Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, September 05, 2008

Virtual Realidade Parte 150


─ Para a próxima semana vou a Portugal ver a minha irmã! ─ começou por dizer Mariana, interrompendo a habitual troca de palavras sobre o dia de cada um quando, à noite, tinha a família reunida em casa e terminado o jantar.
Rita e Francisco trocaram um olhar de entendimento e o filho aprovou a decisão da mãe:
─ Fazes muito bem, mamã.
─ Não imaginam como anseio pelo momento de a abraçar, mas não queria que sentissem muito a minha falta cá em casa!
─ Já somos todos bem crescidinhos, safamo-nos muito bem sem ti. ─ sorriu Juan.
─ Ah é?! E eu a pensar que irias ter saudades minhas, meu maroto!
Os jovens sorriram aguardando o desfecho daquela troca de galhardetes amorosos.
─ Claro que terei, tontinha! Se pudesse iria contigo conhecer Portugal, mas também imagino que vocês as duas terão muito de que hablar e eu seria um… ─ como é que vocês dizem?
─ Estorvo. ─ acudiu Francisco.
─ Estorvo. ─ repetiu Juan.
─ Gostaria muito que tu fosses, embora tivesse de te deixar algumas vezes entregue a ti mesmo, porque eu e ela temos, realmente, muito que conversar.
─ Mas eu não posso por causa do trabajo, não te preocupes, vai e aproveita!
─ Nós ficamos bem, Mariana, podes ir tranquila. ─ reforçou o filho. ─ Quantos dias tencionas ficar lá?
─ Não sei ainda! Depende dela, porque vou trazê-la a passar cá uns tempos connosco.
─ Isso é óptimo! ─ concordou Francisco.
─ Filho, podes arranjar-me passagem de avião pela Internet?
─ Penso que sim!
─ Então trata-me disso, por favor, assim que puderes.
─ É para já! Ida e volta?
─ Só ida. No regresso viremos de comboio.
Enquanto os três levantaram a mesa, Francisco foi ao computador e daí a pouco veio perguntar à mãe:
─ Terça-feira, com partida às dez e trinta para Lisboa, serve?
─ A hora é boa, mas não tem antes?
─ Não.
─ Serve perfeitamente, podes marcar. Vê quanto custa e como é o pagamento feito. Vou ligar à minha irmã.

─ Vamos tomar café lá fora? ─ perguntou Francisco à namorada, depois de tratada a passagem da mãe.
─ Podemos ir.
Quando no patamar chamaram o elevador e este chegou abrindo a porta, esbarraram com Maria que regressava de fora.
Francisco, cumprimentou-a, naturalmente, como se nada de extraordinário houvesse achado naquele encontro fortuito, mas a surpresa da rapariga foi tão grande que ficou ali, de olhos arregalados, virada para os dois sem saber o que dizer, apesar de muito habituada a todo o tipo de situações imprevistas que raramente a deixavam sem uma reacção adequada.
─ Olá, Maria, tudo bem?
Nunca os tinha visto juntos nem sabia que se conheciam e, agora, vê-los de mão dada apanhara-a completamente desprevenida, coisa que acima de tudo detestava, não conseguindo de imediato encontrar uma resposta que lhe parecesse apropriada.
Rita apertava na sua a mão do namorado como se receasse que a outra lho roubasse e balbuciou um cumprimento tímido.
Quando conseguiu recuperar um pouco a presença, pela força do ódio que lhe ia na alma, por se ver ultrapassada na conquista de Francisco, Maria disse:
─ Com que então vocês os dois conhecem-se e estão de… e não me contavam nada!
E dirigindo-se a Rita, acusou:
─ Minha sonsa, eu que sempre fui tua amiga!
─ Aconteceu há pouco tempo, ainda não tive ocasião de te contar, não sei porque é que isso te arrelia tanto! ─ explicou Rita, sem se alterar.
─ Arreliar-me, eu?! Quero lá saber com quem andas, que te faça bom proveito! ─ disse irritada, olhando de soslaio o namorado da amiga.
─ Foi isso que eu pensei, que não te interessaria muito saber, por tal razão não me apressei a contar-te nem achei que fosse necessário. Virias a saber por ti mesma em qualquer momento e esse foi agora.
A estas palavras de Rita, proferidas com toda a calma e naturalidade, Maria ficou vermelha de cólera e sentiu ganas de se atirar à outra, mas a presença de Francisco, que se mantinha calmo a presenciar aquela troca de palavras entre as duas mulheres, conteve-a.
─ Só me arrelia não teres confiado em mim, afinal não éramos amigas?
─ Se deixaste de o ser por causa disto, a tua amizade não era grande coisa! Tu dizes-me tudo da tua vida logo em cima do acontecimento?
─ Nem um nem outro me disseram nada, tantas vezes que nos encontramos, ─ respondeu ignorando a pergunta ─ mas não perdem pela demora!
─ Era só o que me faltava! Vocês encontram-se muito? ─ perguntou Rita ao namorado, sentindo-se alarmar por dentro.
─ Trocámos cumprimentos e falámos duas ou três vezes por razões de vizinhança. ─ respondeu, com naturalidade, Francisco.
─ Esqueceste-te daquela vez em que estiveste na minha festa e dançaste comigo e…
─ E o quê? Se fui à tua festa foi para tentar acabar, de um modo civilizado, com o barulho que faziam e que nos impedia de dormir. Qualquer outro teria chamado as autoridades e não se teria incomodado. Acho que foi muito simpático da minha parte e mais ainda agora ter esquecido que estavas bêbeda como um cacho naquela noite. De que te queixas afinal? ─ ripostou ele com um sorriso calmo de quem tinha a consciência tranquila.
─ E tu aproveitaste-te de mim, de eu estar incapaz de me defender! ─ acusou Maria.
─ Aproveitei?! Devia ter aproveitado e dar-te duas palmadas no rabo, que era o que precisavas, se eu fosse de violências, ─ respondeu Francisco a rir ─ a ver se ganhavas juízo e deixavas de fazer aquelas festas ruidosas em casa!
Maria, calada, deitava fumo por todos os poros e Rita perguntou:
─ Posso saber quando foi isso?
─ Foi numa festa que ela deu antes de nos termos encontrado, eu já te contei, amor.
─ Foi nos meus anos. ─ explicou Maria.
─ Sim, lembro-me, pois eu também estive nessa festa e não te vi.
─ Tinhas ido embora um pouco antes. ─ recordou Maria. ─ Eu contei-te depois, de um moreno que tinha curtido comigo. Era o teu namoradinho.
─ Pois tinha, ─ disse Rita ─ mas agora deste a entender que ele abusou de ti, como foi afinal?
Maria gaguejou e ia enrolar uma explicação apressada, mas Francisco cortou-lhe a fala dizendo:
─ Vamos embora, amor, esta não presta, não merece a nossa amizade! Não se passou nada entre nós além de dois minutos de dança, e foi porque ela se agarrou a mim. Tudo o mais que ela disser é falso. Vamos?
─ Vamos, sim. Felicidades Maria! ─ disse Rita, estendendo a mão à outra que se absteve de retribuir, virando-lhes as costas a ferver de raiva, ruminando vinganças.
─ Ainda queres ir ao café? ─ perguntou Francisco quando ficaram sós ─ Já não me apetece muito.─ Eu acredito em ti, leva-me onde quiseres.


Continua...