Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, January 12, 2007

Virtual Realidade Parte 69


Era Dezembro e as pessoas percorriam as ruas da cidade, olhando as montras enfeitadas para a época natalícia.
Juan fazia, a pé, a curta distância que o separava da casa do amigo. Ia distraído e embrenhado nos seus pensamentos. Decidira revelar a Mariana o seu amor. Mentalmente construíra as frases, as mensageiras, intermediárias obedientes e discretas, que iam levar unicamente à destinatária o conteúdo do seu significado, o seu sentimento por ela. Num impulso, ao passar em frente a uma florista, comprou uma rosa.

A campainha da porta tocou e Mariana foi abrir. No rectângulo iluminado surgiu a figura querida de Juan que logo lhe ofereceu a rosa vermelha comprada momentos antes.
─ Para mim? Oh! Adoro rosas! Obrigada… O Francisco ainda está no banho.
─ Não faz mal. Esperamos por ele.
─ Espero que não demore muito porque a comida arrefece.
Francisco, ouvindo a campainha, apercebeu-se que era o amigo a chegar e, propositadamente, resolveu demorar-se um pouco mais no banho.
Juan e Mariana sentaram-se no sofá grande da sala comum. Sem aviso, o argentino tomou-lhe as mãos suavemente, ao mesmo tempo que lhe disse, olhando-a nos olhos e um pouco hesitante:
─ Desculpe, Mariana, mas não sei como lhe hei-de dizer isto.
─ O quê? ─ perguntou Mariana, com algum receio e admiração, sem retirar as suas mãos das dele.
─ Temo que não seja o momento nem o local apropriados, mas …
─ Coragem! ─ Mariana sorria, um pouco constrangida, sem saber muito bem o que dizer.
─ Acho que devia convidá-la para um jantar a dois e depois dizer-lhe tudo o que sinto por si. Peço-lhe que não me leve a mal o atrevimento!
Mariana sentia nascer dentro de si uma felicidade nova de que não tinha suspeitado antes. Quase emocionada, deixou-se ficar muda de perturbação. Juan também permaneceu calado, como que esperando uma resposta dela para continuar. Passado um bom momento, Mariana acabou por dizer:
─ Continue, por favor…Não levarei a mal seja o que for que tiver para me dizer.
─ Mariana, eu trazia um discurso preparado e agora, na sua presença, esqueci tudo. Só me restam as palavras que me saem directamente do coração.
Mariana estava cada vez mais constrangida. Adivinhava na sua alma o que Juan lhe ia dizer e esperou, ansiosamente, por essa declaração, sem se atrever a interrompê-lo.
Juan prosseguiu:
─ Rodeios para quê, se o amor não tem justificação? Acontece e pronto! O que eu quero dizer é que a amo. ─ E, depois de uma ligeira pausa, acrescentou, sorrindo e olhando, com ansiedade, para Mariana:
─ Está hablado… Afinal não foi tão difícil assim!
─ Eu, eu… ─ balbuciou Mariana, sem conseguir sair do transe em que aquelas palavras a tinham colocado.
─ Não diga nada e desculpe se a ofendi!
─ Não é isso, mas…Eu é que peço desculpa porque não sei o que dizer. Apanhou-me completamente desprevenida! ─ retorquiu enquanto respirava fundo a tentar recompor-se.
─ Tem o tempo que quiser para pensar. Mas far-me-ia muito feliz se aceitasse a sinceridade do meu sentimento por si. E, num impulso incontrolável, sem ela mesmo saber como, tal um vulcão há muito adormecido e que de repente eleva no ar a sua tempestade de lava incandescente, Mariana respondeu:
─ Mas eu aceito, sim!
Juan puxou-a a si suavemente e depositou-lhe um beijo nos lábios, a que ela correspondeu com os olhos brilhantes de felicidade.
Descendo à realidade, Mariana lembrou receosa:
─ E o meu filho… o que dirá?
─ Penso que não temos de temer por ele, Mariana. Eu também tive esse receio. Mas sabe que considero o Francisco um amigo e, há pouco, confiei-lhe os meus sentimentos por si. Ele respondeu-me que jamais se oporia a que a mãe fosse feliz.
─ Sim. Ele contou-me que tinham falado de mim mas não me disse sobre o quê.
─ Eu sugeria que lhe hablassemos tudo ahora. O que acha?
─ Hablemos, sim! Agora entendo aquela brincadeira comigo! ─ exclamou Mariana, lembrando-se das palavras anteriores do filho.
─ Não entendi! Eu não estive a brincar.
─ Oh não, desculpe! Foi o meu filho, antes de o Juan chegar.
─ Acho que a partir de ahora não tenemos razon para não nos tratarmos por tu.
─ Certamente que não. Vou ter de me habituar.
─ Amo-te, Mariana e quero passar o resto dos meus dias ao teu lado! ─ Juan levantou-se do sofá, atraiu Mariana a si e, abraçando-a ternamente, beijou-a de novo num impulso de paixão.
─ Também te amo e quero que sejamos felizes juntos. ─ respondeu a mãe de Francisco, quando conseguiu falar.
Ao fim de muitos anos de vã espera por um amor incerto, que lhe tinha alimentado os sonhos mais belos ao longo da vida, Mariana sentia-se renascer como a vegetação na Primavera. E aquela sensação fazia-a tremer de medo e de felicidade. Vieram-lhe à memória os tempos passados com Eduardo, à sombra dos vinhedos, naqueles piqueniques clandestinos, roubados ao trabalho e ao olhar reprovador da patroa. Eduardo tinha sido, sem dúvida, o grande amor da sua juventude, de menina inocente. A ele se havia entregado de corpo e alma. Lágrimas indefinidas desceram pelo seu rosto ainda belo e, comovida, afastou-se um pouco de Juan. Apenas algum receio pela desconhecida reacção do filho colocava ainda uma pequena sombra naquela felicidade.
Juan, preocupado, perguntou:
─ Que tens, meu amor? Porque choras?
─ Não, não é nada! Apenas não aguentei tanta felicidade.
Francisco tinha acabado o banho e, já preparado, dirigiu-se à sala para o almoço. Ao entrar deparou com a mãe e Juan abraçados, tão entregues àquela nova felicidade, tão esquecidos do resto do mundo, que não notaram a sua aproximação. Sorrateiramente, aproximou-se sem fazer ruído. Chegando-se a eles, tomou-os a ambos num abraço e, beijando a mãe na face, disse:
─ Com que então apanhei os pombinhos em flagrante delito!... ─ O sorriso dele era aberto e descontraído.
─ Oh filho, que susto! ─ exclamou Mariana, corada como uma adolescente que tivesse sido surpreendida pelo pai a beijar o namoradinho.
Um tanto intimidados, Juan e Mariana olhavam Francisco cuja reacção ainda não se revelara totalmente.
─ Desculpem. Não vos quis assustar! Isto merece comemoração.
Dirigindo-se à mesa, Francisco retirou, do balde de gelo, a garrafa de champanhe Ruynard que estava destinada ao fim da refeição. Abriu-a e encheu três taças.
─ Bebamos à nossa felicidade! Nada receiem, que eu estou do vosso lado. Hoje é um dia muito feliz para a minha mãe e, por isso, só pode ser feliz para mim também!
Juan dirigiu-se a ele e abraçou-o. Mariana fez o mesmo dizendo:
─ Obrigada, meu filho!
─ Eu é que agradeço a ambos.
Beberam o champanhe contagiados pela onda de felicidade que os envolvia.
Os três puseram a mesa e sentaram-se para comer num ambiente de sentida alegria.

Continua...