Virtual Realidade

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Friday, April 28, 2006

Virtual Realidade Parte 33


A noite já ia longa. Deitada no sofá, tinha a televisão ligada sem lhe prestar muita atenção.Na ampla sala uma das janelas estava aberta para o mar ao longe. Por ela entrava a luz da Lua que era como um feitiço que a obrigava a olhar inúmeras vezes para aquela esférica imensidade branca, cujos raios prateados vinham beijar os cortinados da sacada.Da rua, em baixo, não vinha qualquer ruído. As folhas das árvores lá fora não se mexiam, não havia vento; nem a mais leve brisa agitava a calmaria daquela noite. O mar na distância dormia tranquilo.
Mas Luísa estava melancólica sem saber precisar a causa. Ansiosa por desabafar com Eduardo sobre os últimos acontecimentos. Já tinha ido ao computador (MIRC) várias vezes e ele não estava. Sentia todo o seu corpo arrepiado como se precisasse de conforto, de um carinho. Sentia saudades dele. Correu de novo para o computador, e ligou o MIRC: qual o seu espanto quando viu que mds estava finalmente on-line!
─ Olá Fofinho, que surpresa boa! Tenho tantas saudades tuas que já vim aqui dezenas de vezes hoje ver se estavas. Por onde andaste?
─ Querida, nem sempre é como desejamos. A minha vida não é estar aqui o dia inteiro. Mas passa-se alguma coisa contigo? Conta tudo!
─ Nem eu sei o que tenho. Sinto um grande vazio dentro de mim. Não sei como vai ser a minha vida daqui em diante. A Rita foi aceite em Pamplona. A Sandrine já nos deixou. Nunca vivi sozinha. Sinto-me completamente perdida.
─ Parabéns pela Rita! Fico feliz por saber que conseguiu entrar. É normal que estejas nervosa. Mas, minha querida, vê o lado positivo das coisas. É uma nova etapa na vida dos pais quando os filhos deixam o ninho. E na deles também, não por motivos de casamento mas sim pelos estudos. Será apenas um período de tempo. E depois tens a tua mãe que vive sozinha. Pensa bem e alegra esse coração que sofre sem ter razão. Toma: muitos beijinhos doces para ti.
─ Obrigada! Sempre com uma palavra de encorajamento. A vida vista com os teus olhos, é sempre mais optimista.
─ Fofinha, tem que ser, este mundo já tem tanta coisa má. Tenho falado com a Cátia. Está neste momento num curso, e é uma das melhores alunas. Criou um blog, como se fosse um diário, onde escreve as alegrias e tristezas partilhando assim com outros bloguistas o seu sentir. Tenho visitado alguns e acho uma forma interessante de as pessoas partilharem os seus escritos, e muitas dando a conhecer assuntos interessantes.
─ Ela também me contou e disse-me que a apoias muito. Mas estou triste também por outro motivo.
─ Sim, qual?
─ Vou ficar sem ti por largos dias; não sei quantos ainda.
─ Mas eu venho sempre que posso!
─ Mas eu não. Vou com a Rita a Pamplona. Vamos fazer a inscrição, arranjar alojamento, tratar da logística toda. Quero dar-lhe todo o meu apoio. Vamos de comboio. Penso que dentro de oito dias estaremos de volta.
─ Mas a Rita fica e tu vens sozinha de volta ou ela ainda vem contigo?
─ Não sei! Depende daquilo que encontrarmos. Mas eu saberei voltar para casa, fica descansado. Olha uma coisa de que me lembrei e que seria fantástico…
─ Sim, diz…o quê?
─ Se tu pudesses tirar uma semaninha ao teu trabalho e nos acompanhasses, eu já não iria triste e teria companhia para cá. O que dizes?
─ És uma mulher de boas ideias e isso seria realmente muito bom se eu não tivesse esgotado já as minhas férias para este ano.
─ Oh! E virias connosco?
─ Seria uma excelente oportunidade de nos conhecermos pessoalmente se eu pudesse ir. Em vez de um encontro banal, uma situação inesquecível.
─ Que pena mesmo! Porque é que as coisas na vida não podem ser perfeitas como nos romances e nas novelas?
─ É…, e pensar que estive quase a deixar uns dias de reserva para em Dezembro ir para a neve! Se tivesse deixado tirava-os agora em Outubro e ia com vocês até Pamplona.
─ Sim, tu ires connosco seria muito bom. Falas espanhol?
─ Arranho um pouco. Mas consigo entender e fazer-me perceber.
─ Pois nós não falamos nada. A Rita entende a língua escrita; estudou em livros espanhóis também. Até nisso nos fazes falta.
─ Pois, estou a ver…mas as coisas nem sempre são como gostaríamos que fossem.
Luísa, de repente lembra-se de uma pergunta que queria fazer ao Eduardo:
─ Outra coisa: conheces o nick «Quando»?
─ Conheço, porquê?
Eduardo ficou intrigado com esta pergunta e não pôde evitar uma pontinha de ciúme: “Se a Luísa conhece o nick do Rui é porque já se encontraram no IRC. Aquele gajo não poupa ninguém: nenhuma mulher lhe escapa! Que coisa! Tenho de ter uma conversa séria com ele. Mas que tenho eu com isso? Vou perder um amigo por causa de uma mulher, mesmo sendo a Luísa? Eu não estou apaixonado por ela! Ou estarei? ”
─ Nada, apenas curiosidade. Dizes-me se é algum dos teus amigos?
─ Para te referires e esse nick é porque já teclaram aqui.
─ Não, foi uma amiga que me falou dele. Diz-me: é um dos teus amigos?
─ Sim, é o Rui.
─ Ah! Como a Terra é minúscula! Apenas um grãozinho de areia em volta do Sol, a girar, a girar, baralhando as vidas e voltando-as a dar a dar…
E Luísa ficou a pensar na extraordinária coincidência que aquela informação lhe vinha confirmar, ao mesmo tempo preocupada e contente.
─ Não percebi nada! Explicas-me o que se passa?
─ Sim, mas promete que não contas nada ao Rui.
Eduardo ficou apreensivo e o ciúme voltou mais intenso. Mas porque queria saber mais, prometeu:
─ Ok, eu não contarei nada. Prometo!
─ O que acontece é que se passa algo entre o teu Rui e a minha Cristina. Percebeste agora?
─ Ah! Por momentos cheguei a pensar que era entre o Rui e outra pessoa. ─ Eduardo respirou aliviado, mas cheio de curiosidade de saber tudo! ─ Mas conta tudo!...
Luísa expôs tudo o que sabia e pediu ao Eduardo para indagar se o Rui era sincero nos seus sentimentos para com a Cristina. Não queria que a amiga viesse a sofrer uma desilusão que estragaria toda a sua vida futura, e queria ajudá-la a ser feliz.
─ E depois não queres que diga que és uma mulher com um coração enorme!
─ Quando é que eu disse que não queria que dissesses isso? Não me lembro de nada! ─ Luísa riu.
─ Ok, eu vou tentar saber tudo da parte do Rui. Mas já te posso dizer que é quase certo que ele se apaixonou por alguém e que agora percebo que deve ter sido pela tua amiga Cristina. Eu também já te tinha dito que o achava estranho ultimamente.
─ Sim, obrigada!
─ Vou tentar saber o mais depressa possível e assim que souber algo digo-te logo.
─ Não és também um bom coração?
─ Acho que sim. Já aguentou uma paixão e muitas corridas sem se queixar.
─ E aguentará outra?
─ Paixão ou corrida?
─ Paixão!
─ Não sejas marota! Acho que aguenta, mas só se…
─ Se o quê?
─ Se for por ti essa paixão.
─ Achaste que era eu que me tinha envolvido com o teu amigo?
─ Confesso que sim!
─ E sentiste ciúmes?
─ Quem sabe?!
─ Quer dizer que sim, notei a tua ansiedade! É bom sinal.
Falaram ainda algum tempo, despedindo-se já com saudades um do outro.Amanhecia quando Luísa acabou por adormecer feliz mas esgotada pelos últimos acontecimentos.

Continua...