Virtual Realidade

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Friday, January 05, 2007

Virtual Realidade Parte 68


Francisco e Juan, quando tinham os sábados livres, encontravam-se, por vezes, para jogarem ténis pela manhã.
Um dia, a caminho de uma dessas partidas amigáveis, Francisco informou o amigo de que a mãe o convidava de novo para almoçar lá em casa. Fê-lo como tantas vezes o tinha feito antes. Mas, desta vez, Juan encheu-se de coragem e disse:
─ Sabes, queria falar contigo acerca da tua mãe… Mas não sei como começar porque tenho receio de que me interpretes mal.
Francisco, que já esperava algo deste género havia algum tempo, encorajou-o a continuar:
─ Começa pelo princípio e diz tudo. Já nos conhecemos bastante bem para confiarmos um no outro. Força!
─ Sim, mas como se trata da tua mãe temo a tua reacção. De qualquer modo, ficas já a saber que lhe quero todo o bem do mundo e que seria incapaz de fazer algo que a tornasse infeliz.
─ Nem eu esperaria outra coisa de ti! Tu gostas da minha mãe, é isso? Digo, como mulher…É isso que me queres dizer, não é?
─ É isso sim, desculpa. Já tinhas notado alguma coisa?
─ Tu não consegues esconder-me nada. Já tinha reparado no modo como a olhas.
─ E Mariana terá notado alguma coisa?
─ Não tenho a certeza. Mas é natural que sim. E acho até que ela te olha do mesmo modo.
─ Achas? E o que pensas disso tudo? ─ perguntou Juan ansioso.
─ Queres saber se eu sou contra o facto de a minha mãe vir a ter uma vida amorosa contigo ou com outro homem?
─ Eu habituei-me a conhecê-la e apaixonei-me por ela. Sim, no fundo é isso que quero saber. Nunca me atrevi a dizer-lhe nada porque não queria perder a tua amizade. Queria falar primeiro contigo, quando estivesse seguro dos meus sentimentos… Mas ao mesmo tempo tinha receio do que poderias dizer.
─ Mas tu gostas mesmo dela?
─ Não tenho qualquer dúvida a esse respeito. Acredita que faria tudo para a ver feliz.
─ Farias? Ou vais tentar fazer? ─ Francisco sorriu, encarando o amigo.
─ Tentarei fazer se não te opuseres e se ela me quiser.
─ Então achas que eu me oporia à felicidade da minha mãe? Meu amigo, se for essa a escolha dela, que filho seria eu se me opusesse? Ficarei até muito feliz. Acho que só lhe faria bem voltar a amar.
─ Mas achas que tenho alguma chance?
─ Não sei. Ela teve um grande amor pelo meu pai que eu não conheci nem sei se existe ainda. Acho que ainda não o esqueceu de todo, embora não tenha qualquer esperança ou vontade de o vir a encontrar um dia. Entretanto a vida passa e acho-lhe um olhar cada dia mais triste, excepto quando estás por perto.
─ Se eu a tivesse conhecido em outras circunstâncias, sem ser através do filho, já me teria declarado há algum tempo.
─ A minha mãe é a minha mãe e eu sou eu. Nenhum de nós é obstáculo à felicidade do outro. Ela sempre respeitou a minha liberdade e eu a dela. Jamais me oporia a que fosse feliz com outro homem. E se for contigo ainda melhor, porque já nos conhecemos e somos amigos.
─ És um bom filho!
─ Quanto ao resto é contigo e com ela.
─ Diz-me só uma coisa, tu e a tua mãe já falaram sobre este assunto?
─ Não, nunca.
─ Ok, desculpa. Devia ter-me aberto contigo há mais tempo. Afinal os meus receios eram infundados.
─ Não te preocupes. É natural. Habitualmente os filhos julgam-se donos dos pais, tal como os pais educam os filhos como se fossem propriedade sua. Com a minha mãe e comigo isso não aconteceu. Não sei se o meu pai teria o mesmo procedimento e as mesmas ideias sobre educação. Sabes que já tenho falado à minha mãe que gostaria de o conhecer?
─ E ela? ─ perguntou o argentino receoso.
─ Ela não faz ideia do paradeiro dele e tem receio de o encontrar casado e ir perturbar a sua nova vida. Por isso desistiu de querer saber do meu pai.
─ E não quer que tu o procures?
─ Não, ela não se opõe a isso. Acha, e muito bem, que eu tenho o direito de o conhecer.
─ Vocês ainda não me contaram essa história…
─ Um dia a minha mãe contar-te-á tudo. Basta perguntares-lhe. Afinal é a história dela e não a minha…
─ É um pouco a tua história também.
─ Mas foi ela a autora, por isso deve ser ela a contar.
─ Tens razão. E tu ainda pensas muito na Rita? Quero que conheças uma amiga minha.
─ Quando quiseres. O meu coração está livre.

Tinham chegado ao court de ténis:
─ Vamos ao jogo!
─ Vamos lá!
Fizeram uns minutos de exercícios de ginástica e deram umas voltas ao recinto, a correr, para aquecer os músculos. Depois deram início ao jogo. Juan sentia-se leve e apanhava quase todas as bolas, o que até a ele parecia muito estranho.
Terminado o jogo, Francisco, admirado, perguntou-lhe a rir:
─ Hoje até parece que tomaste dopping?
─ E tomei mesmo, ─ respondeu Juan, também a sorrir ─ mas este não é detectado no xixi e por isso não podes protestar por eu te ter ganho.
─ Também não tencionava protestar. Mas tu hoje estavas demais!
─ Efeito psicológico, meu amigo! Senti-me leve como nunca!
─ Eu entendi.
─ Apenas me falta o que tu sabes.
A partir desse dia, tendo ganho a confiança de Francisco, Juan sentiu-se livre para se dedicar ao sentimento que nutria por Mariana.
Francisco chegou a casa, cansado, transpirado e com uma dúvida no espírito:
─ Mamã, o que achas do Juan?
Apanhada desprevenida, Mariana enrubesceu ligeiramente, mas o bastante para o filho notar:
─ O que penso… como? O que queres dizer com isso, filhote?
─ Apenas perguntei o que achas dele. Nada mais natural.
─ Mas porquê essa pergunta?
─ Porque daqui a pouco ele está aqui para jantar connosco e lembrei-me de te perguntar. Mas se não queres responder…
─ Claro que respondo! Acho-o simpático, boa pessoa, agradável no convívio e é teu amigo. Um amigo em quem se pode confiar.
─ Sim, isso eu sei. ─ Francisco sorria, olhando a mãe algo surpreendida. ─ Mas, e o resto?
─ Que resto? ─ inquiriu Mariana mais perturbada.
─ É que tenho notado que ultimamente o tens convidado mais vezes para vir comer connosco.
─ O que queres dizer com isso, meu filho? Se te desagrada deixo de o convidar. Quando quiseres convida-lo tu.
─ Não é isso. Sabes que me dou muito bem com ele. É um bom amigo e tem-me ensinado muito. Mas podes explicar porque o convidas com tanta frequência? ─ E Francisco sorria amigavelmente, olhando a atrapalhação da mãe.
─ Ora, porque também gosto dele! É teu amigo, nosso amigo… e acho que se sentirá menos só se tiver companhia para as refeições. Que mal tem isso?
─ Nenhum, mãezinha, nenhum. Ainda bem que gostas dele.
─ Vocês estiveram a falar de mim no jogo?
─ Sim, um pouco. Mas nada de mal, fica descansada! Agora vou ao banho que ele não tarda aí para jantarmos.
─ Vai sim. Já tens lá a roupa interior pronta para vestires.
─ Mariana, és a melhor mãe do mundo e eu quero que sejas feliz como mereces.
Francisco saltou para o banho e Mariana ficou a pensar nas últimas palavras do filho. Fossem quais fossem os seus pensamentos, deixava transparecer uma expressão de felicidade.

Continua...