Virtual Realidade

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Friday, February 16, 2007

Virtual Realidade Parte 73


Rita acordou com o suave tamborilar da neve na janela do quarto e a vaga recordação de ter sonhado com Francisco. Ergueu a cabeça da almofada e, como a ténue luz do dia, que penetrava pelos orifícios do estore, lhe trazia a grata informação de que ainda era cedo, sentiu a tentação de se aconchegar sob os cobertores e voltar a dormir; mas Emília, já acordada, esperava ansiosa, o momento de a interrogar sobre a festa e, ao notar o movimento da companheira de quarto, cheia de curiosidade, interrompeu-lhe os planos perguntando:
─ Bom dia! A festa foi divertida? Conta-me tudo!
─ Estava super divertida para quem gosta daquele género de festas. Ali valia tudo menos tirar olhos. Estava farta e cansada daquele ambiente!
─ Quer dizer que não arranjaste namorado…
─ E tu achas que os rapazes foram lá com essa intenção? Eles só queriam uma coisa. Nas festas da Maria já todos sabem ao que vêm, mas eu não alinho nisso. Juro que nunca mais porei os pés numa festa dela!
─ Eu sei amiga, por isso é que deixei de ir. Eu também não gosto daqueles ambientes.
─ Tenho de ganhar coragem e dizer-lhe umas coisas. Ela vai ficar zangada comigo, mas não quero saber.
─ Vieste embora sozinha?
─ Não. Havia lá outra que também não estava a gostar e viemos as duas. Deu-me boleia até aqui. Uma colega nossa de Direito, muito simpática, chamada Ísis. Conheces?
─ Isis?! Não estou a ver…─ respondeu pensativa.
─ Ela é de cá, mora nos arredores e tem um canil; é uma apaixonada pelos animais. Convidou-me para visitar a quinta dos pais. Ficámos muito tempo, ainda no carro, a conversar e quando entrei já tu dormias.
─ Sim, deitei-me cedo. Acabei por não sair porque o Juan tinha um jantar em casa do tal amigo com quem costuma jogar ténis. Mas hoje vamos almoçar juntos. ─ e, de repente, lembrou-se que o amigo e colega de trabalho do Juan era português e disse: ─ Por falar nisso… sabes uma coisa?
─ Sei muitas, mas essa, se calhar não. ─ respondeu Rita sorrindo.
─ Tenho-me esquecido de te contar.
─ O quê?
─ Há dias o Juan falou-me do amigo e disse-me que ele é português.
─ Ai sim?! E conhece-lo? ─ perguntou Rita, repentinamente interessada.
─ Só o vi uma vez de relance dentro do carro do meu amigo. Nem sei o nome dele, mas é jovem ainda, muito mais novo do que o Juan.
─ Ah! ─ exclamou Rita desanimada pela escassez da informação.
─ Queres vir e conhecer o Juan? É uma pessoa fantástica, vais gostar dele com certeza. E através dele podes vir a conhecer o teu compatriota.
─ Desculpa, mas fica para outra oportunidade; quero acabar de dormir e depois tenho umas tarefas a realizar e quero ainda encontrar a minha mãe no MSN. ─ mudando de tom e sorrindo: ─ Olha lá, tu não te estarás a apaixonar pelo teu amigo?
Emília soltou uma estridente gargalhada, antes de se meter na casa de banho, e não respondeu.
Rita deixou-se ficar na cama e acabou por adormecer de novo. Um suave sorriso marcava-lhe os lábios, indício de que tinha retomado o sonho com Francisco, o seu príncipe encantado que se tinha esfumado por um revés do destino.
Rita acordou à uma hora da tarde com o telefone a tocar.
─ Sim!
─ Olá è para te dizer que passo aí para te buscar. Tenho novidades para te contar. Nem te passa pela cabeça o que aconteceu ontem depois de teres saído.
Desculpa Maria, mas não vai dar. Levantei-me tarde e vou ficar por aqui.
─ Preciso de ti. Tu não percebes? Dentro de uma hora estou aí, não aceito desculpas, quero partilhar contigo a minha felicidade!
Desligou o telefone bruscamente e Rita ficou de olhar atónito sem saber o que pensar. Pela primeira vez desejou nunca ter conhecido Maria. Chamou pela colega de quarto, mas ela já tinha saído. “Que burra que eu fui!”, pensou. “Podia ter-lhe perguntado o que fazia o Juan, porque se é arquitecto e o jovem português trabalha com ele, podia dar-se o caso… mas não! Seria demasiada coincidência. Ainda assim não custa nada perguntar-lhe e também posso vir a saber o nome dele.” E reflectindo sobre o assunto: “É curioso que ela nunca me disse o que fazia o amigo em Pamplona, mas eu também nunca lho perguntei. Bom, o melhor é esquecer isso por agora”
Levantou-se da cama e subiu o estore. Olhando através da janela via a neve a cair, os telhados das casas vizinhas e as ruas cobertas de branco, os carros circulando com dificuldade, e pensava sonhadora: “ Sei que estás algures perdido nesta cidade e, quem sabe, perto de mim. Se eu pudesse ao menos adivinhar aonde!”
Invadiu-a uma repentina melancolia e lembrou-se do poema «A Neve» de Augusto Gil: «…cai neve na natureza e cai no meu coração!»
Dentro de casa o único ruído que se ouvia era o do radiador. Desejava tanto permanecer ali e não ter de sair para ouvir a exibicionista da Maria. Foi para o duche e, enquanto a água do chuveiro lhe descia pelo corpo jovem, Rita sentiu-se cheia de vontade para enfrentar Maria e lhe dizer umas quantas verdades. Vestiu-se com simplicidade e desceu à rua. Maria já a esperava no carro e tomaram rumo em direcção ao centro da cidade.
O café onde entraram estava cheio de gente, de barulho e de fumo. Rita odiou o local: teria escolhido de bom agrado um sítio calmo e sossegado.
─ Vamo-nos sentar àquela mesa. Quero-te contar a grande novidade.
Sentaram-se e Rita esboçou um sorriso amarelo. Enquanto observava distraidamente o criado que, com uma bandeja na mão, deslizava por entre as mesas como um bailarino num palco entre o restante corpo de dança, só pensava numa forma de se libertar.
─ Queres tomar algo? perguntou Maria.
─ Qualquer coisa. É-me indiferente.
─ Estou apaixonada pelo homem mais bonito à face da terra.
─ Quem é ele? Estava na festa? ─ perguntou Rita meia distraída, meia interessada
─ Não o conheces. É meu vizinho. Tinha-me avisado de que só iria aparecer mais tarde. Tinha visitas em casa.
─ Hum! ─ resmungou Rita pouco convencida.
─ Logo tiveste que ir embora mais cedo! Tive tanta pena que não o tivesses conhecido! A Isis viu-o porque foi ela que lhe abriu a porta. A Isabel e a Cármen andavam com o olho nele, mas ele preferiu-me.
Interrompeu-se porque chegou o empregado com os dois cafés que tinham pedido e, quando ele se retirou, Maria continuou:
─ Já tínhamos saído algumas vezes juntos, mas ontem surpreendeu-me, pedindo para andar com ele. Acabámos por curtir. Ai amiga estou tão feliz!
Rita não tinha a certeza se havia de acreditar naquilo que a amiga lhe dizia, mas ouvia-a com uma ar inocente, pensando apenas na maneira de sair rapidamente daquele ambiente saturado.
Maria dizia para consigo: “Esta parva acredita em tudo. Tenho que o conquistar, custe o que custar! Ele tem que ser meu!”
─ Parabéns, amiga! Nada melhor do que estar apaixonada.
Com uma pontinha de inveja desejava ardentemente encontrar o seu amado, e a imagem de Francisco espelhou-se na sua mente.
De uma mesa um pouco afastada chegavam até elas olhares atrevidos de um sujeito de meia-idade, bom aspecto, vestido com elegância, ar simpático e atraente, e Rita notou que a amiga lhes correspondia. “ Como é que ela pode ser assim se acabou de me dizer que está apaixonada?!” ─ perguntava-se mentalmente, admirada.
Enojada com aquela atitude fácil de Maria, levantou-se e disse peremptória:
─ Agora tenho mesmo que ir embora.
─ Que se passa hoje contigo, Rita? Pareces-me um pouco cansada e mais distraída do que o habitual…─ perguntou Maria enquanto chamava o empregado.
─ Estou mesmo cansada.
─ Rita, minha querida, paga a conta que eu estou sem guita; ainda não recebi a mesada; os meus pais, como sempre, atrasaram-se. ─ ordenou Maria com um sorriso cínico que Rita não notou.
─ Ok, eu pago.
─ És uma boa amiga!
Saíram e Maria deixou Rita à porta da residência.
─ Até logo.
─ Até logo.
Rita respirou fundo quando se encontrou novamente no seu quarto, mas estava revoltada consigo mesma porque não tinha tido a coragem necessária para dizer a Maria aquilo que pensava dela.
Emília ainda não tinha regressado do almoço com o compatriota argentino.

Continua...

Monday, February 12, 2007

O 11 de Fevereiro de 2007



Congratulamo-nos, não por ter sido a vitória do nosso voto, mas pela vitória das mulheres portuguesas no sentido da liberdade.
Foi um parto demorado e doloroso, antes feito abortar pelos «defensores da vida», quantos deles(as) inconscientes daquilo que verdadeiramente estava em causa …
São sempre os escravos, aqueles que mais dificuldades têm em reconhecer a sua própria escravatura e, por isso mesmo, em lutar contra ela.
O aborto é um mal, estamos de acordo! Mas deixamos à liberdade de cada um(a), conforme a sua situação, decidir o que de melhor tem a fazer sem nos intrometermos na sua vida.
Todo o nosso respeito também para os defensores do não, que têm agora uma oportunidade única de mostrarem aos outros a sua coerência, honestidade e entrega totais pela causa que defenderam, impedindo as mulheres de abortarem, pela criação das condições psicológicas, sociais e económicas necessárias para que cada grávida possa ter a possibilidade de criar o seu filho em condições de dignidade e desafogo, sem precisar de recorrer a medidas extremas.
Sim, este é o momento ideal para os defensores do não mostrarem a sua superioridade, a superioridade dos seus ideais. Porque é muito fácil escondermo-nos atrás de uma lei impeditiva e depois ficarmos a tratar das nossas vidinhas, de consciência tranquila porque fizemos a escolha correcta, e não nos preocuparmos mais com quem sofre uma gravidez que não pode levar até ao fim pelas mais variadas razões.
Não percam esta oportunidade, e terão o nosso eterno respeito e agradecimento, caso contrário ficaremos a suspeitar das vossas intenções.
Também a hierarquia da igreja tem aqui a sua oportunidade de defender REALMENTE a vida, se nos quiser fazer esquecer de todo, um passado de crimes contra a mesma vida. Se não a aproveitar, a sua honestidade estará em causa e não haverá teologia que a desculpe.
A responsabilidade está do vosso lado. O sim pode ter sido uma benesse para todos! Há que a saber aproveitar!

Vamos salvar todas as vidas humanas e toda a vida na terra mudando radicalmente o nosso comportamento e as nossas relações económicas?