Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, August 18, 2006

Virtual Realidade Parte 49


Pelas seis horas da manhã, Francisco chegou a casa onde a mãe já o esperava levantada, carinhosa e dedicada. Mãe e filho abraçaram-se ternamente.
─ Olá mamã! Bom dia! Já acordada?
─ Olá, meu filho! Estava cheia de saudades tuas e queria ver-te antes de ires para o estúdio. Dormiste alguma coisa no comboio?
─ Muito pouco. ─ Respondeu Francisco com ar sonhador que a mãe logo notou.
─ Pela tua cara aconteceu alguma coisa! Senta-te aqui ao pé de mim e conta-me tudo, vá! Dizendo isto, Mariana sentou-se no sofá. Francisco sentou-se ao lado da mãe.
─ Mãezinha, acabo de chegar de uma viagem longa, dormi pouco, estou cansado e daqui a nada tenho de ir trabalhar. Depois conto-te tudo. Quero saber é da tua saúde…as consultas, os exames, as análises. Está tudo bem contigo?
─ Até já me esquecia de que tinha isso para te dizer! ─ Exclamou Mariana suspirando feliz.
─ Era por aí que devias ter começado. Sabes que tenho andado muito preocupado contigo!
─ Pois é, filhote! Desculpa. Mas fica tranquilo: está tudo bem comigo. Exames, análises, etc., deu tudo normal. Apenas um grande cansaço físico e da alma.
─ Que bom, mãezinha! Não me estás a enganar, pois não?
─ Não, Francisco, não! Tenho aí os papéis todos que comprovam que não tenho nada de preocupante.
─ Toma um grande beijo. Hoje o dia começa muito bem para mim. Já não estou cansado nem tenho sono.
E Francisco agarrou nas mãos da mãe, puxou-a suavemente para si, e pôs-se a dançar com ela ao som da música que ambos ouviam no interior dos seus corações felizes.
─ Mãezinha, existe isso de amor à primeira vista? ─ Perguntou sorrindo e olhando a mãe nos olhos.
Os olhos de Mariana brilharam e pela sua mente perpassaram gratas recordações antigas de um amor ainda não esquecido de todo. E respondeu:
─ Sim Francisco, foi o que aconteceu entre mim e o teu pai.
─ Pois, já me tinhas contado.
─ Mas porque perguntas isso? Já sei, encontraste alguém nesse comboio que te fez sonhar.
─ Talvez, quem sabe?!
─ Vi logo quando entraste, pelo teu ar sonhador, que se tinha passado alguma coisa.
Marina não fez perguntas e esperou que Francisco começasse a contar. Os dois largaram-se e sentaram-se de novo no sofá.
─ Não foi nada de especial, mas a verdade é que não consigo deixar de pensar nela. ─ Francisco continuou pensativo.
─ Ela mora aqui em Pamplona?
─ Vem para cá morar. É portuguesa e vem estudar medicina cá na faculdade.
─ Para ter produzido em ti esse efeito deve ser muito bonita!
─ Quase tão bonita como tu!
─ Não digas isso. Eu já não sou bonita, passaram os anos…
─ Claro que és! És e serás sempre!
─ Assim deixas-me vaidosa. ─ Mariana sorria. ─ Mas continua…
─ Vou contar-te tudo: chama-se Rita, é de perto de Leiria, decidiu vir estudar para Espanha porque não conseguiu atingir a nota necessária para entrar numa universidade portuguesa no curso de medicina, estava a viajar pela primeira vez para cá e vinha com a mãe. Não cheguei a conhecer a mãe. Havia duas senhoras com ela no bar do comboio, onde a encontrei, e não sei qual delas seria. As duas regressaram aos lugares na carruagem e eu retive a Rita para conversarmos um pouco.
─ Tu tiveste a ousadia de meter conversa com ela?
─ Porque não?! Não fiz mal nenhum.
─ Pois não, filhote. Mas assim sem a conheceres de lado nenhum…
─ Se fossemos a pensar assim nunca conheceríamos ninguém.
─ E agora como vai ser? Nessa curta entrevista que tiveste com a tal Rita já combinaram voltar a encontrar-se?
─ Eu dei-lhe um cartão meu para ela me ligar quando estivesse instalada. Ofereci-lhe apoio para o que precisasse.
─ Estou ver que o meu filhão não perdeu tempo na viagem! Por isso nem dormiu! Agora percebo tudo. ─ Mariana sorria tomando nas suas as mãos do filho.
─ Sabes que eu sou um bom trabalhador. Lá no estúdio o chefe até quer que eu fique lá sempre. ─ Retorquiu Francisco a sorrir também.
─ Então ficas a aguardar que ela entre em contacto contigo. E se não o fizer? Se ela não se impressionou tanto contigo como tu com ela?
─ A gente encontra-se por aí. Pamplona não é tão grande assim.
─ Pois não.
De repente o telemóvel espanhol de Francisco tocou. Trocou um olhar com a mãe e foi atender. Um pouco desiludido, quando viu que era o número do Juan, exclamou:
─ Ah! Estou! Sim, sou eu, diz…
─ …
─ Eu sei, antes das nove estou no estúdio. Até já.
Francisco desligou e, virando-se para a mãe, explicou:
─ Era o José, para eu não adormecer. Estamos apertados com o projecto do pavilhão de Espanha para a expo de Saragoça em 2008.
─ Pensavas que era a Rita.
─ Como estávamos a falar nela, de repente pensei. Mas não podia ser: elas iam ficar dois dias em Vitória, só depois de amanhã virão para cá. Segundo a Rita me contou.
─ Parece que essa rapariga mexeu mesmo contigo de um modo muito intenso. Oxalá tenhas aquilo que desejas.
─ Obrigado mamã! E também obrigado por me teres dado a felicidade de estares bem de saúde. Mas aquele abatimento todo que sentias…
─ Apenas um grande desânimo. Aquilo que aconteceu, naquele inqualificável acto terrorista, deixou-me muito abalada.
─ Eu também gostava muito deles! Como se fossem meus avós de verdade. Trataram-me como a um neto, eram meus avós do coração. Afinal os únicos que tive, a única família além de ti, mãe! Eram pessoas fantásticas. Quando penso neles ainda me pergunto como é que naquela idade se pode ter uma mente tão arejada como eles tinham, tendo sido criados num tempo certamente menos aberto que o de hoje.
─ E grandes corações. Foi uma sorte, terem cruzado o nosso caminho. ─ Sim foi.
─ Bom, tu tens mais família: eu tenho irmãos; só não sei onde eles param nem eles sabem de mim.
O tempo passava e aproximava-se a hora de Francisco ir trabalhar.
─ Mamã, fazes-me um favor?
─ Diz, amor!
─ Faz-me duas torradas e uma chávena de café com leite, enquanto me barbeio. Daqui a pouco tenho de ir. Depois acabas de me contar isso tudo sobre a tua família.
─ Claro, tudo o que quiseres. Vou já fazer.
Daí a pouco Francisco saía para o trabalho depois de uma noite sem dormir. Chegado ao estúdio encontrou uma colega aflita porque tinha estado parte da noite a adiantar um trabalho e tinha perdido tudo. Ao ver Francisco chegar pediu-lhe para tentar recuperar o ficheiro perdido, caso contrário teria de começar tudo do zero.
Ele era o único naquela sala que sabia alguma coisa de computadores. Habitualmente para todos os problemas informáticos que surgiam era chamado um técnico de fora.Ao fim de alguns minutos o ficheiro foi recuperado.

Continua...