Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, May 04, 2007

Virtual Realidade Parte 84


Eduardo chegou a casa, tão cansado, depois daquele fim-de-semana repleto de emoções, que só lhe apetecia cair na cama. Meteu o carro na garagem e foi espreitar as plantas do quintal, enquanto avisava Luísa de que tinha chegado bem. Algumas flores de inverno estavam abertas e perfumavam a noite. Nuvens carregadas de chuva adensavam-se no horizonte. Fez uns exercícios de respiração para aliviar a tensão do dia e, finalmente, entrou em casa, decidido a falar com a Sara, se a encontrasse; mas antes ainda ligou ao pai.
Levantou o auscultador do telefone e marcou o número.
─ Boa noite papá! Como vai? Desculpe de ainda não ter ligado, mas passei o fim-de-semana fora.
─ Olá filho! Eu estou bem. Não te preocupes comigo. Tens a tua vida. Mas amanhã vens cá?
─ Sim, claro que vou. Fique descansado que vou almoçar consigo. Durma bem. Até amanhã.
─ Até amanhã.
Ligou o computador e correu o MIRC. Sara estava em linha.
Foi ela que primeiro o viu e abriu o chat em DCC que era mais seguro:
─ Olá, estás bom?
─ Olá! Sim, e tu?
─ Também.
─ Era mesmo contigo que eu queria falar!
─ E eu contigo. Mas diz.
─ Tenho dados importantes sobre o nosso homem, mas, ladies first!
─ Deixa-te disso! Não me parece que sejas machista e não te fica bem dizeres essas coisas.
─ Apenas quis ser delicado, mas já que te ofendes…Aliás, não deixas de ter razão: essas frases foram inventadas pelos homens na tentativa de fazer acreditar às mulheres que elas também têm direitos. No fundo é apenas o exercício de mais uma prerrogativa masculina: o poder de conceder à mulher o gozo de um direito; mas só o fazem se daí extraírem dividendos, sob a forma de afecto, por exemplo.
─ Tu até sabias! Primeiro rouba-se e deixa-se na miséria; depois concede-se a quem foi roubado, aquilo que antes lhe pertencia, sob a forma de pequeníssimas esmolas. E é-se respeitado e admirado por tanta prodigalidade.
─ O uso que eu faço desse tipo de frases tem mais a ver com hábito cultural do que outra coisa.
─ Também não te estou a acusar de nada, mas faz um esforço e elimina essas coisas da tua linguagem.
─ Concordo contigo e agradeço-te o conselho.
Eduardo fez uma pequena pausa para reflectir.
─ Vamos ao que interessa! Eu começo. ─ disse Sara.
─ Ok. Vamos lá.
─ Pois o nosso homem está prontinho a ser levado para onde eu quiser. Como um fruto maduro pronto a ser colhido.
─ Tens teclado muito com ele?
─ Sim e está convencido de que sou a Inês. Temos de estabelecer uma data e um local para o encontro. Tenho tudo orientado na polícia para a hora H. Só esperam que lhes diga a hora e o local para montarem a estratégia final. Por isso precisava de falar contigo.
─ Sim, estou a ver que tens trabalhado bem!
─ A Inês vai ter de comparecer ao encontro. Como deves entender, não posso ser eu. Vais ter de a preparar. Depois a polícia indicar-lhe-á a atitude a tomar e como se comportar.
─ Claro que eu já contava com isso. Já hoje falei com o pai dela e disse-lhe isso mesmo. Portanto tu queres que eu obtenha dela a concordância em ir ao encontro.
─ Sim, é fundamental. Depois dizes-me se ela aceitou para eu combinar com o gajo o local, o dia e a hora. Nem que a Inês tenha de faltar a alguma aula, não pode deixar de comparecer. Fala com ela e com os pais. É importante que eles estejam a par do que se passa e que concordem também.
─ Sim, também já pensei nisso. Os pais vão ter algum receio dos riscos que ela possa correr, mas penso que concordarão.
─ Pois. Não podes esconder-lhes que há riscos para a filha. A polícia vai estar perto, atenta e bem organizada, mas há sempre o imprevisto. É melhor não lhes esconderes nada.
─ Nunca o faria. Olha uma coisa…
─ Sim…
─ Se o sujeito está bem amadurecido, não te deve ser difícil conseguir que ele se encontre com a Inês num local que permita à polícia ter mais facilidade em intervir.
─ Compreendo a tua preocupação, mas achamos que deve ser ele a escolher o local para não desconfiar de nada. Como é que a menina podia escolher se conhece pouco ou nada?
─ És uma mente maquiavélica! ─ brincou Eduardo.
─ Só uso o meu maquiavelismo contra o mal.
─ Pela minha parte vou fazer tudo para me portar bem.
─ Ah, ah, ah!
E agora o que tens para me dizer?
─ Senta-te e pasma!
─ Estou sentada.
─ Então segura-te: eu conheço o fulano!
─ Conheces?! Pessoalmente?
─ Bom, ainda não o vi, mas já sei quem ele é.
─ Afinal também trabalhaste bem!
─ A descoberta de quem é veio-me parar às mãos por um singular acaso.
─ Mas conta, conta! ─ pediu Sara, ansiosa.
─ Calma mulher! Vou contar-te tudo. Mas dá-me o teu telemóvel, se não te importas, que é mais fácil. É demasiado o que tenho para te dizer.
─ Não importo nada! Já era tempo de trocarmos os números.
Mais de meia hora depois, Sara estava estupefacta e incrédula com o que tinha ouvido.
─ Como o mundo é pequeno! Já sabemos quem é, onde mora e o que faz. A maneira como descobriste isso tudo até parece coisa dos meus romances.
─ Deve ser importante a polícia saber isto antecipadamente.
─ Pois deve. Vou contar-lhes tudo. O facto de ser do exército pode alterar-lhes os planos. Informar-te-ei assim que souber.
─ Ok. Vou enviar-te cópias dos ficheiros do tal CD.
─ Sim, faz isso.
Uns minutos depois, Sara possuía no seu PC todas as informações que Eduardo tinha conseguido recolher.
─ Fizeste um trabalho preciosíssimo.
─ Outra coisa…
─ Sim…
─ Tenho estado a pensar…
─ O quê?
─ Que tens de cá vir conhecer a Inês e os pais antes de tudo.
─ Sabes que também já tinha pensado nisso?
─ Sim, e…
─ Concordo contigo! Acho que lhes daria mais confiança se me conhecessem.
─ Pois é isso mesmo que eu acho. Como combinamos?
─ Pode ser no próximo fim-de-semana?
─ Por mim pode. Vou falar com o Pedro e depois confirmo-te. Como virias?
─ De comboio até Aveiro.
─ Depois dizes-me a hora da chegada e eu vou buscar-te à estação.
─ Perfeito! E como nos vamos reconhecer?
─ Tens fotografias aí que me possas enviar? Eu mando-te duas minhas.
─ Ok. Vamos desligar e continuamos no MIRC. Um beijo.
─ Outro para ti.
Trocaram fotos através do IRC, mas Eduardo, de tão cansado, nem teve a curiosidade de as ver, achando que teria tempo para isso no dia seguinte.
─ Obrigado! Agora desculpa, mas preciso de ir dormir.
─ Ok. Sonhos lindos! Até breve! Um beijo.
─ Também para ti! Au revoir!
“Bom, a coisa está em marcha!” ─ pensou. Desligou o computador e foi á cozinha beber um copo de leite.Despiu-se, atirando a roupa para cima de um cadeirão, e meteu-se na cama. Tentou ler algumas páginas do seu livro de cabeceira, mas caiu vencido pelo cansaço.


Continua...