Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, May 09, 2008

Virtual Realidade Parte 135


Francisco acordou com o sol a bater-lhe no rosto e, durante um breve momento, não se lembrou de onde estava. Mirou em volta a estranheza do local e a memória só lhe acudiu quando viu Rita deitada ao seu lado a dormir profundamente. Lembrou-se então de tudo o que tinha acontecido. Cheio de ternura, virou-se para a namorada e fez-lhe festas no cabelo sussurrando-lhe ao ouvido “amo-te minha deusa”.

Sorriu feliz e Rita nem se mexeu. Olhou para o relógio e viu que eram duas horas da tarde. O estômago reclamava-lhe por comida. Levantou-se e vestiu-se rapidamente. Queria fazer uma surpresa à sua amada e resolveu preparar o momento.

Mal saiu da cabana, avistou Sandrine que estava a falar ao telemóvel e ela reparou que havia no sorriso dele uma doçura especial. Fez-lhe sinal para esperar um pouco. Passados uns segundos desligou e, cordialmente, disse:

─ Olá, Francisco! Hoje dormimos todos até mais tarde. Toma um bom pequeno-almoço.

─ Obrigado, a ideia é mesmo essa, vou buscar o pequeno-almoço para a cabana. A Rita ainda dorme.

─ Que romântico, «O meu amor e uma cabana»! Não me digas que a raptaste e a tens escondida na cabana! ─ exclamou a francesa, cheia de boa disposição, como se não soubesse de nada.

─ Mais ou menos! Digamos que nos raptámos mutuamente. ─ respondeu ele a sorrir.

─ Então, não te demores comigo que a tua princesa pode acordar e pensar que lhe fugiste.

─ E como poderia fugir-lhe se ela me tem preso por um elástico invisível?

─ É estranho ansiarmos por crescer para sermos livres e independentes e depois deixarmo-nos prender assim e adorarmos a prisão, não é? ─ perguntou Sandrine tomando-lhe familiarmente o braço, num gesto de cumplicidade e compreensão de quem vivia a mesma situação.

─ Tens razão, é isso mesmo! Podes dar-me uma ajuda na cozinha que não sei onde estão as coisas?

─ Por quem sois! Vamos lá.

Fez questão de ser ele próprio a preparar o pequeno-almoço para os dois. A caminho da cabana passou por uma roseira e lembrou-se de que uma rosa vermelha viria a calhar, mas não as havia naquela época do ano. Então colheu uma flor silvestre de que não sabia o nome e colocou-a no tabuleiro ao lado da chávena destinada à Princesa.

Ao entrar na cabana, fechou a porta com ruído e Rita abriu os olhos de espanto, que logo se transformou em alegria, quando se apercebeu de quem chegava e a fizera acordar. No coração, a felicidade. Ele olhava-a com infinito carinho.

Bom dia amor, ─ disse ele parado em contemplação ─ feliz despertar! Dormiu bem a minha Princesa?

─ Muito bem! Gosto quando me olhas assim com esse olhar apaixonado.

─ E eu adoro ver esse brilho de felicidade nos teus olhos. Apetece-me beijar-te!

─ Vem cá! ─ convidou ela.

Francisco, esquecido do tabuleiro que tinha nas mãos, continuava sem se mexer fitando a namorada.

─ O que foi, amor? ─ perguntou ela ─ porque olhas tanto para mim?

─ Porque este momento nunca mais se repetirá e quero fixá-lo bem. É a primeira vez que assisto e vejo como és linda no teu despertar.

─ Oh que romântico acordou o meu amor! Vem cá, vem cá! ─ insistiu Rita, radiante de felicidade.

Francisco pousou o tabuleiro e, com imensa ternura, pegou na flor e colocou-lha nos cabelos, de lado sobre a orelha esquerda.

Rita, emocionada, agarrou na cabeça do namorado com as duas mãos e beijou-o apaixonadamente.

Tomaram o pequeno-almoço e deitaram-se de novo numa sede de beijos e carícias.

Luísa tocou a campainha da casa de Cristina e a amiga apareceu imediatamente.

─ Bom dia, entra. Fiquei curiosa com o teu telefonema.

─ Vamos antes dar uma volta pela beira-mar.

Cristina bateu a porta e as duas amigas desceram o trilho até à praia.

O mar estava calmo e algumas gaivotas aproveitavam a solidão da praia naquele dia de Dezembro.

Caminhavam lado a lado, silenciosas, uma vez mais a desfrutar aqueles momentos que lhes davam tanta paz de espírito. Cristina foi a primeira a falar.

─ Não me faças sofrer mais. O que se passou realmente?

Luísa, calmamente, contou-lhe tudo.

─ Coitada da Sara, a sofrer e nós a pensar o pior! Estou cheia de remorsos por ter duvidado do Eduardo.

─ Havia tanta sinceridade nas palavras dele e no seu olhar. Como fui eu pensar uma coisa daquelas?! Ele nunca me enganaria. Que parva eu fui. Apetece-me gritar bem alto “Amo-te” para que o meu grito chegue ao seu coração.

A amiga ouvia-a atentamente, mas bem dentro do seu coração sentia que Sara estava apaixonada por ele.

─ Desculpa, sinto-me envergonhada; afinal eu também não te ajudei, pelo contrário, deitei mais lenha na fogueira.

─ Eu é que não devia deixar a semente do ciúme germinar no meu coração.

Considero que gerir um relacionamento passa por um trabalho contínuo de busca de pontos de equilíbrio em torno da individualidade e liberdade, nossa e do outro.

─ Mas eu acho que ter ciúmes, dúvidas e outros temores parece-me tão natural como respirar. Já faz parte do ser humano.

─ Temos que aprender combater o que nos faz sofrer. Mas agora está tudo bem. Vamos regressar. O Eduardo já acordou certamente.

As duas amigas durante o trajecto até à casa de Cristina, muito animadas, fizeram projectos para a noite de Ano Novo.

Não te esqueças que saímos para Aveiro logo a seguir ao jantar, disse Luísa ao despedir-se.

─ Fica descansada, estarei a horas. Já falei com o Rui, vai-me buscar a casa do Eduardo.

Quando Luísa chegou a casa, encontrou Eduardo na sala de jantar, com as miúdas e o Francisco, a contar o que se tinha passado com a Sara.

Continua...