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Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 14

Luísa chegou a casa ofegante, bebeu um copo de água e deitou-se um pouco no sofá a relaxar, depois do susto que apanhou.
A conversa, que teve com a Cristina ainda estava a martelar-lhe a cabeça. Luísa levantou-se e foi direita ao computador. Não lhe apetecia trabalhar. Correu o MIRC e lá estava o nick mds na notify list.
O mds manda-lhe um beijo*
─ Olá, Eduardo, estás bom?
─ Sim! E tu como vais, minha querida?
─ Eu estou bem, mas muito ansiosa por te encontrar. São muitos dias sem falar contigo.
─ Tens andado bem, nada de tristezas? E o que fizeste na minha ausência? Divertiste-te muito?
─ Sim estou bem; não tenho andado triste, estou confiante em que um dia o meu sonho se realizará. Tenho trabalhado, tratei da casa, fiz ginástica, fui ao orfanato, enfim, as coisas do costume. A Rita também está com frequências, e não tem vindo a casa.
E tu, como passaste os teus dias?
─ Eu fiz bastantes quilómetros e ainda passei pela casa do meu pai que vive a 50km de mim. Fui ajudá-lo na horta.
─ Tu percebes alguma coisa de agricultura?
─ Claro, eu também tenho uma pequena horta. Cuido dela com muito gosto, mais ao fim-de-semana. Fui criado com os meus avós que eram agricultores.
─ Não tens vindo ao MIRC? Estive aqui ontem e não te vi.
─ Mas viste os meus e-mails?
─ Sim, obrigada, gostei muito! Eu venho todos os dias espreitar. Sempre com a esperança de te encontrar. E também tenho conhecido pessoas interessantes num canal de poesia.
─ Estás a fazer progressos. Daqui a pouco perco a minha amiga querida.
─ Nem pensar! Eu serei sempre a tua amiga. Tu compreendes-me, escutas-me e estou sempre aprender algo contigo. És maravilhoso! Adoro-te!
─ Não sei se mereço tudo issoJ)
─ Não mereces mas eu tenho bom coração. (risos)
─ Estou a ver que estás bem disposta.
─ Não me queixo, mas podia estar melhor…
O Eduardo compreendia muito bem o que Luísa queria dizer. Ela gostava de partilhar com ele alegrias e tristezas. Tinha sempre uma palavra positiva para a fazer compreender quando estava certa ou errada. Mas pelo seu lado não se abria muito. Porque não queria prender-se nem que se prendessem a ele. Luísa, por sua vez tinha necessidade de ser tratada com todo o respeito e carinho como o Eduardo fazia. Era o único carinho que recebia de um homem nestes últimos meses. Por isso é que ela se tinha começado a apaixonar por ele.
Ainda lhe doíam as palavras que ele tinha proferido dando a entender que não estava interessado no amor dela, mas voltou a falar com ele entusiasmada, sem dar pelas horas que iam passando. E Eduardo também ficava esquecido do tempo quando falava com Luísa e nem queriam saber dos outros nicks que cintilavam nos seus monitores.
De repente, Luísa disse:
─ Não queres a minha fotografia? Ficavas a conhecer com quem teclas.
─ Pode ser! Mas aviso já que não tenho nenhuma para te enviar. E também é preciso ter cuidado ao enviar fotos aqui na Internet. Há pessoas que se aproveitam e utilizam para sites menos recomendados, como os sites de pornografia, fazendo montagens.
─ Eu não tenho esse hábito, mas tu és diferente, falamos há meses e nunca me pediste nada. Eu tenho toda a confiança em ti, mas tu estás sempre muito reservado.
─ Talvez seja uma forma de me defender.
─ …
─ A fotografia está linda, és uma pessoa muito interessanteJ)
─ Obrigada!
─ Então conta-me que tipo de conversas interessantes tens tido por aqui…
─ Por exemplo, sobre religião. Já leste o Código da Vinci?
─ Sim, já li e gostei muito.
─ Tenho falado sobre esse livro com outras pessoas que também já o leram. Achas que o Dan Brown tem razão? Que aquilo pode ter algum fundo de verdade?
─ Sobre Maria Madalena ter sido mulher de Jesus e todo o resto?
─ De modo geral o que eu penso do livro é que é uma boa obra de entretenimento: prende-nos do princípio ao fim; e tem, além disso, o mérito de nos fazer pensar sobre a validade das «verdades eternas e incontestáveis» em que estamos habituados a acreditar desde sempre.
─ Eu também acho isso. Gostei muito do livro e fiquei presa até acabar a leitura. Agora quanto às ideias polémicas que ele transmite tenho muitas dúvidas; é difícil pôr-mos em causa «verdades» milenárias que já fazem parte da nossa cultura e estrutura psíquica há 2 milhares de anos. E é o que muita gente acha; gente com quem tenho falado aqui. Uns dizem logo que é tudo treta para colocar a igreja mal vista, sabe-se lá com que intenções.
Outros, mais racionais, dizem que nada está confirmado e que até a existência histórica de Cristo não é um dado absolutamente seguro. E tu o que achas?
─ Acho que aprendi muito com essa leitura e que ela veio ao encontro de muitas coisas que eu já pensava. Embora Dan Brown não prove nada, eu tenho todas as razões do mundo para acreditar que o catolicismo se baseia numa mistificação gigantesca. Cristo, a ter existido como realidade histórica, sendo o homem que se supõe ter sido em matéria de comportamento não podia ter deixado de amar as mulheres e de ser amado por elas, com tudo o que isso implica em termos de relacionamento sexual. A psicologia já mostrou que a sexualidade reprimida torna os homens incapazes de ter um comportamento social saudável. Que é o que acontece à grande maioria de nós. Quanto mais leio e penso sobre isso mais me convenço de que Cristo pode muito bem ter tido em Maria Madalena o grande amor da sua vida. Aliás, se estamos a falar no contexto de uma religião que, supostamente, prega o amor, porque repugnará tanto aos fundamentalistas católicos acreditar numa coisa tão natural como essa?
Mas levaríamos muitas horas a falar sobre isso e já é tarde. Se quiseres, um dia destes poderemos voltar ao assunto com mais tempo.
─ Dizes coisas interessantes; gostaria de te ouvir falar mais sobre isso. Eu estou um pouco na expectativa: não pendo para nenhum dos lados. Sou muito crítica em relação a religiões mas tenho muitas lacunas na minha cultura em geral e na religiosa em particular. Vais ter de me explicar tudo o que pensas disso para eu aprender contigo.
─ Quando quiseres! É então sobre essas coisas que tens andado a falar no IRC?
─ Essas e outras do género. São assuntos apaixonantes, mas a maior parte das pessoas prefere nem sequer pensar sobre isso; incomoda-os. Para eles são verdades estabelecidas sem qualquer tipo de contestação.
─ Talvez tenham herdado nos genes o medo das perseguições da Santa Inquisição. (risos)
─ Parece que sim, ou então foram amputados duma parte do cérebro.
─ Psicologicamente falando, sim. Agora vamos nanar? Amanhã tenho que ir cedinho,
─ Sim vamos! Tem uma boa noite, dorme bem; beijinhos fofos.─ Bons sonhos, Princesa***************

Continua...