Virtual Realidade

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Friday, April 25, 2008

Virtual Realidade Parte 133


O nome de Eduardo ecoou no silêncio da casa adormecida.

Sentiu um aperto no coração como se o mundo tivesse ficado sem cor. Perdida, esquecida e aterrorizada... maldito pesadelo que parecia verdadeiro! ─ disse Luísa, para si própria, quando se sentiu mais aliviada.

Levantou-se da cama num pulo, vestiu o robe e foi à procura do namorado. Percorreu a casa e não o encontrou em parte alguma. Sobre o móvel da sala de jantar estava o telemóvel dele, emudecido. De volta ao quarto, pegou no dela e viu que também estava. Interrogou-se sobre o que teria acontecido. Haviam passado várias horas desde que fora levar Sara a casa. Retinha na memória as suas últimas palavras:

─ Toma um banho de imersão, amor, precisas de relaxar. Espera por mim, não me demoro.

Ainda tinha nos lábios o sabor do beijo dele.

Foi então que sentiu um gelo na espinha. A dúvida começava a querer apossar-se da sua mente: Eduardo tinha passado a noite com a Sara?

Teria a Cristina razão, ou os meus pensamentos estavam a ser precipitados pelo ciúme? E se ele tivesse tido um acidente?

Num misto de ansiedade e vazio começou a ficar insegura e desconfortável, pegou no telefone e foi até ao jardim.

O sol já tinha ganho alguma altura no horizonte; o dia começara sereno e frio. Luísa arrepiou-se apertando melhor o casacão contra ela. Avistava-se ao longe as águas plácidas do oceano.

Sentou-se no banco do jardim por baixo de um pinheiro e rompeu em pranto, a alma sombria e o coração despedaçado, imaginando o pior. As flores choravam com ela, orvalhadas pela brisa matinal.

As últimas palavras do namorado, que ecoavam de novo na sua mente, ─ “Amor, espera por mim!” ─ deram-lhe o alento necessário para fazer brotar da profundidade dos sentidos a crença no amor de Eduardo.

E recordou que ele a ensinou a olhar as coisas e as pessoas de uma outra forma. A ser mais confiante.

E a sua consciência dizia-lhe que ele era uma pessoa íntegra e que, certamente teria uma explicação para o motivo da demora. Mas continuava inquieta e movia-se de um lado para o outro. A cada passo inclinava a cabeça sobre o pulso na perspectiva de olhar o relógio. E o tempo passava e ele não aparecia, mas, no fundo do coração, tinha esperança de que, a qualquer momento, ouviria o som do carro.

Luísa olhava para todas as direcções. A semente da dúvida continuava a atormentá-la e tinha que desabafar com alguém. Elevando olhar para o céu, viu uma ténue linha de fumo que se elevava da chaminé da cabana e uma suspeita terrível começou a ganhar forma na sua mente.

Sem parar, seguiu o instinto e tremeu ao colocar a mão na maçaneta da porta que silenciosamente se abriu com pouco esforço. A cabana estava mal iluminada, mas via-se perfeitamente dois vultos deitados e abraçados no sofá. Aproximou-se calmamente apesar de todo o seu ser estar violentado pela suspeita de traição.

Um grito de surpresa saía da sua voz quando, repentinamente, tapou a boca sufocando o som: Deitados no sofá, estavam a filha e o Francisco.

Sorriu ao olhar aquele quadro. Os cabelos negros da filha estavam derramados sobre o corpo adormecido do namorado. Os seus rostos emanavam uma profunda serenidade.

Reparou, pelas roupas espalhadas pelo chão, que ambos estavam nus debaixo do único cobertor que os tapava.

O lume da lareira pusera na cabana uma temperatura amena agradável, mas já se consumia o ultimo resto de combustível e, em breve, começaria a arrefecer e pensou que daí a pouco iriam acordar com frio, quando o calor que restava se houvesse dissipado completamente e procurou outro agasalho para os cobrir.

Dormiam tão profundamente, com tanta paz, que não deram por nada e Luísa, feliz por a filha ter conhecido o amor, saiu de mansinho e fechou a porta lentamente.

Entrou em casa e foi directamente para o quarto. Sandrine e Emília continuavam a dormir. Pensou na amiga. Só ela a poderia ajudar naquele momento angustiante. Não queria assustar as miúdas.

Cristina tinha acabado de se levantar quando ouviu o telefone a tocar. Surpreendida pela hora olhou para o visor antes de atender. Era Luísa.

─ Bom dia querida, madrugaste!

─ Amiga, estou muito infeliz.

E entre lágrimas contou à amiga o que se estava a passar.

─ O meu sexto sentido alertou-me, mas tanto tu como o Rui não me deram ouvidos. Durante todo o tempo eu notei algo no olhar dela quando falava com ele ou quando ele estava a conversar contigo. Ela é uma bela mulher. Não me parece improvável que ele tenha caído nas malhas da sedução. Até parece que não conheces os homens!

─ Por favor cala-te! Estou a sofrer muito e não estás ajudar nada. Ele deve ter tido um acidente, e eu aqui sentada, sem saber nada! Sabes o número do telefone do doutor Miguel ou onde mora?

─ Não sei, mas a Sandrine deve saber.

Ainda falaram por mais algum tempo e Cristina não poupou a amiga, dizendo que acreditava solenemente na traição de Eduardo. Todas as evidências estavam na sua frente.

Luísa ficou mais infeliz ainda depois de ter falado com a amiga. Iria acordar a filha “torta” para perguntar pelo número do doutor.

Levantava-se já, quando a porta do quarto se abriu: Eduardo estava na sua frente com um semblante de quem tinha passado a noite sem dormir.

Baixinho olha-a nos olhos avermelhados e diz:

─ Desculpa! Vou tomar um banho rápido. Já te venho fazer companhia e contar-te o que nos aconteceu. Espera por mim na cama. Está tudo bem agora.

Continua...