Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, March 31, 2006

Virtual Realidade Parte 29


Luísa está impaciente e corre para o computador. Com um bocado de sorte encontrará o Eduardo antes de ele sair para o trabalho, caso esteja em casa ainda. Ao ligar o MIRC o seu coração fica acelerado, o nick mds cintila.
─ Olá Fofinho! Há quanto tempo não falamos? Morro de saudades tuas.
─ Estás boa Princesa! Como foram as férias? Muitas conquistas? Conta tudo!
─ As férias correram muito bem. Adorei a tua surpresa. Nunca pensei que anotarias os dados do hotel. Obrigada querido, és um amor. Abraçar aquelas margaridas, foi como se tivesse sido acarinhada por ti.
─ És uma exagerada! Tu mereces tudo pela tua paciência em me aturares. És uma mulher maravilhosa!
─ Fico muito feliz por ouvir isso mas tenho um peso enorme no meu coração!
­─ O que foi que te aconteceu?
─ Estou muito triste. Já saíram os resultados dos exames da Rita. E por uma décima não tem nota para entrar em Medicina. Vai concorrer para Espanha.
─ Não fiques assim! Tens que ser racional e fazer tudo que esteja ao teu alcance para lhe dares todo o apoio. Afinal ela é que vai para longe da família e dos amigos. Conhecer gente nova uma língua nova, não vai ser fácil, apesar de que hoje em dia tudo é mais fácil do que há uns anos trás.
─ E eu que o diga! Fui para os Estados Unidos com quinze anitos; saí duma pequena vila e encontro-me de repente num país totalmente diferente do nosso. Passei um mau bocado. Mas vamos deixar essas más recordações que dormem num baú sossegadas. As miúdas ainda dormem. Sandrine vai embora amanhã, o trabalho chama-a, e a Rita vai tratar então de concorrer para diversas faculdades espanholas. Tu o que fizeste nestes dias sem mim?
─ Muitas coisas…o meu trabalho, ir ao meu pai que mora afastado de mim, conversar aqui, algumas distracções com os amigos...
─ Sim? Fala-me deles, estão todos bem?
─ Estão bem sim. Mas há um, o Rui, que anda meio estranho. Ultimamente tem vindo falar comigo mais vezes; desconfio que se apaixonou por alguém mas ainda não me confessou nada directamente. É do tipo de passar a vida a saltar de ninho em ninho, percebes? Eu já te falei dele.
─ Sim.
─ Acho que lhe custa admitir que se deixou prender, habituado como está a controlar as suas ligações. Agora parece que já lhe chateia andar no IRC no engate, o que nele quer dizer muito.
─ E eu estou preocupada com a minha amiga Cristina. No tempo que estive fora, ligou-me poucas vezes e sempre apressada.
─ Princesa, acorda! Estiveste fora apenas oito dias.
─ Tens razão! Mas algo se passa com ela, e já há algum tempo. Ela disse-me antes das férias que tinha algo de preocupante para me contar.
─ Eu tenho que sair e já estou atrasado. Quando estou contigo perco-me no tempo fofinha. Fica bem, e tem calma. Beijinhos.
─ Espera! Quando voltas? Temos tanto que conversar!
─ A qualquer momento cintilo no teu pvt (falar em privado); agora tenho mesmo que ir. Beijos muitos.
─ Fica bem, e volta depressa. Jinhos.
Luísa pensa: “Ele é realmente maravilhoso! Sempre com uma palavra amiga, dando a volta ao assunto para o tornar mais leve. Quando o irei conhecer pessoalmente?”
Sandrine e Rita entraram na sala e começaram a rir e a brincar com a Luísa.
─ As saudades eram tantas que nem resistiu, veio logo cedinho namorar com o Eduardo, não foi mamã apaixonada?
─ Meninas respeitinho (risos) E se fossemos dar um passeio à beira-mar? Tenho saudades do meu mar.
Partiram as três até à praia. Era apenas abrir uma pequena cancela, e diante dos olhos aparecia aquela imensidão de água brilhante que lhes dizia bom dia com o barulho das suas ondas. Luísa no meio das duas filhotas ia contando à Rita outros pormenores das pequenas férias no Algarve. A brisa fria que lhes beijava o rosto, o odor a maresia, as gaivotas que pipilavam esvoaçando por cima das suas cabeças: o cenário banhado por aquele sol acabado de nascer, era simplesmente paradisíaco. Desceram a rampa que as conduzia ao areal, estenderam as toalhas perto da água e sentaram-se a conversar relembrando todas as peripécias das últimas horas. Apesar da incerteza do futuro de Rita estavam felizes.
Regressaram a casa muito bem dispostas. Sandrine e Rita iam almoçar com um grupo de amigos, enquanto Luísa estava ansiosa por falar com a Cristina; ligou-lhe e combinaram encontrar-se a seguir ao almoço no local do costume: uma pastelaria que tinha uns bolos deliciosos.
Quando Luísa entrou na pastelaria a amiga já a esperava, sentada num cantinho discreto mas muito acolhedor, perto da ampla vitrina, através da qual se via quase toda a praia até à zona das piscinas. Atravessando a rua, do outro lado, uma escadaria construída na rampa de pedra conduzia ao areal em baixo. Antes de se aproximar ficou a observá-la por uns momentos. Parecia-lhe que naqueles últimos dias ela tinha emagrecido e andava com um semblante triste. Aproximou-se lentamente. Cristina estava tão absorvida nas suas preocupações que nem deu pela chegada da amiga.
─ Olá! Estás bem? Que carinha tão tristinha. Saudades minhas? ─ Perguntou a sorrir. ─ Quanto queres por esses pensamentos?
─ Olá Luísa! Realmente tinha saudades tuas, sabes como sou saudosista. Mas conta-me tudo. Como foram esses dias passados em terras mais quentinhas, divertiram-se muito? Estou curiosa.
O empregado apareceu com uma esferográfica e um bloco de notas a perguntar o que tomavam as senhoras.
─ Para mim uma brisa de lis e um chá preto. ─ Pediu Luísa ─ E tu Cristina?
─ Um chá de tília e um pastel de nata.
O empregado retirou-se para ir buscar os pedidos e a conversa continuou:
─ Mas deixa-me ver-te bem! Tu estás com uma cor fantástica! Trabalhaste muito bem para o bronze! Estás com uma pele linda! Se o Eduardo te visse agora!...
─ Achas mesmo? ─ Luísa sorriu.
─ Sem dúvida nenhuma! Conta logo tudo!
─ Antes de te contar das minhas férias quero saber como estás e qual a razão dessa tristeza que noto em ti. Conheço-te bem e sabes que nada me escapa.
─ Não tenho nada de grave amiga! Apenas falta de notícias do Victor, os telefonemas dele cada vez mais raros e as idas á Internet são cada vez mais escassas.
─ Já pensaste que poderá ter ido para alguma missão especial? O Victor adora-te! Nunca vi homem tão submisso aos encantos da esposa, apesar de ser militar. Mas penso que me estás a esconder algo mais, não estarás?
Cristina baixou os olhos envergonhada ao encarar a amiga de frente. Ela sabia que Luísa era aquela amiga a quem se podia contar tudo que tinha sempre palavras de carinho, apoio, compreensão. Não escondendo até a amizade que nutria pelo Eduardo, Luísa era muito transparente, dona de um grande coração.
─ Amiga, não és obrigada a contar-me o que não desejas, não quero meter-me na tua vida! Apenas estou preocupada contigo. Mas vamos mudar de assunto.
Enquanto comiam os pastéis e tomavam o chá falaram do Daniel, da Rita e das expectativas de ambos para o futuro. Luísa notava que a cabeça da amiga estava em outro lugar mas não disse nada. Depois Luísa contou tudo sobre como tinha adorado aqueles dias passados com a Sandrine no Algarve. Apenas omitiu o episódio do bar. Quando descreveu a cena das margaridas enviadas pelo simpático Eduardo e espalhadas no chão do quarto, Cristina arregalou muito os olhos esquecendo por momentos as suas preocupações íntimas, quase não acreditando no que ouvia.
─ Mas que romântico! Esse teu Eduardo é demais! Ele está caidinho por ti, minha querida! Acredita no que te digo! ─ Disse isto num profundo suspiro, e um brilho misterioso, logo encoberto por uma sombra de grande tristeza, perpassou fugaz pelo olhar de Cristina.
─ Tu achas isso?
─ Tenho a certeza. ─ E duas lágrimas indiscretas deslizaram pelo rosto da amiga, levando-a a baixar os olhos instintivamente para que ninguém as pudesse notar.
─ O que tens tu mulher?! ─ Inquiriu Luísa com ternura e preocupação.
─ Não tenho nada. ─ Soluçou ─ Vamos para minha casa, quero contar-te tudo!
─ Sim vamos.A tarde já declinava quando saíram da pastelaria. Os carros começavam a circular com os médios ligados.

Continua...