Virtual Realidade

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Friday, June 16, 2006

Virtual Realidade Parte 40





Agarrado ao monitor, Victor bem tentava entrar no computador de Cristina que se encontrava nesse momento on-line a teclar com o Rui. Mas não conseguia e não percebia a razão. Levantou-se furibundo, deu um pontapé na porta do quarto que se abriu e foi até ao bar onde esperava encontrar quem o ajudasse.
Os subordinados presentes levantaram-se e o capitão dos italianos mal o viu, levantou-se da mesa de jogo e chamou a sorrir:
─ Afinal sempre vem jogar! Já dormiu tudo?
─ Não venho jogar nada! ─ Respondeu Victor irritado. E, dirigindo-se ao cabo das comunicações:
─ Vem cá, preciso de ti.
─ Ok, meu capitão!
E retiraram-se os dois para o quarto de Victor.
Assim que se sentaram em frente do computador, o capitão disse:
─ Vê-me isto: porque é que não consigo entrar no PC da minha mulher?
─ Deixe ver, meu capitão!
─ Tem cuidado porque tudo o que vires fica em segredo. Se eu sonho que deste com a língua nos dentes vais dar-te mal.
─ Não precisa de se preocupar: assim que eu sair aquela porta esquecerei tudo o que tiver visto.
─ Assim espero. Então o que achas que se passa?
─ Não vamos conseguir entrar nesse computador. Ele está bem protegido com uma firewall. Seria preciso sermos génios informáticos para conseguirmos ultrapassar isso.
─ Raios!... Ok, podes ir e nem uma palavra do que sabes!
─ Com licença, meu capitão! Boa noite!
─ Boa noite e obrigado!
Victor ficou a ruminar no caso: “de que teria a Cristina de se proteger tanto para ter instalado uma firewall? Pois ela nem percebe nada daquelas coisas além da utilização normal. Isto não me cheira. Só se protege quem tem algo a esconder. Talvez aquele que ela quer esconder lhe tenha ensinado a proteger-se. Que andará a minha mulher a fazer nas minhas costas?”. E uma ponta de suspeita e ciúmes começou a roê-lo por dentro.
Deixaria o caso para mais tarde; agora era a Ana que estava na mira da vingança e soltou um «hurra!» de satisfação quando viu que anjo_selvagem estava on-line e foi logo ter com ela, todo doçuras e mesuras:
─ Olá docinho!
Ela não respondeu de imediato. O capitão ficou arreliado com isso e insistiu:
─ Fala comigo! Venho pedir desculpas de tudo o que te disse. Só queria que fossemos amigos.
Um pouco mais e anjo_selvagem respondeu:
─ Ok, fala lá!
─ Ah, estavas aí! Então toma nota, sei tudo a teu respeito: chamas-te Ana és freira e tens um amor na tua vida ao qual correspondes pelo IRC; também sei que te tens encontrado com ele fora do convento. Afinal fazias-te tão púdica e és como todas as outras ou pior ainda. Só temos de vos saber falar para caírem que nem patinhas. Freiras ou não, querem todas o mesmo.
Anjo_selvagem estava passada com a conversa de Victor; como é que ele tinha descoberto aquelas coisas? Só se tinha entrado no computador dela, mas como?
No entanto tentou reagir não se dando por achada:
─ Não sei nada do que falas nem imagino o que pretendes com essa conversa.
─ Ai não?! Já te vou mostrar.
E Victor enviou-lhe uma fotografia que tinha encontrado no PC dela e que representava uma cena pedófila. E perguntou:
─ Isto não te diz nada?
Ana, do outro lado da linha, ficou corada até à raiz dos cabelos. “Como é possível uma coisa destas? O gajo entrou no meu PC, só pode!”. Mas reagiu de imediato:
─ Claro que diz, e depois?
─ Depois vais ver o que te acontece se não fizeres tudo o que eu disser.
─ Sim?! Então o que sugeres que eu faça?
─ Vais fazer tudo o que eu quiser, caso contrário conto tudo aos teus superiores.
─ Aos meus superiores…ok. E o que tenho exactamente de fazer para evitar isso?
Anjo_selvagem, passada a primeira surpresa, sorria divertida.
─ Ou fazes sexo comigo ou vais ter de me pagar uma quantia em dinheiro.
─ Ai é?! E quem me garante que depois de satisfazer o teu desejo não continuas a exigir de mim que volte a fazer o mesmo?
─ Pois, minha querida, a verdade é que ninguém te pode garantir isso: estás nas minhas mãos!
Então, em vez de se preocupar, Ana resolveu gozar com a situação. Aquilo dava-lhe conteúdo para a história que estava a escrever sobre relacionamentos no IRC e no MSN e sobre a Internet em geral.
Ana, aliás Sara, de seu nome verdadeiro e que não constava no seu PC, era escritora.
Fazia jornalismo de investigação e já tinha alguns livros publicados. Andava actualmente a escrever um ensaio sobre relacionamentos nos chats da Internet.

─ E tens, ao menos, umas mãos macias e carinhosas? E um corpo belo e jovem para se deitar ao lado do meu? É que dinheiro não devo ter o bastante para satisfazer o teu pedido. Quanto pedirias?
─ Ah, ah, tu és engraçada. Porque não facilitaste logo as coisas? Escusávamos de ter chegado a isto.
─ Se gostas de mulheres fáceis porque não vais às prostitutas?
─ Mas é precisamente isso que eu estou a fazer, ou achas que és diferente delas?
Freira então! Deixa-me rir! Lolololololol. Também és pedófila?
─ Menino, cuidadinho com a língua! Não sabes com quem estás a falar!
─ Sei que estou a falar com uma pega e que se ela não satisfizer os meus desejos vai ver do que sou capaz.
─ Deves achar que és um machão do caraças, mas eu vou contar-te uma história: sou jornalista e escritora, retirei-me para um convento por razões de concentração e outras que não te interessam. Estou a fazer um estudo sobre a Internet e cretinos como tu para colocar tudo em livro; quando o leres verás lá o teu ridículo retrato. Entretanto já apanhei o teu IP e vou entregar o caso à Judiciária para que chantagistas como tu pensem duas vezes antes de tentarem fazer mal a alguém. Pensavas que encontravas uma pobre ingénua, que se borrava de medo coma s tuas ameaças, não era?
─ És muito espertinha, mas e aquelas fotos comprometedoras?
─ Comprometedoras de quem? Minhas?! Lolololol. É tudo material da minha pesquisa e que serve para ilustrar os meus artigos no jornal. Saiu-te o tiro pela culatra não foi?
Sara dominava completamente a situação e Victor começou perceber que aquela mulher era mais forte do que ele e, de repente, teve medo, um medo que nunca tinha sentido antes. Aquela ameaça com a Judiciária podia prejudicar a sua carreira; tinha de evitar a todo o custo que Ana a concretizasse e começou a baixar a garupa irritadíssimo mas impotente.
─ Mas tu pensas que eu falava a sério? Eu estava só a brincar contigo, amor!
─ Pois, agora tenta disfarçar! Se julgas que me convences com isso podes tirar o equídeo da pluviosidade!
─ Mas eu sou de infantaria, doçura! – Respondeu o capitão tentando sorrir.
─ És da tropa?
Victor apercebeu-se de imediato que tinha dado um enorme escorregadela e emendou:
─ Não, que ideia! Mas a sério, perdoa-me tudo! Apenas quis brincar contigo.
Aquele «perdoa-me» saiu do Victor como se lhe tivessem arrancado um pedaço do coração, mas não tinha outra alternativa senão submeter-se, porque no ponto em que as cosias estavam só podiam piorar para o lado dele. Se a raiva dele fosse uma bomba estaria prestes a explodir com o rastilho a arder já perto do detonador.
Ana ficou calada e ele insistiu submisso, de caçador a peça de caça:
─ Vá lá linda, diz que me perdoas. Juro que nunca mais me meterei contigo.
─ Jamais te perdoarei.

Continua....