Virtual Realidade

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Friday, June 30, 2006

Virtual Realidade Parte 42


Eduardo continuou no computador. Foi seguindo as conversas no canal e de vez em quando metia-se nelas dando as suas opiniões. Também ia fazendo pesquisas sobre máquinas fotográficas digitais, pretendia comprar uma, e ia visitando alguns blogs que gostava de ler por os achar bem escritos ou por tratarem de assuntos sobre os quais gostava de reflectir.
O tema actual era sobre um assunto muito polémico que vinha apaixonando as pessoas, de algum tempo a esta parte, tanto em livro como no cinema e levava a que algumas delas colocassem as suas opiniões, mais ou menos fundamentadas, num blog, e que era o Código da Vinci.
Poderia deixar o seu comentário nalguns desses blogs, mas o que pensava sobre o assunto era demasiado vasto para poder ser traduzido em poucas linhas.
Naquele momento estava sozinho e uma ideia começou a sugerir-lhe na mente; também ele gostava de escrever e tinha sempre assuntos polémicos para discutir e mostrar a sua maneira de pensar e estar. Quem sabe se não criaria um blog ou iria mais longe editando um livro? Abriu o Word e começou a escrever:

(Quem achar erradamente que a maldade dos homens nasce com eles não deve ler o que se segue porque não será capaz de compreender.

Código da Vinci versus Bíblia
.
Eu não tenho qualquer interesse em atacar ou defender qualquer dos livros, Bíblia ou Código da Vinci. Penso que só a descoberta da verdade objectiva e a aceitação dessa verdade por todos os homens conseguirá tornar o mundo melhor. E isto é a única coisa que me preocupa.
Ora a verdade não se encerra na bíblia nem no Código da Vinci, nem nas religiões nem nas filosofias, nem a ciência a descobriu toda ainda.
Não podemos negar, no entanto que a ciência é o único caminho honesto para chegarmos lá e já há bastantes estradas abertas…
Eu começaria pela compreensão de como a alma humana funciona socorrendo-me das descobertas mais objectivas que até agora foram conseguidas nesse campo e que têm sido relegadas para o esquecimento porque a maioria luta ferozmente por manter o status-quo.
Refiro-me concretamente às descobertas da psicanálise com Freud e depois às de Reich com a vegetoterapia e a análise do carácter.
A etiologia das neuroses humanas não deixa dúvidas quanto à sua origem na educação negadora da sexualidade. Todos os psicanalistas o sabem. Quando Reich curava uma neurose a pessoa em causa, por muito religiosa que tivesse sido antes, deixava de acreditar em deus.
Então porque razão, alguém um dia inventou um deus?
Ou, por outras palavras, quem surgiu primeiro: a repressão sexual que originou a necessidade de um deus, ou um deus que proíbe o amor físico mesmo tendo criado o homem e a mulher extraordinariamente bem equipados para o efeito, criados aliás, segundo se diz, à sua imagem e semelhança?
Como se resolve esta contradição? Será do interesse de alguém que as crianças venham sofrendo este tipo de educação à milhares de anos?
Esta é a origem de todo o mal no mundo e de não se poder confiar nos homens da nossa civilização.
Compreende-se assim que as religiões tratem a sexualidade como coisa suja, pecaminosa, criando desse modo o medo e a angústia nas pessoas, o que as leva a continuarem presas à religião como paliativo. Por isso desacreditaram Freud e perseguiram Reich que ao tentarem libertar a humanidade de uma sexualidade neurótica levariam à destruição dos poderes e interesses estabelecidos. É também esse o motivo pelo qual as religiões reprovam o uso de métodos anticoncepcionais e condenam a prática do aborto.
Baseado nisso e em experiências feitas por mim, se deixarmos uma criança desenvolver-se livremente, respeitando integralmente as suas tendências, as suas necessidades naturais, estaremos a dar origem a alguém semelhante a Cristo em matéria de comportamento na vida.
Por isso Cristo foi morto porque era um elemento perturbador.
Por isso as crianças são lindas quando nascem, até pouco tempo depois quando a educação repressiva, cheia de regras contrárias à sua natureza, se começa a fazer sentir.

E isso relega-nos para o Código da Vinci quando refere que Cristo terá tido uma vida sexual perfeitamente normal, o que não me custa a acreditar. Ninguém, mesmo que pouco afectado nalguma das suas funções biológicas naturais, teria um comportamento humano e social como Cristo foi capaz de ter. Ele era um homem são em todos os sentidos e a sexualidade dele não era pornográfica como a daqueles a quem repugna pensar que Cristo possa ter tido relações sexuais com as mulheres. E uma dessas mulheres pode ter sido Maria Madalena. Admitir o contrário é dar à mulher o estatuto de coisa reles, suja, pecaminosa, como a igreja católica sempre fez ao longo de toda a sua história.
O homem comum considera que uma relação sexual é foder. Um homem como Cristo não fode, simplesmente ama. O homem comum não é capaz de amar. A diferença entre amor e foda só poderá ser compreendida por alguém que não tenha sido afectado pela moral sexual repressiva.
Assim é notório que a igreja mistificou a figura de Cristo, no sentido de o assexualizar, com o fim de justificar a repressão da função sexual natural para desse modo poder controlar o rebanho.
É sabido há milhares de anos que a castração dos animais os torna mais dóceis para o trabalho.

Todas as funções do nosso corpo são divinas no sentido em que foram criadas por deus.
Parece que estou a contradizer-me não é?
Então em que ficamos: deus existe ou não?
Voltaire ao ler a bíblia no original aramaico descobriu que, ao contrário das traduções oficiais do seu tempo, no livro do Génesis não se dizia «No princípio deus criou o céu e a terra» mas sim «No principio os deuses criaram…». Deve ter sido esse o motivo da frase dele: «Eu não acredito no deus que os homens criaram, mas acredito no deus que criou os homens». Essa é também a minha resposta à pergunta anterior.
E assim quem quiser comentar ou interpretar a Bíblia, deve lê-la no original ou em traduções de confiança. Será que as há?
Todo o mal que lamentamos todos os dias ao saber as notícias mundiais tem a ver com a repressão da sexualidade infantil.
Conseguem explicar como é que um homem é capaz de ordenar a milhares de outros homens, lúcidos e conscientes, que cometam crimes do género de chacinar uma outra raça humana?
Como se explica essa obediência cega? A mesma obediência que se manifesta quando um treinador de futebol manda colocar bandeiras nacionais nas casas e nos carros das pessoas que são fácil e eficazmente manipuladas sem sequer se darem conta dos motivos porque procedem assim.
E obedecem, obedecem sempre!
A irracionalidade humana chega ao ponto de se fazerem promessas aos deuses por uma vitória no mundial de futebol…Somos tão infelizes!
Esta tendência para obedecer só se explica porque a estrutura psíquica humana foi «educada» nesse sentido, pela negação da sexualidade natural. Mesmo quando se recusam a obedecer é ainda por motivos neuróticos que o fazem, como no caso da desobediência às regras de circulação rodoviária, que só cumprem por receio da repressão policial e quase ninguém por razões de ordem racional.
As religiões sempre apoiaram este tipo de educação. Se não o fizessem ficariam sem clientes.
A discussão entre quem está certo, a bíblia ou o código é perfeitamente estéril se nos restringirmos ao que cada um diz. Temos de ir muito mais longe.

Falam muito em mitos, mitos dos outros, e baseiam-se num mito para apoiarem as suas opiniões: o mito de que as traduções da bíblia são fiéis ao original. É um mito como qualquer outro.
A maior parte do que eu disse foi baseado em descobertas científicas, evitando dar muitas opiniões pessoais.

No livro «Coming of Age in Samoa» de Margaret Mead, publicado em 1928, baseado em trabalho de campo sobre adolescentes numa sociedade sexualmente não repressiva, vê-se como todos os males que deploramos existirem no nosso meio são simplesmente desconhecidos naquele. Os ataques de que o livro foi alvo, depois da morte da autora em 1976, apenas vieram provar que as conclusões extraídas do estudo estavam absolutamente certas.
Se os nossos educadores aprendessem com esses estudos que esperança haveria para os impérios ocidentais?
Os actuais senhores do nosso mundo deixariam de ter lacaios para lhes multiplicar a riqueza e o poder, e a fome no mundo passaria a ser um pesadelo do passado, curiosidade histórica cada vez mais longínqua.)
Eduardo acabou de escrever este texto, o primeiro para colocar num blog que iria criar em breve. Outros se lhe seguiriam porque o que lia noutros blogs preocupava-o muito, na medida em que via que o mundo continuava a ser governado pelos mortos.

Continua...