Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, July 14, 2006

Virtual Realidade Parte 44


Vitória recebeu-as com um súbito aguaceiro. Luísa e Rita encaminharam-se para a saída ajudadas pelo simpático passageiro marroquino. Eram cinco horas da manhã em Espanha. Chamaram um táxi para as levar ao hotel onde iriam passar dois dias. Rita olhava em todas as direcções e deu com os olhos num carro que arrancava a toda velocidade e um dos passageiros acenava-lhe com a mão. Ela reconheceu Francisco.
─ Mãezinha era o Francisco que ia naquele carro. Que pena não ter parado. Deve ser o destino que não nos quer juntos.
─ Filhota quem sabe se não se vão encontrar em Pamplona. Agora estamos a precisar de descansar e depois aproveitarmos para visitar a cidade. Agora me lembro, ─ disse olhando a filha nos olhos e sorrindo ─ mas tu não tinhas decidido esquecer esse encontro?
─ Tinha, mas parece que não consigo e anseio por o encontrar de novo em Pamplona.
─ Será que vim a Espanha para ficar sem a minha filhota querida? ─ Luísa sorria porque conhecendo bem a filha já tinha percebido que aquilo era muito sério.
─ Será? ─ Respondeu Rita com ar sonhador e suspirando fundo.
O táxi corria pela cidade adormecida deixando-as à porta do hotel Vitória pouco depois. Cumpridas todas as formalidades e já com as chaves na mão, subiram para o quarto.
A luz lívida de um relâmpago iluminou por um instante o quarto, ao mesmo tempo que um trovão assustador lhes cortava a respiração. Uma chuva furiosa fustigava os vidros da janela enquanto relâmpagos e trovões se sucediam cada vez com mais frequência.
─ Mas que bela recepção temos à nossa chegada mãezinha! Espero que amanhã o dia esteja melhor.
─ É verdade! Querida queres ir à casa de banho? Estou ansiosa por me meter debaixo dos lençóis.
Luísa tomou um banho rápido para se refrescar da viagem. Quando entrou no quarto Rita já dormia profundamente. Depositou um beijo na face da filha desejando-lhe toda a felicidade do mundo. Ela era o seu tesouro, mas o seu último pensamento antes de adormecer foi para o Eduardo.

Francisco tinha um amigo e colega de trabalho com o carro à sua espera na estação de Vitória. Para não ter de esperar por ligação ferroviária até às 7:30 da manhã e assim não ter de passar a noite toda sem dormir, Juan tinha-se oferecido para o ir buscar a Vitória. Ao passarem pelo táxi reconheceu Rita e levantou a mão dizendo ao amigo que tinha conhecido no comboio uma portuguesa muito simpática e bonita que ia tirar o curso de medicina para Pamplona. Esperava com ansiedade que Rita lhe telefonasse como tinha prometido. O amigo sorriu zombeteiro.
─ Vamos ver se é desta que arranjas namorada, sempre envolvido nos estudos e no trabalho.

O toque insistente do telefone quebrou a quietude de um sono profundo e Luísa foi obrigada a emergir, a muito custo, daquele doce abandono, para recuperar o sentido da realidade. Às apalpadelas derrubou alguns objectos antes de agarrar o telemóvel.
─ Olá Filhinha! Já chegaram a Vitória? Estava á espera de notícias vossas.
─ Sim mãezinha! Fizemos uma óptima viagem, apesar de ser muito cansativa. Mais tarde ligo-te pois ainda estamos a dormir. Beijinhos meus e da Rita.
O dia amanheceu brilhante sem nada deixasse adivinhar que tinha chovido na véspera. O quarto era amplo, arejado e muito acolhedor.
Luísa meteu-se debaixo do chuveiro enquanto Rita continuava a dormir. Deu por si a pensar no Eduardo; “o que faria ele na ausência dela? Certamente conheceria outras pessoas no Mirc. Sentiria a falta dela?” E uma pontinha de ciúme despontou no seu coração inseguro.
À medida que a água rolava pelo seu corpo abaixo, as dúvidas iam-se dissipando na sua mente. Olhou – se no espelho enquanto acabava de se limpar com a toalha. “Nada mal para uma mulher da minha idade e com uma filha casadoira”, pensou para consigo. Os seus seios haviam sido sempre um tanto pequenos e, embora isso a tivesse preocupado quando era mais nova, estava contente agora por não terem começado a descair e a pender como os de outras mulheres da sua idade. O desejo acendeu-se no seu íntimo, enquanto se massajava com o leite corporal. Voltando à realidade, aplicou um pouco de maquilhagem vestiu umas calças castanhas e uma camisa bege e calçou sapatos castanhos. Estava preparada para enfrentar um pequeno-almoço bem merecido.
Entretanto Rita acordava, espreguiçava-se e sorria feliz.
─ Bom dia mãezinha!
─ Bom dia filhota! Vamos a despachar dorminhoca, se queremos aproveitar estes dois dias na cidade basca.
─ As suas ordens são para ser cumpridas madame! Dá-me tempo para tomar um duche.
Rita ria divertida e saltando da cama rapidamente entrou na casa de banho cantarolando. “I love you”
Passado algum tempo reaparece.
─ Que tal estou, com bom aspecto? Prontinha para enfrentar a cidade!
Rita vestia calças de ganga e um camiseiro, calcava sapatilhas, calçado prático para caminhar.
─ E essa cara tão branca, pinta-te um pouco. Eu sei que detestas maquilhagem, mas um pouco ajuda a disfarçar o cansaço da viagem.
─ Nada disso, sinto-me muito bem assim. Vamos? Daqui a pouco já não servem o pequeno-almoço.

Desceram de elevador e encontraram um empregado que sorrindo lhes disse Olá.
A sala onde serviam o pequeno-almoço era muito simpática e encontrava-se com pouca gente àquela hora da manhã. Deliciaram-se com o buffet muito bem recheado.

Depois do pequeno-almoço regressaram ao quarto e passaram o resto da manhã, a discutir e a consultar o mapa da cidade; teriam que escolher as coisas mais importantes para visitar.
─ Mãezinha, Vitória é um cidade grande, com visitas grátis, e com muitos espaços verdes. Temos várias maneiras de conhecer a cidade. Podemos alugar bicicletas, ou compartir coche ou então usarmos os transportes urbanos. O que achas?
─ Seria interessante percorrer a cidade de bicicleta, mas esqueces-te de que nunca aprendi, apesar de na nossa zona a bicicleta em tempos ter sido a prioridade das pessoas. Existem muitos monumentos nesta cidade, vamos escolher alguns. Por exemplo: a Catedral Juan de Ayala, Catedral de la Virgen Blanca e Museu Praiacial. Achas que temos tempo?
─ Eu acho que poderíamos ir caminhando e descobrindo o que vamos encontrando pela frente. Assim não íamos perdendo tempo. Apesar de que gostava de visitar o campus universitário (unibersitate campusa); engraçado como se chama em basco (Vasco). Não podemos esquecer que estamos em território basco, só espero que não tenhamos nenhuma surpresa durante a nossa estada.
Luísa olhou para a filha alarmada, mas rapidamente disfarçou, pois tudo poderia acontecer.
─ Vamos sair e encontrar algum restaurante para almoçar, estamos a precisar de uma boa refeição. Quero provar algo típico da região.
Ao passarem pela recepção do hotel verificaram que a um canto se encontrava alguns computadores á disposição dos clientes.
─ Muito bem, já temos onde vir á Internet. Certamente que o Eduardo escreveu. Aproveito e também envio uns e-mail.
Rita ouvindo o nome de Eduardo sente uma dor no coração, recorda o que fez, e pensa que tem que falar com a mãe sobre isso antes que seja tarde demais.Saíram para a rua. Depois da chuva, as ruas ficaram impregnadas de um encanto especial entre o melancólico e o acolhedor que convidava a percorrê-las com tranquilidade. E foram andando pela avenida, na esperança, de encontrar um restaurante para almoçar.

Continua...