Virtual Realidade

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Friday, January 18, 2008

Virtual Realidade Parte 120


É estranho, ninguém atende! A esta hora já deviam estar acordadas.
─ Tem calma amor, podemo-nos ter desencontrado; quando chegarmos a casa, talvez já lá estejam. ─ disse o namorado com um sorriso sereno.
Luísa suspirou, conformando-se com a sensatez das palavras de Eduardo.
Partiram rumo à praia por aquele carreiro habitual, meio escondido na vegetação. Dali avistava-se perfeitamente a parte de trás casa de Cristina e Luísa não despregava os olhos das janelas.
─ Hum, as janelas todas fechadas! Acho que ainda dormem.
─ E se dormirem?! Deixa-as lá, deitaram-se tarde ontem.
─ Queria saber se a minha filha passou a noite bem e se está melhor. Estou preocupada.
Eduardo limitou-se a sorrir. O ar cheirava a maresia e a flores. Era uma coisa que ela adorava, mas naquele momento só Rita lhe importava.
─ Pensativa? ─ perguntou Eduardo, olhando para o mar com um olhar distante.
─ Gostaria de voltar para casa se não te importas.
─ Claro que não, vamos amor!
Meia hora depois, entravam em casa.
Inquieto, o pai de Eduardo, também ele estava ansioso por notícias de Rita. Quando se apercebeu que eles tinham chegado saiu do seu lugar preferido (em frente do televisor)
─ Como está a pequena meu filho? Minutos antes de vocês chegarem o telefone tocou, mas cheguei tarde demais. As minhas pernas já não me deixam correr como eu desejava.
─ Não se preocupe com isso Sr. António! ─ respondeu Luísa ─ Quem quer que fosse, se era importante, voltará a ligar.
─ Pois é verdade. ─ anuiu o pai de Eduardo.
─ Passámos pela casa de Cristina e, como ninguém atendeu, pensámos que as miúdas já tivessem vindo para cá ─ disse, dirigindo-se apressadamente para o telefone. Deixou-o tocar e em breves segundos atenderam:
─ Passa-se alguma coisa?
Por momentos, Daniel ficou sem saber o que dizer.
─ Não, elas saíram agora mesmo.
─ Obrigada. E tu estás bem?
─ Só não dormi tudo.
─ Então vai acabar de dormir e depois vem.
Por fim chegaram e Luísa notou o semblante de Rita muito cansado.
─ O que se passa, querida? Não estás com boa cara.
Rita deixou-se cair no sofá e Sandrine explicou tudo o que se tinha passado.
─ Mas porque não me chamaram?
─ Não era necessário preocupar-te, mamã! ─ respondeu Sandrine.
─ Deviam ter-me avisado!
─ Tem calma, mamã! Achas que a Rita já estaria curada se te tivéssemos telefonado? Nós sabíamos o que tínhamos a fazer e fizemos. Ela agora vai ficar bem.
─ A Sandrine tem razão. ─ disse Eduardo ─ Fica calma, doçura!
Luísa esperou uns momentos para se acalmar.
─ Porque não te deitas aí no sofá? Ou será que queres ir para a cama?
─ Vou-me deitar na cama. Estou muito cansada; mas primeiro vou ligar ao Francisco. Não me sinto com forças para viajar.
─ Sim, acho bem que não vás enquanto não estiveres boa.

Faltavam dois dias para o aniversário que tinha planeado passar com o namorado e este nem sequer suspeitava que ela estava incapacitada de viajar. Em telefonemas anteriores apenas lhe dissera que estava um pouco constipada. O telemóvel tocou quando Francisco estava no trabalho:
─ Espera um pouco, amor, que estou a ver se resolvo um problema e já te ligo. ─ disse ele quando reconheceu o número que lhe ligava.
Rita teve de aguardar uns bons dez minutos até ele lhe ligar.
─ Grande problema, mas não tanto como o meu! ─ disse com um leve amuo na voz.
─ Peço muita desculpa, mas por acaso foi grande. Como o teu?! Que se passa, amor?
─ Estou com gripe e só poderei viajar quando estiver boa. Os nossos planos de passarmos juntos, o meu aniversário e o fim de ano ficam sem efeito. E tu tens problemas mais importantes a resolver, pelos vistos.
─ Acabei de os resolver. O computador de uma colega encravou e ela esteve em risco de perder todo o trabalho de uma noite inteira. Felizmente consegui salvar a situação.
─ E ela agradecida até te deu um beijo…
Francisco sorriu intimamente lisonjeado pelos ciúmes da namorada e disse-lhe em tom de inocência como se não tivesse percebido:
─ Pois foi amor, e eu mereci-o! Sou o único aqui que percebe alguma coisa de computadores e não podia deixar de lhe acudir. Tu, no meu lugar e bom coração que és, terias feito o mesmo.
─ Só tens bom coração para as outras! Eu aqui doente a precisar dos teus miminhos e não me ligas nada. ─ disse Rita
─ Mas, fofinha, eu nem sabia… Não estejas brava comigo e conta lá o que tens! Estou inocente de tudo e só te amo a ti.
─ No dia de Natal apanhei uma gripe e dói-me o corpo todo. Esta noite tive que ir ao hospital. O médico proibiu-me de sair de casa. Não vou poder ir conforme tinha prometido. Vais ter de passar sem mim e até talvez não aches isso tão mau assim.
─ Nem imaginas como te enganas! E a prova é que estava para te telefonar a dizer que me deram uma semana de férias e que tencionava ir aí ter contigo para poderes estar mais tempo com a tua mamã. Mas agora já não sei se deva ir…
─ Como?!
─ Já não gostas de mim, não faria aí nada.
─ Oh! Mas eu gosto, amor! Não vês como morro de saudades tuas? Se vieres ficarei logo curada!
─ Eu não acredito! Ainda há pouco desconfiavas!
─ Tontinho! Não percebeste que era a brincar?
─ Mulheres, quem as entende?!
─ Homens insensíveis, quem os inventou?! Quando vens, amor!
─ Estou a pensar ir no dia 28 bem cedo. Um colega leva-me de carro até Burgos onde apanharei o comboio internacional até à Pampilhosa e depois Coimbra.
─ Pensei que viesses de carro.
─ É mais seguro viajar de comboio. Nesta altura pode haver gelo nas estradas.
─ Tens razão.
─ Ligo-te quando chegar a Coimbra para me dares as tuas coordenadas.
─ Coordenadas?!
─ Sim, para me dizeres onde moras.
─ Ah, ok! Mas ainda falaremos antes disso.
─ Claro que sim, fofinha. Mil beijinhos doces e as melhoras!
Rita adormeceu, mal se deitou, pois tinha tido um dia estafante. Entrou de imediato num sonho ─ Era dentro de um casarão enorme. Rostos disformes vestidos de branco vinham em sua direcção numa sequência obsessiva. ─ A sensação foi horrível e acordou sobressaltada. Só quando se apercebeu da mão de Sandrine pousada na sua testa, logrou tranquilizar-se um pouco.
─ Tiveste um pesadelo, querida? Não te quis acordar mas vi como estavas aflita.
─ Um sonho muito mau! Não sei porquê, afinal quando adormeci estava feliz! Adivinha quem vem aos meus anos?
─ O Francisco?
─ Sim vem dia 28. Estou tão contente!
─ Ainda bem, querida! Vai ser bom para a tua recuperação. ─ disse Sandrine, acariciando-lhe os cabelos. ─ Queres comer alguma coisa?
─ Por acaso tenho fome.
─ É bom sinal. Senta-te então, que eu venho já.
─ Eu vou à casa de banho e depois vou almoçar convosco. Vai indo mas não contes nada. Quero ser eu a dar a novidade.
Rita apareceu na cozinha, radiante, parecendo completamente restabelecida. Estavam todos para começar a almoçar e olharam-na admirados.
─ Ia agora ter contigo, mas a Sandrine disse que vinhas para a mesa. ─ disse a mãe ─ Estás melhor? Pareces muito feliz.
─ Ainda não estou completamente bem, mas vou melhorar em breve.
─ O ânimo é meio caminho para a cura e quando se é jovem... ─ disse Eduardo.
─ Quando se sabe que o remédio certo vem a caminho não nos falta o alento. ─ respondeu Rita com um sorriso enigmático, fazendo com que cada olhar, dirigido ao seu belo rosto feliz, se transformasse num silencioso e expectante ponto de interrogação.
─ Que queres dizer com isso menina? ─ perguntou a avó, ousando quebrar o ligeiro silêncio que a expectativa havia estabelecido. ─ não estou a perceber nada.
─ Mamã, o dia dos meus anos vai ser especial!
─ Cada vez, estou mais intrigada! ─ confessou Luísa, esperando o esclarecimento da filha.
─ Eu acho que já entendi tudo! ─ disseram Emília e Eduardo quase em simultâneo acabando a trocar um olhar de inteligência.
─ Pois, olha bem o rosto da tua filha! ─ pediu Eduardo. ─ Não adivinhas? Só pode haver uma explicação, amor!
─ Não estou a ver! Emília, Sandrine, ajudem-me, por favor!
─ Só pode ser porque o namorado dela vem aí. Acertei?
─ Claro que acertaste! ─ responderam Eduardo e Rita ao mesmo tempo.
─ Mas como foi isso? Explica-me tudo. ─ pediu a mãe ainda incrédula, julgando estar a ser vítima de alguma partida.
Enquanto almoçava, com bastante apetite, Rita contou o que o namorado lhe havia dito ao telefone.
─ Mas que bela notícia! ─ exclamou Luísa.
─ Estou cá a pensar…
─ Em quê, amor?
─ Daqui a pouco vou com o meu pai e tínhamos combinado eu só regressar no dia 29 de manhã. ─ disse Eduardo.
─ Sim, amor.
─ Mas se eu viesse no dia 28 ao fim da tarde…
─ Poderias trazer o Francisco desde Coimbra, é isso?
─ Tu completas-me, amor! Que seria de mim se não te tivesse encontrado?! ─ respondeu Eduardo a sorrir, olhando a namorada com profunda ternura.
─ Para isso terás de combinar com ele. ─ lembrou Rita.
─ E não é o que iremos fazer?
─ Adoro-te! ─ disse Luísa.


Continua...