Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, June 08, 2007

Virtual Realidade Parte 89


Quando chegou a casa, antes de tomar banho, Francisco, eufórico, não resistiu a telefonar à mãe a relatar-lhe o sucedido.
─ Olá, mãezinha! Tudo bem convosco?
─ Tudo filhote. Alguma novidade?
─ Sim e grande. Desculpa interromper-te, mas tinha de te contar.
─ Mas o que se passa filho?
─ Nem vais acreditar!
─ Diz logo, amor!
─ Encontrei a Rita.
─ Como, de verdade?!
─ Sim, de verdade. Fui correr para o parque e ela andava lá também a correr com uma colega, a amiga do Juan. Depois conto-te os pormenores. Agora vou tomar banho para ir almoçar fora com elas.
─ Quer dizer que estás feliz?!
─ Muito. Só espero que o estejas tanto como eu.
─ Estou muito, sim e agora ainda mais. À noite regressaremos e depois quero saber tudo. Um grande beijinho.
─ Outro.
Mariana sentiu, por uma das poucas vezes ao longo da sua existência, mas agora com maior intensidade, que as coisas na sua vida começavam a tomar bom rumo e respirou numa profunda sensação de paz.
Juan aproximou-se lentamente, dando-lhe um beijo nos cabelos ainda molhados.
─ Boas notícias, amor?
─ Sim! Nem consegues imaginar! O Francisco acabou de ligar, estava muito contente e excitado e quis partilhar connosco a sua felicidade. Finalmente encontrou a Rita; e com uma amiga tua.
─ Só pode ser a Emília!
Saíram para a rua de mãos dadas e dirigiram-se para o paredão, um sítio agradável para passear, e desfrutar as últimas horas na bonita cidade de San Sebastian.
Nesse mesmo momento Rita cantava alegremente enquanto dispunha sobre a cama várias peças de roupa. Estava com dúvidas entre o vestido vermelho curto e sexy ou as calças de ganga e um camiseiro. Acabou por optar pelas calças de ganga e uma camisola castanha de lã. Simples e discreta, apesar de sentir um desejo louco de impressionar Francisco.
─ Rita! Estás linda!
─ Calma, amiguinha, calma…não exageres! Vamos descer que está na hora.

Francisco chegou de carro para levar as duas amigas a um restaurante nos arredores da cidade: La Sidreria, em Cizur Minor, cinco quilómetros a sudoeste de Pamplona.
Esperou um pouco até que elas apareceram, vestindo com simplicidade, mas elegantes: Rita mais alta do que a colega, destacava-se pela expressão de felicidade pintada no seu belo rosto jovem.
Francisco esperava-as de pé, encostado ao carro.
─ Temos carro?! Pensei que fossemos a pé! ─ admirou Rita, falando em português, quando chegou junto dele.
─ É o carro de serviço do estúdio. Ficou por minha conta este fim-de-semana porque ontem cheguei tarde de Madrid, de ir ver uma obra que estamos a construir lá.
─ Quer dizer que vamos longe? ─ quis saber Emília, perguntando em castelhano.
─ Não muito, mas vamos sair da cidade. Vamos entrando no carro que está na hora. ─ pediu ele, abrindo a porta da frente ao lado do condutor.
─ Tu vais à frente! ─ disse Emília, dirigindo-se a Rita.
─ O nosso chauffeur é que manda! ─ respondeu Rita a rir.
─ Bom, ou vocês se decidem ou vou sozinho! ─ ameaçou ele a brincar.
─ Então eu vou à frente, não te zangues! ─ concordou Rita, depois de ver que Emília já se tinha sentado no banco de trás.
Francisco bateu as portas do carro e sentou-se ao volante, seguindo a estrada em direcção ao restaurante.
─ Não nos vais raptar, pois não? ─ brincou Rita, querendo mostrar-se totalmente descontraída.
─ A ideia era essa, mas se já descobriram o meu plano, desisto.
─ Também ninguém pagaria nada pelo nosso resgate. ─ acrescentou Emília a rir.
─ Vou levar-vos a um dos melhores restaurantes da zona. Se calhar não conhecem. Espero que gostem.
─ Eu não conheço. ─ informou a argentina.
─ Eu também não, mas vamos gostar com certeza. ─ previu Rita.
─ Cizur Minor, aonde vamos, é um pequeno pueblo, mas muy importante porque se encontra no caminho de Santiago para quem vem do lado de França. Possui alguns bons restaurantes e um albergue para os peregrinos, regido pela Ordem de Malta, que era um antigo mosteiro dos cavaleiros de S. João de Jerusalém.
─ Templários?
─ Penso que sim. Há muita história por estas bandas.
─ Estás há muito tempo por cá? ─ perguntou Rita. ─ Conheces isto muy bien.
─ Estou cá há oito meses e já conheço alguma coisa.
─ Quando acaba o teu estágio de arquitectura?
─ Ainda te lembras?
─ Sim, disseste-me no comboio.
─ Mais quatro meses para ficar arquitecto. Depois terei de ir a Portugal tratar dos papéis. Aqui em Espanha já sou arquitecto, mas lá não.
─ E ficas por lá a trabalhar?
O diálogo desenrolava-se nos bancos da frente e Emília seguia calada, apenas escutando, entendendo menos-mal o português em que os outros dois falavam.
─ Conforme arranjar trabalho. Depois se verá.
─ E tu?
─ Ainda agora estou a começar medicina. Vou passar cá muito tempo ainda.
─ Pois, tinhas-me dito. Chegámos! ─ informou Francisco, estacionando o carro. ─ Deve estar cheio, mas devemos ter mesa porque eu telefonei a reservar. Em Pamplona se não se fizer reserva antecipadamente, corre-se o risco de vir embora sem comer. Não é como em Portugal.
Entraram e Francisco dirigiu-se ao balcão para fazer valer a marcação que tinha efectuado. O restaurante estava cheio e uma empregada, solícita e guapa, com um sorriso de simpatia profissional, conduziu-os até à mesa que os aguardava.
─ O que vamos comer? ─ perguntou ele, olhando para elas escondidas atrás das respectivas ementas que a empregada tinha deixado.
─ Aconselha-me tu que eu não consigo perceber o que está por detrás de muitos destes nomes. ─ pediu Rita. ─ E tu Emília?
─ Eu entendo. Acho que vou para um chuleton a la brasa. Deve ser bom.
─ Si, si. ─ confirmou Francisco. ─ Também vou nisso.
Dirigindo-se a Rita:
─ Carne ou peixe?
─ Peixe.
Então ele explicou o que era cada prato no nome espanhol e Rita escolheu um prato de pescada.
─ E para beber?
─ Água. ─ responderam as duas quase em simultâneo.
─ Eu bebo vinho. Há aqui bons vinhos de Navarra, principalmente da área de Logroño, e de Ribera Duero, na zona de Valladolid.
─ Vejo que és conhecedor! ─ sorriu Rita.
─ Sim, aprecio bons vinhos. Todos os meus amigos sabem que, quando me quiserem presentear, não precisam de pensar muito: basta uma garrafa de um bom tinto.
─ Realmente isso facilita, mas é preciso conhecer. Não gostas de brancos?
─ Não muito. Prefiro tintos. E vocês não gostam de vinho?
─ Si. ─ respondeu Emília. ─ Mas bebo raras vezes.
─ Às vezes bebia em Portugal. ─ disse Rita.
─ Vou mandar vir uma garrafa e vocês provam. Para entrada uns camarões e cerveja?
─ Adoro! ─ anuiu Rita.
─ Vale! ─ concordou Emília. ─ Isto aqui é muito chique! ─ acrescentou admirada, olhando em redor.
─ Também tenho vindo a reparar. ─ Anuiu Rita.
─ Sim, é um restaurante de muito nível. Embora eu prefira ambientes mais descontraídos, mais democráticos. Mas este dia merecia uma comemoração especial.
─ A decoração, as mesas, a maneira como os empregados nos tratam, o ar dos clientes e o modo como vestem… parece tudo muito requintado. ─ confirmou Emília.
─ É só alta burguesia! ─ assentiu Rita sorrindo. ─ Não estarei a destoar com calças de ganga?
─ Claro que não! Tu estás linda! ─ respondeu Francisco, com um olhar sorridente e tão intenso, na direcção dela, que era como que a projecção do seu sentimento por aquela rapariga que mal conhecia ainda. ─ Não tens nada a temer.
─ Oh, obrigada! ─ respondeu ela, apanhando-lhe o olhar e corando um pouco.
Enquanto a refeição decorria, falaram das respectivas vidas, das famílias, de como se encontravam naquela cidade de Pamplona, dos planos para o futuro. Emília contou como tinha conhecido o Juan e tanto ela como Francisco achavam aquele amigo comum uma das melhores pessoas que conheciam.
Depois do café, ele pediu a conta, pagou e saíram.
─ Então, gostaram?
─ Tuto muy bueno.
─ Sim, adorei. Comi muito bem. Em Portugal diz-se que em Espanha se come mal, mas se isto é comer mal…
─ Pode-se comer mal e também se pode comer muito bem. Tudo depende de onde se for e daquilo que se estiver disposto a pagar.
─ Pois. Vens aqui muitas vezes? ─ perguntou Rita.
─ Não que eu não sou rico…ainda! Ah,ah,ah
─ Ah,ah,ah
─ Há outro motivo e não menos importante…
─ Qual?
─ A minha mãe cozinha muito bem.
─ Sim, é uma boa razão.
─ Hás-de ir comer lá a casa e verás. ─ Já no carro perguntou: ─ Onde vamos agora?
─ Eu gostaria de ir para a residência. Tenho que estudar ─ disse Emília piscando o olho à Rita.
Durante o caminho de regresso e enquanto conduzia, ia-se recordando de como tinha conhecido Rita.
Suavemente pousou a mão dele sobre a dela, apertou devagarinho e, sem desviar os olhos da estrada, disse:─ Estou muito feliz por nos termos reencontrado.

Continua...