Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, April 06, 2007

Virtual Realidade Parte 80


O par enamorado regressava a casa fazendo projectos para a data que se aproximava a passos largos. As ruas permaneciam desertas e o pôr-do-sol espreguiçava-se já sobre o mar.
─ Gostaria muito, amor, que viesses com o teu pai passar o Natal connosco. Este ano é especial: estamos juntos. A Rita e a Sandrine vão cá estar e a minha mãe também; elas adorariam conhecer-te.
─ Era esse o convite que tinhas para me fazer?
─ Era. O que achas?
─ Será bom estar onde tu estiveres, doçura! Não é o Natal que é relevante, mas a tua companhia. ─ deixou Eduardo escapar, num tom de voz que denotava a emoção da felicidade. Pegou-lhe nas mãos e, olhando-a nos olhos, permaneceu alguns instantes ali, parado, em silêncio; depois, abraçando-a, sussurrou:
─ Amo-te muito!
As bocas de ambos aproximaram-se e colaram-se uma à outra com uma intensidade tão grande que alguns raros transeuntes pararam a olhar: uns recordando, com saudade, tempos idos, outros ansiando pela chegada da sua vez; mas todos com aquela pontinha de inveja que o espectáculo da felicidade dos outros sempre desperta em vidas carenciadas de afecto.
Chegaram a casa e, já na cozinha, Eduardo surpreendeu Luísa oferecendo-se para fazer o jantar.
─ Tu cozinhares?! Não achas arriscado, amor?
─ Arriscado como? ─ inquiriu Eduardo, desconfiado daquela pergunta.
─ Pois, tens a certeza de que vamos conseguir comer? ─ riu Luísa.
─ Estás a brincar! Eu sou um excelente cozinheiro!
─ Pois, pois, gaba-te cesto…
─ Duvidas?
─ Não amor. Estava a brincar contigo.
─ Vá, fora daqui já! O jantar fica por minha conta. Quando tiver tudo pronto chamo-te. Entretanto vai ver se encontras a Rita no MSN e fala com ela.
─ Mas tu nem sabes onde estão as coisas! ─ opôs Luísa.
─ Quando não souber pergunto-te. Vai lá. Faço o que combinámos, ok?
─ Já que insistes tanto…Sim, faz o que tínhamos pensado. Mas vê lá se nos deixas sem comer! ─ avisou Luísa, retirando-se com uma enorme risada.
Não era perito em cozinha, mas, de alguma forma, queria ser prestável e em comidas simples saía-se bem. Luísa tinha referido que havia dois dias que não falava com a filha e assim ficaria disponível para tentar encontrá-la e teclar com ela. Eduardo compreendia que para nenhuma das duas a separação estivesse a ser fácil. Ao longo destes meses de convívio virtual e agora real podia ler-lhe na alma a falta que a Rita lhe fazia.
Eduardo, em camisa, mangas arregaçadas, pôs um avental e deitou mãos ao trabalho.
Luísa, na sua salinha, encontrou a filhota no MSN:
─ Olá filhota, tudo bem contigo?
─ Sim, tudo. E tu mamã?
─ Também e muito feliz. ─ e gritando para a cozinha de modo a que Eduardo a ouvisse: ─ Olha, mor, a minha Rita está cá no MSN.
─ Parece que adivinhei! ─ respondeu Eduardo.
─ Ai é?! Conta, conta… ─ pediu Rita.
─ Falemos baixo que tenho cá um cozinheiro a fazer-me o jantar.
─ Tens?! Quem? ─ perguntou Rita, admirada. ─ Estás a brincar!
─ Não, não! É verdade.
─ Mas tu arranjaste um empregado aí para casa?
─ Pois foi. Estreia-se hoje na cozinha; veio à experiência: se se sair bem fico com ele.
─ Cucu! Posso? ─ interrompeu Eduardo.
─ Precisas de alguma coisa? ─ perguntou Luísa a sorrir, virando-se para ele.
─ Sim, desculpa. Onde moram as colheres de pau?
─ Na gaveta dos talheres ao lado do fogão, amor.
─ Bigado! ─ agradeceu Eduardo atirando-lhe um beijo.
─ Estás a gozar comigo, não estás? ─ perguntava Rita.
─ Mais ou menos, filhota.
─ És má! Não me contas.
─ Queres saber quem é?
─ Tu deixaste-me tão curiosa que não quero saber outra coisa.
─ Aí vai a surpresa: é o Eduardo.
─ O teu namorado!
─ Ele mesmo.
─ Ah, muito me dizes! E que mais?
Luísa resumiu os acontecimentos do dia.
─ E agora os dois pombinhos aí em casa sozinhos a arrulhar…vocês portem-se bem!
─ Fica tranquila que vamos fazer por isso, mas só depois de jantar.
─ O Eduardo vai passar aí a noite?
─ Pois, tadinho! Seria muita falta de hospitalidade da minha parte mandá-lo embora de noite para tão longe, não achas?
─ Claro, mamã! Faz o que te parecer melhor. Só quero que sejas feliz.
─ E tu, és feliz aí?
─ Sim, continuo a dar-me bem.
─ Mas…
─ Desculpa de novo. ─ pedia Eduardo que aparecia nas costas de Luísa.
─ O que foi desta vez, mor?
─ O sal?
─ Está mesmo à vista em cima da banca, também perto do fogão. Olha, naquele recipiente de plástico redondo, amarelo com tampa castanha.
─ Ok. ─ disse Eduardo retirando-se.
─ Mas nada mãezinha! Está tudo a correr bem. Não te preocupes comigo: tenho estudado e feito algumas amizades.
─ Tem cuidado filhota!
─ A minha colega de quarto é simpática, estou em boa companhia.
─ Eu, é que não! ─ brincou Luísa.
─ Como?
─ É o meu cozinheiro que não sabe onde estão as coisas. Já me veio aqui perguntar um ror de vezes onde está isto, onde está aquilo... Tenho de ir lá ver se não pegou fogo à comida. Espera um pouco.
─ Mas se ele não conhece a casa é natural. Ok, vai lá.
─ Então chefe, como vai o jantar? Posso ter esperanças? Hum! Já cheira bem aqui! ─ Disse Luísa quando parou na entrada da cozinha e sentiu a pituitária acariciada pelo aroma delicioso que emanava do fogão. ─ O que estás a fazer? Não é nada do que combinámos!
─ Pois não! É segredo, mas está tudo a correr bem. ─ respondeu Eduardo a sorrir. ─ Não quero que vejas. Vai descansada continuar a falar com a tua filhota.
─ Posso mesmo ir descansada?
─ Claro que podes! Confia em mim.
─ Vou confiar, sim, mas só desta vez. ─ respondeu em tom de brincadeira.
─ Só desta? Nem mais uma, amor?
─ Será mais uma se jantarmos bem.
─ Responsabilizo-me por isso. Vai embora.
─ Não precisas de nada?
─ De nada. Agora só vens quando eu disser!
─ Ok, chefe!

Continua...