Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, March 07, 2008

Virtual Realidade Parte 127


─ Se a fosses visitar como médico talvez ela te convidasse. ─ sugeriu Sandrine.
─ E acompanhar-te-ia a casa agora com o pretexto de a ver?
─ Porque não? Amanhã cedo regressarei ao trabalho e assim teríamos mais algum tempo para falar.
─ Acabei de te conhecer e já vais embora? ─ queixou-se Miguel.
─ São as minhas obrigações.
─ E a minha tia? Convidei-a para passar uns dias comigo, não a vou deixar sozinha.
─ Vais ter de meter uma cunha para ela. ─ riu a francesa.
─ Uma cunha?! Não achas que seria abusar?
─ Não te preocupes que eu darei uma ajudinha e a Luísa vai ter muito gosto em conhecer a tua tia. Foi ela que me ofereceu os livros.
─ Vamos ver então se o teu plano dá certo! ─ concordou ele ─ Então, como ainda é cedo para o almoço, vens a minha casa agora, conheces a tia Sara, falas com ela cinco minutinhos enquanto eu pego nas ferramentas do ofício e depois levo-te a casa num instante. O que achas?
─ De inteiro acordo, cavalheiro!
De mão dada caminharam pelo areal em direcção à casa do médico. No ar dançava o inebriante aroma da maresia e no areal havia um trilho recente de gaivotas.
Como o sobrinho ainda há pouco lhe tinha dito que não tinha namorada, Sara ficou surpreendida quando o viu chegar acompanhado, de mão dada, de uma linda mulher.
─ Vejo que não vens só! ─ disse com um sorriso de compreensão, sem desviar os olhos da bela morena.
─ Bom dia tia! Apresento-te a minha amiga Sandrine, uma tua admiradora. Aterrou o pára-quedas perto de mim na praia e trouxe-a para te conhecer. Espero que não te importes!
─ Sendo tua amiga, tenho todo o gosto!
─ A minha tia, a famosa escritora! ─ disse Miguel, apresentando a tia.
─ O gosto é todo meu! ─ respondeu a aviadora. ─ Li dois livros seus e é um privilégio conhecê-la pessoalmente.
─ Obrigada! Mas não ligue ao que o meu sobrinho disser de mim. ─ disse Sara a sorrir e, mudando de tom: ─ Fica para almoçar connosco. Vamos comer fora, ele conhece restaurantes muito bons.
─ Ela não pode. ─ acudiu Miguel, colocando a tia ao corrente de tudo em poucas palavras.
─ Vai então levá-la e se ficares por lá não te preocupes comigo. Saberei sobreviver sozinha.
─ Achas que seria capaz de tamanha indelicadeza? Até me ofendes! Espera um pouco que já volto.
─ Vai lá meu maroto! ─ respondeu a tia a sorrir, despedindo-se da bela amiga do sobrinho com um beijo.
Miguel estacionou o carro em frente da casa de Luísa que Sandrine lhe havia indicado.
Ela saiu, tocou à campainha e foi Eduardo que apareceu a abrir:
─ Olá, bom dia! Entra.
─ Bom dia! Tenho feito falta por aqui?
─ A Rita precisa de ti para a ajudares a arranjar-se.
─ Ah, ok! Não feches a porta que tenho ali o médico que a viu nas urgências e a quem pedi para ver a Rita. Ele mora aqui perto.
A pequena mentira fazia parte do plano que engendrara para poder passar o resto do dia
com o médico.
A francesa entrou em casa e Eduardo olhou aquele homem novo que havia saído do carro, dirigiu-se a ele e cumprimentou:
─ Bom dia, doutor! A Rita está quase boa, mas venha! Obrigado pelo seu cuidado!
─ Bom dia! Eu não quero incomodar, era só para saber das melhoras dela. Como sabia pela ficha que morava aqui e eu também moro… ─ desculpou-se o médico acompanhando Eduardo.
─ Hoje é o dia do aniversário dela e o namorado está para chegar. ─ informou Eduardo.
─ Então aproveitarei também para a felicitar. ─ respondeu Miguel.
Sandrine regressou e apresentou os dois homens.
─ Entra e espera um pouco enquanto ajudo a minha irmã a arranjar-se. Prometo não demorar muito. Vem conhecer a mãe dela. ─ disse dirigindo-se a Miguel.
O médico entrou e Luísa e Emília apareceram ao caminho. A aviadora fez as apresentações e Eduardo, ao perceber o que o trazia ali pelo modo como Sandrine o tratava, convidou com o à vontade de dono da casa:
─ O doutor vai ficar connosco para almoçar! Aceita?
─ Claro que aceita! ─ disse Luísa confirmando o convite feito pelo namorado, enquanto a filha torta se retirava para ir ajudar Rita.
─ Gostaria muito, mas não posso! Tenho uma tia lá em casa e seria incorrecto da minha parte deixá-la só.
─ Vá buscá-la e fica o problema resolvido! ─ disse Luísa com uma determinação que dispensava desculpas. ─ Vá enquanto a minha filha se arranja.
─ Eu também tenho de ir à rua. ─ disse Eduardo.
─ Se quiser aproveitar a boleia… ─ ofereceu Miguel.
─ Aceito de bom grado!
─ Não te esqueças daquilo, amor! ─ lembrou Luísa.
─ Era disso que me estava a lembrar. Vamos doutor?
Eduardo e o médico saíram juntos e na entrada cruzaram-se com Francisco e Daniel que chegavam. Eduardo fez as apresentações e disse:
─ Já voltaremos.
─ A Luísa é uma pessoa fantástica. Conhecemo-nos e apaixonámo-nos através das conversas no IRC. ─ disse Eduardo quando já iam os dois no carro.
─ Ela deixa-nos logo completamente à vontade tirando-nos a hipótese de nos recusarmos com desculpas.
─ O doutor veio pela Sandrine! Encontrou-a na praia?
─ Foi. Tinha-a visto nas urgências com a irmã e simpatizei com ela.
─ Elas não são exactamente irmãs!
─ Eu já sei.
─ Tenho de sair aqui. ─ informou Eduardo ao passarem perto da rua onde havia lojas. ─ Vou comprar as velas para o bolo de anos. Quase que nos esquecíamos. Depois regressarei a casa a pé. Até já!
─ Tenho uma ideia melhor: espero por si e levo-o a minha casa; assim já ficará a saber onde moro.
─ Aceito!
Em poucos minutos, Eduardo comprou as velas e regressou ao carro.
─ Podemos ir. ─ disse.
No pouco tempo que demoraram até casa do médico, falaram das respectivas profissões.
─ Estás pronta, tia? ─ perguntou Miguel, quando Sara veio abrir a porta. ─ O que se passa, viste um fantasma? ─ perguntou ele ao ver a tia boquiaberta, olhando para o homem que o acompanhava, incapaz de responder.
─ Olá, Sara! ─ cumprimentou Eduardo, também surpreendido, quando a reconheceu.
─ Como o mundo é realmente pequeno! ─ exclamou ela, quando conseguiu falar, dirigindo-se ao Eduardo ─ O que fazes tu por aqui?
─ Isso pergunto eu! Tia e sobrinho… mas que agradável coincidência!
─ Não entendo nada! Mas vocês conhecem-se já? ─ perguntou Miguel olhando ora para Eduardo, ora para a tia.
─ Pois conhecemos. ─ responderam os dois. E Sara acrescentou: ─ um dia destes conto-te tudo. Agora diz-me tu onde foste descobrir o meu amigo Eduardo.
Quando o sobrinho acabou de falar, Sara percebeu o que fazia Eduardo ali naquela terra onde ela também se encontrava.
─ Não sei se deva aceitar o convite, não quero causar problemas. ─ disse a escritora hesitante. ─ Sou completamente estranha para a dona da casa.
─ Não completamente! A Sandrine disse-me que ela tem livros teus. ─ informou Miguel.
─ Vais como minha amiga e convidada. ─ insistiu Eduardo. ─ Não te preocupes que vai correr tudo bem.
─ Bom, já que insistem… mas é, no mínimo, estranho irmos assim…
─ Assim como?
─ Nem tempo temos de arranjar uma prenda para a aniversariante.
─ Podes oferecer dos livros que me trouxeste. Depois mandas outros para mim. ─ sugeriu Miguel.
─ Mas que excelente ideia! Não te importas, querido?
─ Claro que não!
─ Eduardo, vens ajudar-me a fazer os embrulhos, por favor?
Quando ficaram a sós Sara perguntou:
─ Diz-me o que sabe a tua namorada do nosso encontro. Já lhe contaste que dormi em tua casa?
─ Já quis contar, mas por causa da gripe da filha não consegui.
─ Não estou a ver a relação.
Quando Eduardo acabou de explicar, Sara disse:
─ Então omitiremos o assunto e talvez seja melhor para sempre.
─ Minha querida, eu não tenho nada a esconder e tenciono contar-lhe. Se ela não acreditar que não houve nada entre nós eu assumirei as consequências.
─ Tu é que sabes! De qualquer modo, por mim não saberá nada.
─ Claro, Devo ser eu a dizer-lhe! Quanto ao que se refere ao caso da Inês, ela sabe tudo e também sabe da tua existência. Só desconhece mesmo aquele pormenor.
─ Ok! Já sei o que precisava para evitar surpresas. Agora diz-me o que achas sobre os livros que devo dar. Estou a pensar dar um à Rita como presente de anos e outro à mãe por me ter convidado.
─ Acho muito bem.
─ Outra coisa que já me estava a esquecer…
─ Diz.
─ Penso que deixei um cordão de ouro na mesa-de-cabeceira do quarto onde dormi em tua casa. Ele não me aparece em lado nenhum. Tenho-o em muita estimação e espero que esteja lá mesmo. Peço-te o favor de mo procurares.
─ Fica tranquila que se estiver lá é teu! Logo que o encontrar telefono-te para ficares descansada. Como não voltei a entrar naquele quarto, não dei por nada.
─ Obrigada. Posso dar-te um beijo?
─ Podes! ─ respondeu Eduardo a sorrir, oferecendo-lhe o rosto.

Continua...