Virtual Realidade

Name:
Location: Portugal

Friday, August 24, 2007

Virtual Realidade Parte 100


─ Vens ao meu quarto ver o que escrevi? ─ pediu a Inês, dirigindo-se a Sara, ao saírem da mesa.
─ Dão-me licença que vá com a vossa filha?
─ Fique à vontade. ─ respondeu Pedro, ainda não habituado a tratá-la por tu.
A escritora deu a mão à menina e acompanhou-a ao quarto desta.
─ Também posso ir? ─ perguntou o André.
─ Não! ─ respondeu a irmã. ─ Depois mostro-te.
─ Coisas de mulheres! ─ desabafou o pequeno, numa atitude de desprezo e seguro do seu conhecimento das particularidades femininas.
Perante aquela sentença definitiva, plena de convicção e sabedoria do filho, Pedro sorriu.
─ Tens toda a razão, mulheres! ─ confirmou Eduardo a brincar. ─ Não lhes ligues.
─ Só ligo à minha namorada.
─ Ah, tens namorada?!
─ Claro que tenho! ─ respondeu muito seguro de si.
─ E ela não é como as outras? ─ insistiu Eduardo.
─ Tem coisas parecidas e outras não.
─ O que importa é que tu gostas dela, certo?
─ Certo.
─ Agora temos de ir ajudar a tua mamã a arrumar a mesa.
Enquanto a máquina lavava a loiça na cozinha e Sara estava no quarto da Inês, Teresa, Pedro e Eduardo sentaram-se no sofá da sala a conversar.
─ Parece-me que a tua amiga já conquistou a minha filha. ─ disse Teresa.
─ Sim, discretamente soube ir ao encontro dos interesses da Inês. Espero que as duas se dêem bem.
─ Parece-me uma pessoa de confiança. ─ disse Pedro, de modo a que não se pudesse suspeitar que o aspecto físico e a sensualidade natural que Sara inspirava, tivessem alguma influência na sua opinião.
Eduardo olhou para o amigo, mas a seriedade deste era tão evidente que, nem mesmo ele, que o conhecia tão bem, pôde notar alguma falha no seu semblante. E foi precisamente essa expressão, demasiado de acordo com as palavras proferidas por Pedro, que o deixou a pensar.
─ Tu é que a conheces bem. ─ lembrou Teresa, falando para o Eduardo.
─ Conheço. ─ respondeu ele, como quem pensa noutra coisa.
─ O que foi? Não me digas que tens dúvidas! ─ perguntou Teresa, alarmada ao ver o ar distante do amigo.
─ Não, não, fica descansada! Eu confio plenamente nela e tenho a certeza de que vai ter uma influência muito positiva na Inês.
─ Mas pensavas noutra coisa.
─ Estava a tentar adivinhar o que aquelas duas estarão a dizer no quarto. ─ desculpou-se Eduardo.

Com o coração transbordando de alegria, a adolescente entregou a Sara vários papéis com pequenas histórias.
─ Posso ler!
─ Sim, podes.
Passado algum tempo, todavia, para Inês, uma eternidade, Sara disse:
─ Tens muito jeito para contar histórias. São muito da tua idade, naturalmente, mas é assim que se começa. Precisas é de melhorar na gramática e na pontuação. Vamos corrigir duas para tu veres.
Sara corrigiu e explicou com detalhe algumas formas de melhorar a escrita em certas passagens e, quando acabou, perguntou:
─ Depois queres pegar nas outras histórias e fazer sozinha as correcções, baseada no que te ensinei?
─ Sim, é melhor. Obrigada.
─ Mas depois eu vejo-as na mesma. È preciso escrever muito para se dominar a técnica e adquirir um estilo próprio, um jeito pessoal de contar uma história. Gostas de escrever?
─ Muito! Gostaria de ser escritora como tu.
─ Espero que sejas melhor. Quando se tem um sonho e uma vida inteira para o realizar, temos de nos fazer ao trabalho e seguir em frente.
─ Ainda tenho muito que aprender.
─ Pois tens. O Eduardo disse-me que és boa aluna.
─ Tenho sido, mas… ─ Inês hesitou, baixando os olhos.
─ Estás a passar por uma crise, eu sei.
─ Mais ou menos.
─ Não tenhas receio de me contar. Estou aqui para te ajudar e não para te criticar. Já passei por muitos dos teus problemas e outros piores ainda. Aos meus pais faltava o dinheiro para nos dar de comer. Olha para mim como uma amiga mais velha que sabe das coisas. Eu sei que não é fácil para ti que me vês agora pela primeira vez.
─ Pois.
─ Tenho uma ideia: tu conheces a cidade?
─ Conheço.
─ Então vamos fazer compras, queres?
─ Sim!
─ Conheces lojas boas de roupa?
─ Sim, no Forum.
─ Vamos pedir ao tio Edu que nos sirva de taxista. Ah, ah, ah. Bora daí! A cidade espera por nós. ─ exclamou Sara, verdadeiramente entusiasmada com a ideia. ─ Duas horinhas lá fora vão fazer-nos muito bem a ambas, não achas?
─ Acho pois! ─ respondeu a adolescente, cativada pela ideia.

Enquanto ambas trocavam ideias, Pedro deixou o amigo ao telefone e foi até à cozinha ajudar a esposa a tirar a loiça da máquina.
─ Deixaste o Eduardo sozinho?
─ Ele neste momento não precisa de mim e tu sim ─ disse Pedro piscando-lhe o olho.
─ O que aconteceu?
─ Está ao telefone com a Luísa.
Eduardo perguntava como estava a decorrer a festa dos miúdos e mais uma vez pediu desculpa por não estar presente.
─ Querido estou extenuada, mas imensamente feliz só de ver como os olhos deles brilham de felicidade. Todo o meu cansaço é passageiro. Mais logo telefona-me a contar as novidades. Agora chamam por mim. Beijinhos!
─ Beijos também para ti. Até mais logo, amor.
Estas últimas palavras ainda foram ouvidas por Sara, que irrompia na sala com a Inês pela mão, em saltinhos de alegria, como duas adolescentes da mesma idade.
Admirado perguntou:
─ O que se passa meninas? Parecem muito felizes!
─ E vamos ficar ainda mais: vais levar-nos ao Forum às compras, já!
─ Às vossas ordens, minhas senhoras! ─ respondeu Eduardo fazendo um salamaleque.
─ O André vem também, a não ser que não queira. Onde está ele?
─ Estou aqui! ─ respondeu o pequeno, levantando-se de detrás de um sofá onde jogava com a playstation que o tio Edu lhe tinha oferecido pelos anos.

Continua...