Virtual Realidade

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Friday, May 25, 2007

Virtual Realidade Parte 87


Sentados no banco, o rosto ainda afogueado e transpirado do esforço dispendido na corrida, Francisco, com as mãos dela nas suas, pousava em Rita um olhar acariciador e interrogativo. Emília, ainda não refeita da surpresa, resolveu manter-se calada, aguardando o desenvolvimento da situação.
Esgotaram-se vários minutos de ansiedade naquele transe de estupefacção em que ambos se sentiam envolvidos. Por fim Rita falou:
─ Desculpa, mas ainda não acredito que te reencontrei!
─ O mesmo se passa comigo. E queria tanto que isto acontecesse!
─ Não me perguntes porquê, mas eu também.
─ Mas vocês dois já se conheciam? ─ perguntou Emília, percebendo que estava a assistir a um episódio daqueles que ela pensava só acontecerem na imaginação de romancistas sonhadores.
─ Sim, viajámos no mesmo comboio quando eu vim para esta cidade pela primeira vez.
─ Ah! Entendo… ─ disse Emília. E dirigindo-se a Francisco: ─ Desculpa! És arquitecto e tens um colega de trabalho que se chama Juan Montoya, que é teu amigo, e trabalham ambos no Patxi?
─ Es verdad! Conhece-lo?
─ Parece incrível o que está a acontecer aqui! O Juan é meu amigo e compatriota.
─ Sim, ele já me contou que tinha, aqui na cidade, uma conterrânea amiga que estudava medicina e que havia de ma apresentar. Então eras tu!
─ Es verdad!
─ Quer dizer que foi contigo que ele foi almoçar no outro dia…
─ Sim, claro. Mas olha que não existe nada entre nós além de uma grande amizade. Eu sei que ele gosta da tua madre. ─ respondeu Emília, justificando-se, porque notou que havia naquela pergunta de Francisco uma segunda intenção.
─ Si. E foram os dois para San Sebastian este fim-de-semana.
─ Mas eu tenho uma pergunta para ti. ─ continuou Francisco, com um sorriso amistoso, dirigindo-se a Rita.
─ Calculava que sim. Queres saber porque nunca te liguei.
─ É isso mesmo.
─ Porque, ainda no comboio, quando regressei ao lugar, a minha mãe pediu-me para abrir a janela e como tinha o teu cartão na mão deixei-o escapar sem querer.
─ E eu a pensar que me tinhas esquecido! Foi um erro muito grande não ter ficado com o teu número.
─ E, afinal, estavas tão perto. ─ disse Rita, lembrando-se que já se podiam ter encontrado, porque a Emília conhecia o Juan. ─ Mas como poderia adivinhar?
─ Mas agora que aqui estamos, finalmente, há alguma coisa a separar-nos?
─ Há alguma coisa a unir-nos?
─ Tu o que achas? Eu sinto-me atraído por ti desde aquele comboio.
Francisco esperava ansioso uma resposta favorável e o olhar de Rita foi mais eloquente do que as palavras que proferiu:
─ Eu também simpatizo contigo. ─ respondeu ela, cautelosa.
─ Bom, vocês devem ter muito que dizer…eu vou indo. Preciso de um banho.
─ Espera! ─ pediu Rita. ─ Também preciso de um banho. Já vou contigo.
─ Temos de combinar qualquer coisa para o resto do dia. O que acham? ─ Inquiriu Francisco.
Ambas ficaram caladas olhando uma para a outra a ver qual responderia.
─ Eu decido por vocês. ─ interveio ele, num registo terno, simpático e descontraído, contrariando a evidente autoridade das palavras. ─ Sem protestos, dêem-me o prazer da vossa companhia para almoçar. Vamos ao banho, encontramo-nos num sítio que vos dê jeito e levo-vos a um bom restaurante. O que dizem?
─ Isso é para vocês os dois; eu não. ─ respondeu a argentina.
─ Não sei porque não hás-de ir connosco. ─ disse Francisco.
─ Porque vocês é que são namorados e eu estarei a mais.
─ Quem falou aqui em namorados? E se vamos ser todos amigos, porque não começamos já? ─ insistiu ele.
Perante o argumento, muito próprio de Francisco, e a sinceridade e delicadeza naturais com que disse aquelas palavras, Emília não foi capaz de recusar.
─ Onde querem que vos vá buscar?
─ Onde moras? ─ perguntou Rita.
─ Num piso da Sancho el Fuerte.
─ Nós nos alojamentos da universidade.
─ Sei onde é. Daqui a uma hora estou lá. ─ disse, olhando as horas no LCD do telemóvel. Valle?
─ Uma rapariga demora a arranjar-se, mas valle. ─ respondeu Rita a rir..
─ Bom, vamos então.
Beijaram-se numa breve despedida de hasta luego.
Pelo caminho Emília disse:
─ Mas que bela surpresa tu tiveste!
─ É verdade! ─ respondeu Rita, com uma expressão de felicidade no olhar.
─ Mas vocês namoravam-se em Portugal?
─ Nem nos conhecíamos!
─ Não entendo…
Rita explicou à amiga como tinha encontrado o Francisco e se tinham falado numa viagem de comboio de Portugal para Espanha.
─ Mas isso parece coisa de romance! Já vi que se apaixonaram logo um pelo outro.
─ Não sei. ─ respondeu Rita, evasiva e sonhadora.
─ Menina, pareceu-me evidente que ele gosta de ti. Aquele modo de te olhar não me enganou. Tu também gostas dele?
─ Penso que sim.
─ Pensas ou tens a certeza?
─ Gosto.
─ Sabes que o Juan mo queria apresentar com a intenção de que pudéssemos chegar a namorar?
─ Ah foi?
─ Pois foi. Se eu não tivesse namorado, roubava-to. ─ brincou Emília. ─ olha que é muy guapo.
─ Ah, ah, ah! Eu matava-te! ─ ameaçou Rita a brincar também.
─ Ainda estou a pensar no modo como nos encontrámos. Que coisa rara e estranha aconteceu!
─ É verdade! Tinhas acabado de pronunciar o nome dele e eis que surge, caído das nuvens, como Ícaro depois de as asas de cera se terem derretido com o sol.
As duas amigas tinham chegado à residência.

Continua...