Virtual Realidade

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Friday, May 16, 2008

Realidade Virtual Parte 136


Parou um momento a olhar com ternura aquele quadro familiar e, sem interromper, foi para o quarto fazer a mala.

Ainda não tinha arrumado meia dúzias de peças, quando bateram à porta.

─ Entra!

Rita olhou a mãe com carinho e abraçou-a comovida. Num fôlego, disse:

― Mãezinha, queria que fosses a primeira a saber por mim, mas acho que já sabes porque estiveste na cabana enquanto dormíamos. Vi o cobertor que nos puseste.

─ Podia não ter sido eu.

─ Mas foste, não foste?

─ Fica tranquila que fui eu sim.

Luísa fez uma narrativa completa do que se tinha passado com ela na noite anterior.

─ E foi assim que fiquei a saber. Foi uma coincidência. Espero que tenham tomado todas as precauções necessárias.

─ Sim, tomámos; não te preocupes que somos responsáveis! E logo agora é que havia de acontecer isso à Sara!

─ É verdade, já lhe estragou a passagem de ano. Felizmente não é nada de grave. Mas senta-te e conta-me… ─ pediu a mãe sorrindo.

Rita contou-lhe tudo.

─ Eu estava com receio, mas ele foi muito compreensivo e carinhoso e correu tudo muito bem.

─ Isso nota-se no teu ar de felicidade. ─ disse Luísa com um sorriso onde havia uma ternura muito especial que só ela compreendia. ─ Gostas muito dele, não gostas filhotinha?

─ Nunca imaginei que se pudesse gostar assim de alguém! Estou muito feliz e agora ainda mais por saber que me compreendes.

─ E não te tenho compreendido sempre? Sabes que quero a tua felicidade acima de tudo.

─ Pois tens, não foi isso que eu quis dizer. Bigada, melhor mãe do mundo!

─ A partir de agora entraste numa nova fase da tua existência: és uma mulher que acabou de fazer um casamento no céu e subiu mais um degrau na aprendizagem da vida. Gosto muito do Francisco, é muito bom rapaz e vê-se que gosta muito de ti. Não permitas que alguma coisa possa estragar isso, principalmente ciúmes cegos, e lembra-te sempre de que ninguém é dono de ninguém. Amar é também confiar e respeitar a liberdade do outro; e isso é válido para os dois lados.

─ Eu sei Luisinha, mas tu não és assim! ─ exclamou Rita a sorrir, embevecida pelas palavras da mãe.

─ Tenho aprendido com o Eduardo. ─ respondeu Luísa com ar sério e concentrado.

─ Também és muito feliz com ele, não és mamã?

─ Muito, minha filha!

Luísa sentiu os olhos humedecerem-se de lágrimas e, para evitar que alguma delas lhe deslizasse pelo rosto sem o seu consentimento, mudou bruscamente de assunto:

─ Sabes que às vezes noto no Francisco pequenas semelhanças com o Eduardo? Certas expressões do olhar… Nunca reparaste?

─ Sim, já tenho notado e também que simpatizam muito um com o outro; mas há muitas pessoas semelhantes.

─ Claro, é apenas uma coincidência.

─ Já que falas em parecenças, sabes o que diz o Francisco a respeito da Sara?

─ O que diz?

─ Que, em certas ocasiões, a acha parecida com a Mariana.

─ A Mariana?!

─ Sim, a mãe do Francisco. Ele refere-se muitas vezes à mãe pelo nome próprio e trata-a desse modo, como se fosse uma amiga ou irmã mais velha.

─ Ah, como nós as duas!

─ Mais ou menos.

─ E tu também as achas parecidas?

─ Vi poucas vezes a mãe do Francisco.

─ Como é ela, bonita, simpática?

─ Muito! Sempre me recebe com muita delicadeza e carinho.

─ Quando for visitar-te a Pamplona quero conhecê-la.

─ Quando pensas ir lá?

─ Estou a pensar, talvez para Abril, com os dias maiores, convencer o Eduardo a irmos os dois por uma semana ou duas. Ainda não lhe disse nada, vamos ver se ele pode e concorda

─ Que bom!

─ Quero aproveitar para conhecer toda aquela região.

─ Outra coisa, já não faz sentido o Francisco ficar a dormir em casa da Cristina.

─ Pois não, amor! Diz-lhe que pode dormir contigo.

─ És um amor de mãe! Adoro-te!

─ Mas vocês não vêm connosco para Aveiro?

─ Não. Respondeu Sandrine que tinha entrado naquele momento.

─ Consegui que um colega fizesse o meu lugar e vamos ficar cá. Iremos os seis jantar fora e depois dançar.

─ Seis?! ─ perguntou Luísa admirada.

─ O Miguel convidou um amigo para a Emília não se sentir tão só.

─ Tudo então combinado e eu sem saber de nada! ─ exclamou a fazer beicinho.

─ Mãezinha, enquanto foste passear resolvemos tudo e o Eduardo concordou com o nosso programa.

─ Ok, ok!

─ Eu só vim ver o que as meninas andavam a fazer. ─ disse Sandrine ─ mas já me retiro.

─ E os outros onde andam? ─ perguntou Luísa.

─ Eduardo e Francisco estão no jardim a tirar fotografias ao pôr-do-sol.

─ Aqueles dois e as fotografias! ─ exclamou Rita.

─ Não queiras o teu namorado sempre ao pé de ti para não se cansar! ─ disse Sandrine atrevidamente.

─ Mas eu sou precisamente o repouso dele! ─ retrucou Rita a sorrir.

─ Meninas, as duas já fora daqui, tenho que fazer a minha mala e tomar banho! Rua! ─ intimou Luísa peremptória, apontando o dedo indicador para a porta.

─ Fica à vontade que nós vamos fazer o jantar. ─ disse Sandrine empurrando a irmã torta para fora do quarto.

Quando Sandrine apanhou Rita fora do quarto, disse:

─ Anda, anda menina, conta tudo, pensavas que te safavas?

Entraram as duas no quarto de Rita a rir e encontraram Emília que esperava por elas, curiosa pelas novidades.

Luísa continuou a fazer a mala e pensava em como a vida era bela e as pessoas é que a complicavam.

Sentia que tudo se havia reunido em seu redor para lhe gritar bem alto, em coro, que era uma mulher feliz. Por ela, pela filha…

Sabia que aquele tipo de relacionamento com a filha era algo que poucas mulheres poderiam algum dia almejar, mas soubera trabalhar para isso pela confiança que sempre lhe tinha dado e respeito pela liberdade. Nunca deixara de prestar atenção aos seus anseios, queixas e curiosidades, conseguindo sempre, com paciência e carinho, uma forma de a atender afastando-lhe as dúvidas e anulando-lhe os receios. E também lhe contava os seus problemas, partilhando desde muito cedo a sua intimidade com a filha.

Em bebé, mesmo que ela não entendesse, lia-lhe histórias de boa qualidade literária, tendo muito cuidado com os conteúdos porque sabia que nada era inocente.

Quando achou que era tempo começou a guiar-lhe os primeiros passos no conhecimento das letras e da natureza.

Tudo o que procurara ensinar-lhe, fizera-o de modo que a aprendizagem lhe fosse um prazer e apenas quando ela o pedisse ou aceitasse a sua sugestão.

Nunca o marido interviera contrariando a orientação dela, antes apoiando-a e ajudando-a.

Depois aconteceu aquilo e, ao ficar só com a filha, não desanimou, apesar do sofrimento, e explicou, como se pode explicar a uma menina de nove anos, que o pai não voltaria mais para casa. Sem dramas, para que a filha sofresse o menos possível, prometeu-lhe que iriam continuar a ser muito felizes as duas.

Prometeu e cumpriu.

No coração de Rita ainda permanecia uma remota mágoa daquele abandono.

Luísa nunca lhe falava mal do pai que recordava, depois de ter deixado de o amar e, portanto, de sofrer, como alguém que lhe dera a melhor prenda que podia ter desejado na vida: aquela filha.

Acabou de fazer a mala e preparou um banho de imersão.

De olhos fechados, deliciando-se, deixou a mente vaguear.

Queria fazer uma surpresa a Eduardo no fim de ano. Preparar uma banheira de espuma, pétalas de rosas, velas e champanhe.

Sorria perante os seus pensamentos, quando ouviu a porta da casa de banho abrir-se. Eduardo aproximou-se e entreabriu o cortinado olhando-a de alto a baixo; parecia Afrodite aureolada de espuma.

─ Estava mesmo a pensar tomar um banho de imersão, mas vejo que a banheira já está ocupada por uma bela sereia!

─ Que boa surpresa! Despe-te e vem cá, que cabemos os dois.

─ Tens a certeza, amor?

─ Claro que tenho e há uma coisa que te quero dizer aqui dentro.

Eduardo entrou na espuma e os olhos deles brilhavam, os corpos transbordavam de desejo.

─ O que me querias dizer aqui dentro, fofinha?

─ O quanto te amo! ─ respondeu ela, enroscando-se nas pernas dele.

E a espuma que os envolvia não permitiu ver mais nada.

O jantar decorreu animado e em família, como Luísa o considerava. A comida estava uma delícia e os elogios não faltaram. Elas sorriam olhando para Luísa que se sentia orgulhosa em ter sido a mestra. Cristina tinha acabado de chegar.

─ Olá querida, é só mais uns minutos, ainda queremos passar pelo hospital.

─ Mas não há visita a esta hora. ─ disse Cristina consultando o relógio de pulso.

─ Para nós é. O Dr. Miguel vai deixar-nos entrar por uns minutos. ─ disse Eduardo.

Na hora das despedidas, as recomendações não falharam por parte de Luísa. Eduardo sorria ao ver que a namorada nunca mais aprendia a não se preocupar tanto. Muitas vezes lhe dizia em tom de brincadeira, “amor, olha o teu coração”.

No dia de Ano Novo estariam de volta a casa e no dia seguinte, Rita, Emília e Francisco partiriam para Pamplona.

Chegaram por volta das dez horas da noite ao Hospital de Leiria. Eduardo ligou para o Dr. Miguel e este veio ao encontro deles e acompanhou-os ao quarto da doente. Cristina preferiu ficar e Eduardo e Luísa foram visitar Sara.

─ Boa noite doentinha, como te sentes? ─ perguntou Eduardo com carinho.

─ Olá Sara, esperamos que muito melhor. ─ disse Luísa beijando-a.

─ Boa noite Luísa e Eduardo. Obrigada. Estou melhor sim. Ainda tenho algumas dores, mas agora é uma questão de tempo. E, aqui para nós, o ingrato do meu sobrinho quer que eu fique cá mais dois dias.

─ Tens muito azar em teres um sobrinho assim! ─ brincou Eduardo.

─ Se se portar bem e cumprir tudo direitinho talvez a deixe ir passar o ano a casa. Ela está bem, mas vamos aproveitar para fazer um exame completíssimo. De outro modo seria difícil apanhá-la nos médicos e está na altura de uma revisão geral. ─ explicou Miguel.

E dirigindo-se à tia:

─ Só te deixo ires passar o ano a casa se prometeres que depois voltas para os exames.

─ Estão a ver como o meu sobrinho me trata? Quer mandar em mim o maroto!

─ Pois, pois e tu mortinha por lhe obedeceres. Eu, se fosse a ti, fazia isso. Como vejo que ficas bem entregue, nós vamos de partida para a minha casa e ainda temos que andar.

─ Vão, meus amigos que já é tarde. Façam boa viagem e obrigada pela visita.

Luísa e Eduardo, saíram abraçados e Sara limpou uma lágrima que lhe caiu, inesperadamente, dos belos olhos tristes.

Miguel acompanhou-os à saída, sossegando-os sobre a doença da tia, e desejando-lhes um óptimo Ano Novo.

Faltavam poucos quilómetros para chegarem a casa de Eduardo, quando Cristina ligou ao Rui a dizer que já a podia ir buscar.

Continua...

Tuesday, May 13, 2008

Feridas Crónicas



Na segunda semana de Novembro de 2007, o senhor Arménio magoou-se, abrindo uma ferida por baixo do tornozelo exterior do pé direito.

Dois dias depois, como lhe doía bastante e não se conseguia calçar, começou a ir fazer curativos à extensão de saúde da área da sua residência.

Um mês mais tarde, estava pior e, durante esse tempo, teve muita dificuldade em dormir por causa das dores.

Nessa altura, o filho, em desespero de causa, pegou nele e foram até ao Porto, a ver se descobriam alguém que lhe conseguisse cicatrizar a ferida.

Seguindo várias indicações, foram parar a um centro de enfermagem em Santo Ovídio, cidade de Gaia.

Logo no primeiro tratamento, o senhor Arménio foi para casa sem dores e, pela primeira vez em várias semanas, conseguiu dormir bem.

Foram quatro meses de tratamentos intensivos, praticamente dia sim, dia não, a setenta quilómetros de distância, até à cura final.

O senhor Arménio tem 82 anos, não é diabético, mas as varizes dificultam-lhe a cicatrização.

Se contamos aqui esta história verídica, é porque sabemos que há muita gente com o mesmo tipo de problema e que não sabe onde procurar a cura.

E também porque, para além da competência técnica, queremos deixar aqui uma nota de agradecimento, pelo cuidado, delicadeza e simpatia com que fomos atendidos por todos os membros da equipa de enfermagem:

─ Enfermeiro António

─ Enfermeira Olinda

─ Enfermeira Patrícia

─ Enfermeira Sara

─ Enfermeira Vera.

E aos funcionários da Parafarmácia Saúde (Pedroso, Carvalhos):

─ Cátia

─ Gabriel

─ Márcia,

pela simpatia.


http://www.globalenfermagem.com/


PS <> Divulgação feita a pedido do filho, que achou importante partilhar a informação com quem dela necessitasse.


Luís.