Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, July 04, 2008

Virtual realidade Parte 143


Nessa noite, Eduardo sonhou que vivia com Mariana e tinham um filho muito pequeno ainda.

E havia tanta nitidez no sonho que lhe parecia estar a viver a realidade.

Brincavam os dois no jardim, ele e o filho, quando Mariana veio com o lanche que pousou na pequena mesa branca de plástico de estar ao tempo. Ela endireitou-se e olhou enternecida aquele seu pequeno mundo.

Trazia vestidos uns calções muito curtos, que lhe realçavam a beleza das pernas, e Eduardo sentiu uma onda de sensualidade percorrer-lhe o corpo; num impulso, levantou-se para lhe dar um beijo, mas quando se aproximou dela o rosto que viu na sua frente era o de Luísa. Um pouco baralhado, olhou para trás de si e o filho já lá não estava.

Aflito, correu por todo o jardim à procura da criança e, ao passar uma árvore num recanto, reconheceu Mariana, ao longe, a fugir com o filho nos braços. Corria mais e mais depressa, mas o jardim não tinha fim e os dois iam-se afastando cada vez mais, maugrado os seus esforços para os alcançar, até que os perdeu de vista.

Acordou transpirado e ainda sob o efeito do sonho que acabara de ter, de tal modo que lhe custou voltar à realidade.

“Um sonho que resume o que foi a minha vida, excepto o filho talvez!” ─ pensou assim que a razão lhe acudiu totalmente aos sentidos e que a realidade conseguiu afastar a impressão tão nítida do pesadelo.

─ Um filho meu? ─ disse em voz alta ─ Preciso de falar com a Sara.

Pegou no telemóvel e seleccionou o número dela, fazendo ok.

─ Sara?

─ Sim…

─ Eduardo.

─ Algum problema, meu querido?

─ Nada, apenas tenho urgência em falar contigo pessoalmente. Diz-me quando pode ser.

─ Para ti estou sempre livre! Não me podes adiantar o assunto?

─ Tem a ver com aquele medalhão e a tua irmã, Mariana. Poderíamos encontrar-nos na Praça da Batalha, no café … pelas seis horas da tarde de hoje?

─ Perfeitamente! Lá estarei à tua espera.

─ Obrigado e até mais logo então!

As horas passavam lentamente e Sara sentia uma enorme ansiedade. Não era capaz de se concentrar. O que teria Eduardo de tão urgente para lhe dizer e sobre a irmã se nem sequer a conhecia?

Ainda pensativa, entrou no táxi e pediu:

─ Por favor, Praça da Batalha!

Quando chegou ao café, Eduardo já esperava por ela com um olhar tão ausente que nem deu pela sua presença.

─ Olá Sara! Nem imaginas o que me tem acontecido nos últimos dias desde que vi as fotos no teu medalhão!

─ Então?!

─ De facto já tinha reparado que és muito parecida com ela, mas…

─ Referes-te à Mariana?

─ Sim à Mariana.

─ Mas se somos gémeas, não é muito natural que sejamos parecidas?

─ Claro, claro, mas é que… ─ disse Eduardo visivelmente transtornado porque, quanto mais olhava o rosto de Sara, mais lhe parecia a Mariana tal como a imaginava ao fim daqueles anos todos, principalmente agora que sabia que eram irmãs.

─ O que tens, não seria melhor irmos para minha casa onde estaríamos mais sossegados?

─ Sim, sim, é melhor.

No silêncio do apartamento alugado com vista sobre a foz do rio Douro, comodamente instalados, Eduardo continuou:

─ Diz-me, há quanto tempo não sabes nada da tua irmã?

─ Aproximadamente desde os nossos vinte anos, porquê?

─ Até hoje nunca mais soubeste nada dela?

─ Nunca mais.

─ Pois talvez estejamos bem mais perto de a encontrarmos do que imaginamos.

─ Como assim? Pareces também muito interessado em a encontrares!

─ Muito!

─ Mas porquê se nunca a conheceste?

─ Eu conheci.

─ Conheceste?!

─ Lembras-te contar-te a história do grande amor da minha vida?

─ Claro que sim, até gravei!

─ Pois foi, mas eu não te disse o nome dela.

─ Não, acho que não! Não me digas que…

─ Sim, o nome dela era Mariana. A tua irmã gémea Mariana.

─ Tens a certeza do que afirmas? ─ perguntou Sara estupefacta.

─ Absoluta, minha amiga! Vê esta fotografia, eu e ela. ─ disse Eduardo mostrando a foto que tinha guardado durante tantos anos.

─ Não há dúvida nenhuma, de facto é ela!

─ E sou eu também. Não usava barba nessa altura.

─ Não me disseste nada quando me perguntaste quem era no medalhão.

─ Não disse porque ver aquelas fotos foi uma surpresa muito grande e, de repente, não soube o que pensar. Quando te telefonei e me disseste que eras irmã dela a minha surpresa aumentou e precisava de pensar, juntar as peças todas.

─ Há mais peças?

─ Há a hipótese de a nossa Mariana estar a viver em Pamplona e ser a mãe do Francisco.

─ E de o Francisco ser teu filho? ─ perguntou Sara depois de reflectir sobre o que acabara de ouvir.

─ Sim, e de o Francisco ser meu filho.

─ Até estou com pele de galinha!

─ Imagina como eu me sinto.

─ Pois, faço ideia! Mas porque achas que pode ser ela?

─ Porque o Francisco e a Rita notaram que és muito parecida com ela.

─ Por tanto tempo tentei saber dela e agora aparece quando havia desistido de a encontrar!

─ Ainda não temos a certeza.

─ Pois não, mas é muita coincidência. Sabes que a última coisa que sei dela é que os nossos pais a expulsaram de casa quando souberam que estava grávida.

─ Eu não fazia a mínima ideia de que ela estava grávida quando fugiu. Tens a certeza?

─ Tenho, lembro-me perfeitamente!

─ Isso quer dizer que tenho um filho com ela.

─ Pois, tudo indica que sim.

─ Só não sei quem ele é nem onde pára.

─ Mas agora temos uma boa pista para os encontrarmos, não?

─ Talvez…

─ O que pensas fazer?

─ Ir a Pamplona com a Luísa a pretexto de visitar a Rita.

─ Estou a ver. Eu também gostaria de ir!

─ Naturalmente, poderás ir connosco.

─ Mas antes podíamos fazer outra coisa.

─ O quê?

─ Tens o contacto MSN do Francisco?

─ Tenho.

─ Digitalizávamos essa fotografia e enviávamo-la a ele para mostrar à mãe.

─ Ah e logo ficaríamos a saber… Mas prefiro ir lá pessoalmente. Só se quiseres tu fazer isso, mas, nesse caso, depois não me contes nada, quero viver a emoção ao vivo e a cores.

─ Bom, já consegues sorrir! Quando me apareceste, vi-te bem preocupado, com cara de gravidade.

─ Estava e estou ainda, mas desabafar contigo fez-me bem.

─ Mas se não for ela não terás emoção nenhuma a não ser a desilusão. E se soubermos primeiro que é ela isso não nos tira a emoção de a revermos. Acho que, pelo contrário, iremos emocionados o caminho todo.

─ Talvez tenhas razão, mas então faz tu isso. Eu envio-te a foto digitalizada.

─ Só que, antes de irmos a Pamplona, temos de apanhar o Victor. A polícia tem pressa porque descobriu que faz parte de uma rede.

─ Acho bem.

─ Ficas para jantar e eu ponho-te ao corrente do plano para apanhar o Victor e a preparação da Inês para entrar em acção.

─ Aceito com muito prazer, mas não quero chegar muito tarde a casa que amanhã irei buscar Luísa ao comboio.

Entretanto, em casa, Luísa preparava o saco de viagem quando o telefone tocou:

─ Mãezinha, estás boa? Por aqui estamos bem.

─ Sim, minha querida! Amanhã vou passar uns dias com o Eduardo. Não te preocupes comigo.

Fez-se um silêncio e passados segundos Rita voltou a falar.

─ Pede ao Eduardo se te dá o contacto da amiga escritora. Adorei o livro dela e queria felicita-la. Não te esqueças.

─ Sim, meu amor, fica descansada!


Continua...