Virtual Realidade

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Location: Portugal

Friday, July 06, 2007

Virtual Realidade Parte 93


Emília estudava quando viu Rita entrar radiante, saltar para cima da cama, os braços esticados para o ar, e gritar: “Estou feliz! A vida é bela, minha amiga!”
─ Não digas nada que eu já entendi tudo!
─ Sim, não sei como foi, mas adoro aquele homem!
─ E ele?
─ Também gosta de mim.
─ Parece um sonho!
─ E é! E digo-te mais: eu não quero acordar.
Rita deitou-se sobre a colcha, a cabeça apoiada nas mãos, os olhos sonhadores fixos no tecto, e assim permaneceu por vários minutos até que Emília lhe interrompeu o deleite:
─ Quer dizer que já não vais passar o Natal a casa?
─ Claro que vou! E tu vais comigo!
─ Como?!!!
─ Vais comigo passar o Natal a Portugal. Uma vez que não vais a casa não te deixo aqui sozinha!
─ Mas o Natal é para as famílias e eu…
─ Não há mas. Eu já decidi: vais comigo e pronto. Considera-te da família a partir deste momento!
─ Obrigada! O Francisco não vai contigo?
─ Não. Afinal, mal nos conhecemos e, além disso, tem cá o trabalho dele e a família toda: a mãe. Vá lá, diz que vais comigo!
─ E a tua mãe o que dirá?
─ Achará muito bem: as amigas da filha, amigas dela são, como costuma dizer. Por falar nisso, vou ligar-lhe a contar o sucedido.
─ Está bem, eu vou contigo! Em Portugal existem mais homens iguais ao Francisco? ─ brincou Emília.
─ Quem sabe, minha amiga, quem sabe?! ─ respondeu Rita, enigmática, com o telemóvel nas mãos, ligando para o número da mãe.
─ Alô, mamã!
─ Olá, filhota! Que bom teres ligado! Está tudo bem contigo?
─ Tudo melhor do que nunca! E tu, com vão as coisas por aí?
─ Vai tudo bem, amor. Pareces-me muito bem-disposta!
─ Mais do que isso, mamã, estou muito feliz!
─ Então?!
─ Encontrei aquele rapaz do comboio.
─ Ai sim?! Conta, conta!
─ Descobrimos que gostamos um do outro. Depois conto-te os pormenores.
─ Ok. Vou ficar ansiosa por saber tudo!
─ Outra coisa: vou levar uma amiga para passar o Natal connosco aí em casa. É a minha companheira de quarto, uma boa amiga.
─ Traz quem tu quiseres, querida. As tuas amigas e amigos serão sempre bem recebidos.
─ Eu sei mãezinha, só quis avisar.
─ Pois fizeste bem. Estou muito feliz por teres encontrado o amor.
─ Ele é que me encontrou a mim! Dentro de poucos dias estaremos juntas de novo. Um grande beijo de saudades.
─ Outro para ti filha!
Desligou e, voltando-se para a amiga disse:
─ Vês, a minha mãe quer que tu vás comigo.
─ Mas eu já disse que vou.
─ Vale! Agora preciso de ir estudar um pouco, senão amanhã tenho de copiar por ti. Ah ah!!
─ Vai que eu faço o jantar.
Enquanto a amizade das duas jovens se fortalecia, Francisco tinha chegado a casa com uma felicidade que não lhe cabia no peito. Ansiava por contar à mãe, a confidente de tudo o que se passava com ele até ao mais ínfimo pormenor, mas o apartamento estava vazio. Mariana e Juan, ainda não tinham chegado do fim-de-semana. Desceu à rua porque, com o entusiasmo, se tinha esquecido de colocar dinheiro no parquímetro e cruzou-se com a bela e sensual vizinha que entrava no prédio. Os seus olhares encontraram-se:
─ Hola Guapo!
─ Hola! ─ disse ele, sem fazer menção de parar.
─ Sera que podemos hablar um poco?
Perante a insistência Francisco parou e, virando-se para ela, perguntou, fingindo não a reconhecer:
─ Necessitas de alguma coisa?
─ Não me reconheces? Sou a vizinha de cima.
─ Ah, sei. A das festas barulhentas. ─ disse Francisco evasivo e mantendo-se sério para não lhe dar muita confiança.
Maria não desarmou e cheia de confiança, e tanto mais sedutora quanto sentia que do outro lado havia oposição, fez assomar um dos seus mais belos sorrisos, todo artificial, mas que ela sabia, por experiência, ser capaz de comover o coração masculino mais indiferente, num tom de voz doce e lastimoso, disse:
─ Oh, pensei que me tinhas perdoado aquela noite, mas vejo que ainda estás zangado comigo.
─ Engano teu! ─ respondeu ele, sorrindo um pouco pela primeira vez.
─ Vês que acatei o teu pedido simpático e nunca mais perturbei o teu sono! Pelo menos fazendo barulho com as minhas festas fora de horas…
Maria tinha um sorriso apropriado e calculado para cada ocasião, todos eles pensados para obter um efeito desejado no interlocutor. Desta vez o sorriso dela exibia evidente segunda intenção.
─ Não, não me tens perturbado o sono e eu já esqueci o incidente.
─ Podias provar-me isso aceitando vir ao meu piso tomar uma bebida comigo?
─ Não me parece boa ideia!
─ Vá lá, sejamos amigos! Há pouco perguntaste-me se necessitava de algo e o meu portátil anda um pouco lento. Já me tinha ocorrido pedir-te para fazeres o favor de o ver. Se o pudesses fazer agora ficar-te-ia eternamente agradecida.
─ Mas quem te disse que eu entendia de computadores?
─ Já não estiveste aqui em casa de outro vizinho a ver o dele?
─ Por acaso já.
─ Sabes que o mundo é tão pequeno! ...
─ Vale! Vamos lá então, mas deixa-me primeiro ir pôr dinheiro no parquímetro.
─ Tens carro? ─ perguntou Maria, enquanto o acompanhava.
─ É do patrão.

Desde aquele dia da festa que ambos se cruzavam de vez em quando e Maria arranjava sempre uma artimanha para se aproximar dele, sem nunca o conseguir.
Sabia que Francisco não iria a sua casa de livre e espontânea vontade. Já o tinha tentado de todas as maneiras possíveis e imaginárias, mas ele sempre havia arranjado uma desculpa para não se aproximar demasiado dela.
Mas Maria sabia tirar partido das inúmeras pessoas que conhecia e lograra obter algumas informações acerca dele que lhe haviam sido indispensáveis na circunstância. O conhecimento que ele tinha sobre computadores era apenas uma delas. E depois, apanhara-o num estado de espírito tal que, se lhe pedissem para ajudar a erguer a pirâmide de Keops, ele teria ido alegremente. O amor eleva a generosidade a cumes, de outro modo intransponíveis.


Continua...