Virtual Realidade Parte 23
Luísa despediu-se apressada prometendo dar notícias. Iria convidar a Rita para jantar fora, para ela se poder descontrair um pouco. Se ficasse em casa acabaria por se fechar no quarto a estudar.
Mãe e filha havia muito que não tinham uma noite tão agradável. Tinham ido ao restaurante italiano, elas apreciavam muito as" pastas". Chegaram a casa já passava da meia-noite.
─ Mãezinha, vou-me deitar; prefiro amanhã levantar-me cedo e estudar. Estou a cair de sono, um beijo.
─ Dorme bem filhota, sonhos lindos!
Luísa, em vez de ir para a cama, foi para o computador. Encontrou o mds online.
─ Olá menino lindo! Ainda por aqui? Beijinhos!
─ Olá! Estava mesmo de saída; estive a falar com a Cátia mas ela acabou de sair para ir dormir. Já que apareceste fico um pouco mais.
─ Obrigada! Acho que fazes bem! Afinal sou ou não sou boa companhia para ti? ─ Perguntou Luísa a sorrir.
─ Claro que és! Convencida! (risos)
─ És mau, a chamar-me nomes feios! ─ Retorquiu Luísa fingindo-se amuada ─ Estou muito zangada contigo!
─ Ai é?! E o que posso fazer para te recompensar da ofensa? ─ Perguntou Eduardo fingindo acreditar.
─ Já sei! ─ Declarou Luísa depois de pensar um pouco ─ Vais contar-me a tua história. Pode ser?
─ Está aqui a cheirar a queimado! ─ Diz Eduardo a rir.
─ Queimado! O que se passa, tens fogo em casa?
─ Não, és tu que ardes de curiosidade pela minha história. Tinha-te prometido para quando viesses do Algarve. Queres mesmo ouvir agora? Vai levar tempo.
─ Tu pregas-me cada susto!... Pensei que tivesses a casa a arder! Ufa! Vá lá, começa! Sou toda ouvidos.
─ Mas antes promete-me que retiras a zanga.
─ Prometo que a retirarei depois de ouvir tudo.
─ Então fica confortável e ouve:
“Eu fui criado com os meus avós maternos. Eles eram lavradores. Tinham sempre empregados para ajudar no campo e na lida da casa.
Naquele dia quente de verão, eu estava sentado debaixo de uma latada a descansar à hora da sesta, quando de repente apareceu ao meu lado uma jovem muito bela.
─ Peço desculpa, balbuciou ela timidamente. Não queria incomodar.
Notei a sua atrapalhação e sosseguei-a dizendo:
─ Não atrapalhas nada! Mas quem és tu e de onde caíste? Deves ter caído do céu porque estas velhas videiras nunca deram uma flor semelhante.
Eu falei assim mas também estava um pouco embaraçado. Ela era realmente linda, na sua indumentária simples de rapariga do campo, e isso perturbava-me. Nem era meu hábito ser galanteador e talvez tenha dito aquilo porque ela me impressionava e também para disfarçar a minha atrapalhação, que eu não queria nada que se notasse.
Ela corou um pouco e respondeu, embaraçada:
─ Cheguei ontem. Vim trabalhar para casa da D. Matilde
─ Sim, a minha avó. Mas antes de mais nada fica à vontade; eu não tenho fama de fazer mal ás pessoas! Chamo-me Eduardo. E tu?
Ela esboçou um sorriso tímido e respondeu num sussurro:
─ Mariana. Mas tenho de ir. ─ E fugiu apressada.
Passaram-se uns dias e não voltei a ver Mariana. Encontrei-a um belo dia pela tardinha a apanhar flores para enfeitar as jarras. Minha avó adorava flores. Os nossos olhares cruzaram-se. Desde que tinha visto a Mariana, pela primeira vez que dava comigo a pensar nela muitas vezes. Sorrindo aproximei-me. Olá Mariana! Agora fala-me de ti. Que idade tens?
─ Dezanove anos.
─ Eu sou um pouco mais velho do que tu, ando a estudar no Porto. Meus avós insistem para que tire um curso. Mas eu não gosto de estudar. Queria ser lavrador.
─ Se eu tivesse podido estudar não seria empregada doméstica.
─ Deus dá pão a quem não tem dentes! És de onde, Mariana?
─ Sou do Gerez.
─ Gerez?!
─ Sim, os meus pais são pobres e tiveram muitos filhos. Eu fui criada no Porto numa casa de freiras.
Ao ouvir isto não pude deixar de sentir como o mundo era injusto para aquela frágil rapariga, tão delicada, reduzida à condição de criada de servir, como se dizia naquela altura.
─ Tenho que ir agora, sua avó pode dar pela minha ausência.
─ Promete-me que um dia destes iremos ao campo fazer um piquenique?
─ Não sei o que a sua avó diria ─ respondeu embaraçada.
─ Não te preocupes, eu defendo-te. ─ Dizendo isto, peguei-lhe na mão que tremia ao contacto da minha. ─ Não te deixo ir sem me prometeres que aceitas!
Mariana cada vez mais embaraçada acabou por aceitar. Deixei-a ir e atirei-lhe um beijo que ela não viu.
Tinham passado quinze dias desde a última vez que trocamos aquelas palavras sobre o passeio ao campo. Nunca mais tínhamos falado apenas trocávamos uns olhares quando os nossos caminhos se cruzavam. Cada vez pensava mais nela, ansiava por a ter nos meus braços, beijá-la, trocar carinhos.
Finalmente chegou o dia do piquenique, tínhamos combinado tudo de véspera. Eu expliquei-lhe onde ela devia ir ter. Ao fundo da quinta dos meus avós havia um pequeno montado. Quando Mariana chegou, eu já esperava por ela. Ela trazia os cabelos soltos eram pretos como azevinho, vestido rodado, o rosto estava corado pelo sol que fazia. Parecia uma princesa. Estendemos a toalha debaixo de um sobreiro e começamos a tirar todas as iguarias de dentro do cesto. Enquanto comíamos íamos descobrindo muita coisa sobre nós os dois. A paixão estava no ar. Aproximei-me mais dela e abracei-a afagando-lhe o rosto toquei-lhe ao de leve nos lábios dela, sussurrando:
─ Por que é que não me querias ver?
─ Porque estou a viver um sonho demasiado bonito.
Ela aproximou-se lentamente entregando-se aquele beijo que cada vez ficou mais penetrante e o desejo de ambos reflectia-se nos nossos corpos trémulos e impacientes. Depois daquele dia maravilhoso, tivemos mais alguns, vivíamos o nosso amor com muita paixão, fazendo projectos para o futuro. Estávamos realmente apaixonados um pelo outro.
Um dia Mariana tinha partido sem uma única explicação. Fiquei louco de dor e raiva, maldizendo este amor que me consumia. Mais tarde soube por um dos empregados da quinta por sinal muito meu amigo, que tinha ouvido comentar Mariana tinha sido despedida. Os meus avós descobriram o nosso amor, e fizeram-lhe prometer que desapareceria da minha vida; éramos demasiado novos e eu tinha que tirar um curso. Eles espezinharam os seus sentimentos. Apenas tenho uma fotografia daquele bendito piquenique. Até hoje eu penso na doce Mariana que tanto amei.”
Luísa estava comovida com a história de Eduardo e foi com lágrimas nos olhos que disse:
─ E amas ainda!?
─ Sinceramente não sei, apenas que tenho vivido com esta recordação e a mágoa de não termos vivido o nosso amor. Ultimamente sinto-me mais liberto, para dar uma nova oportunidade á minha vida.
─ E que fizeste depois? Não a procuraste?
─ Sim, claro! Procurei-a pelas redondezas mas ninguém me sou dizer nada dela. Tive uma discussão acesa com a minha avó que me disse que não era mulher para mim. Furioso, saí de casa, deixei de estudar e arranjei emprego no Porto, o mesmo que tenho hoje. A minha avó cortou-me a mesada mas não me importei. Só voltei a ver a minha avó quando o meu avô morreu. Ela agarrou-se a mim a chorar e pediu-me perdão por todo o mal que me tinha feito. Eu perdoei-lhe mas era tarde para retomar a minha vida anterior.
─ Pois. Que curso tiravas?
─ Medicina.
Luísa agradeceu por ele ter confiado nela a ponto de lhe contar algo tão sublime e íntimo. Durante algum tempo deu-lhe muita força e esperança num futuro melhor.
As lágrimas que escorriam incontroláveis pelas faces de Eduardo não o deixaram escrever mais nada por largos minutos. Quando finalmente as conseguiu controlar pediu desculpa, despediu-se e desligou.
Luísa ficou entre aliviada e pesarosa. Finalmente sabia tudo do Eduardo, mas receava que ele nunca se viesse a interessar por ela. Era então aquele o grande segredo do Eduardo!
Mariana antes de partir da quinta tinha ido até à pequena capela da herdade onde chorou toda a sua desgraça e implorou á Virgem que lhe indicasse o bom caminho e que não abandonasse o homem que amava. Eduardo não sabia que Mariana naquele dia levava com ela a semente do seu amor.
Continua...
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