Virtual Realidade

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Friday, February 29, 2008

Virtual Realidade Parte 126


O dia era de alegria e a mesa de vidro da sala de jantar voltava a estar deslumbrante como há um ano atrás, com a toalha de linho branco bordada à mão, preparada para receber a baixela da Vista Alegre, o faqueiro dourado e os copos de cristal da Boémia, símbolos herdados de uma certa posição social familiar antiga. Luísa adorava aquele requintado conjunto, mas achava um desperdício tanto valor aplicado em tão pouco e já pensara em aliená-lo, com o acordo da filha e do Eduardo, legando o dinheiro ao orfanato que lutava com dificuldade para sobreviver, e só por causa da mãe não o havia feito ainda.
Ao centro, uma jarra de rosas brancas completava a decoração para as iguarias que mais tarde iriam deliciar os convidados. Eram os dezanove anos da filha. Num ano a vida de ambas tinha dado uma reviravolta completa.
Estava feliz e queria partilhar essa felicidade com os amigos e os familiares e, sobretudo, com o namorado, dando uma pequena festa.

Rita encontrava-se no quarto a sonhar ainda com o telefonema do namorado a dar-lhe os parabéns. Tinha que traçar um programa porque queria que o Francisco conhecesse um pouco aquelas praiazinhas por perto onde podiam passar bons momentos a namorar. Sandrine tinha ido passear pelas ruas de S. Pedro de Moel, matar saudades. Ultimamente não vinha muito, uma vez que o seu emprego a levava para outras paragens bem longe daquela praia que ela amava tanto desde que chegara a casa de Luísa.
Na cozinha cheirava a café, a pão fresco e às violetas que Luísa tanto apreciava.
Eduardo saboreava o pequeno-almoço com grande satisfação e, numa pequena pausa da deglutição, disse para a namorada, entretida a anotar o que havia de comprar para a festa:

─ Amor, gostei muito do namorado da Rita. Acho-o um rapaz que sabe o que quer, de ideias muito válidas e arejadas que parecem até vir ao encontro das minhas.
─ Eu também gostei muito dele mas agora precisamos de ir às compras e passar pela minha mãe. Acaba de comer enquanto vou dar os parabéns à Rita e pedir à Emília para lhe fazer companhia. Ela deve estar a ficar nervosa com a demora da Sandrine. Quer estar linda para quando o namorado chegar. Aquela gripe deixou-a muito pálida. Impaciente como está ainda se põe a caminho e vai ter com ele a casa da Cristina. Uma recaída não convinha nada.
─ Sempre exagerada! ─ exclamou Eduardo, aproximando-se dela e puxando-a para si. ─ Hoje tu também estás de parabéns.
─ Eu, amor?!
─ Sim, não te esqueças que foi graças a ti que a Rita veio ao mundo. ─ Pousou os lábios, ao de leve, no cimo da cabeça dela e disse:
─ Parabéns meu amor!
Ela, sorrindo docemente, ofereceu-lhe os lábios. Beijaram-se apaixonadamente.
─ Espero-te no carro. ─ disse ele libertando-se.
Durante a viagem Luísa olhava para a paisagem achando tudo bonito, como se estivesse a passar por ali a primeira vez, e sorria.
─ Sabes querido, a vida dá tanta volta! Faz hoje precisamente um ano que ofereci à minha filha um computador. Nunca sonhei aprender a funcionar com aquela máquina e ainda bem que aprendi, pois foi através dessa prenda que nos conhecemos. Quem diria que um computador tinha o condão de fazer de mim a mulher mais feliz do mundo?!
─ E eu a pensar que era eu que te fazia feliz! Como é que eu vou competir com uma máquina? ─ ria Eduardo.
─ Não sejas maroto! Sabes muito bem o que quero dizer. ─ respondeu Luísa beliscando-o no braço.
─ Uma linda história, é o que deves estar a pensar. Eu também penso o mesmo, amor, mas hoje em dia já existem muitos casais em que as pessoas se conheceram através da Internet.
─ A Internet é uma coisa muito boa só é preciso saber utilizar e estar atenta não esquecendo que existe um mundo fora desse espaço. Nem tudo o que parece é verdade.
─ Basta ser cauteloso e saber defender-se. Como sabes eu continuo a frequentar a Internet sempre que posso. Tenho aprendido muito. Ando sempre à procura de informação e além disso tenho conhecido pessoas fantásticas e casos importantes. Se não a tivesse conhecido não sei se poderíamos ajudar a pequena Inês como estamos a conseguir.
─ Mas também foi pela internet que ela se meteu naquele sarilho. Quando achas que isso tudo vai acabar, amor?
─ Pois foi. Muito em breve actuaremos, é só deixar passar este tempo de festas. Por falar nisso, gostaria que conhecesses a Sara. Estou certo de que irias gostar dela.
─ Sim, terei todo o prazer em a conhecer.
─ Temos de combinar isso.
─ Chegámos, vens?
─ Se não te importas fico aqui, queria ligar ao Pedro.
─ Dá saudações minhas. Não demoro.

─ Pedro, está tudo bem por aí?
─ Olá Eduardo! Está tudo. Só os miúdos é que andam muito saudosos, dizem que nunca mais apareces e querem os presentes de Natal. Sempre vêm passar o fim de ano connosco?
─ Ainda não sei nada de concreto, se vou eu só com a Luísa ou se vai mais alguém. Depois ligo a confirmar. A filha da Luísa faz anos hoje e tem convidados.
─ Ah, muito bem!
─ Conta-me com está a Inês. Tem falado com a Sara e feito tudo o que ela disse em relação ao Victor?
─ Sim, sim e as duas tornaram-se grandes amigas e confidentes, parece-nos que está tudo a correr bem. Até já come normalmente e está com melhor aspecto e mais feliz.
─ E as notas?
─ Não foram o que costumava mas prometeu que vai recuperar.
─ Gostei de saber isso. Dá-lhe um beijo meu.
Os amigos despediram-se, prometendo falar brevemente. Enquanto Luísa não aparecia ele pensou ligar também à amiga. O telefone tocou…tocou, mas ninguém atendeu.
Eduardo avistou Luísa e a mãe e saiu do carro apressadamente para ajudar as duas mulheres que vinham carregadas de sacos.
Depois de saudar a mãe de Luísa continuaram a viagem até ao supermercado.
A namorada não precisava de ler os pensamentos dele quando podia ler-lhe os olhos.
─ Estás feliz querido?
─ Nota-se muito, amor? Sim é verdade, estou feliz. O Pedro deu-me boas notícias sobre a filha.
Resumindo, contou a conversa que tinha tido com o amigo minutos atrás.
─ Fico feliz pela menina! Afinal foi apenas um distúrbio alimentar pelo que se estava a passar. Ainda bem que não chegou a ser anorexia que seria muito mais delicado e grave.
─ E não vejo a hora de ver todo este problema resolvido sobre o Victor. Só ficarei descansado quando o vir atrás das grades.
Chegados a casa, estava tudo na mesma e mais ninguém tinha aparecido ainda.
─ Bem, hoje não tens almoço cedo, vais ter que ter paciência.
Luísa arrumou as compras e deu por falta das velas do bolo. “Que chatice!”, dizia aborrecida para os seus botões.
─ A falar sozinha, doçura, o que aconteceu? Hoje é dia de alegria.
─ Dei por falta das velas para o bolo. E agora se não as encontro aqui?
─ Ainda há tempo, eu vou procurar aí numa loja. O bolo não vai ficar sem velas, nem que tenha de tirar as do carro! ─ prometeu Eduardo a rir.
─ Que engraçadinho! ─ exclamou Luísa quando foi interrompida pela campainha da porta. ─ Vais abrir, amor?
─ É para já!

Continua...