Virtual Realidade

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Friday, August 31, 2007

Virtual Realidade Parte 101


─ Adorei a mãe do Francisco! ─ disse Emília, quando as duas chegaram à residência universitária, depois de o filho de Mariana as ter deixado.
─ Também fiquei bem impressionada com ela. E senti-me tão à vontade! ─ respondeu Rita.
─ Não admira que o Juan se tenha enamorado dela.
─ Espero que tenha gostado de mim.
─ Mais importante é que o filho goste. ─ brincou Emília.
─ Será que a Maria o conhece? Mora por cima dele… ─ perguntou Rita, pensativa, mais para si mesma do que para a amiga, já que a descoberta de que a colega vivia no mesmo prédio não lhe saía da cabeça.
─ É muito natural que, morando no mesmo prédio, já o tenha visto e não lhe tenha passado despercebido.
─ É verdade, agora me lembro: depois daquela última festa, ela falou-me que tinha conhecido um vizinho, que aparecera mais tarde, depois de eu ter saído, que era o homem mais bonito à face da terra (foram estas as palavras dela) e que tinha curtido com ele. ─ recordou-se Rita. ─ terá sido o Francisco?
─ Deve haver mais vizinhos lá no prédio com certeza. ─ respondeu Emília para não a preocupar.
─ E haverá algum tão bonito? O que achas dele?
─ Fisicamente?
─ Sim.
─ É muy guapo, sim. Se eu o tivesse conhecido antes... ─ respondeu Emília a sorrir.
─ E se foi ele mesmo que esteve lá e…?
─ Pergunta-lhe se a conhece, assim como quem não quer nada. Vais ver que tudo se esclarecerá.
─ E se ela estiver interessada nele?
─ Tudo dependerá dele e da confiança que te inspirar. Mas ela não ficará quieta. Até esclareceres isso com ele mantém-te calma e confiante.
─ Eu sinto que posso estar segura dos sentimentos dele para comigo.
─ Então não te preocupes, amiga!
─ Já viste como estive tão perto dele sem saber?
─ É verdade!
─ Não posso deixar de pensar que a Maria o conhece.
Emília ficou calada e pensativa. Conhecia muito bem a arte da Maria, mas não acrescentou mais nada a esse respeito. A seu tempo tudo se saberia.
─ Mesmo que se conheçam, isso não significa que têm algum relacionamento mais íntimo. ─ lembrou Emília. ─ O mais provável é terem-se já cruzado nas escadas ou no elevador e terem trocado os cumprimentos habituais.
─ Tens razão! Cá estaremos para o que der e vier! Agora vou mas é dormir! Foi um dia longo e cheio de emoções.
─ Eu também vou.
Rita foi-se deitar, mas teve muita dificuldade em adormecer. Por um lado, a felicidade que dava mais esperança à sua vida e, por outro lado, o conhecer Maria e saber muito bem do que ela seria capaz se simpatizasse com o Francisco.

Em casa, Juan e Mariana conversavam.
─ O que achaste da amiga do Francisco?
─ A Rita? Gostei dela. É simpática e parece-me boa rapariga. Estou feliz por ele. Será que ela gostou de mim?
─ Mariana, alguém seria capaz de se atrever a não gostar de ti?
─ Obrigada, amor! Isso és tu, os teus olhos que dizem; mas não te esqueças que as outras pessoas não me vêem com os mesmos olhos…
─ Estás enganada minha querida! Eu fui absolutamente objectivo e sei o que digo.
─ Toma! ─ disse Mariana, beijando-o.
Estavam abraçados quando Francisco regressou de levar as duas raparigas à residência.
─ Olá filhote!
─ As meninas ficaram bem? ─ perguntou Juan.
─ Olá, mamã. Ficaram! Claro que sim. ─ respondeu a sorrir.
─ O meu filho tem bom gosto! ─ disse Mariana, falando para o Juan de modo que o filho ouvisse também.
─ Ele é arquitecto, tem de ter! ─ respondeu Juan a sorrir ─ Mas a Emília também é bem bonita.
Mariana olhou para ele de soslaio, sentindo uma pontinha de ciúme.
─ Não te preocupes que é de ti que eu gosto, tontinha! ─ exclamou Juan, apercebendo-se da reacção dela.
─ Mas tu sais muito com ela!
─ Antes saía, agora não! E de qualquer modo sempre como amigos. Já te disse que não houve nem há nada entre mim e ela. ─ Virando-se para o amigo: ─ Não a achas bonita?
─ Sim, é linda. Uma beleza muito sul-americana. Parece-me possuir traços incas, principalmente o cabelo, mas também com bastante de latina. Não foram os Incas que estiveram na Argentina? ─ perguntou a Juan.
─ Foram. Sim, ela tem semelhanças com os indígenas argentinos.
─ Que achaste da Rita? ─ perguntou à mãe.
─ Bonita, inteligente e muito simpática.
─ Então gostaste dela?
─ Claro que sim filhote!
─ Assim posso dormir tranquilo. Então, se me permitem, vou-me deitar. O dia foi longo e cheio de emoções.
Francisco beijou a mãe, despediu-se do amigo e retirou-se para o quarto.
─ Estou feliz por mim e pelo meu filho!
─ E eu adoro ver-te feliz!
─ Vamo-nos deitar também? ─ perguntou ela.
─ Vamos?!
─ Sim, vem comigo.
Mariana levou Juan pela mão para o quarto, despiram-se, deitaram-se na cama e, nos braços um do outro, foram arrebatados pela felicidade que, sem necessitar de autorização, se apoderou de ambos numa onda poderosa e incontrolável.

Francisco deitou-se a pensar que havia pequenos mundos perfeitos, como ilhas perdidas, disseminadas na imperfeição do mundo. A cada um de nós caberia uma dessas ilhas, mas só alguns teriam a capacidade e a sorte de a descobrir. E eram tão voláteis que num dia existiam e no outro poderiam ter desaparecido, umas vezes para sempre, outras para serem reencontradas mais tarde e perdidas outra vez ou mantidas por muito tempo. Sentia que tinha sido capaz de encontrar a sua e que a sorte o havia ajudado bastante. Entre a partida e a chegada, o rumo da nossa vida tem tanto de aleatório como de traçado pela vontade.
Rita era o culminar daquilo que, por tanto tempo, havia sonhado para a sua vida.

Continua...