Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, September 01, 2006

Virtual Realidade Parte 51


Eduardo marcou um número e, quando uma voz do outro lado atendeu, perguntou:
─ Está?
Pedro respondeu reconhecendo-lhe logo a voz:
─ Estou! Eduardo, és tu?
─ Sim, sou. Há algum tempo que não sei nada de vocês; está tudo bem por aí?
─ Andava para te ligar porque eu e a Teresa temos um problema e queríamos pedir a tua opinião.
─ Alguma coisa grave? Diz logo de que se trata que já me estás a deixar preocupado! Alguma coisa entre vocês os dois?
─ Não. Não é nada disso! É a Inês!
─ O que aconteceu com ela? Tu estás a assustar-me! ─ Eduardo estava cada vez mais ansioso.
─ Tem calma e ouve primeiro! O que acontece é que a Inês anda a gastar montes de dinheiro no telemóvel e não sabemos como, nem o que fazer. Tu és uma pessoa ponderada que sabe lidar com crianças, ela adora-te, ouve os teus conselhos e pedíamos-te que nos ajudasses.
─ Estou a ver…
─ Tens um tempo para vires cá a casa e conversarmos os três?
─ Quando?
─ Quando puderes; um dia à noite depois de os miúdos estarem na cama poderíamos conversar. Vinhas cá jantar connosco e esperávamos que se deitassem.
─ Pode ser já hoje?
─ Por nós pode. E quanto mais depressa fizermos alguma coisa melhor será.
─ Por isso é que eu perguntei se podia ser hoje. Quer dizer que a coisa está no início ainda?
─ Tudo indica que sim.
─ Então, até logo mais!
─ Vens jantar, ok?
─ Combinado. A que horas?
─ A partir das 7 já estaremos todos em casa.
─ Lá estarei!
E desligaram.
Eduardo ficou a pensar naquilo que acabara de ouvir: “A Inês, a sua Inês”, como ele lhe chamava porque a sentia como se fosse sua filha, “andava metida em coisas estranhas.
Tão nova ainda, seria algum gajo mal intencionado que se tinha metido com ela, ou algum rapaz da sua idade a brincar aos namorados? Talvez não fosse nada de tão grave assim. O melhor seria ter calma, aguardar até à noite e logo saberia tudo em pormenor”.

Nesse dia Eduardo só tinha meia dúzia de médicos para visitar e faria tudo da parte da manhã. Sabia que os encontraria perto e teria a tarde livre.
Chegou a casa, aqueceu um resto de comida que tinha sobrado da véspera e almoçou.
Estirou-se no sofá na sala em frente ao televisor desligado e adormeceu. Passada uma hora acordou com um pesadelo horrível: a Inês tinha sido raptada por um pedófilo e ele para tentar salvá-la tinha recebido um tiro no peito.
─ Uf! Afinal foi apenas um sonho, mas parecia bem real! ─ Disse em voz alta, respirando profundamente ─ Mas não quer dizer nada, não sou supersticioso.
Levantou-se, fez um pouco de ginástica e foi ao computador.
Viu os e-mails, correu o mirc e, coisa estranha, houve logo quem pensasse que ele podia ser mulher:
─ Tedio ─ olá!!! já deves andar farta que te andem sempre a chatear, mas vais ter que me desculpar!!! Ando farto da monotonia da minha vida, preciso de ter uma aventura ou fazer uma loucura com uma rapariga!!! Não queres ser a feliz contemplada??? Beijos e desculpa o incómodo.
─ mds ─ lol
─ mds ─ a feliz contemplada?!
─ Tedio ─ lol
─ mds ─ parece-me incongruente o teu discurso
─ Tedio ─ sim, porquê?
─ mds ─ sabes que sou especialista em desmontar trapaças
─ mds ─ trapaças verbais...
─ Tedio ─ então diz-me lá
─ mds ─ primeiro dizes-me que andas desanimado da vida
─ Tedio ─ certo
─ mds ─ e depois achas que se eu aceitasse seria uma feliz contemplada...
─ mds ─ afinal fazes de ti uma ideia muito elevada
─ Tedio ─ sim
─ mds ─ demasiado elevada para quem está por baixo, desanimado da vida
─ Tedio ─ há que ter a moral elevada. Pk?
─ mds ─ e achas que as pessoas são todas burras
─ mds ─ para caírem nessa conversa?
─ mds ─ vai bater a outra porta
─ Tedio ─ infelizmente não, lol
─ mds ─ agora é que disseste tudo!
Eduardo riu-se, o pesadelo completamente esquecido.
Desta vez ninguém conhecido: Luísa ainda estava em Espanha, a Cristina e o Rui, demasiado ocupados, as conversas no mirc passaram a ser esporádicas, falando no msn apenas quando necessitavam. De Sara nem o rasto. Da Cátia igual.
No canal Portugal alguém perguntava quem percebia de PCs:
─ mds ─ diz o que é e se eu souber ajudo-te
─ micas ─ sabes como se liga dois computadores em rede?
─ mds ─ primeiro tens de verificar se os dois possuem placas de rede ethernet, depois tens de ter um cabo de rede cruzado, e se tiveres tudo isso e o Windows XP depois eu ensino-te a configurar o software para fazeres a ligação
─ micas> ah, não sei se tenho essas coisas
─ mds ─ vai saber primeiro e depois diz-me
─ micas ─ ok
─ mds ─ e se o teu firewall não dificultar as coisas, acho que conseguiremos ser bem sucedidos na ligação
─ micas ─ obrigada!
─ mds ─ de nada.

Desligou o PC, pegou em O Sangue de Cristo e o Santo Graal, que tinha adquirido na véspera numa livraria do Fórum de Aveiro e pôs-se a ler enquanto esperava a hora de ir a casa do Pedro.

Eduardo tocou a campainha. O André e a Inês, que já sabiam da sua vinda, vieram abrir a porta e agarraram-se logo a ele, radiantes:
─ Olá, tio Edu!
─ Olá, tio Edu!
─ Olá! Vocês estão grandes! ─ Admirou-se o Eduardo que já não os via há cerca de dois meses.
─ Há muito tempo que não nos vês! ─ Acusou o André.
─ Pois é, tens de vir cá mais vezes. Temos saudades de brincar contigo. ─ Ripostou a Inês.
─ Vocês têm razão: tenho de vir mais vezes. Também tenho saudades vossas.
─ Vamos fazer um jogo? ─ Convidou o André.
─ Achas que temos tempo antes do jantar? E os deveres escolares? E estudar?
De dentro da casa a mãe chamou:
─ Então meninos, é o tio Edu? Façam-no entrar!
E foram os três a correr para dentro, os miúdos a puxar o Eduardo pelos dois braços.

Continua...