Virtual Realidade

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Friday, June 20, 2008

Virtual Realidade Parte 141


Depois de desligar, Eduardo, começou a reunir em volta daquela peça, acabada de chegar às suas mãos, por um mero acaso, ─ o conhecimento de que Sara e Mariana eram irmãs ─ todas as outras que já possuía, numa tentativa de completar o puzzle que era afinal o enredo da sua vida.

Quando Luísa lhe mostrara o cordão, dias antes, logo se apercebeu que era o que Sara havia esquecido. Pegou nele e abriu-o, ficando sem saber o que pensar, ao ver uma fotografia com dois rostos de Mariana em posições ligeiramente diferentes, inclinados um para o outro, numa montagem bem conseguida. Mas a outra devia ser a Sara, conforme Luísa lhe havia sugerido.

Sara, acabara de lhe dar a chave do medalhão.

“Sara e Mariana, irmãs. Miguel sobrinho de Sara, mas filho de um irmão. Sara desconhecendo o paradeiro da sua gémea. Há uma Mariana no horizonte que é a mãe do Francisco, mas não pode ser ela. Não pode?

E se for? Se for, Francisco é primo do Miguel e sobrinho da Sara também. Mas como é que pode… e eu, o meu papel no meio disto tudo?”

Eduardo dava voltas ao pensamento tentando encontrar o elo que tornaria razoável aquele imbróglio que se formara na sua cabeça. Levantou-se, foi à cozinha pôr dois cubos de gelo num copo para se servir de um uísque e sentou-se de novo no sofá da sala, em frente da aparelhagem, onde colocara um CD de música clássica a tocar baixinho.

“Então Mariana casou logo após ter desaparecido, porque o filho tem idade para ter nascido pouco depois. Mas se Mariana casou logo por essa altura é porque me esqueceu rapidamente ou não gostava de mim; mas isso não é verdade, ela amava-me, tenho a certeza!”

─ Ah, ah, ah! Não pode ser a mesma Mariana. A mãe de Francisco é outra, tem de ser outra! ─ exclamou em voz alta.

E o monólogo continuou em voz alta depois de um gole de uísque:

─ Porque se não for outra e não tendo casado, ou foi violada ou… o Francisco é meu filho. Que hipótese mais ridícula! Ela nunca me disse que estava grávida. E se também não soubesse?! E se… demasiados ses! A verdade é que eu e ela éramos muito jovens, sabíamos pouco da vida e fomos algo descuidados. Tenho de admitir que é possível, mas isso não prova que seja verdade.

Eduardo passou as costas da mão pela testa, como que para apagar os últimos pensamentos, que teimosamente se evidenciavam na sua consciência, e avançavam naquele sentido inesperado, estranho, ainda difícil de digerir.

─ Francisco, meu filho? Vá, ando a ler demasiados romances e tenho imaginação a mais!

Por outro lado, não deixaria de ser engraçado se se verificasse. Pensando bem é uma teoria perfeitamente verosímil: tudo parece encaixar, mas falta-me a confirmação.

Já a Rita, há dias na praia, me levou a seguir esse raciocínio quando lhe contei da Mariana. Ela conhece a mãe do Francisco e se eu, na altura, tivesse comigo aquela foto talvez que… Será a mão do destino a… Ah, eu não acredito nisso, mas até a Luísa acha possível!

Mentalmente, Eduardo recapitulou o último período da sua vida depois de ter conhecido Luísa, acrescentando-lhe a hipotética descoberta de que era ele o pai de Francisco.

“Vejamos, conheci a Luísa que tem uma filha que se apaixona por um rapaz que é filho de uma tal Mariana e que, por coincidência, não conhece o pai, conforme já me confessou. Conheci a Sara que tem uma irmã gémea que se chama Mariana e cujo paradeiro desconhece há muitos anos.

Será estúpido acreditar que as duas Marianas são apenas uma e a mesma pessoa?

Não de todo! Se o Francisco cá estivesse ainda, eu poderia saber mais da história dele.

Preciso de descobrir o que há de verdade em tudo isto e só há um meio de o fazer:

Um dia destes pego na Luísa e vamos a Pamplona visitar a Rita, sempre quero conhecer a mãe do Francisco. Até lá não viverei tranquilo.”

Estes pensamentos punham-lhe no coração agitações incontroláveis ante a hipótese de voltar a encontrar, ao fim de tantos anos, aquela que havia sido o grande amor de uma boa parte da sua vida. E só pensar nisso era já como que a confirmação antecipada de que iria encontrá-la, o que o deixava, ao mesmo tempo, empolgadíssimo e apreensivo. No entanto, não podia deixar de sorrir intimamente ao pensar que, por detrás daquela possibilidade que se apresentava ao seu alcance, estava toda a tecnologia da Internet, essa fantástica invenção do homem que podia, finalmente, uni-lo a todos os seus semelhantes.

“O homem que mal fala para o seu vizinho que muitas vezes não conhece, consegue conhecer bem e falar assiduamente com outros homens e mulheres a muitos quilómetros de distância. E fazer amizades, criar intimidades que não tem com aqueles que lhe estão próximos.”

─ Chega de pensar por hoje. Vou distrair-me um pouco no IRC, ver se encontro alguém conhecido. ─ proferiu em voz alta, bebendo o último gole de uísque.

No canal Portugal alguém fazia a apologia de Salazar, mas não interveio porque sabia que o fascismo não é fácil de erradicar enquanto o tipo de educação das crianças nas famílias se mantiver. Também não lhe apetecia entrar em discussões que a ninguém aproveitariam pelas razões que sobejamente conhecia.

Limitou-se a olhar o canal até que um nick, miss_x, lhe atraiu a atenção, porque havia outros nicks que se metiam atrevidamente com ela:

mds ─ :)

mds ─ Meteste-te com quem não devias, a não ser que façam o teu género

miss_x ─ Se me carregares o tlm faço-te um strip pela web cam... Queres?

mds ─ Prostitui-te à vontade mas não comigo, ciao!

E outro veio teclar com ele em pvt:

Isabel_15 ─ Olá!

mds ─ Olá!

Isabel_15 ─ Nome, idade?

mds ─ Eduardo, 45

Isabel_15 ─ Adoro homens mais velhos

mds ─ Chamas-te Isabel e tens 15 anos?

Isabel ─ Sim

mds ─ E gostas de homens mais velhos. É para isso que andas aqui?

Isabel_15 ─ Claro, porque havia de ser?

mds ─ Estou a ver! E já arranjaste algum namorado mais velho?

Isabel_15 ─ Não, estava a pensar em ti; se fores simpático... Tens foto?

mds ─ Não tenho.

Isabel_15 ─ Mando-te a minha.

mds ─ Ok.

Ao ver a fotografia, ficou sem saber se devia acreditar que uma miúda de 15 anos lhe tivesse mandado uma foto de si mesma, completamente nua em pose provocante, mas não lho manifestou.

mds ─ És muito bonita!

Isabel_15 ─ Ainda bem que gostas. E então?

mds ─ Então o quê, se quero ser teu namorado? Não achas que é arriscado andares assim a meteres-te com homens mais velhos?

Isabel_15 ─ Oh pá, não me venhas com sermões! Se tu não curtes, diz logo, que não ando aqui a perder tempo! Olha este!

mds ─ E eu a pensar que já tinha visto de tudo, ora esta!

Isabel_15 ─ Vai dar uma volta, pá! É só paneleiros, que chatice!

Eduardo não disse mais nada e desligou o mIRC, razoavelmente chocado com o que acabara de ouvir. Tudo o que havia pensado antes era bem pouco para enquadrar toda a realidade sobre o mundo.

“Aqueles pais farão ideia da filha que têm e do que fizeram ou não fizeram para que ela seja assim?”

Continua...