Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, May 23, 2008

Virual Realidade Parte 137


Quando chegaram a casa do Eduardo o amigo já se encontrava à espera deles e, dado o avançado da hora, apenas se demoraram o tempo de se cumprimentarem.

Cristina e Rui partiram.

Depois de uma noite muito conturbada e um dia cansativo, Eduardo tentou reverter a irritabilidade que o dominava. Os últimos dias haviam sido plenos de emoções.

─ Vamos dormir, amor? Estou exausto.

A resposta de Luísa foi um sorriso luminoso. Abraçados, entraram no quarto.

Amanheceu com os raios de luz a entrarem pelas frestas da janela e a beijarem o rosto de Luísa, acordando-a com a promessa de um dia soalheiro. Entrelaçada ainda pelo braço do namorado, pensava em como era doce acordar ao seu lado.

Eduardo continuava a dormir, mas no rosto dele havia sinais de preocupação.

Devagar e silenciosamente, sem o acordar, arrastou-se para fora da cama libertando-se daquele abraço que a prendia ao amor.

Foi até à cozinha beber um copo de água e o relógio na parede marcava 9 horas.

Olhou através da ampla janela. Uma brisa suave soprava no exterior agitando levemente as folhas das árvores. Sobre o relvado, nas zonas onde o sol ainda não tinha chegado, permanecia a brancura finamente granulosa de uma ténue camada de geada.

Luísa gostava daquele sítio onde reinava a quietude, tendo por companhia o chilrear dos pardais, e onde ainda se respirava o ar puro do campo e dos pinhais. Fazia um mês que não vinha àquele lugar que já tinha aprendido a amar.

Fora a primeira a levantar-se; o namorado era muito madrugador e gostava de tratar da pequena horta logo ao nascer do dia, mas nesta época não havia muito que fazer. Mais tarde iria com ele ver se o morangueiros, replantados no mês anterior, estavam pegados e se as favas, semeadas no início de Dezembro, já eclodiam.

Levou a mala até ao quarto de hóspedes porque era naquele quarto que costumava arrumar a sua roupa no grande roupeiro de parede quase vazio. Começou por pendurar o vestido que iria levar à festa do fim de ano. Tinha exagerado no modelo e no preço, mas queria agradar a Eduardo. Ele não era homem de andar sempre a elogiar, mas ela sabia pelo seu olhar quando ele gostava.

Depois de organizar as suas coisas foi ao outro lado da cama mirar-se no espelho sobre a cómoda, quando reparou num bonito fio de ouro com uma medalha trabalhada, em cima da mesa-de-cabeceira. Pegou nela e admirou-a. Num pequeno gesto ocasional o medalhão abriu-se deixando aparecer no fundo a fotografia de duas mulheres ainda novas, muito parecidas uma com a outra.

“Parecem gémeas. De quem teria sido este cordão?” ─ interrogou-se ─ “O Eduardo nunca me falou em gémeas na família, tenho de lhe perguntar. Será que alguma delas é a mãe dele? E como é que uma peça destas, que parece tão valiosa, anda por aqui assim abandonada? Que homem mais descuidado! Esta casa necessita mesmo de uma mão feminina.”

Meteu o cordão no bolso do robe e passou pelo quarto; Eduardo continuava a dormir.

Fechou a porta devagarinho e foi para a cozinha ver o que havia para o pequeno-almoço. Ficou absorvida a fazer a primeira refeição matinal. Queria fazer-lhe uma surpresa. Ele é que costumava levar-lhe o pequeno-almoço à cama, mas desta vez seria ela a surpreendê-lo e a mimá-lo.

Ao entrar no quarto de novo, foi recebida com um enorme sorriso de aprovação pelo manjar que lhe levava, os olhos dele brilhantes de satisfação.

─ Bom dia dorminhoco!

─ Bom dia amor! Hoje deixei-me dormir, bem precisava.

Ambos sentados na cama, deliciaram-se com o sumo de laranja, café com leite e tostas com doce de abóbora com amêndoas laminadas.

─ Que delícia, adoro este doce, tu fazes coisas muito saborosas, ─ disse Eduardo com os lábios lambuzados pelo doce ─ mas…

─ Mas?! ─ perguntou ela apreensiva.

─ Mas nenhuma se compara contigo!

─ Oh, és mau, pensava que era alguma coisa pior! ─ disse ela, com beicinho de mimo, puxando-o para si e beijando-o demoradamente.

─ Onde tinhas guardado este beijo tão doce que nunca mo deste?

─ E de onde este veio há muitos mais! ─ informou Eduardo a sorrir.

E enchendo a boca de doce introduziu a língua na boca da namorada, fazendo-a saborear com ele aquele delicioso néctar.

Ficaram ainda mais uma hora na cama.

O resto do dia foi passado por casa entre as refeições e a tranquilidade de um amor pleno. A noite iria ser passada com amigos. Tinham combinado encontrarem-se pelas nove horas da noite em casa de Pedro. Depois iriam a um salão de festas passar o fim de ano. Luísa falou para casa para saber como corriam por lá as coisas. Eduardo ligou para o pai a confirmar o almoço para o dia de Ano Novo. O pai também iria passar com amigos e isso deixava-o mais descansado.

─ Acabei de falar com o meu pai e fiquei satisfeito. Sempre vai jantar com os amigos.

─ Que bom amor, assim ficamos mais descansados. Por falar no teu pai, a tua mãe tinha alguma irmã gémea?

─ Que ideia foi essa amor? A minha mãe era a única rapariga, dos quatro irmãos.

─ Espera, tenho uma coisa para te mostrar. Toma! ─ disse entregando-lhe o cordão que tirou do bolso do roupão.

─ Onde encontraste isto?

─ Quando arrumava as minhas coisas no quarto de hóspedes, vi-o exposto em cima da mesa-de-cabeceira. Fui ao quarto para te perguntar, mas tua ainda dormias e acabei por me esquecer.

─ É uma bela peça! ─ notou Eduardo lembrando-se de quem o tinha deixado lá.

─ Não me digas que nunca o tinhas visto! Abre o medalhão e vê o que tem lá dentro.

─ Antes disso, tenho de te dizer uma coisa. Já em tua casa, como te deves lembrar, tentei dizer-te em várias ocasiões, mas tu tinhas sempre alguma coisa para fazer.

─ Estás a deixar-me preocupada, fala rápido!

─ Acalma-te, ouve-me com atenção e, sobretudo, acredita em mim!

Eduardo contou-lhe com todos os pormenores. Falou-lhe até dos sentimentos que Sara nutria por ele.

À medida que ia ouvindo, o pensamento de Luísa corria veloz à procura das palavras certas. Ficou apática uns minutos.

─ Amor, desculpa de não te ter feito saber isto há mais tempo mas sabes agora o porquê.

Muito calma e com um sorriso nos lábios, beijou o namorado que correspondeu apaixonadamente. Depois falou:

─ Amor, eu confio em ti. Neste tempo de partilha e cumplicidade tenho aprendido muito contigo. Obrigada por me teres contado, mas quero pedir-te que não voltes a mentir para me evitares sofrimento; eu sei que a tua intenção foi boa, mas eu não sou uma menina e sim uma mulher que tem que aprender a lidar com as situações e a confiar.

─ Eu não tive a mínima intenção de te esconder o sucedido. Menti no telefone apenas porque queria dizer-to pessoalmente e tu sabes que procurei fazê-lo. Essa jóia foi a Sara que a deixou cá por esquecimento e já me tinha pedido para a procurar.

Eduardo pegou na medalha e esta abriu-se em duas partes deixando ver a fotografia. O rosto dele mudou de cor e ficou pálido.

─ Não, não acredito! Não é possível, tão perto e tão longe.

─ Não acreditas em quê? Quem é nessa imagem, que te deixa nesse estado?

Ele saiu da sala de rompante e, logo a seguir, veio com outra fotografia nas mãos. Olhou para a foto que tinha na mão e para a da medalha.

─ Amor, olha aqui! O que achas?

─ É a mesma pessoa, querido!

─ E é a mesma também nas duas imagens do medalhão ou então são gémeas. E sabes quem é?

─A tua antiga namorada?

─ Sim, a Mariana. Estou em choque.

─ Tem calma! Quer dizer que Sara é irmã dela?

─ Parece-me que é a única explicação para ela possuir isto. E aqui uma é a Sara e a outra a Mariana, então. ─ disse Eduardo indicando a fotografia no medalhão.

─ Também não estou a ver outra explicação. Não encontraste a Mariana e encontras a irmã ao fim destes anos todos!

─ Tudo indica que sim.

─ Estou a lembrar-me que ontem a Rita me confidenciou que o namorado acha que a Sara tem algumas semelhanças com a mãe dele. Será essa Mariana… Nesse caso o Francisco pode ser teu filho.

─ Onde já vai a tua imaginação! Tenhamos calma. Isso não tem pés nem cabeça.

Luísa começava a ficar deveras preocupada com a hipótese que se levantava, mesmo ele afirmando que não podia ser, e acrescentou mais dados ao problema que surgia no ar:

─ A verdade é que também comentei com a minha filha que certas expressões do Francisco me faziam lembrar de ti e também o pai, que ele não conhece, se chama Eduardo.

─ Esta agora! Oh mor, eu não sei de nada, mas não estejas com esse ar preocupado. Aconteça o que acontecer, não te deixarei.

─ Mesmo que encontres a Mariana?

─ Mesmo que encontre a Mariana. Confesso que gostaria que isso acontecesse, mas não sei.

─ E se o Francisco for teu filho?

─ Isso não mudará nada entre nós, mor, é a ti que eu amo, mas não pode ser.

─ Porque não ligas à Sara e já ficas a saber quem é na foto? Pode até haver outra explicação.

─ Já pensei nisso, mas acho melhor esperar que ela fique boa. Temos tempo e por hoje não quero pensar mais nisso.

─ Tens razão. Agora quero ir ver o teu quintal de braço dado contigo.

Continua...