho...
Mariana convencida, filho carinhoso...
Clínica de Navarra... pode ser...final com saúde a melhorar.
~*Um beijo*~
Luís, que bom que você voltou, a questão da foto vem na sequência de o Luís ter dito que leu todos os comentários e mesmo por cima do seu, estava um comentário de uma leitora que elogiou a "minha beleza"!rsrsrs
Claro que desfiz o engano!
Realmente há uma diferença entre respeito e medo! Até já pensei escrever um post sobre esse assunto! provavelmente será um dos próximos temas! Obrigada pela sua observação!
Um abraço amigo para si e para a Isa,
Daniela
Beijokas aos dois e desejo-vos para além de uma boa semana; também já uma boa Páscoa!
***
Olá, passei para agradecer a visita e deixar um beijo e abraço de boa semana! Voltem sempre.
Olá!!
Passei por aqui para deixar um beijinho e um obrigada (isa) pelo poema, belissimo, que deixaste lá no meu cantinho!!
Uma boa semana!!
:)))))))))))))))))))
Parabéns pela excelente escrita, é entusiasmante. Os desejos de uma feliz Páscoa!
Tomara que Mariana não tenha nada grave.Quando será o encontro dela com Eduardo?BjoS!
Espero que a Mariana, fique logo curada. Acho o máximo escrever e cuidar da vida dos personagens como desejo, rs. Tens o dom para a escrita. Beijão e um feliz Páscoa.
Olá!!!!!!!! Finalmente estou cá de novo! Bem, fiz uma verdadeira maratona para ler tudo e ficar actualizada do q se passa com os nosso artistas. continuo a gostar imenso da historinha. Aquela coisa do sapo mudar de paltaforma está uma confusão... aporveito desde já para desejar um optimo feriado e muitas amendoas doces pois afinal a Pascoa é só uma vez no ano ;) Jinhos e agora q aqui xeguei vou continuar sempre a aparecer;) SMAK
Oi! continuo a seguir a histora, admito que ainda num outro "capitulo" mas quase a ca chegar! Estou a gostar! Boa Pascoa!
Hoje sou um coelhinho saltitante que vos deixa mil amendoas e mil beijos!
Boa Pascoa!
Sejam felizes :)
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