Virtual Realidade

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Friday, August 17, 2007

Virtual Realidade Parte 99


Até Eduardo, que não era especial apreciador de marisco, comeu sem protestos e repetiu o prato.
─ Tu excedeste-te! ─ disse dirigindo-se a Teresa que, desde a primeira garfada, tinha notado que o havia surpreendido.
─ Como podes dizer isso se tu nem gostas de marisco?
─ Não sejas cruel e deixa-me abrir uma excepção desta vez. Aliás, devia zangar-me contigo!
─ Mas que mal fiz eu? ─ perguntou Teresa.
─ Ainda te atreves a perguntar?! Isto foi uma autêntica traição, saberes que eu adoro salmão e espetares-lhe com as gambas em cima?
─ Ah, ah, ah! ─ riu Teresa.
─ Só te perdoo porque está tudo divinalmente bom.
─ Com os cozinhados da Teresa ainda te vais converter ao marisco. ─ sentenciou Pedro a rir, orgulhoso dos dotes culinários da esposa.
─ Quem sabe! ...
─ A Sara está a gostar? ─ perguntou Teresa
─ Sempre gostei muito de marisco e cozinhas muito bem. ─ respondeu Sara, começando a tratar Teresa por tu. ─ O Eduardo já me tinha contado. Eu só sei fazer o trivial. A minha vida nunca me permitiu dedicar-me muito à cozinha e, vivendo só, nunca tive necessidade de o fazer.
─ Obrigada! Queres que te sirva um pouco mais? ─ perguntou Teresa, ganhando subitamente confiança para a tratar por tu também.
─ Acho que vou esquecer a linha e aceitar. Obrigada!
─ Não me parece que te devas preocupar com isso. ─ aconselhou Eduardo. ─ Estás muito bem! ─ dirigindo-se ao amigo: ─ Não achas Pedro?
─ Absolutamente! E aqui a Teresa também não: está sempre elegante, sem se preocupar muito com o que come. ─ respondeu o marido de Teresa para não parecer que só prestava atenção a Sara.
─ Acho que uma preocupação excessiva com a linha é doentia, quando não se tem tendência para engordar! ─ disse Sara.
─ Mas deve-se ter algum cuidado com a qualidade do que se come, na medida do possível. ─ avisou Eduardo.
─ Claro que sim! ─ respondeu Sara
─ De qualquer modo estão as duas muito bem! ─ elogiou Eduardo.
─ Obrigada! ─ responderam as duas mulheres.
─ Já agora, o que acham as senhoras da nossa elegância? ─ perguntou o tio Edu a rir.
─ O Pedro está muito bem. ─ exclamou Teresa.
─ Então e eu?!
─ Acho que engordaste um bocadinho desde há algum tempo para cá. ─ respondeu Teresa, a rir, para provocar o amigo com quem tinha a confiança de poder dizer tudo.
Sara olhou de soslaio para Eduardo, para ver como ele reagia.
─ Ah sim?! E nota-se muito? Por essa eu não esperava! Ah, ah, ah! Pois eu garanto-te que a balança não tem notado nada. Mas se assim é a culpa é tua por cozinhares tão bem.
─ Agora a culpa é minha! ─ ripostou Teresa.
─ Eu acho que estás muito bem! ─ defendeu Sara.
─ Obrigado pelo teu carinhoso apoio! Veio mesmo na hora. Começava a ficar deprimido. A Teresa além de me dar marisco ainda me chama gordo! ─ disse Eduardo, olhando Sara com simpatia.
Risada geral.
─ Não tens namorado? ─ atalhou a Inês que, cheia de curiosidade, esperava o momento oportuno para se dirigir a Sara.
─ Menina, isso é pergunta que se faça? ─ advertiu o pai.
─ Tem algum mal? ─ ripostou a filha.
─ Claro que não, minha querida. Daqui a pouco vamos conversar a sós, de mulher para mulher, e contar todos os segredos uma à outra. Ok?
─ Combinado!
─ E vais poder fazer-me todas as perguntas que quiseres.
─ Eu só queria fazer uma. ─ aproveitou o André.
─ Qual?
─ Tu gostas do tio Edu?
─ Gosto muito! ─ respondeu Sara, sem hesitar, com a mesma inocência do miúdo.
─ Nós também.
Eduardo olhava surpreendido ora André, ora Sara, sentada a seu lado. Pedro e Teresa tentavam descobrir nos rostos do amigo e da escritora algum sinal de cumplicidade amorosa, mas, se a havia, não ficaram mais esclarecidos.
Depois de um pequeno silêncio, apenas entrecortado pelo ruído dos talheres, Pedro interveio mudando de assunto:
─ É a primeira vez que conhecemos alguém que escreve livros e agora recebermos assim, uma escritora em nossa casa é algo que…
─ Não me faças sentir importante! Fico corada e perco o jeito. ─ interrompeu Sara a brincar.
─ E como sabes que ele ia dizer bem de ti? ─ brincou Eduardo.
─ Pronto, precipitei-me! Peço desculpa. ─ respondeu Sara a rir.
─ Foste atrapalhar ainda mais a tua amiga. ─ acusou Teresa. ─ O que vai ela pensar de nós?
─ A nossa amiga! ─ corrigiu Eduardo. ─ Vai pensar mal, mas só o dirá num dos próximos romances.
─ Sim, «Os amigos dos nossos amigos, nossos amigos são»!
─ O que quer dizer isso, mamã? ─ perguntou André.
Teresa explicou ao filho.
─ Andas a escrever algum livro agora? ─ perguntou Inês.
─ Sim, estou a acabar um novo romance.
─ Depois quero ler. E gostaria muito que me ensinasses como se escreve. Já tenho feito uns pequenos contos.
─ Daqui a pouco vais-mos mostrar, está bem?
─ E corriges o que estiver mal?
─ Claro que sim! Com todo o gosto. ─ respondeu Sara com um sorriso de sincera simpatia pela causa da Inês.
─ Obrigada!
─ Eu não sabia que tu escrevias. ─ disse Eduardo.
─ Queria fazer umas correcções antes de te mostrar.
─ Eu podia ter-te dado uma ajuda.
─ Mas tu não és escritor! ─ explicou o irmão, cheio de lógica.
─ Nós também não sabíamos. ─ informou Teresa, mostrando-se surpreendida.
─ Vou dizer à minha prof de português e aos meus amigos que conheci uma escritora. ─ disse o André, convencido do prestígio que o conhecimento daquela nova amiga lhe traria junto dos colegas.
O almoço aproximava-se do fim e Eduardo reparara que a Inês tinha comido bem. A excitação pela presença da nova amiga levara-a a esquecer-se da dieta e tinha comido com apetite.

Continua...