Virtual Realidade

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Thursday, April 13, 2006

Virtual Realidade Parte 31


─ Perdoa-me Luísa! Já devia ter desabafado há mais tempo mas não tive coragem.
─ O que se passa querida? Porque choras? Deve ser grave, pela tua cara.
─ Luísa sabes aquele ditado: «Quem desdenha quer comprar»? Foi o que aconteceu comigo.
─ Palavra de honra que não entendo mesmo nada do que dizes. Explica-te mulher!
─ Escuta-me, e não me interrompas. Quero contar-te tudo. Eu muitas vezes te avisei para teres cuidado com o Eduardo e com as pessoas que conhecias na net.
─ Sim e daí?
─ E daí, tu és livre de te envolveres com quem quiseres e eu não. Quando te dizia aquelas coisas era mais para mim que falava.
─ Como assim?! ─ Perguntou Luísa, cada vez mais admirada.
─ O que eu quero dizer é que me envolvi com uma dessas pessoas a quem chamamos ”amigo colorido”. Começamos por uma brincadeira até que trocamos números de telefone. Passamos a falar no MSN e a vermo-nos pela webcam. Cada dia que passava estávamos mais dependentes um do outro. Até que chegou o momento em que nos queríamos ver frente a frente.
─ E já se encontraram? Desculpa, conta-me tudo desde o início. Como foi?! Pois tu…?!
Eu não acredito!
─ Não me dificultes as coisas; deixa-me falar e ouve, por favor, agora que comecei.
O Victor fora tanto tempo e eu sozinha com as minhas carências, o computador por companhia, o IRC por única distracção da rotina diária, fui falando com muita gente até que me apareceu o Rui.
─ Chama-se Rui então. E por acaso não será dos lados de Aveiro?
─ Sim chama e por acaso é de Aveiro sim. Mas como sabes?
Pela mente de Luísa passou um relâmpago, lembrando-se da última conversa que tinha tido com o Eduardo: “Será o mesmo Rui?! Claro que não! Só pode ser coincidência; Ruis há muitos.”
─ Não sei. Foi um palpite apenas. Mas qual é o nick dele?
─ «Quando», mas para que queres saber? Conheces?
─ Não, nunca o vi. Mas continua…
─ Fomos falando, as coisas foram acontecendo e …─ Cristina hesitou olhando o rosto admirado da amiga.
─ E…?
─ E tudo o que possas imaginar. ─ Respondeu Cristina soluçando.
─ O quê?! Não me digas que já foste para a cama com ele?!!! ─ Luísa estava estupefacta com o que acabara de ouvir.
Cristina de olhos baixos abraçava a amiga com força implorando:
─ E agora o que devo fazer, diz-me?
─ Pobre amiga! Mas tem calma! Se tu e ele estão apaixonados as coisas não são tão feias como te parecem.
─ E o meu marido e o meu filho?
─ Tem calma! Também não é o fim do mundo! O que importa realmente é saberes o que sentes por esse Rui e também o que ele sente por ti. Será amor ou apenas um desejo de aventura sem consequências maiores?
─ Só te posso dizer que pela primeira vez na vida senti o que era ser mulher em toda a plenitude e que o amo com toda a minha alma.
─ Mas tens a certeza de que não estás a ser usada? Como podes entregar-te assim a alguém que mal conheces?
─ Tenho muita confiança nele sim.
─ Hum!... O caso é sério mesmo! É preciso muito cuidado com esses meninos do IRC!
─ Tu também encontraste o Eduardo e apaixonaste-te por ele!
─ Touché! Amiga, eu não sou ninguém para te acusar ou dar conselhos! Somos mulheres frágeis e carentes: eu também teria aceitado um convite do Eduardo. Asseguro-te que o desejo muito.
─ Convida-o tu! És uma mulher livre.
─ Não me atreveria. O tal Rui sabe que és casada e tens um filho de 16 anos?
─ Sim, claro! Contei-lhe tudo logo no início. Se decidirmos ficar um com o outro vou ter de contar tudo ao Victor.
─ Claro. Mas já estão a pensar nisso, tu e o tal Rui?
─ Sim, já falámos no assunto.
─ E ele é livre e quer ficar contigo?
─ Sim.
─ As coisas já vão adiantadas, pelo que vejo, e eu sem suspeitar de nada este tempo todo! Podias ter-te aberto mais comigo.
─ Perdoa-me! Pensei que não passasse de uma brincadeira e que tudo se resolveria em pouco tempo e eu regressaria à minha rotina habitual. Mas foi assim e arrependo-me de não te ter contado tudo há mais tempo. Acredita que já me sinto mais aliviada por te ter contado, e também mais capaz de enfrentar a situação.
─ Pois!...Ainda bem! Só desejo que qualquer que seja a tua decisão, ela seja a melhor que poderias ter tomado na circunstância. Pelo meu lado apoiar-te-ei em tudo. Conta comigo.
─ Obrigada amiga, obrigada! Perdoa-me em querer dar-te conselhos quando eu própria sou tão imperfeita.
─ Aguarda uns dias e não faças nada sem eu falar contigo de novo. E, sobretudo, fica tranquila e nada de tolices! E agora vou que já é tarde.

No regresso a casa a neblina costeira estava avançar, a unir o mar ao céu. As andorinhas-do-mar bamboleavam-se perto da linha de água, a moverem as pernas pequenas, semelhantes a caules, em busca de pequenos crustáceos.

Os dias passaram. Era chegado o Outono e com ele a magia da sua paisagem multicolor em tons de vermelho-acastanhado. Sandrine já tinha partido. A Rita já tinha concorrido para diversas faculdades espanholas. Esperavam ansiosamente pela resposta de alguma delas. Já não falava com o Eduardo havia dias. Ao pensar nisto Luísa, sozinha no quarto, começou a chorar e durante muito tempo não conseguiu controlar o choro. A filha encontrava-se no computador a ver o correio mais uma vez. Abanou a cabeça, a tentar afastar a melancolia que lhe ia na alma. De repente apareceu Rita que entrou no quarto, de rompante, gritando feliz:
─ Mamã, mamã! Tenho noticias! ─ Ao dizer isto abraçou a mãe e rodopiou com ela no ar.
Luísa, que mal teve tempo de disfarçar as lágrimas, tentou defender-se daquela manifestação da filha:
─ Calma, calma filhota! Ainda caímos no chão; afinal o que aconteceu?! Porquê essa euforia toda?!
─ Ai, ai que nem consigo falar! Fui aceite em Pamplona. Vou para Espanha.
─ Como, como soubeste?
─ Recebi um e-mail da Universidade de Navarra. Anda ver!
Dirigiram-se ao computador e ambas leram duas vezes: «La candidatura de Rita Costa a la carrera de Medicina en la Universidad Publica de Navarra ha sido aceptada»
Mãe e filha caíram nos braços uma da outra: Rita radiante de alegria porque o seu sonho iria concretizar-se; Luísa feliz por ela mas com alguma apreensão no olhar pensando nas centenas de quilómetros que essa situação iria colocar entre ambas. Agarrava-se no entanto à ideia de que talvez mais tarde fosse possível a transferência para Portugal. Não queria frustrar a alegria da filha e embarcou com ela nessa onda de felicidade; era bom que a Rita estivesse assim animada e feliz.
─ Mãezinha, irás comigo a Pamplona? Gostaria muito da tua ajuda na procura do alojamento. Já estou ansiosa por conhecer aquela cidade. Vou ligar ás minhas amigas a dar a novidade. Depois vou ver na internet. Quero saber tudo acerca da cidade navarra.
─ Claro, filhota, tudo o que tu precisares!

Continua...