Virtual Realidade

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Saturday, May 20, 2006

Virtual Realidade Parte 36


Cristina naquele momento está no computador à espera que o marido apareça. Precisa de lhe falar com urgência sobre o seu relacionamento com o Rui porque aquela situação é insustentável para ela: o marido tem de saber o que se passa. Invade-a um enorme receio, já que não sabe como ele reagirá e teme o pior. A conversa com Luísa, o amor do Rui e a esperança de dar um novo rumo à sua vida afectiva dão-lhe a coragem necessária para enfrentar o marido. Faltava apenas um mês para ele regressar da missão, mas preferia contar-lhe já tudo, à distância, porque assim ele teria tempo de digerir a notícia sem descarregar de imediato sobre ela a sua índole violenta. Cristina esteve ausente da Internet durante uns meses e só voltou porque o marido estava fora e era uma maneira fácil e económica de se comunicarem. Não queria pensar no inferno que era o Victor a implicar com ela todos os dias sobre os amigos e amigas com quem falava na Internet; fazia-lhe constantes cenas de ciúmes e até prostituta lhe chamava. E ele sempre que estava em casa passava o tempo no computador a falar sabia-se lá com quem; uma vez Cristina apanhou o marido a masturbar-se em frente do monitor, altas horas da madrugada. Ficou lívida perante aquela cena mas conseguiu ter a calma necessária para não se manifestar e se retirar discretamente sem que o marido tivesse dado pela sua presença. Jamais se atreveria a fazer-lhe saber que o tinha presenciado naquele acto tão ignominioso porque nem imaginaria o que Victor lhe faria se soubesse que ela tinha visto aquilo.
Estava farta de sofrer os acessos de violência do marido e queria a todo o custo evitá-los.
Cristina não podia continuar a viver assim. Sentia a vida a passar sem esperanças de usufruir dela o seu quinhão de felicidade.
Agora estava ali cheia de coragem, decidida a mudar o rumo dos acontecimentos, acontecesse o que acontecesse, e um pensamento, vago de início, aumentado lentamente de intensidade, foi subindo no seu espírito para lhe dar força e confiança: “Mais vale morrer do que viver sem amor”.
E uma lágrima rolou suavemente pela sua face crispada.
Cristina apressava-se a limpar aquela lágrima atrevida, para evitar que caísse no teclado, quando o mirc começou a piscar em baixo.
Era o Rui:
─ Olá paixão! Tudo bem contigo? Estou morrendo de saudades tuas.
─ Sim tudo bem! Estou preocupada. Mais uma vez fiquei pendurada, queria tanto falar com o Victor, mas ele nem sinal deu.
─ Tem calma, talvez não possa nesta hora e apareça mais logo. Entretanto já pensaste bem no que lhe vais dizer?
─ Sim! Reflecti muito bem. Tenho de pôr fim a este casamento. Não há nenhuma razão de continuar com esta farsa. Se não tens aparecido na minha vida certamente que não teria coragem de tomar esta atitude.
─ Desejo-te boa sorte nessa missão ingrata! Outra coisa…
─ Sim, diz.
─ Quando vens jantar comigo? Estou ansioso por te abraçar, estar contigo, revestir-te de carinhos...
─ Logo que possa. Eu também estou morrendo de saudades tuas, meu amor. Sabes, já contei tudo à Luísa sobre o nosso envolvimento; não conseguia esconder por mais tempo. Ela também já tinha notado que algo se passava comigo e deu-me apoio e coragem. É uma boa amiga. Eu não me sentia bem em lhe estar a esconder o nosso romance.
─ Fizeste bem! Eu também quero contar aos meus amigos que finalmente estou apaixonado, por uma pessoa maravilhosa, Tu! Eles vão ficar admirados e vai custar-lhes a acreditar.
─ Pois, devem conhecer-te muito bem.
─ É verdade, mas tu prendeste-me com o teu jeito e eu sinto-me bem, preso a ti. Mostraste-me o lado bom da vida.
─ Estás seguro do que dizes?
─ Claro que estou tontinha!
─ Sou muito feliz por saber isso. Amo-te muito. Não sei o que faria se te perdesse.
─ Não me perderás nem eu quero perder-te depois do tempo todo que levei para te encontrar. Isso jamais acontecerá!
─ Sabes dos meus receios por seres mais novo um pouco do que eu…
─ Amor, já falámos disso diversas vezes. Confia em mim.
─ Eu confio, desculpa.
─ Já falaste com o teu filho, o que vai ele pensar de tudo isto?
─ Não te preocupes minha vida, ele mais do que ninguém vai compreender. Desde muito pequeno que assiste às nossas discussões. E uma das vezes teve coragem de enfrentar o Victor. Quantas vezes me pediu, “mamã, vamos embora!” Ele sabe que quando o pai vai em missão, nós os dois somos mais felizes, sem as humilhações que ele nos faz passar.
─ Mas vais ter de lhe contar também.
─ Claro que sim. Arranjarei um modo de lhe dizer. Eu e ele somos aliados há muito tempo, não penso que haja problema nisso. O meu filho sempre esteve do meu lado.
─ Ok, alguma coisa de que precises conta comigo.
─ Bigada, mor, mas com o Victor tenho de ser só eu. O resto depois digo-te. Sinto que estou prestes a fazer rebentar uma bomba, clandestinamente, sem fazer parte de exército nenhum.
─ Não penses nisso agora, senão ficas triste e sem ânimo. Vamos falar do nosso próximo encontro.
─ Sim meu amor, tens toda a razão.
Para o Rui o Mirc começa a cintilar em baixo; foi ver: era o Eduardo.
─ Olá, Rui!
─ Olá Edu! Ainda bem que apareces, precisava de falar contigo.
─ Tem graça que eu também! Como adivinhaste?
─ Lol! Oh pá mas agora estou meio ocupado…
─ Estranho seria se não estivesses … a namorar! Lolol
─ Eu conto, mas agora não; amanhã falamos, ok?
─ Ok. Um abraço e namora muito
─ E tu também.
─ Cucu! ─ Chama a Cristina desesperada porque o Rui tinha deixado de lhe ligar.
─ Desculpa, amor, mas de repente apareceu aqui um amigo meu e tive de lhe responder.
─ Sim, sim!
─ Acredita que é verdade. Ele ainda cá está mas já me entendi com ele.
─ E como se chama esse teu amigo, se posso saber…?
─ Eduardo, porquê?
─ Por nada, só curiosidade.
Cristina ficou a pensar que certamente seria verdade dada a rapidez com que o Rui respondeu dando o nome do amigo. Mas aquele nome…Eduardo. Não! Seria demasiada coincidência que fosse o Eduardo da Luísa; não podia ser o mesmo.
─ Ok.
─ Amor, vamos nanar? Amanhã preciso de estar fresquinha e segura de mim para começar a contar tudo ao meu filho.
─ Sim vamos. Coragem, muita inspiração e boa sorte. Alguma coisa tens o meu telemóvel.
─ Bigada, fofinho!
E despediram-se com muitos beijos jurando amor eterno.

Continua...