Virtual Realidade

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Friday, November 23, 2007

Virtual Realidade Parte 112


─ Tranquiliza-te que a Luísa vai receber-te com todo o carinho. Vais ver que vais gostar dela e sentir-te completamente à vontade. É uma pessoa simples e muito dada. ─ dizia Eduardo ao pai, sentado a seu lado, enquanto conduzia.
─ Obrigado, filho! Eu vou tranquilo.
─ Pareces-me um pouco ansioso!
─ São saudades da tua mãe. Por esta época fico pior.
─ Então, já lá vão uns anos! Tens de reagir.
─ É fácil de dizer.
─ Acho que tens estado muito tempo sozinho. Esta noite de Natal vai fazer-te bem.
─ Achas?
─ Tenho a certeza.
─ E conheceste-a na tal Internet. ─ disse o pai, meio céptico a respeito dessa moderna forma de se conhecer pessoas.
─ Sim, foi.
─ Eu não entendo nada disso.
─ Mas é fácil. E sabes que seria bom para ti? Podias falar com muita gente e distraías-te.
─ Só tenho ouvido falar mal daquilo.
─ Só é notícia quando algo de mal acontece. Mas a culpa é sempre das pessoas e nunca das ferramentas que utilizam. Se alguém usa uma faca para o mal, deve-se culpar a faca?
─ Tens razão.
─ Eu ando muito pela Internet e nunca fiz mal a ninguém. A Luísa também não, e muitos outros com certeza. Há casamentos felizes em que as pessoas se conheceram por lá.
─ E tu vais-te casar com ela?
─ Pai, sabes que eu acho o casamento, uma das mais parvas instituições no tempo actual.
Se as pessoas se amam porque não passam, simplesmente, a viver juntas? É muito mais honesto, saudável e eficaz.
─ Mas tu quiseste casar com aquela criada da tua avó.
─ Com o tempo aprendi muitas coisas.
─ A Luísa é da mesma opinião?
─ Absolutamente.
─ Vocês é que sabem. Eu e a tua mãe nunca nos arrependemos de ter casado e gostaria muito de a continuar a ter ao meu lado ainda hoje, mas o destino não quis.
─ Não quero que te sintas ofendido com as minhas opiniões. Não é nada contra ti, só que os tempos são outros.
─ Eu sei, filho, mas custa-me a aceitar certas coisas que vejo agora.
─ É natural! Provavelmente também me custaria aceitar novas ideias que os meus filhos tivessem. ─ disse Eduardo a sorrir para animar o pai, embora sabendo muito bem que, com o seu espírito aberto e hábitos de pensar despidos de preconceitos, acompanharia perfeitamente as ideias da nova geração, sempre que apoiadas em argumentos racionais.
O pai jamais o entenderia, mas não tinha outro remédio senão aceitar os factos. Eduardo pensava que ele sofria por causa das suas ideias, mas não via nisso razão para mudar. Por outro lado, nunca deixou de o tratar bem, no que era reconhecido pelo progenitor.
─ Estamos a chegar a S.Pedro de Moel. ─ informou o filho.
─ Pois estamos.
O pai retirou-se para dentro de si próprio, olhando, com uma certa nostalgia, a paisagem que, lá fora, corria em sentido contrário, e revivendo o passado, tão longínquo e tão perto, naquele momento em que passavam pelo centro de S. Pedro de Moel. Recordou, de novo, com muita saudade, a falecida esposa. Tinham passado a lua-de-mel naquela praia e todos os anos ali vinham comemorar a data do casamento.
─ Pai, estamos a chegar e quero que te sintas feliz! Que seja um dos melhores Natais da tua vida.
─ Obrigado, filho, e para ti também! ─ respondeu o pai comovido, apertando-lhe o braço com força.

Chegados a casa de Luísa, Eduardo parou o carro, saiu e tocou a campainha.

Apareceu-lhe uma jovem bonita e sorridente que, quando o viu, lhe perguntou com todo o à-vontade e com acentuado sotaque francês:
─ Olá! Já chegaram? Deves ser o Eduardo.
─ Estou a ver que a minha fama me precedeu! ─ exclamou ele a sorrir ─ Tu não pareces ser a Rita; deves ser a… Sandrine.
─ Oui, c’est moi!
─ Parece que já nos conhecemos bastante bem para dispensarmos apresentações! ─ disse Eduardo, aproximando-se para a beijar.
─ C’est vrais!
Eduardo fez sinal ao pai para que se aproximasse.
─ Vamos entrando! ─ convidou ela ─ A Luísa saiu com a filha, não sabemos para onde; mas não devem estar longe. Devem ter ido mergulhar no mar e esqueceram-se de tudo.
─ Deviam estar cheias de saudades uma da outra.
Eduardo fez as apresentações e foram entrando.
─ Já conheces a casa: fica à vontade e diz ao teu pai para fazer o mesmo.
─ Obrigado! Não te preocupes connosco.
Eles ficaram na sala e Sandrine foi à cozinha.
─ Pai, senta-te e põe-te à vontade. Tenho de ir ao carro buscar coisas. Queres que ligue a televisão?
─ Pode ser.
Ao passar na cozinha, um agradável aroma de comida enchia o ar de irresistíveis atracções palatais e Eduardo entrou.
─ Já se comia! ─ disse para a pessoa que estava de costas, de volta do tacho.
─ Hola, soy Emília! ─ disse ela, voltando-se sorridente.
─ Eu sou o Eduardo. Prazer, Emília! A tua comida cheira muito bem.
Ao olhar para ele, ela apercebe-se de que os seus olhos a fazem lembrar alguém.
─ É uma surpresa que estou a fazer, “empanadas”, receita argentina. Espero que seja do vosso agrado.
─ Será com certeza!
Sandrine, que se tinha ausentado por instantes, apareceu apanhando-os a conversar e disse a sorrir:
─ Vejo que já se apresentaram.
─ Por acaso ainda não! Só sabemos os nomes. ─ respondeu Eduardo a rir.
─ Mas falavam…
─ Nós somos gente simples.
─ Ok! Ainda bem!
─ Já me esquecia: tenho de ir buscar coisas ao carro.
─ Nós ajudamos! ─ ofereceram as duas.
─ E quem cuida do nosso almoço?
─ Não é preciso estar sempre ao pé.
Ao abrirem a porta para saírem, esbarraram com Luísa e Rita, ofegantes de correr.
─ Desculpem! Perdemos as horas, mas foi muito proveitoso ─ justificou Luísa, enquanto piscava o olho a Rita. ─ Então já chegaram!
─ Como vês! ...
─ Desculpa, amor, não ter estado para te receber! ─ disse, abeirando-se do namorado e beijando-o nos lábios.
─ Desta vez estás desculpada! ─ respondeu ele a sorrir.
─ Não sejas maroto! Quero apresentar-te…
─ Quem?! ─ interrompeu ele, admirado ─ Já conheço toda a gente!
─ Vejo que sim e sinto uma aura de boa disposição entre todos. Mas falta conheceres a Rita. ─ disse Luísa indicando a filha.
─ Já tinha adivinhado que era ela e ela também deve ter descoberto quem eu era.
Sempre a sorrir, Eduardo aproximou-se de Rita e beijou-a no rosto.
─ Prazer, Eduardo! ─ exclamou a filha de Luísa.
─ O prazer é meu! Sabes que há muito que desejava conhecer-te. És muito bonita!
─ Obrigada!
Eduardo sentiu naquele instante uma empatia muito forte em relação a Rita e desejou que aquela jovem de olhar de cristal fosse sua filha. O seu relógio biológico mais uma vez tinha disparado. Quem sabe se não iria ser a sua prenda de Natal!
Luísa quebrou o encanto perguntando:
─ Fizeram boa viagem, amor? E o teu pai?
─ Fizemos sim. Vem comigo, querida!
Mãe e filha acompanharam Eduardo à sala de jantar. O pai de Eduardo tinha perfil de homem dinâmico e o seu rosto revelava uma bondade calma e reflectida.
─ Pai, a Luísa já chegou! Rita, a filha.
O senhor António sorriu, ao mesmo tempo que se levantava, e cumprimentou mãe e filha, olhando-as bem no fundo dos olhos.
─ Bom dia! Obrigado em me ter convidado a passar o Natal convosco.
─ Estamos muito felizes de o termos cá. Sinta-se como se estivesse em sua casa. Se precisar de alguma coisa é só pedir.
─ Não estraguem o meu pai com mimos, olhem que só tenho este! ─ disse Eduardo a rir.
─ Deixa que ele merece tudo.
─ Parece-me que caímos no paraíso!
─ Como assim?!
─ Assim mesmo: comida aromática, ambiente amoroso, mulheres lindas…
─ Vê lá, vê lá! ─ ameaçou Luísa, entrando na brincadeira do namorado. ─ Anda mas é ajudar! Olha, gostas da decoração da sala? Os miúdos vão gostar muito; amanhã vêm também almoçar.
─ Os miúdos do colégio?
─ Sim. Calhou bem, porque era a semana de virem passar o fim-de-semana.
─ As crianças ficam encantadas com todo o aparato, mas, também para elas, o Natal deveria ser todos os dias.
─ Tens razão, amor! Concordo plenamente contigo. O Natal está em nós; por isso devia ser todos os dias.
Saíram da sala abraçados.
─ Traz as malas para te dizer onde fica o teu pai a dormir. Depois do almoço pode querer descansar.
Eduardo acompanhou Luísa que o levou até ao quarto de Rita.
Puxando-o para dentro do quarto, sorriu e, olhando-o nos olhos, colocou os braços em volta dele e beijou-o lentamente.
Eduardo correspondeu apaixonadamente ao beijo e ficaram, por minutos, numa troca de carinhos.
Luísa sai apressadamente do quarto ao chamamento de Rita.
Ao ficar sozinho, olhou em redor e viu uma moldura com uma fotografia na mesinha de cabeceira de Rita. Aproximou-se e notou que era o retrato de um homem jovem.
Luísa, naquele momento, entrou e disse:
─ É o namorado de Rita, o Francisco. Vamos amor as miúdas precisam da nossa ajuda.
Voltaram à cozinha e cada qual deu a sua contribuição para que o almoço pudesse ser servido atempadamente. Eduardo muito calmo e com aquele sorriso onde cabia o mundo inteiro, ajudava também.
O almoço decorreu animado e Emília sentiu-se feliz com os elogios que deram ao prato tradicional do seu país.
O senhor António retirou-se para dormir uma soneca e Luísa arrastou o filho para as compras de última hora. As três jovens continuaram com as tarefas de que estavam incumbidas: confeccionar toda a doçaria para aqueles dias de festa.
─ O que acharam do namorado da minha mãe? ─ perguntou Rita às outras duas. ─ Eu gostei dele.
─ Eu acho que tem uma aura de nobreza, pela sua postura e movimentos; um coração sensível que se reflecte no olhar. Também gostei dele.
─ O brilho do olhar, de vez em quando, fica sombrio e distante; já vi essa mesma expressão em alguém. Mas muito simpático, ele é. ─ disse Emília.


Continua...