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Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 12

Eduardo desligou o computador e foi preparar o almoço. Quando não comia fora era sempre ele que preparava as suas refeições, o que acontecia quase sempre nos fins-de-semana. Mas como já não era cedo e a fome apertava, foi ao restaurante a cem metros de onde morava e encomendou um prato de bacalhau com natas para levar para casa.
Precisava de se despachar porque queria ver se apanhava Luísa no IRC; tinha decidido que precisava de ter uma conversa séria com ela para lhe tirar da cabeça qualquer esperança que ela pudesse ter quanto a um envolvimento amoroso com ele. Não queria que Luísa alimentasse esperanças vãs a seu respeito e depois, mais tarde viesse a sofrer com isso.
Não tinha feito nada para que Luísa sentisse por ele algo mais do que simples amizade.
Acabou de almoçar e ligou o computador. Correu o mirc e Luísa lá estava assinalada na notify list.
─ Olá Princesa! Almoçaste bem?
─ Sim e tu?
─ Também. E resolvi que se estivesses cá iria passar a tarde contigo a teclar.
─ Ah!
─ Não pareces muito entusiasmada com a ideia…
─ Por mim tanto faz.
─ Se quiseres vou embora; não quero que a minha presença te perturbe.
─ Não, isto é de todos; não precisas de sair.
─ Estou a ver que te apanhei em péssima altura. Foi por causa daquilo que eu disse antes?
─ Não, eu é que já tenho idade para ter juízo. As minhas amigas bem me avisam…
─ Ok! Já percebi tudo: não devia ter-te falado daquele jeito.
─ Não, não percebeste nada. São tudo coisas da minha cabeça, não foi culpa tua.
─ Tu deves saber que gosto muito de ti mas não exijas de mim mais do que aquilo que eu te posso dar: amizade. Seria incapaz de te magoar enganando-te, mas também ficarei muito triste se a nossa amizade tiver de acabar aqui.
─ Sabes que não te posso forçar a nada e que mesmo que pudesse não o faria. Respeito a tua liberdade e quero continuar a ser tua amiga. Só te peço que não me roubes os meus sonhos; eu não te maçarei com os meus sentimentos por ti. Quem sabe se um dia eles não se tornarão realidade. Pelo menos deixa-me viver essa esperança.
─ Nunca te prometi nada e não é agora que o vou fazer. Não posso adivinhar o futuro.
Mas tudo bem, não te roubarei os teus sonhos nem nunca foi essa a minha intenção. Vou respeitar o teu espaço e o teu tempo assim como espero que respeites os meus. Quero ver-te sorrir sempre.
─ Não me queres mal por gostar demasiado de ti?
─ Claro que não tontinha! Claro que não.
─ Ainda bem que vieste ter comigo! Tiraste-me um pesadelo de cima. Agora choro mas de alegria. Depois do que disseste há pouco pensei que me odiavas.
─ Que pensamentos terríveis passaram por dentro dessa cabecinha linda! Eu nem posso acreditar! E o curioso é que eu fui correr e desisti porque me passou pela cabeça que te tinha feito mal com aquelas palavras e não me conseguia concentrar no treino.
Vim para casa antes de acabar, na esperança de te encontrar para ter contigo esta conversa. Tu não estavas, encontrei apenas a Cátia e estive a teclar com ela até ir almoçar.
─ Sim a Cátia, gosto muito dela.
─ Ela também gosta muito de ti.
─ Desculpa, tenho os olhos embaciados.
─ Mas…
─ Não te preocupes, estou feliz, devolveste-me a esperança e isso me basta. Obrigada muito! Não te peço mais nada, mas quero contar sempre com a tua amizade.
─ Isso eu posso prometer-te.
─ És um amor! Jinhos. Tenho de sair para espairecer um pouco. E tu vais ainda ficar aqui?
─ Não, vou também dar uma volta. Tem um bom resto de sábado.
─ E tu também, obrigada! Beijos.
─ Beijos para ti também e au revoir!
Luísa desligou. Eduardo estava para desligar também quando Fallen_Angel apareceu.
─ Olá fofo!
─ Olá amiguinha! Almoçaste bem?
─ Sim, e tu?
─ Também. Por pouco apanhavas a reine; acabou mesmo agora de sair. E eu ia fazer o mesmo.
─ Entendeste-te com ela?
─ Sim, tivemos uma boa conversa e esclarecemos as coisas. Acho que a deixei menos triste agora.
─ Fizeste-lhe uma declaração de amor? J
─ Não, nada disso, apenas lhe falei de amizade, mas ela compreendeu.
─ Oh! Achas que sim? Mas contaste-lhe aquelas razões…
─ Não, ainda não contei nada. Um dia contarei tudo sem me sentir forçado a fazê-lo. Fá-lo-ei livremente, sem pressões, quando achar que chegou a ocasião.
─ Tu lá sabes, mas espero que não demores muito. E a mim contas-me também?
─ Quanto a demorar não posso prometer nada. Quanto a contar-te, porque queres saber uma história infeliz que só te iria fazer ficar triste?
─ Apenas porque sou tua amiga e desabafar pode fazer-te bem. Prometes que me contas?
─ Sim, claro! És também uma boa amiga. E tu estás bem?
─ Uns dias melhores do que outros, mas por agora não me queixo, merci!
─ Vá lá, conta tudo! O que foi desta vez?
─ As dificuldades do costume a quem está na minha situação: não podemos ir a lado nenhum sem encontrarmos obstáculos em todo o lado. Até para subir um passeio precisamos de ajuda; ninguém se lembra de nós quando se constroem as coisas e isto faz desanimar. Aparece sempre alguém que ajuda mas podíamos ser mais independentes, se não houvesse barreiras arquitectónicas. È muito chato estarmos sempre e em todo o lado dependentes da ajuda de alguém.
─ Pois, tens razão. Imagino o que sentes.
─ E em casa são as mesmas dificuldades: para fazer qualquer coisa, até ir à casa de banho, preciso da ajuda da minha mãe. Às vezes desanimo, porque me lembro de que se ela um dia me faltar quem me ajudará. Não poderei viver sozinha porque não me basto a mim mesma; não sou auto-suficiente.
─ É complicada a tua vida e ainda queres ouvir contar os meus males! Depois do que me contaste os meus sofrimentos deixaram de ter qualquer valor.
─ Não digas isso! Cada um sofre os seus e tem de procurar resolvê-los ou adaptar-se a eles. Só estando bem conseguimos ajudar os outros. Para mim não há esperança, tive de me adaptar.
─ Agora sou eu que digo que não digas isso! Um dia gostarás de alguém que gostará de ti e os teus problemas de agora passarão para segundo plano.
─ Deus te oiça! Olha vou descansar um pouco, dói-me a cabeça.
─ Também vou sair para espairecer. Até uma próxima e as melhoras.
─ Jinhos e porta-te bem! ─ O mesmo te digo eu! Jinho grande!

Continua...