Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, September 29, 2006

Virtual Realidade Parte 54


Dois dias depois de ter chegado, Luísa na cozinha, acabada de sair da cama, abriu o frigorífico, tirou o leite, aqueceu-o no micro-ondas, juntou-o aos cereais e foi para o seu sítio predilecto: a varanda que dava para o mar.
Sentada na pequena esplanada, a tomar o pequeno-almoço, olhou para aquela imensidão de água em tons de azul, verde e branco e deixou que o seu olhar se perdesse nela, por breves instantes, até ao infinito. Tinha saudades do seu mar, amigo e confidente. Ele era o único que conhecia todos os seus segredos e que agora a iria ajudar a diminuir o sofrimento pela ausência da filha. Mas não podia estar ali muito tempo a saborear aquela repousante paz líquida. Tinha assuntos importantes a tratar e nem a preocupação com a filha longe, nem os seus sonhos de infinito lhe podiam perturbar os afazeres do dia.

Quando chegou a casa a primeira coisa que fez foi ligar à filha para lhe dizer que tinha feito boa viagem. Depois ligou à mãe para dizer o mesmo e combinar almoçarem juntas no dia seguinte. À noite tinha ido ao IRC para falar com o Eduardo, mas não o encontrou. Tentou telefonar-lhe e também não conseguiu falar com ele. No dia seguinte a mesma coisa, apesar das várias tentativas que fez. “O que se passará que nem o telemóvel atende?!” ─ Perguntava-se admirada.
Durante o almoço com a mãe, falaram da Rita e das preocupações de mãe e de avó, confortando-se uma à outra. Iria ser difícil para as duas, habituadas como estavam a ter a Rita por perto, mas esta era uma mulher adulta e bem preparada para enfrentar o futuro.
Acabado o pequeno almoço, Luísa recostou-se na cadeira e, contemplando as águas calmas, em contraste com o que ia no seu coração de mãe, reviu todos os acontecimentos dos últimos dias, e as saudades da filha fizeram com que duas lágrimas brotassem dos seus olhos ainda belos.
E o seu pensamento voou ao encontro de Eduardo. Contava muito com ele para a ajudar com as suas palavras naqueles dias difíceis, enquanto não se habituasse à ausência da filha, mas ele parecia ignorá-la não atendendo o telefone.

Luísa tinha no telemóvel registado o número de Eduardo e resolveu ligar-lhe de imediato, na esperança de ser bem sucedida desta vez.
─ Sim, quem fala?
─ Como quem fala?! Não tens o meu número memorizado no teu telemóvel?
─ Luísa, és tu?!
─ Claro que sou?! O que se passa contigo que há dois dias não atendes as minhas chamadas? Sabes que cheguei de Espanha? ─ Respondeu Luísa recriminadora.
─ Desculpa! Aconteceu um acidente com o meu aparelho. Enviava mas não recebia chamadas. Deixei-o cair e só dei pela avaria ontem ao fim da tarde. Tive de o trocar mas mantive o número.
─ Ah, começava a ficar preocupada.
─ Mas conta-me…como estás, a Rita ficou bem, quero saber tudo…
─ Cheguei ontem, tinha a Cristina à minha espera no aeroporto. Já fiquei a saber que fizeram conhecimento através do Rui e têm falado no MSN. Tive muitas saudades tuas. E tu como tens passado sem mim?
─ Sim já falei com a tua amiga várias vezes. Acho-a muito simpática. Penso que realmente o Rui desta vez foi apanhado na teia da paixão. Quanto a mim estou bem e tenho uma novidade para ti.
─ Boa ou má?
─ Ladies first!
E Luísa contou todas as peripécias da viagem, estadia e regresso.
Eduardo escutava-a, fascinado por aquela voz doce, e com uma enorme vontade de a abraçar. Sabia que Luísa a partir daquele momento precisaria de todo o apoio que ele lhe pudesse prestar.
No fim ela fez-lhe um convite:
─ Não queres ir comigo na próxima vez que for visitar a Rita? Gostava tanto! A cidade é tão linda!
─ Talvez, quem sabe?! Mas eu neste momento gostaria muito de te conhecer pessoalmente. O que achas, amor?
Luísa calou-se por instantes, surpreendida, o coração quase lhe saltando do peito: finalmente o dia há tanto tempo esperado, tantas vezes sonhado, ia chegar. E respondeu entusiasmada:
─ Sim gostava muito! Há meses que espero por essas palavras! A novidade que tinhas para mim era essa vontade de me conheceres pessoalmente?
─ Era sim! Achas que é boa ou má?
─ Tonto! Não é boa nem má, é simplesmente maravilhosa! ─ Suspirou Luísa.
─ Pensava que não irias gostar da ideia. ─ Riu o Eduardo. ─ Vamos para o IRC que escusas de gastar chamada?
─ Sim, Vamos.
Antes de desligarem, ainda trocaram uns beijinhos sonoros ao telefone. Ligaram-se ao IRC, mas Eduardo demorava muito tempo a responder e Luísa impacientava-se. Sempre que o Eduardo estava no IRC, ninguém mais contava. As amigas sabiam disso e já não faziam caso.
─ Menino, estou aqui! Cu cu!!!!!!!!
O Eduardo continuava a não responder e Luísa cada vez mais nervosa e furiosa.
─ Desculpa, mas entretanto apareceu uma amiga. Tive que a cumprimentar e ajudar num problema que ela tinha.
Eduardo não confessou que o problema era dele, que era ele que precisava da ajuda de Sara para o caso da Inês, e não queria contar à Luísa para não a preocupar sem ter a certeza do que se estaria a passar. Mais tarde explicar-lhe-ia tudo, talvez até já pessoalmente.
─ E eu? Não sou a tua melhor amiga? Não preciso de ti? Não te lembraste de que estou cheia de saudades tuas? Está visto que não tiveste saudades minhas! ─ Disse Luísa sem esconder que estava muito irritada com ele. E cheia de ironia: ─ E foste resolver o problema da tua amiguinha que estava em primeiro lugar!
─ Calma mulher impaciente! Precisamente por isso tudo é que quis arrumar o caso para agora ficar só contigo sossegado. Ficas a saber que és a única que neste momento ocupa o meu coração. Desculpa a minha demora, mas tem calma também!
─ Desculpa tu a minha impaciência! Tens razão, amor, mas que queres? Tens de me ensinar a ser mais confiante. Conheceste alguém na minha ausência?
─ Sim, conheci. Conheci aqui no IRC uma pessoa muito interessante de nome Sara.
─ Uma mulher muito interessante…Estou a ver… ─ Retorquiu Luísa com ironia e sentindo de novo a ira a subir.
─ Lá estás tu!... ─ Desabafou Eduardo algo agastado com as desconfianças dela.
Eduardo contou-lhe como a tinha conhecido e toda a história que se tinha passado com ela, sobre alguém que tinha invadido o seu computador.
Luísa tinha aprendido muito com Eduardo no decorrer daqueles meses em que falavam, pois ele fazia os possíveis para que ela soubesse pelo menos o essencial para se defender dos intrusos. Por vezes era bastante difícil compreender as explicações só através do MIRC, mas Luísa era teimosa e o Eduardo muito paciente.
─ Perdoa-me esta impaciência toda, mas deve ser por ainda não me ter habituado a ter a minha filhota longe. ─ Desculpou-se Luísa.
─ Estás perdoada, mas só desta vez! ─ Brincou o Eduardo.
Combinaram todos os detalhes para o encontro entre os dois que seria em casa de Luísa no sábado, daí a três dias. Mas antes de desligarem, Eduardo fez uma surpresa enviando-lhe diversas fotos suas, desde miúdo até à data actual. Ela olhou-as com um certo carinho e admiração, fixando-se numa em que Eduardo está sentado, numa pedra, com um olhar sonhador fixado num horizonte longínquo e invisível na foto, ainda muito novo, talvez uns 19 anos. Luísa questiona-se:
“O que estaria ele a pensar? Num mundo por descobrir? Ou na Mariana que teria já partido sem deixar rasto?”
Luísa apesar da curiosidade, esperava que ele um dia lhe contasse tudo de livre vontade. A foto mais recente tinha sido tirada havia poucas semanas. Eduardo era uma figura bonita e os seus cabelos já grisalhos, assim como a barba que usava crescida, davam-lhe um ar charmoso e sedutor.

Continua...