Virtual Realidade

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Friday, June 02, 2006

Virtual Realidade Parte 38


Uns dias depois e Victor, finalmente, consegue entrar no computador de anjo_selvagem, com a ajuda do cabo da especialidade de comunicações a quem convenceu, dizendo-lhe que desconfiava da esposa e que precisava de verificar as conversas que ela tinha através do computador. Os escrúpulos do cabo em aceder ao pedido de Victor foram anulados facilmente com algumas chantagens ameaçadoras.
Ao fim de vários minutos o capitão ficou esclarecido sobre como deveria proceder para poder entrar em qualquer PC que não estivesse devidamente protegido contra as invasões externas de bárbaros malfeitores.
Interessava-lhe descobrir no computador de anjo_selvagem algo de comprometedor que lhe pudesse dar o poder de a manobrar a seu bel-prazer, levando-a a fazer aquilo que ele pretendia. Iria proceder a uma vingança em forma e já lhe sentia o aroma. “Ela veria que com ele ninguém brinca!” ─ Pensava.
Para mentes deformadas como era a de Victor, o sexo era usado como uma forma de poder, de domínio, dando-lhe uma sensação de superioridade, pelo que ele achava que era a submissão da mulher e pela admiração dos homens aos quais contava a proeza das suas façanhas. O prazer sexual para ele confundia-se com o prazer de dominar, de subjugar a «presa». A oposição por parte da «vítima» deixava-o completamente fora de si.
Percorreu o computador, vasculhou o disco rígido, e ficou deslumbrado ao ver como era possível e fácil, para quem souber, entrar num PC alheio desprotegido e verificar tudo o que lá se encontra sem que o dono dê por nada e ache que os seus segredos estão em perfeita segurança.
Assim Victor descobriu senhas de e-mails e outras, textos e fotos comprometedoras e os hábitos de navegação de anjo_selvagem e pensou: “ ela nem cuida de esvaziar a pasta temporária do IE, nem o histórico, não percebe nada de segurança e ainda bem!”
Decidiu descarregar tudo para o seu PC para ler com calma mais tarde: logs do MIRC, conteúdos de e-mails e tudo o que lhe pareceu relevante para a execução das suas intenções.
Enquanto a cópia se processava Victor esfregava as mãos de contentamento dizendo para si mesmo “esta está no papo; eu sou muito bom: isto é o que se pode chamar uma boa estratégia militar! Já vais ver minha querida, não perdes pela demora!”
Depois de tudo copiado desligou-se da Internet e, sozinho no seu quarto, começou a devassar a correspondência da Ana. É assim que fica a saber o nome dela e também que mora num convento o que, sendo freira, explica em parte o facto de ter recusado os seus avanços, mas não é o bastante para a livrar da sua vingança. “Podia ter-me dito! ─ pensa Victor ─ mas que raio de segredo! E o que faz uma freira por estas bandas?!
Deve ser fresca esta! Devo ter material para descobrir tudo…” Lê mais uns e-mails e descobre que a Ana mantêm uma correspondência assídua com uma certa pessoa, a quem trata com demasiada familiaridade e carinho para a sua situação de freira, e que é tratada do mesmo modo pela tal pessoa. “Estes dois parecem amar-se, virtualmente pelo menos; por isso me recusou, já tinha outro mas ela vai ver!”
Em seguida Victor foi ler os logs das conversas dela no MIRC e no MSN: eram diálogos amorosos muito intensos e ficou a saber também que os dois já se tinham visto pessoalmente, em encontros marcados pelo MSN. “ Mas que bela freira me saíste! Se as autoridades eclesiásticas souberem disto vai ser o teu fim minha menina! Estou satisfeito, por hoje chega; agora vou pensar na estratégia”
Eram três horas da manhã quando Victor desligou o PC depois de ler tudo o que precisava. A excitação da descoberta deixava-o sem sono para saborear o prazer antecipadamente imaginado da vingança.
Sem apagar a luz deitou-se fardado por cima dos cobertores, em decúbito dorsal, as mãos por baixo da cabeça, o olhar fixo no tecto, um sorriso mau estampado no rosto, e começou a imaginar o plano de ataque que iria colocar em prática assim que voltasse a encontrar anjo_selvagem no IRC.
Acabou por adormecer já quase ao raiar do dia e daí a pouco foi acordado pelo sargento de serviço, que, ao perceber que o capitão tinha dormido vestido e que no olhar dele pairava um ar estranho lhe perguntou:
─ O meu capitão sente-se bem?
O capitão já levantado ia-se preparando para sair do quarto e resmungou entre dentes:
─ Muito bem, porquê nosso sargento?
─ O meu capitão desculpe mas acho-o com cara de quem dormiu mal.
─ Dormi pouco; estive a pensar na estratégia para hoje. ─ Desabafou Victor, como para si mesmo, esquecendo-se da presença do sargento.
─ Como assim, mas não é o patrulhamento habitual o que vamos fazer? ─ Perguntou o sargento estupefacto.
─ Sim, sim, claro! Não sei onde estava com a cabeça. Nosso sargento, vá saindo que eu já vou lá ter. É só lavar a cara com água fria.
─ Então se me dá licença, meu capitão, retiro-me. ─ Dizendo isto o sarja batia a pala como mandavam as normas do RDM.
─ Sim, sim, vá!
O sargento rodou sobre os calcanhares, num gesto amplamente treinado na ordem unida, na recruta, e saiu deveras preocupado.
Cá fora na pequena parada o pessoal em formação à vontade, esperava o aparecimento do capitão que tardava um pouco. Apareceu primeiro o sargento e avisou:
─ Pessoal, preparem-se que vem aí uma trovoada das tais.
Com o dia lindo como estava todos perceberam o que aquelas palavras significavam, e sabiam que tinham de se esforçar por evitar que, especialmente durante dia como esse, o capitão tivesse motivos para fazer algum reparo à sua actuação.

Afinal o dia decorreu sem incidentes, foi cumprida a rotina diária, sem falhas, e o capitão não teve motivos para ser ríspido com nenhum dos seus homens.
Ao fim da tarde Victor não compareceu na mesa de jogo, preferindo refugiar-se no seu quarto para continuar o plano.
Muitas ideias lhe fervilhavam na cabeça, sem optar de início por nenhuma delas, pesando os prós e os contras de cada uma, até chegar àquela que lhe pareceu melhor.
Também andava envolvido em conversas sedutoras com uma rapariga de 14 anos, mas essa era um caso seguro; ficaria para mais tarde.
Com o plano delineado pôs-se a imaginar a cara e a reacção da Ana, dizendo que faria tudo o que ele quisesse mas suplicando-lhe que não a denunciasse. Esta hipótese de vitória sobre uma mulher finalmente submetida dava a Victor um prazer infinito e quase tinha um orgasmo só de pensar nisso.
Estava o capitão neste gozo dionisíaco quando lhe passou pela cabeça, agora que sabia como entrar em qualquer PC, investigar o computador da própria esposa para saber o que por lá se passava. E, numa brusca mudança de objectivos, a excitação de Victor passou da submissão da Ana para as suspeitas sobre a Cristina.
Pancadas na porta interromperam o seu devaneio; furioso foi abrir e deu de caras com o sargento. Tinha dado ordens expressas para só ser interrompido em caso de alguma coisa importante do âmbito da sua missão militar. Se fosse isso teria de engolir o desagravo.
─ O que foi, sargento? Espero que tenha um bom motivo!
─ O meu capitão desculpe mas o esparguete quer jogar consigo.
─ O esparguete?! E quem é esse?
─ O capitão italiano, meu capitão. ─ O sargento caiu em si de repente e percebeu que tinha cometido um erro grave. Os soldados portugueses referiam-se entre si ao capitão dos italianos como o esparguete, que, pelo facto de ser muito magro e de ser italiano, era um título que lhe assentava muito bem, achavam eles.
Mas Victor não permitia que alguém se atrevesse daquele modo para com um superior hierárquico e passou de furioso com o facto de ter sido interrompido, a furioso pelo tratamento dado por um sargento a um capitão. Aquilo era um desrespeito pelas hierarquias militares e não podia ficar em claro.
─ Ai é?! Três dias de sargento de dia para ver se aprende a respeitar os seus superiores. Da próxima será pior.
─ Peço desculpa, meu capitão! O que devo responder ao seu colega italiano?
─ Diga-lhe que dormi mal a noite passada e que preciso de me deitar cedo hoje.
─ Sim, meu capitão! Dá licença que me retire?
─ Nem devia ter aparecido.O sargento rodou nos calcanhares e saiu.

Continua...