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Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 18

Almoçaram na pequena esplanada instalada na varanda da sala de jantar. Havia sol e avistava-se o mar luminoso e repousante. O mar, sempre o mar, com o seu som rumoroso embalando os dias na doce suavidade dos fins do Verão, em que as férias prometiam acabar em breve para toda a gente ou quase. Estava-se bem naquela varanda onde o aroma do carneiro assado no forno ainda exalava dos restos abandonados nos pratos. E ambas adoravam o mar.
─ Invejo esta tua varanda por causa da vista que tem. ─ Disse Cristina ─ Quando pensares em vender avisa-me!
─ Não me esquecerei disso, mas só se fores tu a que pagar mais! ─ Respondeu Luísa no mesmo tom.
Ambas riram com gosto da brincadeira.
Depois do café era a altura de a Luísa contar as aventuras dela no IRC e o modo como conhecera lá o Eduardo.
Contou que o nick dela era reine e que um nick mds veio ter com ela em pvt fazendo referência à canção «ne me quittes pas» do Jacques Brel, porque nessa canção havia a palavra reine, e era uma das canções de que ele mais gostava. Foi uma abordagem sensível e delicada, que só alguém com finura de espírito seria capaz de fazer. Luísa contou à Cristina essa primeira conversa e todas as outras que tinha tido com o Eduardo através do mirc. Contou em como ele lhe ensinava coisas do funcionamento do computador, lhe comentava textos com pequenas histórias ou poemas que ela gostava de escrever, parecendo até ter todo o prazer nisso, sem nunca a fazer sentir-se diminuída, nem deixar transparecer alguma ponta de superioridade.
Luísa tinha o mirc configurado para guardar as conversas no IRC e fez com que a Cristina lesse todas as que tinha tido com o Eduardo para poder avaliar por si mesma sobre que tipo de pessoa seria.
Cristina levou mais de duas horas nessa leitura sem que a amiga a interrompesse, mas fazendo-lhe uma pergunta ou outra, de vez em quando, a propósito daquilo que ia lendo.
─ Ouve lá, já te passou pela cabeça que ele pode ser professor?
─ Claro que já! Mas eu pergunto-lhe e ele nega sempre.
─ Pois olha que tem muito jeito. Sabe sempre arranjar um modo de te fazer entender as coisas. Se tem esse jeito com as crianças acho que daria um bom pai. (sorriso). Mas também pode ser uma arma da parte dele para te engatar.
─ Puxa! Tu vês armas em todo o lado! Eras tu quem devia ter ido para a Bósnia e não o teu marido. Além disso ele não parece querer engatar ninguém.
Riram ambas numa grande gargalhada.
─ Um gajo assim não existe, minha querida; acredita no que te digo! Seria demasiado bom para ser verdade. Os humanos não são assim. Quanto melhor um homem nos parece, mais devemos desconfiar dele.
─ E mulheres também!
─ Pois, excepto nós duas e pouco mais.
E ambas voltaram a rir muito.
A tarde decorreu entre a leitura dos logs e os comentários e piadas de Cristina. Ela tinha um fino sentido de humor e não perdia nenhuma ocasião de dizer a sua piada.
No fim ambas estavam de acordo em que, se o homem fosse honesto nas suas conversas, se não estivesse a fazer género, se todo aquele modo de falar não fosse pensado no sentido de atingir um fim, se fosse antes o tipo de conversa natural nele ─ quem poderia ter a certeza disso?! ─ Seria alguém a quem uma mulher não deixaria de querer conhecer pessoalmente e, quem sabe…alguma coisa mais.
Eram demasiados «ses» para se poder confiar plenamente nele.
─ Sabes Luísa, acho que eu no teu lugar também estaria como tu: entusiasmada pelo Eduardo. Não sei como é que nenhuma mulher o apanhou ainda. Mas depois do caso da Júlia passaria a desconfiar de todos.
─ É certo! Vou tomar uma atitude mais prudente mas ñ vou deixar de ser curiosa sobre quem ele é na realidade. Até descobrir a verdade deixarei o meu entusiasmo, como tu dizes, de lado. Acho que ele também é prudente em relação a mim. A sensação de distanciamento que ele por vezes me dá, deve ter a ver com o facto de estar na defesa.
─ Pois, mas também pode ser uma acção psicológica estudada para produzir um efeito
esperado.
─ Sim mas com o tempo eu tirarei isso a limpo.
─ Claro! Ele pode até ser casado; já pensaste nisso?
─ Ainda não me contou pormenores da vida pessoal dele, mas também não me disse nada que o pudesse comprometer se um dia eu viesse a saber que é casado. Solteiro ou casado sempre se comportou correctamente comigo. E tu?
─ Eu o quê?
─ As tuas aventuras no IRC…
─ Ah! Nada de importante. Muitos me abordam, alguns simpáticos, outros idiotas, mas eu não vou em aventuras. Tenho marido e um filhote lindo.
─ Mas o teu marido está longe há muito tempo, deves ter necessidades…Nunca sentiste desejo de ir numa daquelas propostas…?
Cristina sorriu enigmática mas não respondeu.
─ O tal Eduardo nunca te fez propostas de sexo, nem sequer virtual?
─ Nunca!
─ Dá-lhe tempo, os homens são todos iguais! Pelo menos os que eu conheço.

Passaram o resto da tarde a falar dos homens que conheciam, e todos, no achar delas, pertenciam ao género do homo vulgaris.
Passava da meia tarde quando se despediram depois de terem combinado actualizar a conversa quando houvesse mais desenvolvimentos a respeito do enigmático mds.

Continua...

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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9:32 pm  

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