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Saturday, March 11, 2006

Virtual Realidade Parte 19

Nesse mesmo sábado Eduardo levantou-se cedo, como era seu hábito. Ele e os amigos tinham combinado ir de bicicleta até à praia da Torreira onde um deles, o Pedro, tinha uma vivenda, e fazer lá uma sardinhada para o almoço.
Seriam cerca de trinta quilómetros a pedalar. Teresa, mulher do Pedro iria no carro com os filhos e daria o apoio necessário, além de transportar o essencial para a refeição. O Eduardo e o Rui, o outro dos amigos, tinham ficado encarregados de fornecer o vinho.
Eduardo acabou de se arranjar, tomou o pequeno-almoço e dirigiu-se para a casa do Pedro, de onde partiriam, por volta das nove horas, os três amigos e companheiros de corridas.
Mal chegou, o André e a Inês atiraram-se a ele com gritinhos de alegria; eram os filhos do casal, ela de 12 anos e ele de 9. Ambos adoravam o Eduardo que tinha um jeito especial para se relacionar com crianças.
─ Olá, bom dia!
─ Olá tio Edu! Logo na praia vais jogar connosco, ok?
─ Tudo o que vocês quiserem. Bom dia Pedro! O Rui ainda não chegou?
─ Ainda não. Deve estar a custar-lhe sair de algum ninho bem quente. Se tivesse dormido em casa dele já cá estaria a acordar-nos há muito.
Ambos riram porque sabiam que o Rui passava muitas noites em camas alheias, no quente aconchego feminino de engates que fazia no IRC. Solteiro, era o mais novo dos três e o que estava sempre a puxar os outros para a farra. Era o mais desocupado e andava sempre a inventar esquemas para se divertirem. A sardinhada tinha sido ideia dele.
Esperaram ainda uma boa meia hora até que, finalmente o Rui apareceu. Vinha com ar cansado de noite mal dormida.
─ Então pá, isto é hora de chegar? A ideia da sardinhada foi tua e deixas-nos aqui pendurados?! ─ Atacou o Pedro, fingindo-se zangado.
─ Pois é, pá, isto não se faz! A não ser que tenhas uma boa desculpa… ─ Continuou o Eduardo, fazendo-se de zangado também.
─ Eh pá, desculpem, mas a gente quando é delicado não pode virar as costas de repente.
Vocês compreendem…
─ Não compreendemos nada. Vais ter de nos contar tudo pelo caminho. ─ Disse o Eduardo.
─ Pois é. Agora vamos lá embora que se faz tarde! ─ Respondeu o Pedro
E partiram e pedalar, devidamente equipados, a caminho da Torreira. Teresa partiria mais tarde.
Pelo caminho o Rui contou aos amigos o último engate que tinha feito no IRC. Tinha sido uma coisa espontânea, irresistível, sublime. (Para ele uma mulher linda e carente era sempre irresistível). Tinham trocado fotos logo no primeiro contacto e ela era linda, embora um pouco mais velha do que ele. Era casada mas o marido andava longe havia meses em virtude da sua profissão que ela não quis dizer qual era.
Foi paixão à primeira «vista», um fogo que teve de ser apagado numa noite de volúpia intensa. Não voltaria a acontecer já que ela tinha medo de que se viesse a descobrir; por isso ele prometia não mais chegar atrasado às combinações com os amigos.
Todos riram.
A viagem decorreu normalmente e eram perto de onze horas quando chegaram.
Teresa chegou pouco depois. Descarregaram o carro e começaram a orientar as coisas.
Ainda era cedo para fazer o almoço e, como estavam um pouco cansados sentaram-se a conversar enquanto as crianças viam desenhos animados na TV.
Teresa começou:
­─ Então Rui conta as tuas aventuras no IRC!
─ Ora, nada de especial. As aventuras do costume.
─ Vá lá, conta tudo! Quantas namoradas virtuais tens?
─ Eh pá! Quantas eu quiser. Elas estão madurinhas; é só dar um empurrãozinho e a coisa vai. Nada mais fácil! Algumas fazem-se caras mas a maioria anda declaradamente no engate. E aqui o Eduardo deve saber disso tão bem como eu.
─ Eu?! Não ando no IRC para essas coisas. Tenho duas ou três amigas virtuais mas nada de namoradas ─ Respondeu o Eduardo. ─ Mas de facto sei que é fácil arranjar namorada no Mirc. Elas atiram-se sem complexos se lhes dermos oportunidade disso.
─ Mas tu não tens uma apaixonada por ti? ─ Perguntou o Pedro.
─ É, tudo indica que sim.
─ Conta-nos… ─ Pediu a Teresa.
─ Não há nada para contar. Ela quer mas eu não quero.
─ E porquê pá? És livre, estás a envelhecer, queres acabar sozinho? ─ Interveio o Rui. Não digo que faças como eu: aventura por aventura, sem consequências. Mas, pelo pouco que nos tens contado, essa tal Luísa não deve ser de deitar fora.
─ O Rui tem razão. Queres acabar sozinho? Ainda não esqueceste a outra. Isso foi um grande amor, eu compreendo. Mas também já é obsessivo. Acorda enquanto é tempo e parte para outro. Porque não experimentas conhecer a Luísa pessoalmente? Podia ser que fosse bom para ti. ─ Disse a Teresa.
─ A Teresa está certa. ─ Acrescentou o Pedro.
─ Eu prometo pensar no assunto. ─ Riu o Eduardo.

Estava agora na hora de começar a preparar o almoço.
─ Meninos, estava muito boa a conversa mas já se vê ao longe a fome a chegar. ─ Disse o Pedro a rir ─ Quem vamos ter de obrigar a cozinhar voluntariamente?
─ Posso ser eu! ─ Exclamou o Rui.
Apesar das diferenças na maneira de ser dos três, eram bons amigos. O Rui gostava daqueles companheiros, algo mais velhos do que ele, e era sempre ele quem se oferecia para fazer tudo, quando se tratava de tainadas.
Eduardo gostava de brincar com os miúdos e eles adoravam-no. Ele era um miúdo quando brincava com eles. Talvez por lhe lembrarem a infância nada feliz que tinha tido.
Não suportava que tratassem mal as crianças. Compreendia-as como poucos e por isso elas gostavam dele. Assim, enquanto o Rui, ajudado pelo Pedro, fazia o almoço, foi ter com o André e a Inês à sala.
Desde bebés que se tinham habituado a tratar o Eduardo por tio Edu porque era assim que a Teresa e o Pedro diziam quando se referiam a ele quando falavam com os filhos.

─ Vá, deixem a televisão e arranjem um jogo para nós os três!
Os filhos do casal saltaram de felizes:
─ Vens jogar connosco, tio Edu?! Porreiro! Que fixe! Vamos jogar ao Lince!
─ Esse não! Vocês ganham-me sempre!
─ Oh! Mas é um jogo fixe!
─ OK! Vou dar o meu melhor e desta vez vou ganhar.
Ao fim de alguns jogos:
─ Horas de almoço! ─ Chamou o Rui
Estiveram os três divertidos enquanto o almoço lá fora se fazia. Assim que ouviram chamar largaram tudo e saíram os três a correr.
Claro que, como sempre acontecia, o Eduardo perdeu. Mas não se importava; a satisfação dele era ver os miúdos felizes.
─ Então os três miúdos divertiram-se? ─ Perguntou a Teresa. ─ E quem ganhou desta vez?
─ Nós, nós! ─ Responderam os pequenos em uníssono.
─ Tu perdes sempre com eles! ─ Concluiu Teresa.
─ Pelo contrário, ganho sempre com eles mas acho que eles também ganham comigo. ─ E sorriu.
As sardinhas estavam uma maravilha. Teresa tinha feito salada com tomate, alface, cebola e pimentos e tinha cozido batatas com a pele para acompanhar as sardinhas.
Os mais pequenos, como não eram apreciadores de sardinhas, tinham costeleta grelhada.
Vinho verde branco fresco para os adultos e sumos naturais para as crianças.
No fim do almoço foram caminhar até à praia que ficava a quinhentos metros da casa.
O mar estava calmo e sereno como um copo de água. Sentaram-se na areia a ver as crianças brincar. Daí a pouco teriam de partir porque o regresso também seria feito de bicicleta e a noite não os podia apanhar no trajecto.
Mais uma conversa, mais umas fotos que o Eduardo gostava de tirar sempre nestas ocasiões, mais uns minutos passados e eram horas de abalar.
A viagem de regresso decorreu sem incidentes. Já passava do meio da tarde quando chegaram ao destino. Despediram-se prometendo repetir a dose assim que fosse possível a todos eles.

Continua...

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