Virtual Realidade

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Friday, April 27, 2007

Virtual Realidade Parte 83


Contra o que eram os seus hábitos de prudência, Eduardo arriscava uma velocidade mais elevada em direcção a Leira para tomar a auto-estrada até Aveiro. Queria chegar o mais depressa possível e nem olhava a paisagem frondosa e verdejante, convidando a uma paragem contemplativa, apesar do inverno e de haver muitos quilómetros de terreno queimado no último verão pelos destruidores da natureza. Naquele momento a sua prioridade era chegar perto da hora do almoço. Abrandou a velocidade e pegou no telemóvel, digitando o número do Pedro.
─ Bom dia Pedro!
─ Eduardo?
─ Sim, sou eu. Dá para irmos almoçar os dois ao Evaristo? Tenho novos dados sobre o caso e queria primeiro falar a sós contigo. Dá-te jeito?
─ Eduardo, que prazer ouvir-te! Olha, vai ter a minha casa e almoçamos lá os dois. A Teresa e os miúdos hoje não almoçam em casa e estaremos à vontade.
─ Ok ! Um abraço.
─ Mas há algo de mais grave sobre o assunto?
─ Nada, fica descansado. Só que descobri quem é o fulano. Depois conto-te tudo. Até já.
─ Até já.
Enquanto Eduardo continuava a alta velocidade, Luísa e Cristina desciam à praia para fazerem a caminhada matinal à beira-mar.
O mar, muito calmo, com as suas águas de um verde-azul transparente, reflectindo o sol que brilhava por cima delas, parecendo que as beijava, convidava a um banho. Olharam uma para a outra e correram em direcção à água, deixando a roupa espalhada pela areia.
Nuas, expondo os seus lindos corpos às carícias do sol, entraram na água:
─ Brrr, está fria! ─ Gritou Luísa.
─ Está gelada! ─ confirmou Cristina.
As duas belas ninfas, divertidas a chapinhar na água, transformaram, por momentos, aquele bocado de praia, sem mais ninguém à vista, na ilha dos amores a que só faltavam os navegadores para colher o merecido prémio.
─ Somos mesmo malucas para nos metermos na água do mar nesta altura do ano!
─ Somos mesmo! Não sei o que nos deu. Eu nunca fiz isto antes, e tu?
─ Eu também não.
Saíram rapidamente da água e caminharam um pouco, tiritando, até se sentirem secas. Vestiram-se e sentaram-se na areia a admirar aquela imensidão de água.
─ Acreditas que isto me deu tanto prazer que até me esqueci do meu problema?
─ Ainda bem, amiga. Quero ver-te feliz como neste momento eu sou. Estamos a ajudar-te e vai tudo correr bem. Em breve estarás livre dele e poderás entregar-te à tua felicidade.
─ Espero bem que sim. O que seria de mim sem ti?!
─ Deixa-te disso. Olha, tenho um convite para te fazer.
─ Sim…
─ Está a chegar o Natal. O melhor Natal da minha vida, excepto quando era pequenina e ia desembrulhar as prendas que o Menino Jesus me deixava no sapatinho. Vou ter a casa cheia de gente, contando contigo, o Rui e o teu filho. Também vem o Eduardo e o pai, que ainda não conheço.
─ Obrigada pelo convite amiga. Gostaria muito de ir, mas primeiro tenho que falar com o meu filho e com o Rui. Depois confirmo. No que depender de mim, não faltarei. Quando vem a Rita?
─ A Rita vem oito dias antes e a Sandrine também. Tenho saudades daquelas duas na minha cama a contar as peripécias do dia-a-dia. Mas isso já pertence ao passado.
─ Agora tens o Eduardo na tua cama. ─ disse Cristina, provocadora.
─ Não sejas mazinha! ─ pediu Luísa a rir.
─ Vamos embora menina? ─ sugeriu Cristina, levantando-se.
─ Vamos. ─ respondeu Luísa, levantando-se também.
─ Ainda tenho compras para fazer e quero estar atenta aos movimentos do Victor. Foi muito bom ter falado convosco, sinto-me mais forte. Quem tem amigos assim sente-se sempre segura. Obrigada! – disse Cristina dando-lhe um abraço com grande satisfação.
─ Não te esqueças das recomendações do Eduardo; tem muito cuidado. E não deixes de pedir ajuda ao mínimo sinal de perigo.
─ Não deixarei.
As duas amigas despediram-se e encaminharam-se para casa
Eduardo chegou por volta da uma hora da tarde a casa de Pedro. Logo que entrou na rua viu o carro do amigo e estacionou atrás dele.
Tocou a campainha e Pedro, de mangas arregaçadas e avental, veio abrir a porta.
─ Olá Eduardo! Vai entrando que eu hoje estou de cozinheiro. A Teresa deixou já tudo em ordem; Põe a aquecer no microondas, se não te importas, enquanto acabo de fazer a salada.
─ Não importo nada! Onde está?
─ No forno.
─ Isto de cozinhar, calha a todos.
O almoço era composto por carne assada no forno com arroz uma salada variada, queijo e fruta, regado com água, pois a tarde prometia trabalho.
─ Vai-me contando tudo para irmos aproveitando o tempo. Estou ansioso por ver este pesadelo acabar. Eu e a Teresa temos andado num estado de nervos que nem imaginas. Esta situação está a afectar muito a nossa relação. Discutimos muitas vezes trocando acusações e agressões verbais.
─ Calma Pedro isso só complica! A Inês precisa de sentir que é apoiada e que o ambiente em casa está harmonioso como sempre esteve. Não adianta atirar as culpas para cima de ninguém. Tens de ter a força, a calma, a compreensão e a paciência necessárias para aguentar esta fase. Daqui a pouco, espero, tudo voltará ao normal.
A comida aquecia no microondas e os dois iam pondo a mesa, enquanto Eduardo continuava:
─ Não me leves a mal, mas digo-te, com toda a convicção, que tudo isto teria sido evitado se a vossa atitude para com os vossos filhos tivesse sido outra desde o início. Um dia destes falaremos sobre isso com mais tempo, se quiseres. Agora o que importa é avançar e eu vim aqui para te dizer que, por uma feliz coincidência, descobri quem é o gajo.

Sentaram-se os dois à mesa para almoçar, sem interromperem o diálogo.
─ Quem?
Eduardo contou ao amigo tudo o que tinha descoberto nos dois últimos dias. À medida que ia contando, invadia-o de novo aquela indefinível sensação de angústia, pela sua impotência em acabar com pessoas como Victor. Compreendia que Victor era uma vítima de um sistema educativo repressivo, mais acentuadamente no tempo da ditadura, mas também sabia que, no contexto da sociedade actual, a solução consistia na polícia e nas prisões, como únicos meios de defender as crianças e a sociedade em geral de actos criminosos. Meios pouco eficazes, por sinal, o que o deixava sempre com uma enorme revolta, quando pensava nisso e, para mais, sabendo que, se se mudasse o rumo da educação, tudo isso passaria à história.
Pedro, por seu lado, ia alterando a sua fisionomia, ficando vermelho e com os olhos dilatados pela raiva. Com a voz alterada, dando um murro na mesa, berrou:
─ Diz-me onde esse sujeito mora, que eu acabo com ele de uma vez! Não fará mal a mais ninguém.
─ Tem calma! Queres deitar tudo a perder? Bem, é assim: já tenho comigo um cd, com as provas de que o Victor teve certas conversas com a Inês e um encontro marcado com ela que, entretanto, ficou sem efeito, visto que entrámos em acção. Não sei se estas provas serão suficientes, por isso vou passá-las à Sara para que as leia e continue a dar seguimento ao encontro. Ela arranjará outras com certeza.
─ O encontro vai ser com a Inês? ─ perguntou Pedro, preocupado pela filha.
─ Provavelmente vai ter de ser, sim.
─ Nesse caso não seria melhor avisar a polícia e não expor a Inês ao encontro? Ela assim não teria que passar por essa afronta.
─ Pedro, tem que haver provas concretas para meter este pedófilo na cadeia. Eu por mim até fazia justiça pelas minhas próprias mãos. Mas fica tranquilo que faremos tudo para que a Inês não corra riscos. Quando for o encontro teremos a polícia alerta. Agora vou falar com a Sara a ver o que ela sugere e depois ponho-te ao corrente de tudo. Quero que acompanhes o desenvolvimento do plano.
─ Está bem. Confio em vocês.
O almoço estava no fim e era tempo de saírem para o trabalho. Mas, de tão interessados na conversa, nem deram pela passagem das horas. Pedro olhou para o relógio na parede e, aflito, levantou-se e disse:
─ O tempo passou rápido, está na hora de ir.
─ Sim, vamos então. Tenho dois clientes para visitar.E os dois amigos despediram-se indo cada qual para os seus afazeres.


Continua...