Virtual Realidade

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Friday, August 11, 2006

Virtual Realidade Parte 48


Pamplona, capital navarra, cidade estudantil, bem arrumada nas suas ruas largas e amplos espaços verdes com árvores variadas, deu as boas vindas a Luísa e a Rita com um belo entardecer: no horizonte o crepúsculo sorria. Na rua havia alguns turistas que passeavam tranquilamente.
O táxi levou-as ao hotel Iruña Park. Estavam radiantes, mas no fundo dos seus olhos notava-se uma pontinha de apreensão.
Durante o caminho Rita tinha decidido que, quando chegassem ao hotel, iria contar à mãe o que tinha feito; não estava bem consigo própria.
Depois de instaladas e confortáveis, Rita achou que era o momento ideal para falar com a mãe.
─ Mãezinha, preciso de te contar uma coisa. Há muito que ando para o fazer, mas não tenho tido coragem. Não é nada agradável o que tenho para te dizer, mas foi uma falta grave que cometi e tenho de a assumir.
─ Estou a ficar curiosa e preocupada, do que se trata filhota? Vamos lá, Rita, sabes que estás à vontade comigo.
─ Lembras-te quando estiveste no Algarve com a Sandrine e eu fiquei em casa a estudar?
─ Lembro-me muito bem. O que foi que fizeste assim de tão errado na minha ausência?
─ Entrei no IRC com o teu nick e falei com o Eduardo fingindo que eras tu.
─ E porque fizeste isso, filha?
─ Para saber coisas sobre ele, se era sincero e honesto contigo.
─ E o que aconteceu, de que é que falaram? Ele descobriu que não era eu?
─ Sim deve ter desconfiado porque achou que aquela Luísa era estranha, não dizia as coisas certas nem as habituais.
─ Pois tu não estavas a par das nossas conversas! ─ Luísa sorriu
─ Pois não! Perdoas-me mamã? Estou muito arrependida de ter feito aquilo, mesmo tendo sido com a intenção de te proteger.
Luísa não respondeu logo e tinha um ar pensativo.
Rita estava ofegante e ruborizada, os seus olhos lacrimejando, esperando a reacção da mãe. Luísa ouvia atentamente.
─ É claro que ele não é burro e logo concluiu que não sendo eu era alguém que me conhecia muito bem, alguém da casa, que usava o mesmo registo. É mais do que certo que ele sabe quem foi, uma vez que sabe que existes, o que fazes e que somos as duas únicas pessoas da casa. Eu já lhe contei tudo isso.
─ Mãezinha perdoa-me por esta atitude. Estou deveras arrependida. Mas naquele momento pensei que estava a fazer o melhor. Não queria que sofresses.
A tristeza apoderou-se por momentos do rosto de ambas, mas passados alguns minutos, mãe e filha abraçaram-se.
─ Eu teria preferido que as coisas tivessem corrido de outra forma. Que tivesses confiado em mim. Mas fico feliz por tu te preocupares comigo, sinal de que aprendeste algo, a ser uma pessoa sensível atenta ao que se passa à tua volta, mesmo que não tenha sido a atitude mais correcta. Da minha parte estás perdoada. O Eduardo nunca me disse nada sobre este assunto. Gostaria que fosses responsável pelos teus actos e quando pudesses pedirias desculpa ao Eduardo pessoalmente. Penso que pela conversa que tivemos ao telefone é essa a surpresa, o querer conhecer-me pessoalmente.
─ Mãezinha obrigada pela tua compreensão. Eu pedirei desculpa ao Eduardo logo que tenha essa oportunidade. Hoje penso que ele tem dado provas de que realmente é uma pessoa espectacular. Torcerei para que tenham um bom encontro!
─ O que é que tu queres dizer com isso? ─ A ideia punha no rosto de Luísa uma alegria de adolescente apaixonada.
─ Quero dizer que esse encontro seja a realização dos teus sonhos, mamã querida!
Luísa enrubesceu e desviou olhar da filha.
─ Sabes, o Eduardo é um homem sofrido, tem dificuldade em se entregar, não é pessoa espontânea nos seus sentimentos, esconde as emoções. Ele na sua mente só tem um objectivo, a defesa, uma espécie de cofre-forte. Já falamos há perto de um ano, passámos horas e horas a falar, e fui captando aos poucos a sua maneira de ser. Ele é um homem bom. Eu, ao contrário, funciono de maneira diferente, as minhas dúvidas, inquietações, sonhos, medos, confiei logo tudo a ele.
Rita notou a atrapalhação da mãe e sorriu.
─ Não precisas de ficar corada assim, mãezinha! Eu compreendo. Se ele finalmente decidiu conhecer-te ao vivo é porque tem intenções a teu respeito.
─ Achas isso? Também tenho esperança de que sim.
─ Estou convencida disso. Se assim não fosse continuaria tudo na mesma. Só há um motivo para te querer ver.
─ E qual é esse motivo?
Luísa sabia qual era mas queria ouvi-lo da boca da filha. Assim a esperança dela ficaria reforçada: duas cabeças a pensarem o mesmo só poderiam estar certas.
─ Quer ver-te para se declarar, pois que outro motivo poderia ser?
─ Será?!
─ Não queres que seja?
─ Há muito tempo que não quero outra coisa, filha!
─ Então acredita que é certo! E já agora, se te vieres a casar com o Eduardo ficas a saber que ele vai ter de me pedir a tua mão. ─ Disse Rita a sorrir.
─ E tu dás-lha? ─ Perguntou Luísa apreensiva, mas sorrindo também, mesmo tendo naquele momento a alegria suspensa das palavras que a filha iria proferir.
─ Se for essa a tua vontade é claro que dou! Só quero que alcances a felicidade que mereces. Tens a minha bênção!
─ Adoro-te, filhota.
─ Também te adoro, mamushka!
E caíram de novo nos braços uma da outra.
─ Bem, agora querida vamo-nos arranjar, são horas de jantar. Amanhã temos um dia cansativo pela frente.
Jantaram calmamente e regressaram ao quarto. Rita preparou toda a documentação que teria que apresentar pela manhã na Universidade Pública de Navarra.
Dormiu durante toda a noite, tinha sido a noite em que dormiu melhor desde que tinha chegado a terras espanholas. Sentia-se aliviada por ter falado com a mãe e feliz pela compreensão dela sobre o assunto. Saiu da cama e foi abrir as cortinas. Estava um dia lindo, cheio de sol. A mãe estava na casa de banho, apareceu radiante, dando um sonoro beijo á filha.
Depois de tomarem o pequeno-almoço. Apanharam um táxi pertinho do hotel e foram à Universidade. Rita foi para uma sala, onde lhe deram as boas vindas; estavam muitos alunos, uns caloiros como ela e outros dos anos seguintes, a praxar os que entravam pela primeira vez. Teve que preencher vários requisitos e formulários.


Rita estava distraída a ler tudo com a máxima atenção, quando pressentiu que alguém se tinha abeirado dela, ergueu os olhos:
─ Olá, sou a Maria. Precisas de ajuda? És caloira? É a primeira vez que te vejo aqui.
─ Sou portuguesa e chamo-me Rita. Acabo de chegar de Portugal, portanto caloira.
─ Que coincidência, também sou portuguesa. Estou no segundo ano de medicina
Rita sorriu suavemente, pensando que estava á mercê de Maria. Esta leu-lhe os pensamentos e disse:
─ Fica descansada; farei de conta que nem te vi.
Maria ajudou Rita nas dúvidas que tinha. Trocaram algumas impressões. Quando Rita se lembrou da mãe.
─ Estou tão feliz por te ter encontrado! Mas tenho a minha mãe lá fora à minha espera. Fica bem, e obrigada pela ajuda.
Maria ainda retorquiu:
─ Ok. Vamo-nos encontrando por aqui. Caso queiras conhecer a cidade, conta comigo. Não queres trocar contactos?
─ Sim, claro! Obrigada mais uma vez.

Continua...